QUE BELO GATO A SENHORA TEM
" No fim da década de 1950 era crítico o abastecimento de energia elétrica em Curitiba.
QUE BELO GATO A SENHORA TEM
" No fim da década de 1950 era crítico o abastecimento de energia elétrica em Curitiba. Com o passar dos anos a situação se agravou. Houve necessidade de rigoroso racionamento. O quadro só modificou depois que Ney Braga encampou a "Força e Luz" e a Copel instalou as usinas diesel no Capanema. A solução definitiva só veio mais tarde, com as hidrelétricas do rio Iguaçu.
Em 1962, um dos internos do corpo clínico do Hospital N. Sr das Graças foi acometido por uma neuro-virose com paralisia da musculatura respiratória. Felizmente, dispunha-se de um pulmão de aço onde o moço foi colocado. O mecanismo podia mantê-lo respirando artificialmente.
Num sábado ao meio-dia, entretanto, teria início o racionamento de energia na zona das Mercês. Fizeram, o impossível para sustá-lo!
"Mr. Brown", o diretor da Companhia "Força e Luz", mostrou-se irredutível. Foi acionado, então, o último cartucho: o governador. Ney tinha ido almoçar no Cangüiri...
Chamado ao telefone, às 11:30, inteirou-se da situação e agiu. Teve de apelar para sua autoridade a fim de demover o gringo. O racionamento foi suspenso e o rapaz se salvou. É hoje um dos mais brilhantes radiologistas de Curitiba.
Uma das causas para termos chegado a tão grave situação - afora o natural e previsível aumento da demanda energética - deve ter sido o costume, generalizado a partir dos últimos anos de 1930 e que adentrou a década de 1940: Uma pessoa contava para a outra... Indicava... Providenciava... finalmente vinha o "técnico" (em geral funcionário da própria empresa, interessado em traí-la por alguns cruzeiros).
Estava instalado o "gato": um pedaço de arame ou de celofane introduzido no "contador", de modo a sustar o consumo de quilowates. Dentro em pouco era difícil encontrar uma casa em que o "gato"não funcionasse. E aconteciam casos!...
O fiscal, certa vez, interpelou com energia um descuidado proprietário que esquecera de remover o "gato" no tempo devido:
- "O senhor não gastou sequer um quilovate?!"
O cidadão, desajeitado, procurava justificar:
_ "É que passamos o mês inteiro fora... viajando...". E arrematava, generoso: - "O senhor pode cobrar a taxa mínima...".
Outra vez o funcionário foi recebido por uma senhora, atenciosa e tensa, que o acompanhou enquanto procedia a leitura do contador e anotava o consumo. Pela porta entreaberta divisava-se o interior da sala, onde um magnífico siamês, nédio e tranqüilo, ronronava satisfeito sobre uma poltrona.
O fiscal, querendo ser amável, comentou: - "Bonito gato tem a senhora!..."
Ela empalideceu, vacilou e tombou desmaiada sobre o sofá..."
(Texto do medico curitibano Ayrton Ricardo dos Santos, publicado em Trezentas Historias de Curitiba)
Paulo Grani
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