terça-feira, 26 de junho de 2018

Rua Marechal Floriano, Curitiba, em 1939. Ao centro, canteiros com magnólias.

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Corrida de charrete na estrada do Xaxim – 1945 
Acervo : João Derosso ...
As corridas normalmente aconteciam aos domingos,bastando que houvesse um desafio ...
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Praça Menonita – 1994 – foto Marcos Campos ...
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1950 - Obras de alargamento da estrada do Xaxim,atual rua Francisco Derosso...
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Praça Carlos Gomes, Curitiba, em 1907.

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Primórdios da Segurança Pública de Curitiba, em 1909. Carrocinha para transporte de presos estacionada em frente da antiga Penitenciaria do Estado, no bairro Ahú.

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Praça Osório, Curitiba, em 1905. Foto: Curitiba.pr.gov.br

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DE SÃO PAULO A CURITIBA, DE TREM - E SE FOSSE HOJE?

A estação de Ponta Grossa, em 1935 (Relatório da RVPSC)
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Houve um tempo, mais precisamente entre 1909 e 1976, que se podia ir de São Paul a Curitiba de trem. Por que isso acabou?

Especificamente, viajar de trem entre São Paulo e Curitiba devia ser algo que nunca tenha sido muito comum, durante os sessenta e sete anos em que isso foi possível. E por que penso eu assim?

Bom, primeiro, estou falando como alguém que jamais fez essa viagem (quando acabou, eu tinha vinte e quatro anos de idade). Portanto, estou fazendo uma série de conjeturas que me parecem razoavelmente lógicas.

A separação da província do Paraná da de São Paulo, em 1853, foi uma consequência do isolamento de Curitiba e do porto de Paranaguá em relação ao governo central da província de São Paulo. Os paranaenses insistiam em ter um governo próprio, pois a viagem para Curitiba, quando necessária, era feita por navios a partir de Santos e desembargando em Paranaguá. Também era possível se fazer a cavalo até Ponta Grossa pela trilha dos tropeiros e dali até Curitiba. Era um trecho longo e, não por coincidência, a ferrovia fez praticamente o mesmo trajeto.

O caminho mais curto de São Paulo a Curitiba é o atual, que a BR-116, Regis Bittencourt, segue. E ela existe desde 1960. Antes dela, havia dois outros caminhos. Um, via Sorocaba, Itararé, Ponta Grossa até Curitiba; outro, via Sorocaba, Itapetiniga, Capão Bonito, Apiaí, Ribeira, Cerro Azul e, finalmente, Curitiba. Este caminho somente foi asfaltado há cerca de dez anos e é uma estrada extremamente estreita e cheia de curvas, principalmente no trecho paranaense.

Houve vários estudos, na área ferroviária, que queriam aproveitar o ramal Santos-Juquiá, pronto em 1915, prolongando-o até Curitiba. Isto, no entanto, faria com que o paulistano tivesse de descer até Santos, tomar essa linha que, de alguma forma, deveria subir novamente a Serra do Mar para alcançar Curitiba.

A Regis Bitencourt tem cerca de 400 quilômetros entre São Paulo e a capital paranaense. Já a ferrovia que unia as duas capitais tinha 830 quilômetros e uma longa parada em Ponta Grossa, sendo que havia divisões de comboio que às vezes obrigavam os passageiros a pernoitar em Ponta Grossa. Digo "tinha" por que todo o trecho entre Itapeva e Jaguariaíva foi arrancado há mais de vinte anos (1993). Se houvesse um trem de passageiros hoje entre São Paulo e Curitiba que seguisse a linha atual, ele teria de passar por uma variante construída entre Itapeva e Ponta Grossa nos anos 1970.

Na verdade, a razão oficial para a extinção do trem na linha de 1909 foi a queda de uma ponte em Itararé, em 1976. A partir daí, até se podia ir de trem a Curitiba, mas a volta era imensa, via Ourinhos. Isto, de qualquer forma, foi possível até junho de 1979, quando os trens foram extintos.

Não é à toa que Curitiba cresceu em velocidade muito maior somente após a abertura da Regis Bittencourt, 55 anos atrás. Somente aí a cidade passou a fazer parte de uma estrada realmente - no caso, de asfalto. Na ferrovia, era não era muito mais do que um ramal, mesmo sendo a capital e local de passagem de trens para o principal porto do Estado.

Mas e se a ferrovia, tal como ela era em 1976, tivesse mantido os seus trens de passageiros até hoje? Lembrar que o trecho entre Ponta Grossa e Curitiba foi retificado em 1966 e 1978, portanto, depois do fim dos trens para São Paulo. Lembremo-nos também que a linha problemática entre Itararé e Jaguariaíva (98 quilômetros de linha para 48 quilômetros de rodovia entre as duas) foi reformulada em metade desse trecho em 1964. A outra metade, entre Fábio Rego e Itararé, apesar de ter sido projetada, nunca foi realizada. Essas duas melhorias reduziram a distância, mas, quanto? Cinquenta, sessenta quilômetros? Pouco para os 830 quilômetros, que representam hoje o dobro da distância percorrida por automóveis na rodovia BR-116.

Enfim, se o percurso, com as modificações citadas e apenas ela, tivessem, por algum capricho, sido mantido, seria ele utilizado para viagens entre as duas capitais? Difícil. O mais provável seria que os passageiros fizessem pequenos percursos, como em trens regionais. Quais são as cidades que, hoje, seriam candidatas a terem bastante movimento?

Considerando obviamente que os trens da CPTM seriam independentes de um trem São Paulo-Curitiba, vamos supor que esse trem saísse da estação de Julio Prestes (ou da Barra Funda). Daí, parasse em estações que pudessem apresentar bom movimento. Então, eu sugeriria Osasco, Barueri, São Roque, Mairinque, talvez Alumínio e Sorocaba. Daí em diante: Tatuí, Itapetininga, Itapeva e Itararé. Já no Paraná, Jaguariaíva, Castro, Carambeí e Ponta Grossa. Daí até Curitiba, somente Palmeira, Balsa Nova e Araucária, para dali alcançar Curitiba.

Enfim, os 830 (talvez 760) quilômetros seriam percorridos por passageiros que iriam de uma cidade a outra e também pelos que se dirigiam aos dois extremos da linha. Afinal, fazer 830 quilômetros de uma vez tendo aviões e carros à disposição em, respectivamente, 40 minutos e cinco horas seria coisa para aventureiros. Bom para se fazer uma vez a cada cinco anos.

A conclusão é que trens estas duas capitais não seriam viáveis hoje, a não ser que se construísse uma linha totalmente nova e bem mais curta, capaz de transportar comboios que pudessem correr a pelo menos duzentos quilômetros por hora. Possível é. O difícil é convencer os governos de visão curta que continuamos tendo, apesar dos seguidos tombos que temos sido obrigados a sofrer desde sempre.

História da Cidade Ponta Grossa


Ponta Grossa 1827 - Aquarela pintada por Jean Baptiste Debret em 1827, é a primeira imagem registrada a respeito de Ponta GrossaA ocupação do território paranaense se iniciou no litoral e pode ser dividida em três grandes fases: século XVII - ocupação do litoral e do planalto curitibano; século XVIII - conclui-se a ocupação dos Campos Gerais; século XIX - ocuparam-se os campos de Guarapuava e os de Palmas. Assim, até meados deste século, o processo de interiorização se conclui constituindo o chamado Paraná Tradicional.
A ocupação das terras dos Campos Gerais se iniciou logo na primeira década do século XVIII. Local próprio para o desenvolvimento da pecuária (tendo o seu limite sul no vale do Rio Iguaçu e extremo norte demarcado pelo Rio Itararé), os Campos Gerais tornaram-se então passagem obrigatória na rota do comércio que levava gado e muares do Rio Grande para o abastecimento de São Paulo e das Minas Gerais.
A necessidade de abastecimento colonial tanto impulsionou o mercado interno brasileiro, possibilitando a gradativa integração das economias regionais, como favoreceu, também, a ocupação de regiões do interior paranaense.
A ligação inter-regional se fazia pelo Caminho do Viamão, que compreendia três rotas, sendo a via mais utilizada denominada Estrada Real, passando pelos campos de Vacaria, Lages, Campos Gerais e Itararé, chegando a Sorocaba.
O povoamento dos Campos Gerais foi começado em 1704, por iniciativa dos nobres potentados paulistas José Gois de Morais e Pedro Taques de Almeida, secundados por outros membros da ilustre linhagem, que no mencionado ano requereram grandes sesmarias no território paranaense, abrangendo desde a margem esquerda do rio Itararé às cabeceiras do Tibagi.
Tropeiros - Foto de tropeiros no início do século, na região de Ponta Grossa. Ao fundo panorama dos Campos Gerais.Ligadas ao tropeirismo, ainda no século XVIII, pequenas povoações começaram a surgir ao longo do Caminho das Tropas. Nos locais em que as tropas fixavam pouso, fazendo seus pequenos ranchos para descanso, trato e engorda do rebanho, ou esperando passar as chuvas e baixar o nível dos rios, logo surgia um ou outro morador, fundando casa de comércio, interessado em atender às necessidades dos tropeiros. Dessa forma, pequenas freguesias e vilas, como o Príncipe (Lapa), Palmeira, Ponta Grossa, Piraí do Sul, Castro e Jaguariaíva, tiveram seu desenvolvimento inicial dependente das fazendas e do movimento das tropas.

Tropeiros - Foto de tropeiros em Ponta Grossa no início do século XX, onde destaca-se a vegetação típica da região dos Campos Gerais.Foi ao longo do século XIX que as vilas adquiriram uma conformação urbana, deixando de ser um complemento da vida rural. Tornaram-se centro de resoluções de questões políticas e pólo de atração de populações, inclusive das fazendas. Diversificaram-se ali as atividades econômicas, conferindo-se-lhes uma dinâmica própria. Essa realidade emergente propiciou um novo ordenamento do convívio, com a instauração da Justiça e a elaboração de Códigos de Posturas, regulando o cotidiano do cidadão.
Sendo assim, as últimas décadas do século XIX foram marcadas pela contraposição entre a consolidação dos núcleos urbanos e a retração da economia rural nos Campos Gerais. Essa economia foi quase auto-suficiente e que oportunizou o poderio dos fazendeiros declina pouco a pouco viabilizando o desenvolvimento das cidades.
Com a transformação do uso da propriedade, partilhada entre o criatório e a invernagem, com a predominância desta, que acompanhou a mudança do fazendeiro em tropeiro, e com a ampliação da economia monetária que a isso se seguiu, desenvolveu-se o comércio contra a auto-suficiência das fazendas, começando o predomínio das cidades.
Estação Roxo de Rodrigues - Estação Saudade - construída para abrigar os Escritórios Centrais da Rede Ferroviária São Paulo - Rio Grande.Nascida sob a hegemonia das fazendas, Ponta Grossa crescia e tinha novas ambições: um teatro (1873), uma biblioteca (1876) indicadores do novo vigor e mentalidade arejada de seus habitantes. O núcleo urbano ponta-grossense entrava em uma fase de expansão. A população local em 1890 atingia a casa dos 4.774 habitantes. No início do século XX, a cidade respirava um clima urbano contando com bandas musicais que disputavam espaço para as apresentações, cinema, luz elétrica, associações beneficentes e hospital.
Esse clima é descrito por Raul Gomes na crônica Ponta Grossa de Hoje. As palavras do cronista retratam uma cidade pujante, movimentada. No dizer de Gomes à noite o povo flana nas ruas, penetra nas lojas, enche os três cinemas, freqüenta os clubs. O cronista destaca ainda o espírito empreendedor da população que torna a iniciativa privada mais eficiente que a dos poderes públicos. O crescimento urbano traz novas necessidades à cidade: calçamento das ruas - para aliviar os problemas causados pelo pó e pela lama principalmente aos estabelecimentos comerciais; os serviços de água e esgoto - compatível com as novas concepções de higiene e conforto; a construção de um mercado e de um matadouro - com capacidade para atender às reais necessidades da população.
Os cinemas, citados por Raul Gomes, não eram os únicos espaços de lazer e sociabilização da sociedade ponta-grossense. Companhias Circenses apresentavam-se com freqüência na cidade, recebendo sempre grande público.
Praça Floriano Peixoto, localizada na parte histórica de Ponta Grossa, diante da Catedral de Sant´Ana. A foto expõe o complexo de prédios que compunham o conjunto urbano de Ponta Grossa no início do século XX.Por sua vez, as praças também se constituíam em um dos principais pontos de encontro da sociedade local. A Praça João Pessoa, localizada diante da Estação Ferroviária (Estação Saudade), constituía-se num local em que muitas famílias concentravam-se, sobretudo nas noites de verão. Nesta mesma praça a população local reunia-se espontaneamente sempre que autoridades ou pessoas ilustres chegavam à cidade.
Praça Barão do Rio Branco, após a remodelação realizada pelo prefeito Albary Guimarães em 1938. Ponto de convergência da população ponta-grossense nas de 30, 40 e 50, a Praça caracterizou-se como um dos principais símbolos da modernidade urbano capitalista em Ponta Grossa.As praças também eram locais onde se realizavam comemorações cívicas e celebrações religiosas. Outro costume próprio dessa época eram as retretas que ocorriam na Praça da Matriz ao entardecer de domingo.
A importância da cidade provém em grande parte de sua localização estratégica: entroncamento rodo-ferroviário do interior do estado ligando as principais regiões econômicas e os centros políticos.
Decisivo mesmo para a vida da cidade-encruzilhada foi a inauguração da estrada de ferro, em plena revolução federalista. Aliás, o revolucionário Gumercindo Saraiva encontrou em Ponta Grossa um acolhimento muito cordial, pois estar nos Campos Gerais era como estar em casa, nos pampas riograndenses, cercado de gaúchos, comendo churrasco, tomando chimarrão e cavalgando pelos campos. Em 1894, os trilhos da estrada de ferro vindos de Paranaguá atingiam a cidade. Em 1899 inaugurou-se a estrada de ferro São Paulo - Rio Grande com oficinas de manutenção em Ponta Grossa. Esta situação de entroncamento ferroviário fez com que Ponta Grossa entrasse no século XX com o pé direito. O progresso veio. Grandes engenhos de erva-mate, beneficiamento de couro e de madeira começaram a surgir. E olarias, pois não havia tijolo que chegasse. Veio gente de fora atraída pela promessa de bons negócios.
Registro da presença de Getúlio Vargas em Ponta Grossa, quando da sua vitória na Revolução de 1930. Símbolo da modernidade, o vagão do trem serviu como abrigo aos militares revolucionários no episódio que pôs fim a chamada República Velha.Um estudo sobre a cidade revela que as primeiras décadas do século XX constituem uma conjuntura extremamente favorável para a economia ponta-grossense, o que pode ser constatado pela elevação na arrecadação de impostos, pelas obras construídas nessa fase, quando da instalação de várias fábricas e estabelecimentos comerciais cujos proprietários, em grande maioria, eram imigrantes.
Migrações estrangeiras espontâneas e esporádicas sempre ocorreram para o território brasileiro. O grande movimento migratório oficial, contudo, só se verificou na década de 1870, quando para o Paraná vieram em grande número os russos-alemães. Em 1877/1878 chegaram em Ponta Grossa, 2.381 russos-alemães que se estabeleceram na Colônia Octávio, subdividida em 17 núcleos, afastados do centro urbano. A partir de então outros grupos foram chegando à cidade e a ela se integrando. Entre os de maior importância estão os poloneses, alemães, russos, italianos, sírios, austríacos e portugueses.
A presença desses imigrantes trouxe mudanças para as regiões paranaenses onde se instalaram, impulsionando, sobretudo, as atividades industriais. Essa atitude modernizadora ocorreu também em relação a outros setores como comércio, transporte e cultura. Tais atividades muitas vezes ocorreram em função das dificuldades com a atividade agrícola que os levaram a migrar para a zona urbana. A cultura alemã, na visão de muitos autores, apresenta um caráter associativo, o que incentivou a fundação de clubes e associações em muitas cidades paranaenses, entre elas Ponta Grossa. Nessa cidade as iniciativas para a fundação de um clube dos alemães data de 1896.
Vista parcial da cidade em 1947. A imagem possibilita visualizar antigos prédios como o da Catedral de Sant´Ana e o da Cervejaria Adriática, ambos demolidos, bem como o prédio do Colégio Sant´Ana, um dos mais tradicionais estabelecimentos de ensino de Ponta Grossa.O crescimento econômico de Ponta Grossa levou-a a condição de pólo regional no Paraná, ao longo das quatro primeiras décadas do século XX, exercendo grande influência na sua área de abrangência. Ocupou a posição de segunda cidade do Estado no que diz respeito ao contingente populacional. Em 1908 superou a casa dos 15.000 moradores. Em 1920 chegou a 20.171 pessoas e em 1940, contava com 38.417 habitantes. A posição de destaque da cidade se confirma, também, pela criação do Bispado em 1926 cuja diocese compreendia doze paróquias em toda região dos Campos Gerais.
A Cervejaria Adriática foi fundada por Henrique Thiellen em 1904. Símbolo da industrialização em Ponta Grossa, a Adriática chegou a contar com mais de 120 operários nos anos iniciais do século XX. Seu propriétario investiu em máquinas, treinamento e propaganda, tornando-a um referencial obrigatório para todos que escrevem a respeito da industrialização ponta-grossense.De acordo com o relatório do prefeito Albary Guimarães, que administrou a cidade de 1934 a 1944, verificaram-se transformações na cidade evidenciadas por dados, tais como: aumento dos investimentos na área de educação, ampliação e construção de edifícios públicos, melhorias nas áreas de saúde com a criação da Maternidade Pública e de cinco Postos de Puericultura e de saneamento básico, reforma e remodelação dos logradouros, ampliação da rede de iluminação pública atingindo os três principais bairros de Ponta Grossa (Nova Rússia, Oficinas e Uvaranas), calçamento poliédrico nas principais ruas da cidade, crescimento do patrimônio predial urbano, atingindo 6.958 construções em 1944.
O crescimento de Ponta Grossa nas primeiras décadas do século XX se inscreve num contexto nacional de desenvolvimento econômico e urbanização que favorece sobretudo as regiões sudeste e sul do país. Esse desenvolvimento resulta de uma conjugação de fatores como capital, mão-de-obra, mercado relativamente concentrado, matéria prima disponível e barata, capacidade energética e um sistema de transportes ligando as zonas de produção aos portos.
Paralelamente, à crise das regiões agrícolas de culturas tradicionais, as regiões economicamente com o melhor desempenho atraem contingentes populacionais marginalizados pela manutenção da estrutura latifundiária. Se uma parte dessa população migra para o campo, uma outra parte sente-se atraída pelas cidades. Entre estas aquelas que são capitais regionais ou que representam etapas importantes de corredores de exportação são as que mais atraem pela perspectiva de emprego que podem oferecer.
Esse quadro não tem a mesma plenitude em toda a região dos Campos Gerais. Algumas cidades, como Castro, ao contrário de Ponta Grossa, perdem importância regional. Apesar das diferentes condições econômicas os municípios dessa região apresentavam um quadro político semelhante nos anos 30.
Rua XV de Novembro, a mais movimentada de Ponta Grossa na décadas iniciais do século XX. Ponto de concentração noturno, na Rua XV estavam os cinemas, bares, cafés e outras casas de divertimento dos ponta-grossenses. O footing tornou-se uma tradição para toda população local, só abandonada após a remodelação da praça Barão do Rio Branco em 1938.A conjuntura econômica favorável em Ponta Grossa nos anos 20 e 30 possibilitou um discurso de enaltecimento à cidade similar ao do Movimento Paranista. Artigos do jornal Diário dos Campos apresentam uma imagem idealizada da cidade e projetam um futuro promissor.
Ao chegar a década de 1950, encontramos uma nova realidade. O Paraná buscava uma nova identidade regional devido ao crescimento vertiginoso de sua população, a ampliação de suas fronteiras e o impulso econômico da lavoura cafeeira. A terra roxa e o café fizeram a riqueza e a importância política de sua região norte.
Nesse contexto, iniciou-se também para Ponta Grossa um novo período histórico. A cidade, historicamente vinculada ao tropeirismo e a economia agrária - a Ponta Grossa camponesa -, e que no princípio do século XX
experimentou um momento de euforia urbano capitalista - a Ponta Grossa princesa -, ingressou numa fase correspondente àquela vivida pelo Paraná. A busca de uma nova identidade transformou-se no grande desafio para os ponta-grossenses a partir de então.
Todas as fotos pertencem ao Acervo da Casa da Memória Paraná, pertencentes à Prefeitura Municipal de Ponta Grossa.

Mansão Vila Hilda


Mansão Vila Hilda

A Mansão Vila Hilda, localizada na rua Júlia Wanderley, número 936, no centro de Ponta Grossa, é um patrimônio histórico do Paraná, fruto dos sonhos do industrial e figura de destaque na cidade, Sr. Alberto Thielen, que deu o nome à casa em homenagem à sua esposa, Sra. Ida Hilda Schust. O casarão, de 600 m² de área construída em alvenaria, possui arquitetura francesa neoclássica e art-nouveau, com dois pavimentos e mirante. Em seu interior, apresenta afrescos perfeitos que retratam contrastes e cores, paisagens e motivos europeus, pintadas pelo artista Paulo Wagner, em obediência a uma linha de escola clássica alemã.
Construído em terreno adquirido pela Prefeitura Municipal, em 25 de junho de 1922, pelo valor de CR 100$000 (cem mil réis), as obras que levantaram esse patrimônio tiveram início em 1923. Sendo paralisadas, foram retomadas em 1925 e concluídas no ano seguinte. No primeiro de seus dois pavimentos está o térreo que, feito para abrigar os serviçais, possuía salão de jogos, incluindo mesa de bilhar, além de uma sala de costura para a sogra do proprietário, cozinha, copa e instalações sanitárias. O segundo pavimento foi dedicado à residência da família Thielen. Essa parte, dividida em alas e cômodos, formam um valioso conjunto artístico, em termos de composição e relações cromáticas.
O escritório que foi de Alberto Thielen é um exemplo dessa riqueza. Com os afrescos de Paulo Wagner, esse ambiente é todo recoberto por motivos culturais. Na borda do seu teto, uma faixa pintada intercala corujas com livros abertos sobre folhas de acácia. Outras amostras desse artista estão na sala de jantar, com paredes repletas de frutas e teto recoberto com alegorias diversas; e no quarto rosa que, com guirlandas de flores nas faixas do teto e dois anjos brincando em meio a nuvens, é uma das peças que mais cativa o visitante. Outro ambiente que atrai bastante atração é o jardim de inverno, atualmente transformado em uma espécie de entrada. Dentre as suas paredes, duas apresentam painéis com paisagens de Paulo Wagner.
Na mansão existe ainda sótão, térreo e mirante. Com uma sala e três quartos, o sótão funcionou para uma cunhada do Sr. Thielen, Paula Schust, que aí permaneceu, confortavelmente alojada, até se casar.
O imóvel se manteve com a família Thielen por mais de três décadas. Em 19 abril de 1958, Alberto Thielen faleceu em razão de problemas cardíacos, que já o atormentavam havia anos. Velado na mansão, seu corpo foi sepultado no Cemitério São José. Dona Hilda permaneceu na residência, desta vez em companhia do seu filho, Alberto Henrique, e de sua esposa. No entanto, um ano mais tarde, Alberto foi transferido para o Rio de Janeiro e, com isso, Dona Ilda passou a morar com seu outro filho, Rodolpho Francisco, na casa da Rua 7 de Setembro, esquina com Padre Lux. Nessa residência, a viúva permaneceu por mais um ano, quando mudou-se para um apartamento no Edifício Marieta, na Avenida Dr. Vicente Machado. Dona Ilda viveu aí em companhia de Sofia, uma senhora que lhe prestava cuidados, até sua morte, em 8 de março de 1972.
À época de seu falecimento, a Mansão Vila Ilda já não pertencia mais à família. Adquirido pela Prefeitura em 1968, o casarão passou a abrigar a Biblioteca Pública Municipal Professor Bruno Enei, até o ano de 1988. Em 1990, foi tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado. Restaurado, mas com características originais, atualmente em suas dependências funciona a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Ponta Grossa, com espaço aberto para visitação gratuita de segundas-feiras às sextas-feiras das 12h00 às 18h00.
A Mansão está cercada por histórias misteriosas, como a de que até hoje dona Hilda está em seu interior, já que muitas vezes pode-se ouvir passos de uma pessoa pela casa, segundo boatos confirmados por funcionários que ali trabalham. Um desses funcionários conta que houve um dia em que ele chegou ao casarão mais cedo, para esperar um carro que o levasse para o aeroporto em Curitiba, e estando em sua sala, ouviu a porta da frente se abrir e escutou passos pela casa, mas quando foi verificar se havia alguém, não encontrou nenhuma pessoa. Alguns ainda ousam dizer que quem passa à noite pelo casarão pode ouvir som de música, pois ali foram dadas muitas festas.
Fonte: Prefeitura Municipal de Ponta Grossa
Portal Maurício Vendrami