domingo, 22 de janeiro de 2023

A cultura ucraniana no município de Araucária e seus costumes de Natal

 A cultura ucraniana no município de Araucária e seus costumes de Natal

A população de Araucária configura-se como uma bela mistura étnica formada por diversos povos. Quando o governo brasileiro empreendeu a política imigratória, iniciada no século XIX, que visava à colonização e produção de alimentos, criou algumas colônias para onde direcionou imigrantes de várias partes da Europa. Mas alguns, no entanto, conforme o tempo foi passando, acabaram escolhendo espontaneamente outros lugares para se estabelecer. E foi assim que muitos ucranianos partiram de onde hoje é o município de São José dos Pinhais e, em 1895, escolheram a colônia Ipiranga, em Araucária, para fixar suas raízes e dar continuidade à sua história.
De início muito sofreram até se adaptar à língua, à forma de plantio, aos poucos materiais disponíveis para a construção de suas casas, mas perseveraram e prosperaram. Atualmente já são algumas gerações de descendentes de ucranianos que vivem na região e mantém os costumes vivos.
Junto com eles, os ucranianos trouxeram sua fé ortodoxa, que de início na colônia Ipiranga era celebrada ao ar livre, mas em poucos anos se empenharam na construção de uma igreja, finalizada 1899. Por ser de madeira teve de ser reconstruída uma segunda vez. Em 1982 foi erguida em alvenaria a capela Assunção de Nossa Senhora, em arquitetura religiosa ortodoxa. O seu campanário foi construído em louvor à Santa Ana, e no cemitério ainda existem muitos túmulos com inscrições em ucraniano.
Muitas tradições ucranianas continuaram sendo mantidas na comunidade, como as festas promovidas no salão paroquial da igreja, onde são servidos pratos típicos da culinária tradicional ucraniana; a missa em língua ucraniana, celebrada uma vez ao mês, na qual o padre reza a maior parte do tempo de frente para o altar e de costas para o povo; os casamentos nos quais os noivos usam uma guirlanda de alecrim; os bordados com formas geométricas; o costume de confeccionar a pessanki, um ovo de galinha pintado com coloridas formas geométricas; e a brincadeira em forma de dança chamada Haiuka, que se celebra na segunda e terça-feira depois do domingo de Páscoa e ainda por mais dois domingos seguidos; e o uso da língua ucraniana no cotidiano da comunidade – muitos moradores contam que ainda falam muito em ucraniano, rezam e até se confessam em ucraniano.
O período que antecede o Natal é considerado pelos ucranianos como quaresma, a Pelêpivka, um período de jejum, por isso, na noite de Natal os descendentes de ucranianos não consomem carne, e para a ceia preparam doze pratos (que na era anterior ao cristianismo, quando a ceia celebrava o solstício de inverno, representavam os doze meses do ano, e atualmente representam os doze apóstolos). São eles: o trigo cozido em forma de sobremesa - kutiá, milho cozido, pepino em forma de salada, beterraba em forma de sopa – borstch, repolho cozido - kapusniak, charuto de repolho - holopti, pêssego em calda, pastel de requeijão cozido - perohê, nata, queijo, uva e tomate. Somente no dia de Natal é que eles consomem carne.
Alguns moradores mais antigos contam que quando eram crianças faziam na noite de Natal o costume do didukh, que era um feixe de centeio colocado em um dos cantos da casa para ser reverenciado. Com palha faziam um tipo de ninho que era colocado debaixo da cama, para que durante a noite didukh deixasse ali alguns presentes. Esse feixe, na noite de virada de ano, antes de clarear o dia do novo ano, deveria ser levado para o paiol. Esse é um costume ainda seguido pela fé cristã ortodoxa na Ucrânia, e, segundo a tradição, na noite de Natal quando todos estão já reunidos, o dono da casa – hospódar– traz um feixe de trigo, para dentro da casa. Dá-se a este feixe de trigo o nome de ‘didukh’. Representa ele os antepassados, os falecidos, bem como a fartura, a boa colheita, o progresso, o bem estar das pessoas. O ‘didukh’ é trazido para dentro de casa como um ritual sagrado, com respeito e colocado, então, em um lugar de destaque, anteriormente preparado.
(Texto escrito por Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadora)
(Legenda das imagens:
1 - Didukh
2 - Primeira igreja ucraniana da colônia Ipiranga, 1922.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres
3 - Lápide no cemitério da colônia Ipiranga, 2012
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres)

Nenhuma descrição de foto disponível.

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Primeira igreja ucraniana da colônia Ipiranga, 1922.
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres

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Lápide no cemitério da colônia Ipiranga, 2012
Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres

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