terça-feira, 3 de janeiro de 2023

DIDI CAILLET

 

DIDI CAILLET






Estou lendo (quase terminando) um livro fantástico intitulado "Uma Crônica - Curitiba e sua história" do jornalista Eddy Antonio Franciosi (1930-1990), publicado pela Editora Esplendor. Nesse livro você acompanhará a história de Curitiba desde o Alvorecer até os dias recentes. Nesse livro, que o autor em vários momentos diz não tratar-se de um livro de história, mas uma crônica, um bom trecho é dedicado à Didi Caillet. Nesse ponto o autor assim relata a façanha de Didi Caillet:

"Façanha foi a de Didi Caillet, que em 1929 concorreu no Rio de Janeiro ao título de miss Brasil e... quase venceu! Perdeu para a carioca Olga Bergamini. Para justificar sua derrota foi utilizado o mesmo argumento com o qual os americanos explicaram a desclassificação de Marta Rocha... duas polegadas. Só que as de Marta eram "a mais" nos quadris, e as de Didi "a menos" na altura...
Mas nem po isso foi ela menos homenageada, fotografada, louvada, paparicada. Cantada em prosa e verso pelos poetas da terra, que se esmeraram no achado das melhores rimas. Moça de estirpe, recatada, de família tradicional, integrante do Grêmio das Violetas, quando desembarcou na estação da estrada de ferro a quase vencedora quase foi sufocada pela chuva de rosas, cravos, margaridas e, naturalmente, violetas, a flor preferida dessa fina flor da melhor sociedade curitibana.
Havia faixas na ruas e nas sacadas e janelas dos edifícios, estas disputadas pelas pessoas que se comprimiam e acotovelavam ao longo das calçadas para conseguir melhor ângulo de visão...
...jogou beijos e retribuiu acenos desde a Estação até a rua XV devidamente acomodada entre almofadas num elegante carro aberto seguido de um cortejo calculado em 30 mil pessoas!"

E por aí segue o relato dessa que foi a maior manifestação pública em Curitiba por muito tempo.

Na Gazeta do Povo de 26/04/2009, no caderno Viver Bem o perfil "Didi Caillet, a melindrosa do Paraná", assinado por Adriana Czelusniak, relata que:

"Enquanto a maioria das meninas da cidade sonhava em conseguir um bom marido e lindos filhos, na Curitiba de 80 anos atrás, uma jovem de 19 anos largou o noivo e foi para o Rio de Janeiro, como a primeira paranaense a disputar o concurso de Miss Brasil. Voltou solteira, mas foi recepcionada na estação ferroviária com festa, banda e mais de 30 mil pessoas. Em uma movimentação que acabou virando um filme.
Quando perguntamos o que Didi tinha de tão especial, as respostas de quem a conheceu parecem não ter fim. Ela era bonita, culta e fazia parte da elite curitibana. Filha de uma italiana com um francês, era a mais bonita entre as três irmãs, falava vários idiomas e tinha um carisma incomum. Didi foi a primeira mulher a gravar um disco de poesia no Brasil e não se tem registro de quantas músicas foram compostas em sua homenagem.
Quando o Rio de Janeiro ainda era a capital do país, ela ajudou o Paraná a ser reconhecido como um estado emergente, conta o psicanalista Paulo Soares Koehler, pesquisador da história da Miss Paraná. “Ela promoveu a imagem do estado, que era considerado um sítio, uma extensão de São Paulo”, diz. Didi era a preferida para o título de Miss Brasil e, quando anunciaram a filha do dono do jornal patrocinador do evento como vencedora, um dia depois do previsto, houve tumulto e confusão. “O público não se conformou. Houve um momento em que todos ficaram pasmos e sem reação, e a Didi é quem teve a iniciativa de pegar a faixa e coroar a primeira colocada. Isso foi mais uma prova de sua nobreza”, afirma Paulo.
Em Curitiba, Didi era a personalidade ideal para promover artigos de luxo – fossem carros, perfumes ou tecidos finos – e sabia alimentar sua imagem na mídia, participando de eventos da alta-sociedade ou lançando argumentos sobre assuntos polêmicos, como o voto feminino. Na moda, também teve papel significativo. Até então, ou se usava cabelo longo, ou curtinho. O cabelo dela era de cumprimento médio e serviu de modelo para muitas jovens.
Além de frequentar as conversas masculinas sobre política e economia, Didi também se destacava por desfilar pelas ruas em sua “baratinha”, um carro importado da Nash que havia ganhado do pai, numa época em que era incomum mulheres dirigirem.
Arrependido por ter deixado o relacionamento com Didi chegar ao fim, Luís Ermelino de Leão a procurou depois de ter passado dois anos na Europa e a reconquistou. “Ele foi até a casa dela e entregou à futura sogra um rosário de Lurdes. Em 1933 eles resolveram se casar”, conta um dos filhos de Didi, Luís Gil de Leão Filho. Didi teve outros três filhos e passou a se dedicar à família. O passado glamuroso, estampado em três grandes livros com recortes de jornal, ficou de lado. Viúva de Luís, casou-se com o banqueiro e empresário José Gonçalves de Sá, em 1953. Ela e os filhos foram morar no Rio de Janeiro e por lá ficaram durante 22 anos. Quando o segundo marido faleceu, Didi retornou a Curitiba, onde passou seus últimos oito anos e escreveu três livros. Na cidade, a praça que leva o seu nome continua sob a sombra de uma intocável nogueira, e permanece impecável, relembrando a grandeza da paranaense."
Mais informações em http://www.gazetadopovo.com.br/viverbem/conteudo.phtml?id=880702.

Enfim, uma grande personalidade da Curitiba das primeiras décadas do século passado, que é desconhecida para a maioria dos que aqui moram. Mesmo a praça que leva o seu nome, cujas fotos ilustram o post de hoje, não há sequer uma placa com seu nome (seu nome está gravado apenas no prédio que divide a sua entrada com a praça) ou qualquer referência de quem teria sido Didi Caillet.

A foto de Didi Caillet desse post eu extraí da internet e pela indicação, foi publicada no Jornal Progresso de São Paulo em data que não pude precisar.

Ah! E quem tiver dificuldades em localizar a praça, essa fica exatamente ao lado do Memorial Árabe, que por sua vez, fica ao lado do Passeio Público. Nessa praça encontra-se uma bela Nogueira, que é uma das 51 Árvores Imunes de Corte de Curitiba

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