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domingo, 9 de abril de 2023

A MINA DE MERCÚRIO " Era o final da década de 1940 e o bairro da Água Verde, naquela época, não merecia destaque na cidade.

 A MINA DE MERCÚRIO

" Era o final da década de 1940 e o bairro da Água Verde, naquela época, não merecia destaque na cidade.


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A MINA DE MERCÚRIO
" Era o final da década de 1940 e o bairro da Água Verde, naquela época, não merecia destaque na cidade. Além do estádio do Atlético e do time do Água Verde, a infra-estrutura urbana resumia-se a umas três ou quatro ruas pavimentadas. Mas foi esse o cenário de inusitado acontecimento, que ganhou destaque na imprensa local - "O dia em que jorrou mercúrio em Curitiba".
Foi na rua Coronel Dulcídio, entre a rua Brasílio Itiberê e a Avenida Getúlio Vargas. Existiam ali várias casas de madeira, todas pequenas e mal cuidadas, que por estarem enfileiradas umas atrás das outras, foram apelidadas de "Vagão". A construção vizinha era imponente residência de alvenaria, de propriedade de destacado funcionário da 'Antisardina', indústria de cosméticos local. Ele era chamado de 'Seo Zizi' e conhecido por gozar de vida bastante diferente dos outros moradores da região.
Naquela manhã o local do 'Vagão' amanheceu efervescente. A garotada que aproveitava a tranqüilidade do local para brincar na rua, foi surpreendida quando viu o chão de terra batido coberto por pequenas gotas de metal líquido, difíceis de se pegar com os dedos. Um, mais esperto, agarrou uma bolinha com a ajuda de uma colher. Aos poucos descobriu que ela podia aumentar de volume se fosse misturada com outras gotículas.
Alguém disse que era mercúrio, igualzinho aquele líquido que fica enfrascado, dentro dos termômetros. A noticia correu: 'Apareceu uma mina de mercúrio no Água Verde'. Poucas horas depois era grande o número de curiosos a observar a criançada ciscando a terra, enchendo vidros e vidros de remédio com bolinhas de mercúrio.
Mas o momento apoteótico ainda estava por vir. Foi quando uma moradora precipitou-se de encontro à valeta que, à frente do 'Vagão', separava o passeio da rua. Era ali que caia a água usada na lavagem dos pratos, panelas e roupas dos moradores das redondezas. Foi um estardalhaço. A senhora retirara, em meio ao líquido grosso e pestilento, meia garrafa (daquelas usadas para guardar leite antigamente) cheinha de mercúrio.
As rádios adoraram a notícia: 'Descoberto em Curitiba um veio de mercúrio'. Deu até no repórter Esso, glória maior dos noticiários. Mas pena que a alegria durou pouco. 'Culpa do Seo Zizi ?'
Conta-se que o endinheirado morador afanava o mercúrio da empresa em que trabalhava. Depois de uma dessas incursões, logo ao chegar em casa, deu uma de atrapalhado e derrubou no chão o produto do roubo. Foi mercúrio por todo lado, principalmente para dentro da valeta.
Os gozadores da época não perderam tempo. Na mesma noite cercaram o local e puseram uma placa de papelão: 'Propriedade da Prefeitura'. Não esqueceram também de derramar no local uma mistura de água com pó de alumínio (muito usado pelas mulheres para passar na chapa do fogão a lenha). Sob a claridade da rua, o alumínio dava a impressão de que a valeta era um cascata de mercúrio.
Ao final do outro dia todas as minúcias do 'grande acontecimento' já haviam sido descobertas e tudo voltava à rotina normal. Tudo igual, como era antes.
Menos para o "Seu Zizi", que ficou sem o emprego e teve que mudar de bairro."
(Escrito por: Diniz Bonilauri (publicitário e artista plástico) / Extraído de: Trezentas Histórias de Curitiba)
Paulo Grani