ANTIGAMENTE, NASCÍAMOS EM CASA PELAS MÃOS DAS PARTEIRAS
ANTIGAMENTE, NASCÍAMOS EM CASA PELAS MÃOS DAS PARTEIRAS
Ao longo dos nove meses de gestação, elas visitavam a futura mamãe, apalpavam a barriga, faziam chás, receitavam simpatias, faziam orações, acompanhando a gravidez, mês a mês. Algumas delas ministravam purgantes às gestante, tipo laxante, para que as crianças nascessem com a pele bem limpa. Algumas, até se arriscavam a prever o sexo da criança.
Com carinho, cuidavam das gestantes para que tivessem “uma boa hora”. E quando a hora chegava, não importava se era de dia ou de noite, corriam para a casa da parturiente e tomavam conta de tudo. Portas fechadas, bacias de metal com água morna, toalhas brancas, um pouco de álcool e alguns precários instrumentos. Os homens na cozinha ou do lado de fora, faziam apostas se o rebento seria menino ou menina. As vizinhas, correndo de um lado para outro, ajudavam como podiam e, até arrecadavam roupinhas ajudando no enxoval. As crianças eram levadas para casa de vizinhos, ou o mais longe possível. Algumas delas olhavam para o céu à espera de uma tal cegonha.
Esse era o cenário de muitos nascimentos antes dos hospitais substituírem o ambiente de casa na hora do parto. E em tal contexto, a principal figura nem sempre era a mãe ou o bebê, mas a "parteira".
Elas tinham tudo muito bem preparado em sua maleta, com instrumentos, às vezes, repassamos das mais velhas às mais novas. Em uma bacia bem limpa com água, colocavam um pouco de álcool e acendiam para desinfetá-la. Sempre usavam panos bem limpos. Depois do nascimento, cortavam o cordão umbilical do bebê, medindo com os dedos fechados, um palmo do umbigo. Seguravam o bebê pelos pés, colocando-o de cabeça para baixo e davam uma ou mais palmadas no bumbum, até ele chorar.
Muitos ritos acompanhavam o momento do nascimento de uma criança. O cordão umbilical era cercado de mistérios para as mães de antigamente, que faziam simpatias para garantir saúde ao recém-nascido. Muitas enterravam o cordão e outras davam-lhe aos animais para ser comido. Ainda havia as que guardavam o umbigo num paninho, bem longe de ratos. Tudo isso era para dar sorte à criança. A crença popular indicava que se um rato comesse o cordão, a criança poderia se tornar ladra.
Quando a criança nascia, a parteira ainda repassava os procedimentos essenciais, para o período de "resguardo" da mamãe. Não podia lavar a cabeça, tinha que estar sempre de meias, para manter os pés quentes. Nao pegar sereno, chuva, friagem ou vento. Não podia comer comida requentada. A tradição do "resguarde" era de uma "quarentena" de dias, durante os quais, além dessas recomendações, a abstinência total de relações sexuais.
No quarto dia e no penúltimo dia da dieta a mulher tinha que tomar o laxante. Era chá de sene, manã, rosa branca e erva doce. Um punhadinho de cada um. A mamãe, tanto de primeira viagem ou mais, fazia o chá e tomava sem o menor receio.
As parteiras geralmente faziam serviço voluntário e, por reconhecimento, eram convidadas a ser madrinhas do primeiro filho de cada família.
No bercinho de cestaria suspenso, ou de madeira, ou em uma rede de cordas, o bebê dormia com sua chupeta, que também era chamada de 'bico'. Era a hora das canções de ninar. “ Dorme neném, que a cuca vem pegar, papai foi na roça e mamãe volta já, já, já ...
Para explicar às outras crianças a presença de um novo irmãozinho, muitas histórias eram contadas: “Algumas mães diziam que um sapo trouxe a criancinha da lagoa ou que a cegonha deixou no telhado. No meu caso, minha mãe contou uma história a qual, durante algum tempo, acreditei: "Você estava dentro de um grande e bonito repolho. Quando fui cortar, abri algumas folhas e lá estava você sorrindo para mim". Percebi uma discrepância quando perguntei como nasceu meu irmão mais velho, e ela disse: "Ele apareceu no bolso do paletó de motorneiro do teu avô. Ele foi colocar a mão e lá estava seu irmão ". Fiquei desconfiado, achei o meu cantinho dentro do repolho, mais convincente.
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