Há muito tempo atrás, quando essas terras que hoje pertencem a Araucária ainda eram chamadas de Campos de Tindiquera, por conta dos índios tinguis que aqui viviam, muitos luso-brasileiros para cá se instalaram como povoadores. Para cumprir com sua devoção católica, ali foi erguido um templo com o nome de Capela de Nossa Senhora da Luz de Tindiquera, por volta de 1793.
Araucária, terra de Nossa Senhora dos Remédios
Foi durante a Idade Média que surgiu na Europa a devoção à Nossa Senhora dos Remédios. Em pleno período das Reconquistas, quando aconteceram batalhas entre cristãos e mouros (como eram chamados os muçulmanos) pelo domínio da Península Ibérica (composta basicamente por Portugal e Espanha), que surgiu a Ordem da Santíssima Trindade, com o propósito de libertar os cristãos que haviam sido tornados prisioneiros dos mouros. Segundo consta, o fundador dessa Ordem, São João da Mata, teve sua primeira visão de Nossa Senhora dos Remédios em Valência, Espanha, no ano de 1202, quando este orava, atormentado pela imposição dos mouros em dobrar a quantia exigida pela redenção dos cativos dos quais tentava comprar a liberdade. Durante a oração a Virgem lhe apareceu entregando uma bolsa de moedas para “remediar” a situação em que se encontrava. História semelhante é a da devoção à Nossa Senhora da Luz, que teria aparecido em sonho para o português Pero Martins, que, em 1463, orava desesperançoso após ser feito prisioneiro pelos mouros, quando viajava ao norte da África em busca de riquezas. Após a aparição ele foi milagrosamente libertado.
Há muito tempo atrás, quando essas terras que hoje pertencem a Araucária ainda eram chamadas de Campos de Tindiquera, por conta dos índios tinguis que aqui viviam, muitos luso-brasileiros para cá se instalaram como povoadores. Para cumprir com sua devoção católica, ali foi erguido um templo com o nome de Capela de Nossa Senhora da Luz de Tindiquera, por volta de 1793. Em 1801 Joanna Rodrigues França e seu marido, o alferes Antônio dos Santos Teixeira, que viviam naquela região e eram devotos frequentadores da ermida, fizeram uma doação de terras localizadas às margens do rio Barigui, à imagem de Nossa Senhora dos Remédios, colocada naquela capelinha. Essa área passou a ser conhecida, então, como Campos de Nossa Senhora dos Remédios, e era arrendada para exploração agrícola, criação de gado e residências, sendo cobrada uma taxa anual dos arrendatários para a Irmandade que se fundou. Essa capelinha foi benta no dia 12 de setembro de 1832, pelo Padre Antônio Joaquim da Costa, e, em 1º de dezembro de 1837, passou a capela curada, isto é, aquela dotada de um padre (cura), até que, em 1842, passou a se chamar de curato de Nossa Senhora dos Remédios de Yguassu.
Aos 20 de março de 1848 o vigário capitular, padre Vicente Pires da Motta, por provisão, transferiu a sede do curato para a região onde hoje está situada a praça Doutor Vicente Machado. Anos mais tarde, essa capela foi elevada à condição de freguesia por Zacarias de Goes e Vasconcellos, presidente da recém-criada Província do Paraná, através da Lei n. 21 de 28 de fevereiro de 1855. A paróquia que se formava ao redor da igreja, à medida em que crescia ganhava a denominação de freguesia, e, nesse momento, essas terras ficaram conhecidas, então, como “Freguezia do Yguassu”.
Após a mudança da sede da igreja, o pároco decidiu, em 1856, vender as terras dos Campos de Nossa Senhora dos Remédios, na região de Tindiquera, a fim de comprar mais terras nas proximidades da nova igreja. Porém, o procurador fiscal da tesouraria constatou uma série de irregularidades com os ditos campos e a Irmandade. Dessa forma, apoiado em longa lista de leis portuguesas e brasileiras, chegou à conclusão de que toda e qualquer irmandade religiosa teria que solicitar autorização para poder existir legalmente, e que a irmandade ou corporação leiga que não o fizesse perderia a propriedade, passando seus bens para a Coroa. E foi o que aconteceu. Alguns anos se passaram, e o governo do Estado, então proprietário, decidiu utilizar parte daqueles campos para assentar, em 1886, o Núcleo Barão de Taunay, nome que homenageava o então presidente da província do Paraná – Alfredo d’Escragnole Taunay, estabelecendo, inicialmente, 255 imigrantes poloneses. Com o passar dos anos e o avanço populacional, essa região passou a ser conhecida como Costeira, por começar na encosta do rio Barigui. Ainda, em outra parte dessas terras, anos mais tarde, em 1916, foi criada a Estação Experimental Tindiquera, onde o imigrante tcheco Zdenko Gayer realizava experimentos de melhoramento genético de sementes. Esse empreendimento ali funcionou até 1930, quando foi desativado e substituído pela Coudelaria Tindiquera, posto de montaria do exército brasileiro que realizava seleção genética de cavalos. A Coudelaria funcionou até 1972, quando essa área foi destinada à instalação da Refinaria Presidente Getúlio Vargas, da Petrobrás.
Em 1867, ocorreu o início da segunda reconstrução da igreja de Nossa Senhora dos Remédios – a da área central da freguesia - por intermédio do padre João Guerra. A primeira visita pastoral se deu em fevereiro de 1882 por Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, que registrou no Livro Tombo paroquial suas impressões, dizendo que a igreja tinha duas partes, uma nova feita em alvenaria (capela mor), e outra mais antiga feita de madeira e barro, e que essa matriz era muito pobre e faltavam muito paramentos e coisas no serviço da igreja. Para tanto, ele acrescentou que “com quanto não conte a paroquia grande número de pessoas abastadas, é populosa e o seus habitantes são quase no geral dados ao trabalho, não lhes faltando, portanto, meios de se manterem convenientemente e de concorrerem conforme suas posses e devoção com alguns donativos em favor das obras e melhoramentos da sua matriz” (Livro Tombo. Nº 1-2. 1882 à 1906)
Além da sua função espiritual, a igreja tem, também, a função de unir seu povo, sendo um importante centro de sociabilidade. Toda a vida dos moradores contíguos à igreja se dava em torno dela, e, além de rezar, havia a necessidade de confraternizar. Dessa forma, no dia 22 de outubro de 1904 ocorreu a realização da primeira festa de Nossa Senhora dos Remédios.
Quando o padre polonês Francisco José Soja tornou-se vigário (entre 1891 a 1904) iniciou a terceira reconstrução da igreja, o que se estendeu pela gestão do padre José Anusz (1904-1916) e terminou na gestão de José Noch (1916-1942). E em 1942, com o padre Afonso Paszkiewicz (1941-42), a matriz recebeu novos sinos para a torre, harmônio de dois teclados, pintura externa e nova pia batismal, além de ter sido comprado terreno e construída uma ampla casa paroquial.
Com o passar dos anos a igreja começou a apresentar perigosas rachaduras nas paredes, e já havia se tornado pequena para o grande número de fiéis. Em 1954 foi iniciada a construção da nova igreja matriz, pelo padre João Palka, e concluída pelo seu sucessor, padre Francisco Wierzba, em 1959, permanecendo com essa arquitetura até os dias atuais. Segundo o senhor Alexandre Mikosz, pedreiro que participou da construção da atual Igreja Matriz, a obra levou 12 anos para ser concluída, levando-se em conta todo o acabamento.
No dia 29 de outubro de 2011 ocorreu a elevação canônica de paróquia para o título de Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, permanecendo como parte importante da história de Araucária, como centro religioso, de renovação de fé, e de memória do povo dessa cidade.
(Texto escrito por Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadora)
Legendas das fotografias:
1 - Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, anterior a 1900. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
2 - Praça Dr. Vicente Machado, com Major Sezino Pereira e João Sperandio entre outras pessoas, em frente à igreja Nossa Senhora dos Remédios, 1900. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
3 - Igreja Nossa Senhora dos Remédios, terceira reconstrução, sem data. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
4 - Igreja Nossa Senhora dos Remédios, década de 1920. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
5 - Praça da Matriz, década de 1930. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
6 - Domingo de Ramos na Igreja Nossa Senhora dos Remédios, 1936. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
7 - Desfile na Praça Vicente Machado, década de 1930. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
8 - Praça Dr. Vicente Machado e Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, década de 1940. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
9 - Praça Dr. Vicente Machado e Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, eleição de 1947. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
10 - Reconstrução da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, 1958. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
11 - Padre Francisco Wierzba durante reconstrução da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, 1959. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
12 - Senhora com criança e ao fundo as obras de ampliação da torre e da igreja matriz de Nossa Senhora dos Remédios, 1963. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
13 - Altar da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, 1953. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
14 - Interior da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, década de 1960. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
15 -Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, década de 1980. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
16 - Igreja de Nossa Senhora dos Remédios e praça, década de 1980. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
17 - Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, 2003. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
18 - Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, 2012. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
19 - Pôr do sol e Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, 2015. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, anterior a 1900. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Praça Dr. Vicente Machado, com Major Sezino Pereira e João Sperandio entre outras pessoas, em frente à igreja Nossa Senhora dos Remédios, 1900. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Igreja Nossa Senhora dos Remédios, terceira reconstrução, sem data. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Igreja Nossa Senhora dos Remédios, década de 1920. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Praça da Matriz, década de 1930. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Domingo de Ramos na Igreja Nossa Senhora dos Remédios, 1936. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Desfile na Praça Vicente Machado, década de 1930. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Praça Dr. Vicente Machado e Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, década de 1940. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Praça Dr. Vicente Machado e Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, eleição de 1947. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Reconstrução da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, 1958. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Padre Francisco Wierzba durante reconstrução da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, 1959. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Senhora com criança e ao fundo as obras de ampliação da torre e da igreja matriz de Nossa Senhora dos Remédios, 1963. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Altar da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, 1953. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Interior da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, década de 1960. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, década de 1980. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Igreja de Nossa Senhora dos Remédios e praça, década de 1980. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
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