segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

SAUDADES DAS CANTIGAS DE RODA Estava a lembrar-me das cantigas de roda que aprendi em minha infância. Apesar de nascido em Curitiba, quando eu tinha cinco anos de idade, minha família mudou-se à Paranaguá

 SAUDADES DAS CANTIGAS DE RODA
Estava a lembrar-me das cantigas de roda que aprendi em minha infância. Apesar de nascido em Curitiba, quando eu tinha cinco anos de idade, minha família mudou-se à Paranaguá

Pode ser uma imagem de criança, em pé e ao ar livre
SAUDADES DAS CANTIGAS DE RODA
Estava a lembrar-me das cantigas de roda que aprendi em minha infância. Apesar de nascido em Curitiba, quando eu tinha cinco anos de idade, minha família mudou-se à Paranaguá e, por destino, fomos morar na rua Domingos Peneda, um caminho de areia branca, ladeado de centenárias e frondosas árvores; ela foi o primeiro caminho em direção ao planalto curitibano.
Logo, tomei contato com as demais crianças das casas vizinhas e, nos dias quentes, ao cair da noite, nos reuníamos na rua, cujo point era quase em frente à nossa casa. As moçoilas da rua vinham e iniciavam as cantigas que aprenderam com suas mães, primas e outras colegas mais velhas, não se importando que pequenos como eu participasse.
De forma natural, fomos convidados a juntar as mãos e entrarmos na roda. Lembro-me que foi fácil, pois havia algumas moças que puxavam as cantigas. Meninas e meninos, juntos, cantávamos e puxando a roda, imitávamos a coreografia que as meninas mais velhas ensinavam. Muitas saudades.
As cantigas de roda são um tipo de canção popular, muito praticada em todo o Brasil, faz parte do folclore brasileiro. Consiste em formar um grupo com várias crianças, dar as mãos e cantar uma determinada música, com melodia e ritmo próprios.
As letras, a maioria passadas de geração a geração, são fáceis de decorar, nem sempre compreensíveis visto serem originárias do folclore português, espanhol e de outros cantões da Europa.
Elas também podem ser chamadas de cirandas. Esta prática, hoje em dia não está tão presente na realidade infantil brasileira como antigamente, devido à sua substituição por inventos tecnológicos, porém, ainda é usada para entretenimento de crianças de todas as idades em locais como colégios, creches, parques, etc.
As cantigas de roda, além de terem letra simples de memorizar, são recheadas de rimas, repetições e trocadilhos, o que faz da música uma brincadeira. Muitas vezes fala da vida dos animais, usando episódios fictícios, que comparam a realidade humana com a realidade daquela espécie, fazendo com que a atenção da criança fique presa à história contada pela música, o que estimula sua imaginação e memória. São exemplos, os casos das músicas: “Se está rua fosse minha", "A barata diz que tem”, etc.
Em outros casos, algum objeto cria vida, ou fala-se de amor que para as crianças é representado principalmente pelo casamento, já que o exemplo mais próximo delas é o dos pais. Há ainda as que retratam alguma história engraçada, divertida para as crianças.
Não há como detectar a letra original de alguma cantiga de roda, já que, além de terem autoria anônima, são continuamente modificadas, adaptando-se à realidade regional do grupo de pessoas que as cantam, bem como são influenciadas pelo fator tempo.
Câmara Cascudo, autor que se destacou pelo seu brilhante estudo e grande empenho a respeito do assunto, escreveu que as cantigas de roda têm um caráter constante. “(…) apesar de serem cantadas uma dentro das outras e com as mais curiosas deformações das letras, pela própria inconsciência com que são proferidas pelas bocas infantis.” [...] Elas são transmitidas oralmente abandonadas em cada geração e reerguidas pela outra “numa sucessão ininterrupta de movimento e de canto quase independente da decisão pessoal ou do arbítrio administrativo.”
As cantigas hoje conhecidas no Brasil, apesar de suas origens já citadas, tiveram forte influência dos folclores regionais, portanto, difícil de encontrar uma letra comum aos quatro cantos do país.
As cantigas de roda são de extrema importância para a cultura de cada local. Cada cultura, dá a conhecer seus costumes, o cotidiano das pessoas, festas típicas do local, comidas, brincadeiras, paisagem, flora, fauna, crenças, e outros aspectos.
Selecionei para esta ocasião, duas cantigas das mais conhecidas, hoje praticadas em quase todos os cantos do Brasil. Escolhi uma terceira, talvez pouco conhecida pelas crianças, mas, com certeza, muito lembrada pelos mais velhos:
SE ESTA RUA FOSSE MINHA
Se esta rua,
Se esta rua fosse minha,
Eu mandava,
Eu mandava ladrilhar,
Com pedrinhas,
Com pedrinhas de brilhantes,
Só pra ver, só pra ver
Meu bem passar
Nesta rua, nesta rua tem um bosque
Que se chama, que se chama solidão
Dentro dele, dentro dele mora um anjo
Que roubou, que roubou meu coração
Se eu roubei, se eu roubei teu coração,
Tu roubaste, tu roubaste o meu também
Se eu roubei, se eu roubei teu coração,
É porque, é porque te quero bem
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ATIREI O PAU NO GATO
Atirei o pau no gato, tô
Mas o gato, tô
Não morreu, reu, reu
Dona Chica, cá
Admirou-se, se
Do berro, do berro que o gato deu
Miaaauu !!!!!!
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A VELHA A FIAR
Estava a velha em seu lugar
Veio a mosca lhe fazer mal
A mosca na velha, a velha a fiar
Estava a mosca em seu lugar
Veio a aranha lhe fazer mal
A aranha na mosca, a mosca na velha, a velha a fiar
Estava a aranha em seu lugar
Veio o rato lhe fazer mal
O rato na aranha; a aranha na mosca; a mosca na velha; a velha a fiar
Estava o rato em seu lugar
Veio o gato lhe fazer mal
O gato no rato; o rato na aranha; a aranha na mosca; a mosca na velha, a velha a fiar
Estava o gato em seu lugar
Veio o cachorro lhe fazer mal
O cachorro no gato; o gato no rato; o rato na aranha; a aranha na mosca; a mosca na velha; a velha a fiar
Estava o cachorro em seu lugar
Veio o pau lhe fazer mal
O pau no cachorro; o cachorro no gato; o gato no rato; o rato na aranha; a aranha na mosca; a mosca na velha; a velha a fiar
Estava o pau em seu lugar
Veio o fogo lhe fazer mal
O fogo no pau; o pau no cachorro; o cachorro no gato; o gato no rato; o rato na aranha; a aranha na mosca; a mosca na velha; a velha a fiar
Estava o fogo em seu lugar
Veio a água lhe fazer mal
A água no fogo; fogo no pau; o pau no cachorro; o cachorro no gato; o gato no rato; rato na aranha; a aranha na mosca; a mosca na velha; a velha a fiar
Estava a água em seu lugar
Veio o boi lhe fazer mal
O boi na água; a água no fogo; o fogo no pau; o pau no cachorro; o cachorro no gato; o gato no rato; o rato na aranha; a aranha na mosca; a mosca na velha; a velha a fiar
Estava o boi em seu lugar
Veio o homem lhe fazer mal
O homem no boi; o boi na água; a água no fogo; o fogo no pau; o pau no cachorro; o cachorro no gato; o gato no rato; o rato na aranha; a aranha na mosca; a mosca na velha; a velha a fiar.
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(Fotos: livres, da internet)
Paulo Grani

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