quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Hercília Machado Lima e o Bungalow Sonhado: Uma História de Arquitetura, Memória e Efemeridade em Curitiba

 Hercília Machado Lima e o Bungalow Sonhado: Uma História de Arquitetura, Memória e Efemeridade em Curitiba

Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto e Construtor

Denominação inicial: Projéto de Bungalow para a Snra. Hercilia Machado Lima

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Rua Lamenha Lins, s/n

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 194,00 m²
Área Total: 194,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 15/04/1936

Alvará de Construção: Nº 1878/1936

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de bangalô e Alvará de Construção.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Detalhe dos cortes A-B e C-D.
3 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 e 2 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow. Planta dos pavimentos térreo e superior, implantação e fachada frontal; plantas dos cortes A-B e C-D, apresentados em duas pranchas. Microfilme digitalizado.
3 - Alvará n.º 1878

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

Hercília Machado Lima e o Bungalow Sonhado: Uma História de Arquitetura, Memória e Efemeridade em Curitiba

Em uma Curitiba em plena efervescência urbana — onde bondes elétricos cortavam as avenidas, a elite cafeeira investia em residências com ares europeus e a arquitetura moderna ainda engatinhava entre traços ecléticos e influências art déco —, uma mulher chamada Hercília Machado Lima decidiu deixar sua marca no tecido urbano da cidade. Não com pompa ou ostentação, mas com a quietude elegante de quem deseja um lar à sua medida. Para isso, em 15 de abril de 1936, encomendou ao arquiteto Eduardo Fernando Chaves o projeto de um bangalô residencial na Rua Lamenha Lins, s/n, no coração da capital paranaense.

Esse pedido, aparentemente simples, tornou-se um documento precioso da história arquitetônica e social de Curitiba — não apenas pelo traço do profissional que o concebeu, mas pelo testemunho silencioso de uma classe média ascendente que, na primeira metade do século XX, buscava, na arquitetura, a expressão de seu lugar no mundo.

O Arquiteto: Eduardo Fernando Chaves, Construtor da Cidade Moderna

Pouco se sabe sobre a biografia completa de Eduardo Fernando Chaves, mas seu nome aparece com frequência nos registros técnicos da Curitiba dos anos 1930 e 1940. Arquiteto e construtor, Chaves operava em um momento de transição estilística: entre o fim do ecletismo, com suas fachadas ornamentadas e telhados inclinados, e o surgimento de uma linguagem mais racional, funcional e limpa, precursora do modernismo brasileiro.

Seu projeto para Hercília Machado Lima — denominado originalmente “Projéto de Bungalow para a Snra. Hercilia Machado Lima” — reflete essa passagem delicada. O desenho, apresentado em duas pranchas detalhadas (hoje digitalizadas em microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba), inclui:

  • Planta baixa do pavimento térreo e superior
  • Implantação no terreno
  • Fachada frontal
  • Cortes longitudinais (A-B e C-D)

Tudo isso com uma precisão técnica que revela tanto o rigor profissional de Chaves quanto o cuidado com o conforto e a estética da futura moradora.

A Casa: Um Bangalô de Dois Pavimentos na Rua Lamenha Lins

Apesar do termo “bangalô” geralmente evocar construções térreas e horizontais — inspiradas nas residências coloniais indianas adaptadas pelos ingleses —, o projeto de Chaves apresentava uma peculiaridade: dois pavimentos, algo incomum para o gênero, mas compreensível em um contexto urbano em expansão, onde o valor do terreno começava a pressionar para cima.

Com 194,00 m² de área total, distribuídos em dois níveis sobre alvenaria de tijolos — técnica dominante da época, que garantia solidez e durabilidade —, a residência foi projetada para acomodar com elegância e funcionalidade uma família de classe média alta. Os cortes revelam pé-direito generoso, escadas internas bem dimensionadas e provavelmente varandas ou janelões que dialogavam com o clima ameno da Serra do Mar.

O Alvará de Construção nº 1878/1936, emitido pela Prefeitura Municipal de Curitiba, autorizou a edificação, confirmando que a casa foi, de fato, erguida. Por décadas, talvez, serviu de refúgio, lar e testemunha silenciosa das mudanças na vizinhança: o crescimento do bairro, a urbanização acelerada, a substituição de quintais por edifícios.

A Perda: Demolição e a Fragilidade da Memória Urbana

Infelizmente, como tantas outras construções do período entre guerras, o bangalô de Hercília Machado Lima não resistiu ao tempo. Em 2012, o imóvel foi demolido, provavelmente para dar lugar a um empreendimento imobiliário mais compatível com a lógica especulativa do século XXI. Nada resta hoje no terreno da Rua Lamenha Lins, s/n — exceto os planos arquitetônicos preservados em arquivo, que clamam por atenção como documentos históricos.

Essa demolição simboliza uma ferida comum nas cidades brasileiras: a perda silenciosa do patrimônio afetivo e arquitetônico cotidiano. Não se tratava de um palacete ou de uma obra de Oscar Niemeyer, mas de uma casa comum — e justamente por isso, profundamente representativa da vida real de milhares de curitibanos que, como Hercília, sonharam com um espaço próprio, digno, belo.

Hercília Machado Lima: A Mulher por Trás do Nome

Embora os registros não revelem muito sobre sua vida — data de nascimento, profissão, descendência —, o simples fato de Hercília Machado Lima ter encomendado uma casa própria em 1936, com projeto assinado por um arquiteto, já fala volumes. Num Brasil ainda profundamente patriarcal, era incomum que mulheres, especialmente solteiras ou viúvas, fossem titulares de empreendimentos imobiliários. Sua iniciativa sugere independência, visão e, talvez, uma história de superação não contada.

Seu nome, gravado no título do projeto e no alvará municipal, permanece como um ato de resistência simbólica contra o esquecimento. Enquanto o concreto caiu, seu nome — e o do arquiteto que acreditou em seu sonho — sobrevive nos arquivos.

Legado: Entre Papel e Memória

Hoje, o projeto de Eduardo Fernando Chaves para Hercília Machado Lima é mais do que um conjunto de linhas em pranchas amareladas. É um documento de época, um retrato da aspiração residencial de uma classe social em ascensão, e um lembrete urgente da necessidade de proteger não só os monumentos, mas também as arquiteturas do cotidiano — aquelas que abrigaram vidas comuns, mas igualmente dignas de memória.

Que a demolição dessa casa nos ensine: preservar não é apenas manter paredes de pé, mas honrar as histórias que nelas habitaram.


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João Luiz Pereira de Araujo Costa Nascido a 14 de maio de 1887 (sábado) - Curitiba, Paraná, Brasil Falecido a 13 de agosto de 1969 (quarta-feira) - Curitiba, Paraná, Brasil, com a idade de 82 anos Enterrado - Curitiba, Paraná, Brasil

  João Luiz Pereira de Araujo Costa Nascido a 14 de maio de 1887 (sábado) - Curitiba, Paraná, Brasil Falecido a 13 de agosto de 1969 (quarta-feira) - Curitiba, Paraná, Brasil, com a idade de 82 anos Enterrado - Curitiba, Paraná, Brasil

João Luiz Pereira de Araújo Costa: Um Cavaleiro Silencioso da Velha Curitiba

Nascido sob o manto suave de um sábado de outono — 14 de maio de 1887 — nas ruas de paralelepípedos e casarões de madeira da Curitiba ainda em formação, João Luiz Pereira de Araújo Costa veio ao mundo em um Brasil que se reconstruía após a abolição da escravidão e a proclamação da República. Seu nascimento marcou o início de uma vida que, embora vivida com discrição, deixaria raízes profundas na história familiar da capital paranaense.

Filho de uma época em que os nomes ainda carregavam o peso das tradições ibéricas e das aspirações de nobreza civil, João Luiz cresceu em meio a valores sólidos: honra, trabalho, respeito à palavra dada e devoção à família. Embora os registros não detalhem seus pais ou irmãos, sua trajetória revela um homem profundamente enraizado na identidade curitibana — um cidadão da terra, um guardião do lar.

Aos 23 anos, em 17 de setembro de 1910, selou com o coração o compromisso mais importante de sua vida: casou-se com Noêmia da Cunha, uma jovem nascida em 1893, cuja ternura e força seriam o alicerce de seu lar por mais de quatro décadas. O matrimônio, celebrado em Curitiba, não foi apenas uma união conjugal, mas um pacto de construção — de uma casa, de uma linhagem, de um legado ético e humano.

Durante os anos que se seguiram, João Luiz viveu os ritmos de uma cidade que crescia com modéstia e dignidade. Trabalhou com integridade — fosse no comércio, na administração pública ou na lavoura, como tantos de sua geração — sempre com o olhar voltado ao futuro de sua família. E esse futuro chegou com o som de um choro infantil em 15 de novembro de 1920: nascia João Luiz da Cunha Costa, seu único filho conhecido, que herdaria não apenas o nome, mas também — como se veria mais tarde — o mesmo senso de responsabilidade e carinho familiar.

A paternidade transformou ainda mais o caráter de João Luiz. Criou seu filho com os ensinamentos que recebera ou que forjou na forja das experiências: honestidade como regra, educação como arma, e bondade como escolha diária. Quando o jovem João Luiz completou seus estudos e encontrou o amor, seu pai assistiu com orgulho ao próximo capítulo da saga familiar. Em 23 de maio de 1946, aos 59 anos, viu seu filho unir-se a Dora Miró Tourinho, mulher de graça e espírito, iniciando uma nova geração que levaria adiante o sangue e o nome dos Costa e dos Cunha.

Mas a vida, sempre cíclica, reservava também despedidas. Em 30 de janeiro de 1954, após 44 anos de matrimônio, Noêmia da Cunha faleceu em Curitiba, aos 60 anos. Para João Luiz, agora com 66 anos, o mundo perdia sua âncora afetiva. Viúvo, seguiu com a serenidade dos que já viram muitas primaveras e outonos — mantendo viva a memória da esposa nas pequenas rotinas, nos retratos pendurados com cuidado, nas histórias contadas ao neto que talvez já brincava nos corredores da casa ancestral.

Por mais quinze anos, João Luiz Pereira de Araújo Costa permaneceu em Curitiba, testemunhando as transformações da cidade que o viu nascer: os bondes desaparecendo, os automóveis crescendo, os prédios subindo. Mas ele, homem do século XIX em alma, manteve sua postura íntegra até o fim. Faleceu em 13 de agosto de 1969, numa quarta-feira quente de inverno paranaense, aos 82 anos. Seu corpo foi sepultado em sua terra natal — Curitiba, a cidade que foi berço, lar e eterno endereço de seu coração.

Seu legado não está em monumentos, mas em gerações. Está no olhar do filho que criou, na neta ou neto que jamais o conheceu, mas carrega seu nome em silêncio. Está na maneira como sua família honra os laços, na força tranquila de quem soube amar sem alarde, viver sem ostentação e partir sem arrependimentos.

João Luiz Pereira de Araújo Costa não foi um herói de livros, mas um herói cotidiano — e são esses, muitas vezes, os que mais movem a história.


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  • Nascido a 14 de maio de 1887 (sábado) - Curitiba, Paraná, Brasil
  • Falecido a 13 de agosto de 1969 (quarta-feira) - Curitiba, Paraná, Brasil, com a idade de 82 anos
  • Enterrado - Curitiba, Paraná, Brasil

 Casamento(s) e filho(s)

 Notas

Notas individuais

 Fontes

  • Pessoa: FamilySearch Family Tree
    FamilySearch Family Tree (https://www.familysearch.org) - "FamilySearch Family Tree," database, FamilySearch  - The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints - accessed 10 Mar 2025), entry for João Luiz da Cunha Costa - , person ID GMFW-91Z. - 3
  • Nascimento, morte, enterro: FamilySearch Family Tree (https://www.familysearch.org) - "FamilySearch Family Tree," database, FamilySearch  - The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints - accessed 10 Mar 2025), entry for João Luiz da Cunha Costa, person ID GMFW-91Z.
  • Casamento: FamilySearch Family Tree (https://www.familysearch.org) - "FamilySearch Family Tree," database, FamilySearch  - The Church of Jesus Christ of Latter-day Saints - accessed 10 Mar 2025), entry for Noemia da Cunha, person ID G3W8-HZP.
188714 maio
191017 set.
23 anos
192015 nov.
33 anos
194623 maio
59 anos
195430 jan.
66 anos
196913 ago.
82 anos


Descendentes de João Luiz Pereira de Araujo Costa