quinta-feira, 28 de abril de 2022

O IRMÃO CAMELO " [...] A Rua XV sempre cedeu espaço a diversos agrupamentos sociais, que lá pela década de 50 formavam verdadeiras " instituições". Todas escolhiam estratégicos redutos para observar o movimento e representar o cotidiano da cidade.

 O IRMÃO CAMELO
" [...] A Rua XV sempre cedeu espaço a diversos agrupamentos sociais, que lá pela década de 50 formavam verdadeiras " instituições". Todas escolhiam estratégicos redutos para observar o movimento e representar o cotidiano da cidade.


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O IRMÃO CAMELO
" [...] A Rua XV sempre cedeu espaço a diversos agrupamentos sociais, que lá pela década de 50 formavam verdadeiras " instituições". Todas escolhiam estratégicos redutos para observar o movimento e representar o cotidiano da cidade.
Na Casa Londres, por exemplo, tinha o ponto que juntava os "mocetões curitibanos". Os mais velhos ficavam no ponto do "Seo" Abílio Abreu e na quadra entre a Rua Dr. Muricy e a Marechal Floriano se reuniam os jovens, chamados de "Playboys" ou "Coca-colas", porque isso era o supremo xingamento. Comum a todos, o gosto pelo bate-papo e pela descontração da "happy-hour", antigamente conhecida pelo horário da "tardinha".
A turma, muitas vezes, ficava na frente da vitrine da Casa Leutner, mas a maioria gostava mesmo é da entrada da antiga Casa Nacional, entre a Marechal e a Dr. Muricy. Em cada entardecer acomodavam-se por ali pessoas que julgávamos da maior inteligência na época.
Foi lá que aconteceu. O Luiz Groff pode confirmar, se não tiver faltado naquele dia.
Foi no dia que o Irmão Ruperto Félix, motorista do Colégio Santa Maria, também fotógrafo e amigo de todo mundo, passava devagarinho, dirigindo a camioneta dos religiosos.
Naquele tempo os maristas andavam na rua sempre de batina. A Rua XV era caminho para o Colégio e lá vinha o Irmão Ruperto, naquela imensa Chevrolet de carroceria de madeira, uma espécie de "ônibus ligeirinho" particular.
Gostava de tudo e de todos na cidade, mas não suportava uma coisa: ser chamado pelo apelido de 'Camelo". Todos o relacionavam com a figura do animal e ele sabia disso, mas fingia não saber. Que ninguém ousasse nominá-lo assim, o "Camelo" virava uma fera.
Pois nesse dia ele vinha passando e um de seus alunos, não se sabe se o (atualmente professor) João Régis Teixeira, ou o Sílvio Dobrowolski, gritou: "Aí, Camelo!!!".
O silêncio cúmplice de uma rua XV bem comportada e cheia de gente, fora quebrado. Na hora não aconteceu nada.
Coincidentemente, um pequeno engarrafamento começava a se formar naquele momento e dez minutos se passaram. Era o tempo necessário para o "Camelo" encontrar um local apropriado para estacionar o veículo. Talvez tivesse parado na Praça Tiradentes.
Passara o tempo suficiente para mais ninguém se lembrar do ocorrido. Mas, dez minutos depois ele irrompia a galope pelas proximidades da Casa Nacional, bradando: "Quem foi o... que me chamou pelo nome que não tenho?" Sequer ousava pronunciar o nome do bucéfalo do deserto. "Quem foi o desgraçado?". A Rua XV parou. Juntou gente de todos os lados.
Risos contidos e a turma se escondendo por detrás das colunas. O camelo chegou, escandalizou e foi embora, sem acerto. Deixou a ameaça que jamais assustou alguém. O Irmão Ruperto Félix, "Camelo" para toda Curitiba de outrora, não está mais presente. [...]
Afinal, gostava de tudo e de todos."
(Texto do professor Geronimo de Macedo Molli / Foto ilustrativa: Pinterest)
Paulo Grani

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