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sexta-feira, 28 de abril de 2023

O Impressionante Pitu, no Bafo

 

O Impressionante Pitu, no Bafo



Muitos chamam os caiçaras de “O Povo do Mar”, mas não só dos alimentos e recursos vindos do nosso generoso Atlântico eles vivem, como também não vivem apenas da mandioca e de seus subprodutos como talvez muitas publicações superficiais querem nos fazer acreditar. Ter atingido o estado de arte na utilização da mandioca não significa depender unicamente dela. Aliás a mandioca merece um capítulo especial que desenvolverei em outro momento por aqui.

As comunidades tradicionais caiçaras e as cidades com forte cultura caiçara, verdadeiros patrimônios culturais brasileiros, estão localizados em um ambiente privilegiado, o Bioma Atlântico, composto de importantes ecossistemas brasileiros, aquáticos e terrestres, riquíssimos em biodiversidade que garantem aos caiçaras uma variedade imensa de possibilidades para o desenvolvimento de uma culinária simples saborosíssima e com alma, entre outros aspectos culturais e sociais fascinantes.



O caiçara tradicional associa as expressões de seu modo de vida diretamente à utilização deste território e de seus consideráveis recursos naturais, tanto em sua alimentação, como condição para seu desenvolvimento social, cultural e econômico. O saber culinário caiçara nasce da força de sua capacidade de adaptação a este meio ambiente magnífico e abundante que o rodeia.



Ali, neste encontro entre a Mata Atlântica e o mar, os caiçaras têm a sua disposição imensos recursos encontrados nas encostas da Serra do Mar, nas planícies costeiras, estuários (mar de dentro), restingas, lagoas, manguezais, costões rochosos, praias, no alto mar, nos rios que percorrem as planícies costeiras, e nos riachos sombreados que descem da Serra do Mar e deságuam nas lagoas, estuários e no marzão formando importantes bacias e deltas que compõe nossa admirável paisagem costeira.



Nestes rios e riachos podemos encontrar uma infinidade de espécies de peixes e camarões deliciosos entre eles os pitus, para o qual estamos dando destaque hoje. Podemos encontrar também mariscos e caranguejos originalmente vindos do mar que a milhares de anos se adaptaram a água doce ou salobra. Estas espécies contribuem para o vigor e a alegria das cozinhas caiçaras.

Despesca de Viveiro de Pitus no Rio Ribeira de Iguape  (15 jun 2012)
Os pitus são camarões nativos brasileiros que vivem e se reproduzem em água salobra ou doce. São conhecidas cerca de 12 espécies de camarões de água doce nas regiões caiçaras entre o litoral sul do Estado do Rio de Janeiro e o Paraná, muitos deles chamados de pitus. Popularmente qualquer camarão de água doce, com garras longas, grande e agressivo é chamado de pitu.

Macrobrachium acanthurus - O Pitu
Nos rios e riachos que integram a bacia do Rio Ribeira de Iguape e nos cursos de água da Estação Ecológica da Juréia e da Ilha do Cardoso podemos encontrar a espécie Macrobrachium acanthurus que é a mais conhecida na região como pitu, e que também recebe o nome de camarão canela. Este camarão habita água doce e, às vezes, salobras, escuras, geralmente paradas ou pouco movimentadas, possuem hábitos noturnos e onívoros (que comem de tudo, vegetais e animais).

Macrobrachium carcinus - O Pitu Açu
A espécie Macrobrachium carcinus também encontrada na região e conhecida como lagosta do ribeira. Estas espécies habitam os rios e as baías em áreas de desembocadura de rios e riachos, onde é encontrada sob as pedras e entre a vegetação submersa das margens.

Macrobrachium olfersii e Macrobrachium potiuna - O Pituzinho
Macrobrachium heterochirus Macho Palaemon pandaliformis
Nesta região também podem ser encontradas outras espécies importantes de camarões de água doce como Macrobrachium heterochirusMacrobrachium potiuna além de Palaemon pandaliformis e Macrobrachium olfersii, estas duas últimas de menor tamanho. Todos popularmente chamados de pitus. 
Fonte: Crustáceos decápodes de água doce com ocorrência no Vale do Ribeira de Iguape e rios costeiros adjacentes, São Paulo, Brasil - Sérgio Schwarz da Rocha; Sérgio Luiz de Siqueira Bueno

Com uma textura e um sabor considerados por muitos superior às espécies marinhas, o impressionante pitu foi até citado por Pero Vaz de Caminha na “Carta a el-rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil” em 1° de maio de 1500: “...Enquanto aí estávamos, foram alguns (índios) buscar marisco e apenas acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um tão grande e tão grosso, como em nenhum tempo vi tamanho.”

De lá para cá, infelizmente a destruição de seus ambientes nativos e a pesca excessiva e descontrolada fizeram o Macrobrachium carcinus, o pitu-açú ou lagosta do Ribeira,  ser considerada uma espécie ameaçada, listada como vulnerável pelo IBAMA em 12 estados brasileiros. Hoje sua captura, venda e manutenção em cativeiro são proibidas por lei.

Pesquei muito pitu com puçá no Rio Ribeira de Iguape. Era só passar o puçá ou uma redinha com cuidado por baixo dos aguapés e pronto! Os maiores a gente conseguia pegar com um covo pequeno tendo como isca banana, espinhas e cabeças de peixe e cacos de cerâmica.

Com o pitu podemos fazer uma série de suculentos pratos tradicionais que começarei postar aqui no blog, iniciando pelo delicioso Pitu no Bafo, cuja receita segue adiante. Resgate ingredientes nativos esquecidos, estimule o comércio justo que beneficie as comunidades locais, garanta que o que você está comendo venha de fontes sustentáveis e divirta-se!



RECEITA

Fácil | 4 porções | 20 minutos

INGREDIENTES

1kg de camarões pitu inteiros (com casca e cabeça);
½ dose de cachaça boa;
1 tomate;
2 dentes de alho;
1 cebola;
1 punhado de coentro de folha larga e alfavaca, em partes iguais;
1 pimenta dedo de moça, sem sementes, bem picada.

Dica: Quer deixar o negócio chique? Acrescente algumas fatias bem finas de gengibre e um pouco de capim santo (a parte clara) bem picada.

Você vai Precisar
Uma panela funda com tampa

PREPARO

Lave bem os pitus, tempere com sal e reserve;
Pique bem o tomate, a cebola, o alho, os temperos verdes e a pimenta dedo de moça;
Forre o fundo de uma panela funda com todos os temperos, acrescente a cachaça e acomode por cima os pitus;
Tampe a panela e cozinhe em fogo médio por aproximadamente 10 minutos. Com cuidado, mexa os temperos e vire os pitus de vez em quando para que cozinhem por inteiro e absorvam os sabores do molho;
Quando os pitus estiverem bem vermelhos estarão prontos;
Sirva com um arroz branco fresquinho e uma salada bacana.

Delicie-se!