


fotos fatos e curiosidades antigamente O passado, o legado de um homem pode até ser momentaneamente esquecido, nunca apagado
Até a primeira metade do século XVI, os únicos habitantes da região eram os grupos indígenas, que se distribuíam pelos estuários e baías do litoral paranaense, principalmente às margens da baía de Paranaguá.
Inicialmente, a região era habitada por tupiniquins, tendo, mais ao sul do litoral paranaense e norte catarinense, a frequente presença de índios carijós, hábeis em descer do planalto à planície litorânea pelo caminho de Peabiru e seus ramais.
Esse antigo caminho indígena ligava o Império Inca localizado nas cordilheiras dos Andes ao litoral paulista, com ramificações para o litoral paranaense e catarinense. Por meio dessas ramificações, as nações indígenas nômades iam do litoral para o planalto e vice-versa.
No começo do século XVI, os carijós pertencentes ao tronco Tupi-Guarani, ocupavam toda a costa sul do Brasil, desde a barra de Cananéia até o Rio Grande do Sul. Registros históricos estimam que havia de 6 a 8 mil Carijós no litoral paranaense desenvolvendo atividades de lavoura e pesca. No litoral, as atividades cotidianas incluíam a caça, a pesca, coleta de ostras, mexilhões, bacucus, caranguejos, etc. Prova da presença desses povos antigos, são os vestígios deixados, chamados de sambaquis (Depósito natural de cascas de ostras e outras conchas) encontrados ora na costa, ora em lagoas ou rios. Em Guaraqueçaba, ainda se encontram vários sambaquis em bom estado de conservação.
Com o achamento do Brasil, pelos portugueses, em 22 de Abril de 1500, e a fundação da colônia de São Vicente, em 1532, no litoral paulista, partiram as primeiras expedições de exploração ao complexo estuarino de Cananéia, Iguape e Paranaguá. A história refere-se à presença, em 1545, de colonos lusos estabelecidos em Superagui e, entre 1550 a 1560, na Ilha da Cotinga.
No dia 18 de Novembro de 1547, ao tentar esconder-se de uma tempestade, o navegador alemão, Hans Staden, se abriga no canal do Superagui, onde encontrou ali índios tupiniquins e dois portugueses náufragos. Esse navegador descreveu o que viu: índios usando peles de animais ferozes para se proteger do frio. Seu relato de viagem, do ano de 1556, apresenta a primeira carta da baía de Paranaguá.
Posteriormente, na intenção de capturar índios para escravizá-los, portugueses, vindos do litoral paulista, chegaram à BAÍA DE GUARAQUEÇABA e ali descobriram ouro nos rios Ribeira, Açungui e Serra Negra; fixaram-se na região, iniciando assim, as atividades de mineração no Brasil.
Em 1614, Diogo de Unhatte, tabelião da ouvidoria de São Vicente, obteve, de Pero Cubas, a sesmaria, denominada Paranaguá, localizada entre os rios Ararapira e Superagui – atual município de Guaraqueçaba. Povoamento mais efetivo, pelos europeus, se deu no século XVII, através da atuação do capitão-mor, Gabriel de Lara.
Outro grupo de portugueses, os chamados bandeirantes, vindo de São Paulo, instalou-se às margens dos rios da baía de Guaraqueçaba. Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, nesse mesmo século, encerra-se o ciclo de mineração nessa região e as comunidades se mantiveram por meio da agricultura de subsistência. A população foi crescendo e o cultivo e comércio de arroz, cana-de-açúcar, aipim, banana, café, milho e feijão se intensificaram.
No século XVIII, fazendas de comercialização de produtos agrícolas e madeira cresceram com o trabalho escravo, inclusive, os produtos eram exportados para a Argentina e o Paraguai, sendo transportados, pelo rio, em canoas e pequenas embarcações, até o porto de Guaraqueçaba ou Paranaguá, onde eram comercializados. Nesse período, a região sofreu a influência cultural de europeus e africanos.
Em 1838, Cypriano Custódio de Araujo e Jorge Fernandes Corrêa, antigos proprietários de terras, construíram a Capela do Bom Jesus dos Perdões, na encosta do Morro Quitumbê. Em torno da capela surgiram habitações e, em pouco tempo, a povoação nascente ganha direito e privilégios. Elevado à freguesia em 1854, mas somente gozando do predicamento de Vila, no ano de 1880. Em 1938, a Vila foi extinta e anexada como Distrito ao Município de Paranaguá. Voltou a figurar como município autônomo, em 1947.
Em meados do século XIX, quando o Paraná elevou-se a categoria de Estado, muitos imigrantes europeus, principalmente suíços, italianos e franceses, instalaram-se em Superagui, onde desenvolveram agricultura com uso de canais de irrigação. Produziram arroz, uva para fabricação de vinho, café e mandioca.
PERÍODO 1500 – 1820
As únicas informações concisas sobre o início da colonização do litoral paranaense devem-se a Vieira dos Santos (1850), segundo o qual os primeiros povoadores da Baía de Paranaguá vieram de Cananéia (transformada em vila em 1587) através de pequenas embarcações pelo Varadouro Velho, chegando até Superagui.
A expedição de Gonçalo Coelho, de 1501, havia deixado portugueses e castelhanos na região de Cananéia, que logo começaram a conviver com os índios ali existentes, os Carijós, e a explorar as áreas vizinhas (provavelmente bem conhecida pelos índios). Supõe-se que estes europeus se miscigenaram com os índios, pois até a chegada de Martim Afonso de Souza, o primeiro colonizador oficial em 1531, “bem poderia haver para mais de 100 pessoas mestiças, entre filhos e netos que aqueles colonos ali propagaram” (Vieira dos Santos1850).
A ocupação inicial do litoral paranaense ocorreu na Ilha da Cotinga na Baía de Paranaguá, no lado voltado para a Ilha Rasa da Cotinga (chefiados por Domingos Gonçalves Peneda). Índios também vindos de Cananéia serviram de intérpretes entre os europeus e os povos que viviam nessa região.
PERÍODO 1820 – 1950
A ligação entre Paranaguá e demais localidades ao sul provavelmente era efetuada através de barcos até Pontal do Sul, seguindo-se de carro de boi pela praia até Matinhos, como descrito pelo naturalista francês August de Saint-Hilaire (1978) em 1820:
“Partimos de Paranaguá no dia 3 de abril, em duas canoas, uma com dois remadores e a outra com três. Depois de deixarmos o Rio de Paranaguá (Itiberê, N.A.), entramos num canal que segue mais ou menos na direção do sul da baía e é limitado de um lado pela terra firme e do outro por uma série de ilhas. Em breve perdemos de vista a cidade.
Ao longe avistávamos a Serra coroada de nuvens, que passam céleres, ora deixando à mostra os picos, ora ocultando-os.Nossas canoas avançavam velozmente, deixamos para trás a parte montanhosa da Ilha da Cotinga e fomos costeando a sua extremidade que dá para o mar, onde as terras são baixas e cobertas por mangues. Após essa ilha vem a Ilha Rasa, plana, como o seu nome indica.
A Ilha do Mel, que vem em seguida, avança até a entrada da baía. É na ponta dessa ilha que foi construído o fortim que defende a barra. À medida que avançamos, o canal de navegação se alarga. Assim como a Ilha Rasa e a Ilha do Mel, a terra firme é orlada por mangues, mas se vêem nelas, de vez em quando, quase à beira da água, pequenos sítios cobertos de telhas, diante dos quais se acham várias canoas.A ponta de terra sobre a qual já disse algumas palavras, que é chamada de Pontal, foi o lugar onde desembarcamos.
Fui recebido por um cabo de milícia que comandava um destacamento acantonado nas imediações. Esse homem recebera ordem de cuidar para que chegassem a tempo as carroças que iriam levar a mim e ao meu pessoal a Caiobá. Todos foram pontuais. As carroças pertenciam a alguns fazendeiros das vizinhanças, eram grandes e puxadas por duas juntas de bois, sendo cobertas por um trançado feito de varas de bambu sobre o qual havim sido colocadas algumas folhas de bananeira amarradas em cipó.
Não havia em Pontal nem casas, nem vegetação; nada mais existia ali a não ser areia pura. Logo que desembarcamos acendemos um fogo para cozinhar o feijão e o arroz, que juntamente com água e farinha iriam constituir o nosso jantar. A bagagem foi colocada nos carros-de-boi, e quando partimos o sol já havia se posto fazia muito tempo.
Os moradores do lugar têm o hábito de viajar à noite, beirando o mar, porque os bois andam muito mais depressa no escuro do que à claridade do dia.Instalei-me com Laruotte em um dos carros-de-boi, José e Firmiano subiram num outro e Manuel acomodou-se no terceiro. Laruotte pusera uma esteira no chão e estendera sobre ela um cobertor e o meu poncho. Deitei-me, e em breve o marulho das ondas me fez adormecer, mas acordava de vez em quando e percebia, à luz do luar, que seguíamos por uma praia de areia pura, com as ondas vindo lamber de vez em quando as rodas dos carros.”
Loureiro Fernandes (1946/1947) deixou um importante relato quando acompanhou o desenvolver da construção da Estrada da Praia, descrevendo a geografia da planície de Praia de Leste.
Descreveu os traços geológicos fundamentais, os sambaquis e os povos que contribuíram para a formação do homem caboclo litorâneo, no caso os brancos, os índios e os negros, sendo que para este autor a contribuição negra foi insignificante. Em seu trabalho, Loureiro Fernandes fotografou a praia, onde podiam ser constatadas a presença do gado, introduzido pelos europeus, e habitações na praia visando a pesca, cujo aspecto revela que a contribuição indígena perdurou por muitos séculos