sexta-feira, 7 de novembro de 2025

As Bruxas da Noite: Quando Mulheres Voaram nas Sombras e Fizeram o Inimigo Tremer

 As Bruxas da Noite: Quando Mulheres Voaram nas Sombras e Fizeram o Inimigo Tremer

As Bruxas da Noite: Quando Mulheres Voaram nas Sombras e Fizeram o Inimigo Tremer

Há histórias que parecem saídas de contos épicos — mas não são ficção. São feitas de carne, sangue, coragem e céu gelado. Durante a Segunda Guerra Mundial, enquanto o mundo ardia em fogo e ódio, um esquadrão de mulheres soviéticas subiu aos céus em aviões de madeira e lona… e se tornou o pesadelo dos nazistas.

Elas eram conhecidas como “As Bruxas da Noite” — e o nome não foi escolhido por acaso.

Oficialmente chamadas de 588º Regimento de Bombardeio Noturno da Força Aérea Soviética, eram a primeira unidade militar de combate composta inteiramente por mulheres da história moderna. Mas para os soldados alemães que ouviam o som assustador de suas asas cortando a escuridão, elas eram algo além do humano: eram bruxas que desciam do céu para levar a morte.


O Berço do Heroísmo

Tudo começou com Marina Raskova — uma aviadora lendária, apelidada de “a Joana d’Arc soviética”. Piloto, navegadora e recordista de voo, ela usou sua fama e influência junto a Stalin para convencer o governo soviético a permitir que mulheres pilotassem em combate. Em 1941, após a invasão nazista à União Soviética, o país precisava desesperadamente de todo e qualquer soldado. E Marina viu nisso uma oportunidade histórica.

Assim nasceu o 588º Regimento — composto apenas por mulheres: pilotos, navegadoras, mecânicas, armadoras, motoristas. Entre elas, havia professoras, estudantes, camponesas, artistas. Muitas tinham apenas 17 ou 18 anos. Mal tinham saído da escola — e já estavam treinando para sobrevoar zonas de guerra.

Mas não tinham aviões modernos. Nem radares. Nem paraquedas confiáveis. Nem uniformes adequados — muitas voavam com botas de feltro e casacos emprestados, adaptando roupas masculinas para caber em seus corpos.

Seus aviões? Polikarpov Po-2 — biplanos de treinamento feitos de madeira e lona, projetados nos anos 1920. Lentos, frágeis, praticamente obsoletos. Um alvo fácil… ou assim parecia.

Mas foi justamente nessa aparente fraqueza que residia sua genialidade.


O Ataque Silencioso

Enquanto os bombardeiros pesados das forças aliadas atacavam de dia com estrondo e fumaça, as Bruxas da Noite dominaram a arte do terror noturno.

Elas decolavam ao cair da noite, muitas vezes em temperaturas de -30°C, com os dedos dormentes e os lábios rachados pelo frio. Voavam baixo, a poucas centenas de metros do solo, guiando-se apenas pelas estrelas, mapas e instinto.

Ao se aproximarem do alvo, desligavam os motores.

E então… o silêncio.

O único som era o sussurro do vento nas asas, um ruído seco e assustador que soldados alemães comparavam ao de uma vassoura varrendo o céu. Daí veio o nome: NachthexenBruxas da Noite.

Antes que o inimigo pudesse reagir, as bombas caíam. Explosões rasgavam a escuridão. O pânico se espalhava. E, em segundos, as Bruxas desapareciam na noite, voltando para recarregar e atacar de novo.

Muitas realizavam até 10 missões por noite. Uma delas, Nadezhda Popova, completou 852 missões — um recorde quase inacreditável.

Eram tão eficazes que os nazistas ofereciam a Cruz de Ferro — uma das mais altas condecorações militares — a qualquer soldado que derrubasse uma Bruxa da Noite. Quase ninguém conseguiu.

Por quê? Porque elas eram imprevisíveis, rápidas nas manobras de aproximação e mestres da furtividade. Seus aviões voavam tão baixo que os radares inimigos não os detectavam. E o Po-2 era tão leve que os canhões antiaéreos tinham dificuldade em acertá-lo — era como atirar em um fantasma de papel.


Sangue, Lágrimas e Coroas de Heróis

Mais de 23.000 missões foram realizadas pelo regimento ao longo da guerra.
Mais de 3.000 toneladas de bombas foram lançadas sobre posições inimigas.
Mais de 25 delas receberam a mais alta distinção soviética: Heroína da União Soviética.

Mas o preço foi alto.
30 mulheres do 588º Regimento morreram em combate.
Muitas foram abatidas em pleno voo, congeladas ou consumidas pelo fogo antiaéreo.
Outras foram capturadas — e, como prisioneiras, enfrentaram tortura silenciosa, cujas histórias raramente foram contadas.

Mesmo assim, nunca recuaram.

Elas não lutavam apenas contra os nazistas — lutavam contra o preconceito, contra a invisibilidade, contra a ideia de que o lugar da mulher era apenas em casa, cuidando dos filhos. Enquanto alguns generais duvidavam de sua capacidade, elas provavam, noite após noite, que coragem não tem gênero.


O Legado que o Céu Não Esqueceu

Após a guerra, muitas Bruxas da Noite foram esquecidas. A União Soviética, apesar de tê-las usado como símbolo de propaganda durante o conflito, tentou apagar seu papel histórico nas décadas seguintes. Mas a verdade não morre.

Hoje, elas são celebradas em museus, livros, documentários e até em jogos e séries. Seus nomes — Marina Raskova, Nadezhda Popova, Yevgeniya Zhigulenko, Lilya Litvyak (de outro regimento, mas igualmente lendária) — ecoam como hinos de resistência feminina.

Elas mostraram que a coragem não depende de força física, mas de vontade inabalável.
Que o heroísmo pode vestir uma jaqueta surrada e botas femininas.
E que, mesmo em um mundo em chamas, uma mulher pode escolher ser tempestade — e não apenas sobrevivente.


Que ninguém mais diga que o lugar da mulher não é na guerra…
quando, na escuridão do inferno, foram elas que trouxeram a luz do dever.


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Flodoaldo Mattoso e a Casa na Rua Alferes Poli: Modéstia, Solidez e o Traço de Eduardo Fernando Chaves na Curitiba de 1936

 Flodoaldo Mattoso e a Casa na Rua Alferes Poli: Modéstia, Solidez e o Traço de Eduardo Fernando Chaves na Curitiba de 1936

Na Curitiba de meados dos anos 1930, entre o entusiasmo da modernidade e a persistência das tradições, erguiam-se casas que, embora modestas em dimensões, carregavam em si o peso dos sonhos de uma classe média em consolidação. Entre essas edificações — muitas já desaparecidas sob o avanço do concreto ou o descaso pelo patrimônio comum — encontra-se a residência projetada pelo arquiteto Eduardo Fernando Chaves para o senhor Flodoaldo Mattoso, localizada na Rua Alferes Poli, bairro que, na época, integrava o crescente tecido residencial da capital paranaense.

Embora demolida em 2012, a casa permanece viva nos traços precisos de um projeto arquitetônico preservado em microfilme no Arquivo Público Municipal de Curitiba — um documento que, mais do que linhas e cotas, revela uma forma de viver, de construir e de pertencer à cidade.


Um Lar de Pequeno Porte, Mas Grande Significado

Em 15 de setembro de 1936, Eduardo Fernando Chaves, já ativo na cena arquitetônica local, assinava o “Projéto de Casa para o Sr. Flodoaldo Mattoso” — grafia típica da época, com acento em “projéto” e tratamento formal de “Sr.”. O projeto, contido em uma única prancha, reunia todos os elementos essenciais à construção: planta do pavimento térreo, planta de implantação, cortes e fachada frontal, demonstrando economia de recursos sem abrir mão da clareza técnica.

Localizada na Rua Alferes Poli — uma via que ainda hoje corta os bairros Centro e São Francisco —, a residência foi concebida como moradia de pequeno porte, com 150,00 m² distribuídos em um único pavimento. Apesar da classificação como “pequena”, sua área era considerável para os padrões da época, especialmente quando comparada às casas operárias ou econômicas de 60 a 90 m². Tratava-se, portanto, de uma moradia para uma família de classe média estável, talvez ligada ao comércio, ao funcionalismo público ou às profissões liberais.

O material construtivo escolhido — alvenaria de tijolos — revela uma intenção clara: durabilidade e respeitabilidade. Diferentemente das casas de madeira, comuns nas periferias e zonas menos valorizadas, a alvenaria simbolizava permanência, segurança e inserção urbana. Era o material daqueles que não pretendiam apenas morar, mas deixar raízes.


Flodoaldo Mattoso: O Homem por Trás do Nome

Pouco se sabe sobre Flodoaldo Mattoso. Seu nome não figura em registros biográficos extensos, nem em anuários comerciais da época de forma proeminente. No entanto, o fato de ter contratado um arquiteto reconhecido como Eduardo Fernando Chaves — mesmo para uma residência de pequeno porte — indica que era um homem com certa estabilidade financeira e sensibilidade para o valor do bom projeto.

O sobrenome Mattoso sugere origens lusitanas, comum na elite e na classe média curitibana do período. Em 1936, o Brasil vivia sob a sombra crescente do Estado Novo, com ênfase na ordem, no trabalho e na valorização do lar como célula da sociedade. Nesse contexto, ter uma casa própria — planejada, legalizada, construída com tijolos — era um ato de cidadania e de realização pessoal.

É provável que Flodoaldo tenha morado na casa por décadas, criando filhos, recebendo amigos, acompanhando o crescimento da cidade da varanda de seu quintal. A casa, embora singela, era seu refúgio e seu testemunho no mundo.


Eduardo Fernando Chaves: O Arquiteto da Cidade Cotidiana

Mais uma vez, Eduardo Fernando Chaves demonstra sua versatilidade e compromisso com o habitar humano. Diferentemente de arquitetos que buscavam o espetáculo estilístico, Chaves dedicava-se à arquitetura do cotidiano — aquela que serve, protege, acolhe. Seu projeto para Flodoaldo Mattoso, embora mais simples que o da residência de Ewaldo Hauer (300 m², dois pavimentos), mantém a mesma clareza espacial, lógica funcional e coerência construtiva.

A fachada frontal, embora não possamos analisar detalhes ornamentais devido à limitação do microfilme, provavelmente seguia os padrões do ecletismo tardio com toques de racionalidade moderna: vãos proporcionais, simetria sutil, telhado de duas águas e talvez um pequeno alpendre ou varanda integrada — elementos comuns nas residências burguesas da época.

O fato de o projeto incluir cortes e implantação mostra que Chaves pensava a casa em relação ao terreno, ao sol, à ventilação e à privacidade — preocupações que, embora hoje sejam comuns, nem sempre eram priorizadas por construtores informais na década de 1930.

A obra foi legalizada com o Alvará de Construção nº 2186/1936, emitido pela Prefeitura Municipal de Curitiba, o que reforça a regularidade e a seriedade do empreendimento.


A Demolição e o Silêncio da Memória Urbana

Em 2012, a casa foi demolida. Não há registros públicos sobre as razões — especulação imobiliária, deterioração, ou simples desinteresse pelo valor histórico. O que restou foi apenas o documento arquitetônico e o alvará, guardados no Arquivo Público como memória fria, mas essencial.

Essa perda é simbólica: representa o destino de centenas de residências comuns que, embora não sejam monumentos, compõem a textura íntima da cidade. São elas que dão alma aos bairros, que contam histórias de gerações, que marcam o ritmo da vida cotidiana.


Conclusão: O Valor do Ordinário

A casa de Flodoaldo Mattoso não foi um ícone arquitetônico. Não apareceu em revistas, não inspirou movimentos, não abrigou figuras históricas. Mas foi real. Foi um lar. Foi um projeto pensado com cuidado por um arquiteto dedicado. Foi um símbolo de dignidade para um cidadão comum.

Hoje, ao estudar sua planta, podemos imaginar o corredor que ligava os quartos à sala, a cozinha voltada para o fundo, o quintal onde talvez houvesse uma árvore frutífera. Podemos sentir, mesmo à distância do tempo, o peso afetivo do lugar.

Que a demolição física não signifique apagamento total. Que o projeto de Chaves, preservado em microfilme, continue a inspirar pesquisadores, historiadores e cidadãos a valorizar não apenas os palácios, mas também as casas simples que, juntas, constroem a verdadeira história de uma cidade.

Porque, afinal, é na casa comum que a vida acontece de verdade.


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Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto

Denominação inicial: Projéto de Casa para o Sr. Flodoaldo Mattoso

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Rua Alferes Poli

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 150,00 m²
Área Total: 150,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 15/09/1936

Alvará de Construção: Nº 2186/1936

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de casa e Alvará de Construção.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Casa. Planta do pavimento térreo, implantação, cortes e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 2186

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.