ELEGÂNCIA, MATRIMÔNIO E COMÉRCIO EM PARANAGUÁ — UM OLHAR SOBRE O JORNALISMO E A SOCIEDADE DE 1959
ELEGÂNCIA, MATRIMÔNIO E COMÉRCIO EM PARANAGUÁ — UM OLHAR SOBRE O JORNALISMO E A SOCIEDADE DE 1959
Página 1: As Senhoras Mais Elegantes de Paranaguá em 1959
A primeira página do suplemento abre com uma declaração elegante e direta: “Cabil Simão aponta as Senhoras mais elegantes de Paranaguá em 1959”. Abaixo, uma chamada em destaque anuncia: “Vestidos de Noiva — Lançamentos de Estilistas Paranaenses”. A linguagem empregada é cuidadosamente polida, típica dos cadernos sociais da época, e reflete o valor atribuído à aparência, à conduta e ao papel simbólico das mulheres na vida social paranaense.
Embora os nomes das homenageadas não sejam revelados ainda nesta página introdutória, a seleção é apresentada como um reconhecimento de mérito social, e não apenas estético. A elegância, segundo o texto, “não reside apenas no traje, mas na postura, na fala e na caridade”. Essa definição revela que tais mulheres eram vistas como modelos de conduta moral e estética, figuras centrais na manutenção dos valores da elite urbana.
A diagramação segue os padrões gráficos da imprensa brasileira dos anos 1950: tipografia serifada, uso moderado de negritos para títulos, e espaçamento generoso entre parágrafos, facilitando a leitura em papel-jornal. Não há fotografias nesta página, apenas texto e algumas linhas decorativas que emolduram as chamadas.
Página 2: Anúncios de Vestidos de Noiva e Moda Feminina
A segunda página é dedicada quase integralmente à publicidade de alta-costura, com destaque para ateliês de Paranaguá e Curitiba. Um anúncio emoldurado pelo nome “Ateliê Madame Odette” exibe um desenho estilizado de um vestido de noiva com véu longo, mangas bufantes e cauda modesta — típico do pós-guerra, influenciado pelo estilo da princesa Margaret e por tendências europeias pós-Dior.
Outros anúncios promovem chapéus, luvas finas, sapatos de salto baixo em couro legítimo e perfumes importados. Um destaque vai para a “Casa das Rendas”, que oferece “tules franceses e rendas belgas sob encomenda, com entrega em 15 dias”. A publicidade não apenas anuncia produtos, mas reforça um ideal de sofisticação acessível apenas a uma parcela da sociedade — aquela com tempo, recursos e prestígio para investir em cerimônias impecáveis.
Um pequeno bloco de texto no canto inferior direito informa: “Consulte nossa lista completa das Senhoras mais elegantes na edição dominical”. Trata-se de um recurso editorial comum à época, utilizado para impulsionar a venda de edições futuras.
Página 3: Casamentos e Compromissos Sociais
A terceira página traz a divulgação oficial de dois casamentos ocorridos recentemente em Paranaguá. O primeiro é entre D. Maria Thereza de Almeida Costa e Dr. Luiz Fernando Barros, engenheiro civil recém-formado pela Universidade Federal do Paraná. A cerimônia, realizada na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, contou com a presença de autoridades municipais, incluindo o prefeito da cidade.
O segundo casamento anunciado é o de D. Clarice Gomes de Menezes com Capitão Raul de Souza Lima, da Marinha Mercante. O texto ressalta que “a noiva usou traje confeccionado por Madame Simone, de Curitiba, com véu de tule e grinalda de pérolas naturais cedidas pela avó materna”. Detalhes como esses eram essenciais nos cadernos sociais, pois serviam tanto como registro histórico quanto como demonstração de status familiar.
Ambos os anúncios seguem um modelo rígido: nomes completos dos noivos, titulação profissional do noivo (quase sempre mencionada), nome dos pais, local da cerimônia e descrição do vestuário da noiva. Não há menção à festa ou à vida íntima dos casais — o foco está na legitimidade social do matrimônio.
Página 4: Publicidade Comercial e Inserções Locais
A quarta e última página volta-se ao comércio local. Anúncios de lojas de tecidos, joalherias, farmácias e hotéis dominam o espaço. Um anúncio da “Joalheria Ouro Fino” oferece “alianças em ouro 18 quilates com gravação gratuita”, apelando diretamente aos noivos recém-casados. Já a “Farmácia Central” destaca “produtos de higiene e beleza franceses — os mesmos usados pelas senhoras da alta sociedade”.
Há ainda uma pequena coluna institucional assinada pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Paranaguá, intitulada “Comércio que Cresce com a Cidade”, que celebra o desenvolvimento urbano e a chegada de novos empreendimentos, como o “Cine Marabá” e a “Sorveteria Tropical”.
O tom geral desta página é otimista, alinhado ao espírito desenvolvimentista do governo Juscelino Kubitschek. A ideia de progresso é entrelaçada à tradição: lojas modernas vendem produtos tradicionais (rendas, alianças, perfumes), e o casamento continua sendo o cerne da vida social, mesmo em tempos de modernização.
Esse suplemento, embora aparentemente voltado ao entretenimento leve, oferece um retrato preciso da estrutura social, dos valores e das aspirações da classe média e alta de Paranaguá no final da década de 1950. Nele, elegância, matrimônio e comércio não são temas isolados, mas partes interligadas de um mesmo projeto de cidade — conservador na forma, mas ávido por modernidade simbólica.