CURITIBA EM 1913: A CIDADE QUE DESCOBRE O SÉCULO XX
CURITIBA EM 1913: A CIDADE QUE DESCOBRE O SÉCULO XX
Crônicas da Rua XV — Novembro de 1913
Curitiba, em 1913, respira modernidade. Enquanto o mundo se prepara para os ventos da Primeira Guerra Mundial e a Revolução Mexicana sacode a América, nossa cidade, ainda pequena mas vibrante, caminha com passos firmes rumo ao progresso. As ruas são pavimentadas, os bondes elétricos começam a circular, e a elite local já fala de “civilização”, “higiene” e “progresso”. Neste mês, a Rua XV de Novembro — coração comercial da cidade — apresenta-se como um retrato vivo desta transformação: farmácias modernas, médicos renomados, caricaturas satíricas e anúncios que prometem curar tudo, desde dor de cabeça até “o divino exemplo”.
Página 1: A Bomba — Descoberta do Século XX
No canto da Rua XV de Novembro, escondida entre lojas de tecidos e livrarias, encontra-se a Farmácia Aliena, uma das mais modernas da cidade. Seu proprietário, Dr. José Maria Pinto, é conhecido por sua dedicação à ciência e ao bem-estar público. E é ali, sob o letreiro “A Bomba — Descoberta do Século XX”, que se vende o famoso Dontiphainos Zign Balsamo Anestésico.
O produto, anunciado com letras grandes e ilustrações chamativas, promete “curar toda e qualquer dor reumática, muscular ou neuralgica”. Seu slogan? “Queremos ser dentes limpos? Queremos ter a boca fresca? Usem somente a — Pasta, Pó e Elixir Dontiphainos.”
Mas não é só isso. A farmácia também oferece o “Divino Exemplo” — um remédio moral, segundo o anúncio, que “cura a alma dos homens que vivem sem fé, sem amor e sem esperança”. Com frases como “Não sou criminoso. Mas peco, e isto clareia...”, o produto parece mais um tratado filosófico do que um medicamento.
A Farmácia Aliena, localizada na Praça Tiradentes, é ponto de encontro de intelectuais, médicos e comerciantes. É lá que se discute política, literatura e, claro, a última novidade em remédios patenteados.
Página 2: Inconvenientes da Má Língua — Caricaturas que Retratam a Sociedade
Na página seguinte, encontramos uma série de caricaturas assinadas por Sírio — um dos poucos artistas locais que ousa criticar a sociedade curitibana com humor ácido e inteligente.
Na primeira charge, intitulada “Inconvenientes da má língua”, dois cavalheiros de cartola conversam sobre uma dama elegante que passa. Um diz: “Olha ali, que cantinho horrível!”. O outro responde: “Não, a de cá... é minha mulher.” A crítica à fofoca e ao julgamento alheio é clara — e bem-humorada.
Na segunda charge, “Um positivista”, dois homens trocam cumprimentos com apertos de mão exagerados, enquanto papéis voam ao fundo. O diálogo revela a ironia: “Positivamente, os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos... Porque?” — “Os inúteis cadáveres não me largam.” Uma crítica sutil ao conservadorismo e à resistência às mudanças.
As caricaturas de Sírio são publicadas regularmente no Jornal do Comércio e são lidas com atenção pela elite local. Seu traço fino e seu humor afiado fazem dele um dos cronistas mais sinceros da Curitiba de 1913.
Página 3: A Vida Social — Conversas nos Salões e nas Ruas
Na terceira página, outra charge de Sírio mostra uma cena típica dos salões da elite curitibana: damas com chapéus adornados e vestidos longos conversam animadamente, enquanto homens de terno e gravata observam discretamente.
O diálogo é revelador: “Perdão, que te diga uma coisa... Que é?” — “Acho que os bacharéis se metem a uniformes até as pelinas se sentem.” A crítica ao formalismo excessivo e à imitação de costumes europeus é evidente.
Outra cena mostra duas senhoras conversando sobre moda: “Ela (apontando) — Concede-me esta condescendência, Mariana?” — “Ela (responde) — Pois não. A modista já lavou as peças do sr. Fílio.” A moda, o status e a competição entre as famílias são temas recorrentes nas conversas sociais.
Estas cenas retratam a vida cotidiana da elite curitibana em 1913 — uma sociedade que ainda vive sob as regras da etiqueta vitoriana, mas que já começa a questionar seus próprios valores.
Página 4: Médicos de Curitiba — Os Guardiões da Saúde
Na quarta página, encontramos uma lista completa dos médicos residentes em Curitiba em 1913. São 28 nomes, todos com seus respectivos títulos, especialidades e endereços. Cada um deles desempenha um papel vital na saúde da população, atendendo tanto a elite quanto os pobres, muitas vezes com consultas gratuitas.
Lista Completa dos Médicos de Curitiba em 1913
Este rol de médicos representa o estado da arte da medicina em Curitiba em 1913. Embora ainda careçam de equipamentos modernos, todos possuem formação universitária — muitos em São Paulo ou Rio de Janeiro, e alguns até no exterior. A medicina, nessa época, é uma profissão prestigiada, mas também marcada por desafios: falta de hospitais, poucos recursos e a necessidade constante de atualização.
Página 5: Indicador da Rua XV de Novembro — O Coração Comercial da Cidade
Na última página, encontramos o Indicador da Rua XV de Novembro — uma espécie de guia comercial que lista todas as lojas, oficinas e serviços da rua mais importante de Curitiba em 1913. Cada estabelecimento é descrito com precisão, indicando o que vende e quem o administra.
Lista Completa dos Comerciantes da Rua XV de Novembro em 1913
Este indicador é essencial para quem deseja fazer compras, contratar serviços ou simplesmente conhecer a vida comercial da cidade. A Rua XV de Novembro, em 1913, é o centro financeiro e social de Curitiba — onde se encontram os negócios, as conversas e os sonhos da cidade.
Conclusão: Curitiba em 1913 — Entre Tradição e Modernidade
Esta edição reflete o espírito de Curitiba em 1913: respeitosa com suas tradições, entusiasmada com a modernidade e comprometida com o progresso. Seja nas farmácias, nos salões sociais, nos consultórios médicos ou nas lojas da Rua XV, nossa cidade demonstra que é possível crescer sem perder a alma.
Que 1913 seja lembrado como o ano em que Curitiba começou a se ver como uma cidade moderna — com saúde, cultura, comércio e humor.
Publicado em Curitiba, Paraná — Novembro de 1913
(Edição Especial das Crônicas da Rua XV)