quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

O sobrado na Rua Barão do Rio Branco 773

 

O sobrado na Rua Barão do Rio Branco 773


O sobrado na Rua Barão do Rio Branco 773

O sobrado na Rua Barão do Rio Branco 773

O sobrado (ou o que resta dele) segundo os autores do livro “Espirais do Tempo” é o mais expressivo do conjunto existente naquela quadra diante da  Praça Eufrásio Correia.
É um bem tombado pelo Patrimônio Cultural do Paraná e uma Unidade de Interesse de Preservação. Segundo as anotações no livro de tombo, foi construído entre 1904 e 1906, sendo de de estilo eclético de linguagem neoclássica. Não consegui descobrir por quem e nem quem o ocupou no início.
Diversas vezes encontrei referências de que teria sido originalmente um estabelecimento industrial, instalado no local aproveitando a proximidade com a Estação Ferroviária.
Fiquei curioso com relação a isso e tentei descobri qual teria sido a indústria que ocupava o imóvel.
Em uma dessas redes sociais encontrei uma foto de 1912 retratando um embarque de tropas do exército, com uma multidão ocupando a região. Na foto, mostrada ao lado, o casarão aparece e nele dá para ler claramente a palavra “Lavigne”. Mais tarde encontrei uma outra foto ainda mais antiga, de 1909, retratando a recepção ao presidente da república Afonso Pena. Nela é possível ler “Fábrica de … Lavigne”.
Depois de pesquisar por um tempo, a conclusão que cheguei é que no local esteve instalada a indústria de licores (destilaria) do Sr. Florestano De Lavigne.
Segundo o relatório com data de 31 de dezembro de 1905 apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Vicente Machado de Silva e Lima, Presidente do Estado do Paraná, pelo Secretário d’Estado dos Negocios das Finanças, Commercio e Industrias, Sr. Joaquim P. Pinto Chichorro Junior, entre tantas outras informações relacionadas aos assuntos de responsabilidade da secretaria, é informada a visita em algumas fábricas, entre elas a feita a “Distillação, de propriedade de Florestano De Lavigne. Situada no Largo da Estação, produz vinho, cognac, Fernet, vermouth, vinagre, laranginha, licores e xaropes diversos; exportando para Buenos Ayres licor de herva matte. Foi Fundada em 1894.”
A primeira referência que encontrei da empresa foi no jornal “A República”, de 30 de novembro de 1895 onde o jornal relata uma visita que fizeram a fábrica de gelo estabelecida na Rua João Negrão, “o primeiro (estabelecimento) que se leva a effeito neste Estado, graças á actividade e intelligencia dos srs. Ilio De Lavigne & Comp.”
O mesmo jornal, no dia 3 de junho de 1896 registra o recebimento de “garrafas de syphon e de outras bebidas delicadamente preparadas em seu futuroso estabelecimento” e elogiam: “as garrafas de xarope são muito elegantes, e todas ellas têm rotulo da fábrica”.
Em outra visita feita pelo jornal relatada na edição de 6 de janeiro de 1897, entre outras coisas, escreveram que “a agua gasta no fabrico de todas as bebidas, é sahida do chafariz junto á Estação da Estrada de Ferro, que é das melhores que temos, senão a melhor”. Elogiam também que todos os produtos são rotulados e levam a indicação “Coritiba - Estado do Paraná. Isso prova que o Sr. De Lavigne não é nenhum «charlatão» que viva a impingir productos «Fritz-marck» por legitimos”.

Continuando a pesquisa no mesmo jornal é possível acompanhar alguns fatos relacionados com a empresa. Em fevereiro de 1899 a sociedade entre o Sr. Ilio e a Mathias Bohn & Comp. foi desfeita e o Sr. Ilio saiu da empresa, que seria liquidada.
Em março de 1899 o Sr. Ilio informa que estaria fundando com outros sócios uma nova fábrica de licores.
Depois tem outros comunicados que indicam ter havido uma disputa em torno da marca “De Lavigne”.
Em novembro de 1899 foi publicado um comunicado informando a dissolução da sociedade entre o Sr. Ilio De Lavigne e o Sr. Cicero Gonçalves Marques na Ilio De Lavigne & Cia, em função do estado de saúde do Sr. Ilio, tendo ele retirado-se da sociedade, que ficava sendo do Sr. Cicero.
Em dezembro de 1899 tem a notícia do falecimento do Sr. lio de Lavigne.
No dia 12 de julho de 1901 a Mathias Bohn & C. vendeu todas as dívidas ativas da De Lavigne & C. (a primera empresa do Sr. Ilio) para o Sr. A. Samuel Benaim com quem os respectivos devedores deveriam se entender.
Em 18 de julho de 1901 é publicado um informe do Sr. A. Samuel Benaim declarando aos proprietário de dividas a receber da extinta firma De Lavigne & C.ª que vendeu os seus débitos com aquela firma ao Senhor Florestano De Lavigne.
Em 13 de outubro Florestano De Lavigne comunica que acaba de mudar a empresa para a Rua da Liberdade n, 12, na Praça da Estação.

Até então, desde a época do Sr. Ilio, o esquema de promoção dos produtos parece ser a remessa de produtos e calendários aos jornais, que acabavam sempre publicando uma nota sobre isso. Participavam também de feiras, onde conquistaram diversas medalhas de ouro com os seus produtos. A primeira propaganda da empresa que encontrei foi no “A República” de 1 de fevereiro de 1908, que dizia “Alfafa de superior qualidade encontra-se em casa de Florestano De Lavigne - Largo da Estação N. 10”. O que indica que não lidava só com bebidas.
Depois, a partir de 24 de maio de 1914  são publicadas diversas propagandas, relativamente pequenas, que dizem: “Distilação Florestano de Lavigne Casa Premiada com 8 medalhas de ouro Milano, Turim, S. Luiz, Rio de Janeiro e Paraná - “Especialista em licores finos e xaropes. - Rua Barão do Rio Branco, 10 - Curytiba”.
No dia 29 de maio de 1915 encontramos convite para missa de 7º dia a ser celebrada no dia 2 de junho pelo falecimento de Florestano De Lavigne.
Os anúncios da empresa continuam por mais alguns dias e depois desaparecem. Não sei dizer o que aconteceu com a empresa. Deve ter sido fechada ou vendida.

Referências:

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