CURITIBA E PARANA EM FOTOS ANTIGAS: CASA ESCOLAR PARA MENINAS - 1a PARTE Em 05/01/1884, a Câmara Municipal de Curitiba, debatia-se com a solução de um problema inusitado, como veremos no registro da seguinte sessão

CASA ESCOLAR PARA MENINAS - 1a PARTE

Em 05/01/1884, a Câmara Municipal de Curitiba, debatia-se com a solução de um problema inusitado, como veremos no registro da seguinte sessão

CASA ESCOLAR PARA MENINAS - 1a PARTE

Em 05/01/1884, a Câmara Municipal de Curitiba, debatia-se com a solução de um problema inusitado, como veremos no registro da seguinte sessão:

"Provincia do Paraná, Palacio da Presidencia,

2º. Secção. em 5 de Janeiro de 1884.

Á vista da representação junta que me dirigiu o encarregado da construcção da casa escolar para meninas nesta Capital, Tenente Coronel Antonio Ricardo Lustosa de Andrade, sirva-se a Camara Municipal da Capital de providenciar, com urgencia sobre a remoção do encanamento de agua para o chafariz do largo do Conselheiro Zacharias, existente no terreno que assenta aquelle edificio.

Luiz Alves Leite de Oliveira Bello

Á Camara Minicipal da Capital.

....

Ill.mo e Ex.mo Senr.= Quando se fizeram as escavações para os alicerces da casa escolar do sexo fiminino, notou-se que os tubos de ferro que conduzem a agua para o chafariz do Largo do Conselheiro Zacarias, passavam por esses alicerces, depois de atravessarem por dentro do edificio. Não deixei de reclamar verbalmente ao antecessor de V. Exa. a remoção, e o grande inconveniente resultante da passagem desse canal, por dentro do edificio, como tambem as difficuldades futuras que sobrevirião para o concerto se si arruinasse. Mandando presentemente abrir novos alicerces para assentar as arcadas que devem sustentar o vigamento do assoalho, tornarão-a encher-se de água os alicerces, proveniente das filtrações que acompanham os mesmos canos. Para solidificar o terreno, isto é, para o terreno poder sustentar o peso das paredes da divisão interna, mandei estivar de vigotes de pinho a fim de não afundarem as pedras em um solo por esta naturesa paludoso, e ainda mais humidecido pelas aguas do canal.

Á vista do exposto tenho a honra de representar a V. Exa. para que se digne ordenar a remoção desse canal de agua de dentro do edificio, por que assim exigem a segurança das obras em contrucção, a saude das escolares e o publico que se abastece das aguas do chafariz. A municipalidade da Capital á quem esta affecta aconservação das aguas e obras a respeito, não deixará de attender os graves inconvenientes resultantes da passagem do canal do primeiro manancial que fornece agua á uma estensa parte de sua população, porque a despeza será pequena e o beneficio, grande.

= Deus Guarde a V. Exa. = Cidade, Curityba, 2 de Janeiro de 1884. =

Ill.mo e Ex.mo Senr. “Dr. Luiz Alves Leite de Oliveira Bello. M. D. Presidente da Provincia =

Antonio Ricardo Lustosa de Andrade. – E.(Engenheiro) das obras escolares."

Canos do Chafariz:

No requerimento acima, redigido pelo Ten. Cel. Antonio Ricardo Lustosa de Andrade, na qualidade de engenheiro das obras escolares de Curitiba, nota-se que, durante a construção da "Casa Escolar Para Meninas", situada no terreno sito à Rua Ratcliff (atual Desemb. Westphalen n° 6) esquina com Rua Aquidaban (atual Emiliano Perneta), foi localizada a passagem dos tubos de ferro que traziam do Largo da Misericórdia (atual Praça Rui Barbosa) a água que abastecia o chafariz do Largo do Conselheiro Zacarias (atual Praça Zacarias).

Alicerces:

Tal encanamento estava exatamente no lugar onde foram feitos os alicerces do edifício da escola, cuja construção, iníciada em 15/08/1882, perdurava até então.

Infiltrações do Canal do Rio Ivo:

Na descrição do problema, Antonio Lustosa ainda cita que sob tal alicerce havia sido constatado um grande problema de alagamento causado pela passagem de um canal (do Rio Ivo), cujas águas infiltravam-se junto aos canos que passavam entremeio àquele alicerce.

Novos alicerces:

Cita ainda que precisou fazer novos alicerces para assentar as arcadas que sustentavam o peso das paredes da divisão interna e o vigamento do assoalho, além de evitar tais infiltrações. Para solidificar o terreno e sustentar o edifício, mandou estivar vigotes de pinho para sustentar as pedras dos alicerces, naquele solo paludoso.

Por fim, os canos foram desviados para fora das paredes da escola que foi inaugurada nove meses depois, com o nome "Escola Oliveira Bello", em homenagem ao Dr. Luiz Alves Leite de Oliveira Bello Filho, Presidente da Província do Paraná, que concretizou com grande empenho as obras iniciadas por seu antecessor, o dr. Carlos Augusto de Carvalho.

A Escola Oliveira Bello foi inaugurada em 29/09/1884 e cumpriu com galhardia sua missão de dar educação pública às meninas curitibanas, principalmente às filhas de ex-escravos que haviam recebido alforria em Curitiba, naqueles dias.

Na célebre foto da Coleção Lysímaco Ferreira da Costa, da frente da Escola Oliveira Bello, obtida em 1924, contemplamos quase uma centena de meninas, filhas de curitibanos de todas raças e níveis sociais, todas uniformizadas com elegância, posando junto às professoras e diretoria, formando um quadro que eternizou aquele importante momento da história curitibana.

Infelizmente, como dezenas de outros históricos edifícios públicos de Curitiba, a edificação da linda escola foi demolida em 1926.

Em 28/01/1928, foi inaugurado um novo edifício naquele local, destinado ao Laboratório de Análises Clínicas e Dispensário.

Em outro capítulo vou contar a história da construção dessa escola.

(Foto:

Paulo Grani

CASA ESCOLAR PARA MENINAS - 2a PARTE

Em 15/08/1882, é iniciada a construção da 'Casa Escolar Para Meninas', em Curitiba, sob o governo do presidente da Província do Paraná, Carlos Augusto de Carvalho, a qual situava-se no terreno existente à Rua Ratcliff (atual Desemb. Westphalen n° 6) esquina com Rua Aquidaban (atual Emiliano Perneta).

O terreno foi doado pela sra. Escholastica Joaquina de Sá Ribas Franco, viúva do Exmo. Brigadeiro Manoel de Oliveira Franco.

Em pronunciamento para a Assembleia Legislativa do Paraná, Carlos Augusto de Carvalho, Presidente do Paraná, assim referiu-se sobre a Escola: "[...] É meu intento levanta-la com donativos das senhoras paranaenses. [...]. O novo edificio não gastará mais de 12:000$000 e por sua elegância há de trair a origem dos donativos. Está encarregado da administração das obras o Tenente coronel Antonio Ricardo Lustosa de Andrade."

Entre as muitas doações para a construção dessa escola, destacaram-se a da Exma. Sra. D. Francisca Corrêa Alves de Araújo, esposa do Snr. Commendador Antonio Alves de Araújo, contribuiu com 500$000; a Exma Sra. Baronesa de Guaraúna, contribuiu com 500$000.

A linguagem de sua fachada era assinalada por uma escadaria que ornava o frontão avançado que, apoiado em colunas circulares e encimado por um gracioso entablamento, lembrava marcadamente o estilo neoclássico.

A inauguração da escola, no dia 28/09/1884, foi um grande evento que contou com a presença de grande parte da população curitibana e autoridades.

O jornal Dezenove de Dezembro, de 03/10/1884, assim descreveu a grandeza do evento:

"Com prazer, reproduzimos hoje as criteriosas palavras, proferidas pelo illustrado vice-presidente da câmara, sr. Capitão Augusto Stellfeld, no acto da inauguração da escola Oliveira Bello, ao apresentar o livro d'Ouro creado por esta municipalidade. [...].

"O orador, ao dirigir-se a Exma. Sra. D. Iria Murici, encarregada de lecionar na Escola Oliveira Bello, disse mais ou menos o seguinte:

Como mãe virtuosa e como viuva do benemerito e humanitario Dr. Murici, a quem esta municipalidade deve tantos beneficios, S. Ex. esperava que a distincta professora , uma das mais illustradas do magisterio curitybano, iria tornar-se um pharol illuminado, na educação das meninas, que haviam de ser-lhe confiadas.

"Agora transcrevemos o discurso do Sr. capitão Augusto Stellfeld: "Quando a camara municipal creou o Livro D'Ouro para nelle serem lançadas as libertações, gratuitamente effectuadas, no município, e quando ella declarou benemerito quem espontaneamente libertava um escravo, foi na intenção de dar, como municipalidade da capital, um vigoroso impulso para a libertação desta província.

"A escravidão é e será sempre um crime contra as leis divinas e contra a humanidade. Desde a lei de 1831, a introducção de novos escravos se constictuio um crime, que os tribunaes tem de punir. É justo e glorioso que os descendentes dos autores da escravidão, paguem as dividas contrahidas, pelos seus antepassados."

Assim, a projetada 'Casa Escolar Para Meninas', foi inaugurada com o nome Escola Oliveira Bello, em homenagem à

Luís Alves Leite de Oliveira Belo Filho, Presidente da Província do Paraná, que sucedeu Carlos de Carvalho em 1883 e concluiu sua construção em 1884.

A profa. Iria Murici, principal professora da escola à epoce, era viuva do Dr. José Candido Murici, ilustre médico de Curitiba, idealizador e principal construtor da Santa Casa de Misericórdia.

Menos de dois meses após, em 22/11/1884, a profa. Iria foi regente do exame prático de pedagogia realizado na Escola Oliveira Bello, prestado pela jovem Luiza Saldanha para o título de Normalista, aluna do Colegio Coritibano, sob supervisão da Escola Normal, na presença do Diretor de Instrução Pública da Província.

Por fim, o texto revela a existência de um 'Livro D'Ouro', criado pela Câmara Municipal de Curitiba, com a finalidade de registrar e conceder o título de 'Benemérito' aos cidadãos curitibanos que 'espontaneamente' decidissem libertar seus escravos.

Até o dia da inauguração da Escola Oliveira Bello, no 'Livro d'Ouro' haviam sido registradas 68 cartas de liberdade, assinadas por pessoas que tinham em suas residências ou comércio pessoas escravas.

domingo, 12 de maio de 2024

CASA ESCOLAR PARA MENINAS - 1a PARTE Em 05/01/1884, a Câmara Municipal de Curitiba, debatia-se com a solução de um problema inusitado, como veremos no registro da seguinte sessão

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