Denominação inicial: Lazaropolis de Piraquara - Governo do Paraná
Denominação atual:
Categoria (Uso): Diversos
Subcategoria:
Endereço:
Número de pavimentos:
Área do pavimento:
Área Total:
Técnica/Material Construtivo: Madeira
Data do Projeto Arquitetônico: 1917
Alvará de Construção:
Descrição: Projetos e plantas para construção do Lazaropolis de Piraquara.
Situação em 2012: Não construído
Imagens
1 – Fachada, planta e corte dos pavilhões-escolas.
2 – Projeto da Colônia.
3 – Planta e fachada da casa das famílias.
Referências:
SOUZA ARAUJO, Heraclides Cesar de. História da Lepra no Brasil. Período Republicano (1889-1946). Volume II. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1948. Estampas 15 e 16.
1 – Fachada, planta e corte dos pavilhões-escolas.
2 – Projeto da Colônia.
3 – Planta e fachada da casa das famílias.
Lazarópolis de Piraquara: O Sonho Não Construído de uma Colônia de Assistência no Paraná
No início do século XX, em meio às profundas transformações sanitárias, urbanas e sociais que marcavam o Brasil republicano, o Estado do Paraná embarcou em um ambicioso — e humanitário — projeto: a criação de um Lazarópolis em Piraquara, destinado ao acolhimento, tratamento e isolamento de pessoas acometidas pela lepra (hoje conhecida como hanseníase). Embora concebido com rigor técnico e sensibilidade arquitetônica em 1917, esse complexo jamais saiu do papel. Sua história, contudo, permanece como um testemunho eloquente das intenções assistenciais e dos desafios institucionais da época.
Origem e Contexto Histórico
A lepra, durante séculos estigmatizada e mal compreendida, foi alvo de políticas públicas de isolamento compulsório a partir do final do século XIX e início do XX. No Brasil, o modelo das colônias agrícolas e hospitalares, inspirado em experiências europeias e norte-americanas, ganhou força com o apoio do movimento sanitarista liderado por figuras como Oswaldo Cruz e Heraclides César de Souza Araújo — este último, um dos maiores especialistas nacionais na luta contra a hanseníase.
No Paraná, o governo estadual, sensível às recomendações médicas e à pressão social por soluções humanas, encomendou em 1917 o projeto arquitetônico de uma colônia moderna a ser instalada em Piraquara, município próximo à capital Curitiba, escolhido por seu clima ameno, abundância de água e relativo isolamento — fatores considerados benéficos tanto para o tratamento quanto para o controle da doença.
A iniciativa recebeu a denominação oficial de Lazarópolis de Piraquara, em referência simbólica a Lázaro, figura bíblica associada à cura e à redenção.
Projeto Arquitetônico: Humanismo em Planta e Fachada
Embora não tenhamos registros do autor do projeto, os desenhos preservados revelam um plano cuidadosamente estruturado, com três elementos principais:
- Pavilhões-escolas: destinados à instrução das crianças filhas de moradores, combinando educação e assistência. As plantas incluem fachadas com amplas janelas, garantindo ventilação cruzada e iluminação natural — princípios higienistas fundamentais da arquitetura sanitária da época. O corte estrutural demonstra preocupação com a funcionalidade e a separação de fluxos.
- Planta geral da Colônia: organizada em zonas: residencial, administrativa, agrícola e de lazer. A proposta previa áreas verdes amplas, hortas comunitárias e espaços para atividades produtivas, alinhando-se ao ideal de autossustentabilidade defendido por Souza Araújo.
- Casa das Famílias: edificações modestas, projetadas para abrigar núcleos familiares de forma digna, rompendo com o modelo carcerário ainda presente em outras colônias. As fachadas, embora simples, demonstram atenção ao detalhe e à proporção, com telhados inclinados e varandas — elementos típicos da arquitetura residencial paranaense da primeira metade do século XX.
O material construtivo previsto era madeira, comum na região e de fácil manuseio, embora menos duradouro. Isso indica que o projeto priorizava rapidez de execução e baixo custo — características frequentes em empreendimentos públicos da época, muitas vezes limitados por orçamentos escassos.
Dados Técnicos (Projeto de 1917)
- Denominação inicial: Lazarópolis de Piraquara
- Denominação atual: Não aplicável (nunca construído)
- Categoria de uso: Assistência social / Saúde pública
- Subcategoria: Colônia de isolamento e reabilitação
- Localização prevista: Piraquara, Paraná
- Endereço exato: Não especificado nos registros disponíveis
- Número de pavimentos: Térreo
- Área do pavimento / Área total: Não quantificada nos documentos remanescentes
- Técnica/Material construtivo: Madeira
- Data do projeto arquitetônico: 1917
- Alvará de construção: Não emitido (projeto não executado)
- Situação em 2012: Não construído
O Silêncio da Obra Inacabada
Apesar do esmero do projeto e do respaldo científico da época, o Lazarópolis de Piraquara nunca foi erguido. As razões permanecem parcialmente obscuras, mas é provável que tenham envolvido limitações orçamentárias, mudanças nas prioridades governamentais ou até mesmo a escolha de outros locais para a implementação de colônias (como a Colônia São Roque, em Santarém, ou as unidades em São Paulo e Rio de Janeiro, que receberam mais apoio federal).
O único vestígio material do projeto encontra-se nas *estampas 15 e 16 do livro História da Lepra no Brasil – Período Republicano (1889–1946), Volume II*, de Heraclides César de Souza Araújo (1948). Nessas pranchas, reproduzem-se as plantas da colônia, da casa das famílias e dos pavilhões-escolas — documentos raros que permitem vislumbrar o que poderia ter sido um marco na assistência humanizada no sul do Brasil.
Legado Inacabado, Memória Essencial
Embora nunca tenha existido em alvenaria, o Lazarópolis de Piraquara subsiste como um projeto simbólico — um espelho das contradições entre boas intenções e limitações práticas do Estado brasileiro diante de doenças estigmatizadas.
Hoje, com o avanço dos direitos humanos e o fim do isolamento compulsório (oficialmente encerrado no Brasil em 1986), projetos como esse são revisitados não como soluções ideais, mas como capítulos necessários da história da saúde pública, que nos lembram a importância da empatia, da ciência e da justiça social na construção de políticas públicas.
Que as plantas não construídas do Lazarópolis sirvam, então, não como monumento ao que faltou, mas como chamado permanente à dignidade de todos os corpos, visíveis ou esquecidos.
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