quarta-feira, 23 de novembro de 2022

APÓS O NAUFRÁGIO DO NAVIO PIRATA EM PARANAGUÁ

 APÓS O NAUFRÁGIO DO NAVIO PIRATA EM PARANAGUÁ

No ínicio de 1718, entrou na baia de Paranaguá vinda de Valparaizo do Chile com uma grande carga em prata, hum galeão espanhol, do qual era Capitão Mr. Bolorot. Fundeou para abastecer-se de água e mantimentos antes de voltar para a Europa.
Naquelas águas também estava a sumaca armada Louise (o navio pirata) que, vendo a embarcação francesa decidiu tentar apossar-se da mesma.
Numa manobra arriscada durante ventos e trovoadas, na ocasião, o navio pirata bateu numa laje na ponta da Cruz da ilha da cotinga, vindo a naufragar.
Poucos foram os piratas que sobreviveram e que foram capturados. Nos interrogatórios que se seguiram soube-se que a embarcação pirata tinha dois capitães, um inglês e outro francês que, na época do naufrágio encontravam-se em diputa pelo cargo. Também soube-se que já haviam pilhado outros navios e que existiam a bordo 2 cofres com os tesouros conseguidos.
No dia 3 de junho de 1719, o Doutor Ouvidor Geral Rafael Pires Pardinho, como Provedor da Fazenda dos Defuntos e Ausentes, informa a El Rei Dom João V, por via do Conselho Ultramarino, a notícia do naufrágio e que havia ordenado a arrecadação de tudo o que se pudesse salvar do mesmo. Informou também que foram entregues ao Almoxarife das Armas 2 espingardas, um cano de outra e um alfange que foram encontrados nas praias, além de um grupo de negros escravos.
Estes escravos foram postos em leilão e o valor recebido foi guardado para ser devolvido aos senhores dos mesmos, " ... que na Villa de Santos tinhão Procuradores que justificarão serem seus...".
Anos mais tarde, em 11 de setembro de 1730, é publicada nova comunicação informando à população da vila que: "... nenhua pessoa de qualquer qualidade e condição que seja, dos moradores dessa Villa e seus districtos, possão recolher em suas cazas e fazendas aos Buzios (nome dado a escravos mergulhadores) de João de Araujo Silva, e seus soçiosque andam na deligençia de tirarem o verdadeiro Coffre da nao (navio) pirata, que com os mesmos naufragou na ponta da Cotinga..., sem que logo os remeta aos seus Senhores, incorrem nas penas dos que costumão dezencaminhar a Real Fazenda de Sua Magestade..."
Esta comunicação foi publicada logo depois que um grupo de negros mergulhadores resgatou do naufrágio um cofre, com moedas de ouro e prata, armas e nove peças de artilharia em bronze.
Neste ponto, abre-se uma lacuna na história onde, aparentemente, não houveram outras tentativas de resgate.
Apenas em 1963, uma nova tentativa de resgate é proposta. Um grupo de São Paulo decide tentar, utilizando técnicas modernas, resgatar o que havia sido deixado e, talvez, um cofre contendo cerca de 200.000 cruzados (cerca de 250 Kg. de ouro).
As operações de resgate tiveram duas fases distintas, uma na década de 60 e outra nos anos 80. Nas operações foram resgatados: 29 canhões de ferro, 1 canhão de bronze, 1 sino de bronze, centanas de balas de canhão, colheres e garfos, cachimbos, arcabuzes, várias moedas de ouro e prata, uma imagem de Nossa Senhora da Vitória, um Cristo em marfim, além de outros objetos menores e de um maxilar inferior, talvez pertencente a um dos desafortunados piratas.
Os resultados podem não ter sido fabulosos, os métodos utilizados podem hoje sofrer grandes críticas mas este é o único caso em que a pesquisa de um naufrágio mereceu, aqui no Brasil, a emissão de um sêlo. (ver matéria sobre naufrágios nos sêlos).
Paulo Grani.

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