O Belvedere no Alto do São Francisco
Belvedere é um ponto elevado de largo horizonte, um mirante. Esse ponto privilegiado de observação nos dias de hoje está um pouco prejudicado pelo crescimento da cidade.
O jornal “Diário da Tarde” no dia 14 de abril de 1915, em uma matéria com o título “O embellezamento de Coritiba” trata da reforma do Passeio Público e comenta a intenção do prefeito Cândido Ferreira de Abreu de construir o belvedere:
“ … E´ necessario notar que, construído tal “Belvedére”, ficaria Coritiba dotada de um maravilhoso ponto de passeio.
Do Alto de S. Francisco descortinam-se panoramas vastissimos, pelas horas da tarde, é um alto goso artistico o presenciar-se, dali, o deelinar do sol, que vae mergulhando aos poucos no horizonte, deixando, pelo poente, longas faixas de oiro e purpura. …”.
O mesmo jornal, no dia 23 de dezembro de 1915 publicou:
“Ha tempos, noticiamos que operários da prefeitura haviam começado a metter a picareta na vetusta capellinha de S. Francisco, afim de ser construido, ali, o belvedere.
Aquelle templo foi abaixo, mas, de repente, os operarios abandonaram o serviço não o reiniciando até hoje.
Faltam dois meses apenas para a terminação da governança do sr. dr. Candido de Abreu, de maneira que, pelas apparencias, o belvedere não será construido. …”.
E continuam comentando que já haviam gasto mais de 50 contos em desapropriações e criticando o fato da obra estar parada e não achando razoável os terrenos ficarem como estavam. Aparentemente o problema era falta de verbas no final do mandato do prefeito.
Em outras edições há outros artigos criticando as obras paralisadas e cartas de pessoas da região reclamando.
No dia 20 de janeiro de 1916, ainda o jornal “Diário da Tarde” noticiou que o belvedere estava sendo construído:
“Diversas vezes temos nos referido aos melhoramentos do Alto de S. Francisco onde esta sendo construido um belvedére, consoante prescripções de antiga lei municipal.
E´ empreiteiro da constricção desse pavilhão o cav. André Petrelli, conhecido empreiteiro desta cidade.
O preço do belvédere será de 26 contos.
O constractante das obras deve, ao que parece, dalás promptas até 25 de fevereiro, data rm que com solemnidade sr. prefeito pretende inaugurar os melhoramentos do alto de S. Francisco.
Tivemos occasião de ver a planta do pavilhão para o belvédere feita pelo dr. Candido de Abreu, prefeito municipal.
O edificio, de estilo agradavel, compor-se-á de dois pavilhões.
No primeiro se penetrará por varias portas e ao segundo se terá accesso por uma escada interna.
No 1.º andar de sacadas e janelas se descortinará o panorama da cidade em todas as direcções da rosa dos ventos.
Feito o pavilhão acreditamos nenhum local da cidade offerecerá ao espectador pontos de vista mais admiraveis.
As ruinas serão conservadas.
Será construida uma escada de ferro para se subir nellas.
Os moradores do Alto de S. Francisco sentem-se jubilosos com a certeza de que, desta feita, sairão os melhoramentos daquella zona da cidade, para quem a prefitura municipal sempre fez o papel de madrasta.”
A construção, portanto, é de 1916 e não 1915, como muitas fontes indicam.
Em estilo art nouveau, no momento o belvedere está fechado e vandalizado. Mas li recentemente que será restaurado. Para o restauro a prefeitura autorizou a captação de recursos através da venda de potencial construtivo. Não estou muito certo da validade da utilização desse mecanismo para o restauro de bens públicos, competindo com os imóveis privados. Mas isso é assunto para outra publicação, até por que tenho algumas dúvidas para esclarecer.
É uma Unidade de Interesse de Preservação e faz parte do conjunto da Praça João Cândido, tombada pelo Patrimônio Cultural do Paraná.
Publicação relacionada:
As Ruinas de São Francisco
Referências: