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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Corsários na Costa do Brasil

 Corsários na Costa do Brasil

Quando o Império do Brasil esteve em guerra contra as Províncias Unidas do (Prata) devido à “Revolta de Lavalleja”, no Uruguai então Província (Brasileira) sob o nome de “Cisplatina”, a esquadra imperial bloqueou todo o estuário platino, mas deixou desprotegido o litoral do País.

Isto permitiu aos rebeldes uruguaios e à Argentina distribuírem diversas “Cartas de Corso”, como era de uso na época e, inúmeros aventureiros estabeleceram suas bases de operações em um Porto chamado de “Carmen de Patagones”, muitos destes aventureiros inquietaram o nosso comércio e fizeram diversas presas nas costas fluminenses, paulistas, catarinenses e, rio-grandense, na época o Paraná era parte da Província de São Paulo.

Um dos mais curiosos episódios dessa guerra de corso, passou-se em Paranaguá.

A 10 de dezembro de 1825, um corsário uruguaio apresou, na altura da Ilha de São Sebastião, duas Sumacas Mercantes brasileiras, que navegavam do Rio de Janeiro para o Sul.

Saqueou uma delas, a “Menalia” e, na outra denominada “Aurora”, colocou sua guarnição (corsária) e, os Piratas fizeram o transbordo das mercadorias da Sumaca Menalia para a Sumaca Aurora, liberando assim a Sumaca Menalia sem a sua preciosa carga.

Este mesmo barco se dirigiu imediatamente para Paranaguá, com a triste notícia do aprisionamento da Sumaca Aurora, que seguiu com a guarnição corsária (Pirata) em direção a Patagônia.

Aconteceu, porém, que vinham a bordo da Sumaca Aurora alguns escravos do Capitão-Mor Manoel Antonio Pereira e de Leandro da Costa, ambos da Vila de Paranaguá, os quais segundo relatos da “Memória Histórica”, de Antonio Vieira dos Santos, empreenderam uma heroica resolução para retomarem a Sumaca Aurora.

O plano que puseram em execução, matando à noite a machadadas o homem que estava no leme e, lançando ao mar o oficial de vigia e, em simultâneo, fechando repentinamente as escotilhas, aprisionando os demais tripulantes que estavam dormindo no porão.

Entraram na barra de Paranaguá no dia 19 do mesmo mês (dezembro), com grande contentamento e admiração de todos, por salvar não só a embarcação, mas como grande somas de fazendas que do Rio de Janeiro de propriedade de diversos negociantes paranaguaras.

O feito destes escravos foi um fato notável.

Praticaram ato igual, quando prisioneiros argentinos, após o desastroso ataque que levamos a Carmen de Patagones, os dois jovens oficiais da Marinha do Império, que seriam no futuro, os “Almirantes Tamandaré  e Inhauma”.

Mas estes eram homens cultos, patriotas, educados no cumprimento do dever militar.

Os libertadores da “Aurora” não passavam de infelizes cativos, que não tinham motivo algum para se sacrificarem por seus senhores ou pelo País onde não possuíam nenhum direito.

Daí aquele contentamento e, aquela admiração, sobretudo a admiração de toda a gente, que o memorialista sucintamente registra.

A noticia do ato de coragem e, lealdade praticado pelos pobres negros chegou ao conhecimento do Governo Imperial e, a generosidade de ânimo de D. Pedro I logo se fez sentir, havendo por bem o “mesmo Augusto Senhor mandar que seus Senhores lhes dessem suas Cartas de Liberdade e, ordenou que fossem a sua presença”.

Mas os amos não estiveram pelos autos. Teriam perdido o navio, a sua preciosa carga de fazenda e, os próprios negros, se estes não tivessem agindo com denodo e, não tivessem reconquistado a presa dos corsários.

O prejuízo, assim não ocorreu.

Todavia na alma dos negociantes falou mais alto o amor do dinheiro do que a voz da humanidade e da gratidão.

Eles tudo fizeram para conservar os escravos em sua propriedade, não recuando ante uma invenção de que resultaria em castigo e, não como recompensa do heróico procedimento que haviam tido.

Segundo Vieira dos Santos em fins de dezembro surgiram boatos que uma revolta de escravos se avizinhava na Vila de Paranaguá, tudo com o propósito de não alforriar os heroicos escravos.

D. Pedro I queria ver os libertadores negros da Sumaca e o Presidente da Província não aceitava os subterfúgios do seus avaros senhores.

A 18 de março de 1826, o Barão de Congonhas mandava o Coronel João Francisco Bellegrade, comandante militar da vila de Paranaguá, uma portaria “enérgica”:

Quando não tenham partido para a Corte do Rio de Janeiro os escravos que represaram a Sumaca Aurora e, foram libertados por ordem de sua Majestade o Imperador, os deverá seguir para a mesma por um oficial inferior de capacidade e, de sua escolha de modo a serem por ele apresentados na Augusta presença do mesmo Senhor cuja benfica mão Irã beijar, indo o de nome Antônio, pertencente ao Sargento-Mor Manoel Correa que nesta ocasião se ordena ao Doutor Juiz de Fora que lhe faça passar a Carta de Alforria, por ser um dos que mais se distinguiu naquela brilhante ação”.

Apesar desta ordem até maio seguinte os infelizes e heroicos escravos não haviam seguido para a Corte, tanto assim que a 18 do mês Luis Antonio Neves de Carvalho oficiou em nome do Presidente da Província ao Coronel Bellegarde em Paranaguá, recomendando-lhe que os escravos que retomaram a Sumaca Aurora fossem conduzidos ao Ministro da Marinha.

Não podemos elucidar se foram ou não.

Mas se medissem as atitudes, os negros da Sumaca talvez fossem melhor tratados pelos Corsários do (Prata) do que pelos seus senhores, cujo navio e fazendas em má hora salvaram.

1826 Diário Fluminense – Império do Brasil

Hamilton Ferreira Sampaio Junior

Lavalleja *1 A guerra da Cisplatina ou campanha da Cisplatina, conhecido na historiografia argentina e uruguaia como província em disputa foi um conflito ocorrido entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata, no período de 1825 a 1828, pela posse da Província Cisplatina, a região da atual República Oriental do Uruguai.

Na historiografia argentina é denominada como Guerra do Brasil ou Guerra Contra o Império do Brasil.

Foi o segundo de cinco conflitos armados internacionais em que o Brasil lutou pela supremacia sul-americana, tendo o primeiro sido a Invasão Luso-brasileira, o terceiro sido a Guerra do Prata, o quarto a Questão Uruguaia e o último a Guerra do Paraguai. Juntos, integram o conjunto das Questões Platinas, na História das Relações Internacionais do Brasil.

O termo Cisplatina (cis, aquém, da parte de cá de + platina, relativa ao rio da Prata), indica a localização geográfica do território da antiga província, a Leste daquele rio; em castelhano era conhecida como Província Oriental del Río de la Plata, constituindo-se no atual Uruguai.

Localizada na entrada do estuário do Rio da Prata, a Província Oriental era uma área estratégica, já que quem a controlava tinha grande domínio sobre a navegação em todo o rio, acesso aos rios Paraná e Paraguai, e via de transporte da prata andina.

Cartas de Corso *2 (do latim cursus, «corrida»), ou carta de marca, era um documento emitido pelo governo de um país pelo qual seu dono era autorizado a atacar navios (piratas) e povoados (bases), de nações inimigas. Desta forma convertendo o proprietário da carta em membro da marinha daquele país, conforme a chamada “Lei do Mar” (Tratado Internacional da época, quando se criou esse instrumento jurídico internacional).

Carmen de Patagones *3 é uma cidade da Argentina, localizada na província de Buenos Aires.

Sumacas*4 Navio pequeno, à vela, geralmente com dois mastros, comum na América do Sul até o início do Século XX; usado, principalmente, em navegação de cabotagem.

Referências:

BARROSO, Gustavo. Os Negros da Sumaca Aurora: Corsarios Platinos na Costa do Brasil. O Cruzeiro: revista, Rio de Janeiro, ano 10, v. 10, n. 10, ed. 10, p. 24, 16 jun. 2021.

O ULTIMO CAPITÃO-MOR: 1782-1857. 1. ed. Paranaguá: SCIENTIA E LABOR, 1988. 235 p. v. 1. ISBN 85-851132-26-4.

Wikipédia

Biblioteca Nacional.

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