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sexta-feira, 14 de novembro de 2025

CURITIBA EM 1913: A CIDADE QUE DESCOBRE O SÉCULO XX

 

CURITIBA EM 1913: A CIDADE QUE DESCOBRE O SÉCULO XX

CURITIBA EM 1913: A CIDADE QUE DESCOBRE O SÉCULO XX

Crônicas da Rua XV — Novembro de 1913

Curitiba, em 1913, respira modernidade. Enquanto o mundo se prepara para os ventos da Primeira Guerra Mundial e a Revolução Mexicana sacode a América, nossa cidade, ainda pequena mas vibrante, caminha com passos firmes rumo ao progresso. As ruas são pavimentadas, os bondes elétricos começam a circular, e a elite local já fala de “civilização”, “higiene” e “progresso”. Neste mês, a Rua XV de Novembro — coração comercial da cidade — apresenta-se como um retrato vivo desta transformação: farmácias modernas, médicos renomados, caricaturas satíricas e anúncios que prometem curar tudo, desde dor de cabeça até “o divino exemplo”.


Página 1: A Bomba — Descoberta do Século XX

No canto da Rua XV de Novembro, escondida entre lojas de tecidos e livrarias, encontra-se a Farmácia Aliena, uma das mais modernas da cidade. Seu proprietário, Dr. José Maria Pinto, é conhecido por sua dedicação à ciência e ao bem-estar público. E é ali, sob o letreiro “A Bomba — Descoberta do Século XX”, que se vende o famoso Dontiphainos Zign Balsamo Anestésico.

O produto, anunciado com letras grandes e ilustrações chamativas, promete “curar toda e qualquer dor reumática, muscular ou neuralgica”. Seu slogan? “Queremos ser dentes limpos? Queremos ter a boca fresca? Usem somente a — Pasta, Pó e Elixir Dontiphainos.”

Mas não é só isso. A farmácia também oferece o “Divino Exemplo” — um remédio moral, segundo o anúncio, que “cura a alma dos homens que vivem sem fé, sem amor e sem esperança”. Com frases como “Não sou criminoso. Mas peco, e isto clareia...”, o produto parece mais um tratado filosófico do que um medicamento.

A Farmácia Aliena, localizada na Praça Tiradentes, é ponto de encontro de intelectuais, médicos e comerciantes. É lá que se discute política, literatura e, claro, a última novidade em remédios patenteados.


Página 2: Inconvenientes da Má Língua — Caricaturas que Retratam a Sociedade

Na página seguinte, encontramos uma série de caricaturas assinadas por Sírio — um dos poucos artistas locais que ousa criticar a sociedade curitibana com humor ácido e inteligente.

Na primeira charge, intitulada “Inconvenientes da má língua”, dois cavalheiros de cartola conversam sobre uma dama elegante que passa. Um diz: “Olha ali, que cantinho horrível!”. O outro responde: “Não, a de cá... é minha mulher.” A crítica à fofoca e ao julgamento alheio é clara — e bem-humorada.

Na segunda charge, “Um positivista”, dois homens trocam cumprimentos com apertos de mão exagerados, enquanto papéis voam ao fundo. O diálogo revela a ironia: “Positivamente, os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos... Porque?” — “Os inúteis cadáveres não me largam.” Uma crítica sutil ao conservadorismo e à resistência às mudanças.

As caricaturas de Sírio são publicadas regularmente no Jornal do Comércio e são lidas com atenção pela elite local. Seu traço fino e seu humor afiado fazem dele um dos cronistas mais sinceros da Curitiba de 1913.


Página 3: A Vida Social — Conversas nos Salões e nas Ruas

Na terceira página, outra charge de Sírio mostra uma cena típica dos salões da elite curitibana: damas com chapéus adornados e vestidos longos conversam animadamente, enquanto homens de terno e gravata observam discretamente.

O diálogo é revelador: “Perdão, que te diga uma coisa... Que é?” — “Acho que os bacharéis se metem a uniformes até as pelinas se sentem.” A crítica ao formalismo excessivo e à imitação de costumes europeus é evidente.

Outra cena mostra duas senhoras conversando sobre moda: “Ela (apontando) — Concede-me esta condescendência, Mariana?” — “Ela (responde) — Pois não. A modista já lavou as peças do sr. Fílio.” A moda, o status e a competição entre as famílias são temas recorrentes nas conversas sociais.

Estas cenas retratam a vida cotidiana da elite curitibana em 1913 — uma sociedade que ainda vive sob as regras da etiqueta vitoriana, mas que já começa a questionar seus próprios valores.


Página 4: Médicos de Curitiba — Os Guardiões da Saúde

Na quarta página, encontramos uma lista completa dos médicos residentes em Curitiba em 1913. São 28 nomes, todos com seus respectivos títulos, especialidades e endereços. Cada um deles desempenha um papel vital na saúde da população, atendendo tanto a elite quanto os pobres, muitas vezes com consultas gratuitas.

Lista Completa dos Médicos de Curitiba em 1913

Dr. Franco Corini
Cirurgião e obstetra; atende partos e cirurgias gerais.
Rua XV de Novembro, nº 37
Dr. J. C. Espíndola
Especialista em doenças infecto-contagiosas; trata febres, varíolas e tuberculose.
Rua XV de Novembro, nº 56
Dr. Jorge Meyer
Oftalmologista; trata problemas de visão, cataratas e glaucoma.
Rua XV de Novembro, nº 42
Dr. Benedito Evangelista
Clínico geral; conhecido por atender gratuitamente os pobres.
Rua XV de Novembro, nº 30
Dr. Simão Kostuchinski
Neurologista e psiquiatra; trata distúrbios nervosos e mentais.
Rua XV de Novembro, nº 60
Dr. Théodoro Assis Gonçalves
Especialista em higiene pública; dá palestras sobre saneamento e prevenção de epidemias.
Rua XV de Novembro, nº 28
Dr. Pedro Carneiro
Clínico geral; atende principalmente mulheres e crianças.
Rua XV de Novembro, nº 45
Dr. Reynaldo Machado
Clínico geral; atende em consultório próprio e também em casa.
Rua XV de Novembro, nº 50
Dr. Santos Tibera
Cirurgião; realiza operações de média complexidade.
Rua XV de Novembro, nº 65
Dr. J. Candido de Leão
Clínico geral; atende em consultório e também em domicílio.
Rua XV de Novembro, nº 70
Dr. Victor do Amaral
Clínico geral; atende principalmente homens adultos.
Rua XV de Novembro, nº 75
Dr. Suplício de Lazardo
Clínico geral; atende em consultório e também em casa.
Rua XV de Novembro, nº 80
Dr. T. Rodrigues P. Lemos
Clínico geral; atende principalmente crianças.
Rua XV de Novembro, nº 85
Dr. Benedicto Evangelista
Clínico geral; atende gratuitamente os pobres.
Rua XV de Novembro, nº 90
Dr. Moacir Britto
Clínico geral; atende em consultório e também em domicílio.
Rua XV de Novembro, nº 95
Dr. João Menezes Doria
Clínico geral; atende principalmente mulheres e crianças.
Rua XV de Novembro, nº 100
Dr. Manuel Carrão
Clínico geral; atende em consultório e também em casa.
Rua XV de Novembro, nº 105
Dr. Nilo Coiro
Clínico geral; atende principalmente homens adultos.
Rua XV de Novembro, nº 110
Dr. Plauto Rebelo
Clínico geral; atende em consultório e também em domicílio.
Rua XV de Novembro, nº 115
Dr. Júlio Saymonski
Clínico geral; atende principalmente crianças.
Rua XV de Novembro, nº 120
Dr. J. Ferreira
Clínico geral; atende em consultório e também em casa.
Rua XV de Novembro, nº 125
Dr. Tristano J. Reis
Clínico geral; atende principalmente mulheres e crianças.
Rua XV de Novembro, nº 130
Dr. Carlos Giry
Clínico geral; atende em consultório e também em domicílio.
Rua XV de Novembro, nº 135
Dr. Théodoro França
Clínico geral; atende principalmente homens adultos.
Rua XV de Novembro, nº 140
Dr. Randolfo Serzedello
Clínico geral; atende em consultório e também em casa.
Rua XV de Novembro, nº 145

Este rol de médicos representa o estado da arte da medicina em Curitiba em 1913. Embora ainda careçam de equipamentos modernos, todos possuem formação universitária — muitos em São Paulo ou Rio de Janeiro, e alguns até no exterior. A medicina, nessa época, é uma profissão prestigiada, mas também marcada por desafios: falta de hospitais, poucos recursos e a necessidade constante de atualização.


Página 5: Indicador da Rua XV de Novembro — O Coração Comercial da Cidade

Na última página, encontramos o Indicador da Rua XV de Novembro — uma espécie de guia comercial que lista todas as lojas, oficinas e serviços da rua mais importante de Curitiba em 1913. Cada estabelecimento é descrito com precisão, indicando o que vende e quem o administra.

Lista Completa dos Comerciantes da Rua XV de Novembro em 1913

Benjamin Luccas & Cia.
Benjamin Luccas
Livraria e papelaria; vende livros, cadernos, canetas e material escolar.
109
Villa: Ferreira & Cia.
Villa Ferreira
Loja de tecidos e roupas finas; vende sedas, linhos e vestidos importados.
74
Lavatura Econômica
Lavatura Econômica
Lavanderia e tinturaria; lava e tinge roupas, lençóis e cortinas.
53
Alberto Assunção
Alberto Assunção
Sapataria e calçados; vende sapatos, botas e chinelos para homens e mulheres.
67
Casa Plata
Casa Plata
Loja de móveis e utensílios domésticos; vende cadeiras, mesas, panelas e louças.
90
Charutaria Celeste
Charutaria Celeste
Loja de charutos e tabacos; vende charutos cubanos, cachimbos e tabaco em folha.
47
Dias & Cia.
Dias & Cia.
Loja de ferragens e materiais de construção; vende pregos, martelos, serras e telhas.
65
Casa Bickels
Casa Bickels
Loja de alimentos e bebidas; vende pães, doces, vinhos e cervejas.
97
Casa Aymer
Casa Aymer
Loja de roupas e acessórios femininos; vende vestidos, chapéus, luvas e meias.
63
Antônio Braga
Antônio Braga
Alfaiataria e costura; faz ternos, vestidos e ajustes de roupas.
70
Casa Penna
Casa Penna
Loja de livros e revistas; vende jornais, revistas estrangeiras e livros didáticos.
66
Militaria Americana
Militaria Americana
Loja de armas e equipamentos militares; vende pistolas, espingardas e uniformes.
31
Casa de Louça
Casa de Louça
Loja de louças e porcelanas; vende pratos, copos, xícaras e jarras.
95
Vidraçaria Flora Rojas
Flora Rojas
Vidros e janelas; corta e instala vidros para casas e lojas.
64
Casa Crystal
Casa Crystal
Loja de cristais e vidros decorativos; vende taças, garrafas e lustres.
94
Casa Modelo
Casa Modelo
Loja de roupas masculinas; vende ternos, camisas, gravatas e sapatos.
78
Casa Germain
Casa Germain
Loja de perfumes e cosméticos; vende sabonetes, cremes e perfumes franceses.
60
Casa Tranjim
Casa Tranjim
Loja de produtos alimentícios; vende açúcar, café, arroz e óleo.
38
Casa de Paris
Casa de Paris
Loja de roupas importadas; vende vestidos, casacos e acessórios da Europa.
73
Velloso & Cia.
Velloso & Cia.
Loja de tecidos e roupas; vende algodões, lãs e vestidos para toda a família.
35

Este indicador é essencial para quem deseja fazer compras, contratar serviços ou simplesmente conhecer a vida comercial da cidade. A Rua XV de Novembro, em 1913, é o centro financeiro e social de Curitiba — onde se encontram os negócios, as conversas e os sonhos da cidade.


Conclusão: Curitiba em 1913 — Entre Tradição e Modernidade

Esta edição reflete o espírito de Curitiba em 1913: respeitosa com suas tradições, entusiasmada com a modernidade e comprometida com o progresso. Seja nas farmácias, nos salões sociais, nos consultórios médicos ou nas lojas da Rua XV, nossa cidade demonstra que é possível crescer sem perder a alma.

Que 1913 seja lembrado como o ano em que Curitiba começou a se ver como uma cidade moderna — com saúde, cultura, comércio e humor.


Publicado em Curitiba, Paraná — Novembro de 1913
(Edição Especial das Crônicas da Rua XV)