sábado, 9 de abril de 2022

" Nem imaginava que aquele dia seria tão marcante para mim e, ao mesmo tempo, significativo para a História da cidade. Estava com 11 anos e me preparava para outro dia de trabalho, que começava bem cedo, lá pelas sete da manhã. Estava à espera do primeiro freguês do dia, ao lado de minha cadeira de engraxate, instalada no antigo "Salão Azul", na Rua XV. Era o ano de 1939, dia 20 de Setembro.

 " Nem imaginava que aquele dia seria tão marcante para mim e, ao mesmo tempo, significativo para a História da cidade.
Estava com 11 anos e me preparava para outro dia de trabalho, que começava bem cedo, lá pelas sete da manhã. Estava à espera do primeiro freguês do dia, ao lado de minha cadeira de engraxate, instalada no antigo "Salão Azul", na Rua XV. Era o ano de 1939, dia 20 de Setembro.


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UM PINHEIRO DA PRAÇA TIRADENTES
" Nem imaginava que aquele dia seria tão marcante para mim e, ao mesmo tempo, significativo para a História da cidade.
Estava com 11 anos e me preparava para outro dia de trabalho, que começava bem cedo, lá pelas sete da manhã. Estava à espera do primeiro freguês do dia, ao lado de minha cadeira de engraxate, instalada no antigo "Salão Azul", na Rua XV. Era o ano de 1939, dia 20 de Setembro.
Uma das muitas coisas que admirava naquele freguês era sua pontualidade. Naquele dia também não falhara. O gordo e rosado motorista, uniformizado e de quepe, abria a porta do carro, reluzente de tão negro. Impecavelmente vestido, geralmente com terno cinza, entrava o freguês no Salão.
Pouco eu poderia fazer. Seus sapatos já tinham um brilho natural. Mas precisava honrar aqueles $ 300 Réis, ganhos diariamente, que sempre garantiam meu café da manhã na Pastelaria do 'Seo Vitório', que ficava ao lado do Bar Triângulo.
Disparou uma frase que mostrava que minha rotina estava para ser alterada. "Você quer comer um churrasco amanhã ?", perguntou, enquanto escrevia alguma coisa atrás de um cartão, que acabara de tirar do bolso.
Eu estava desconfiado. "Você precisa apenas fazer um pequeno serviço. É só pegar uma muda de Pinheiro que está no local onde será a Casa do Pequeno Jornaleiro e levar até a Praça Tiradentes. Depois é só ir para o churrasco. Pegue, leve junto este cartão".
No dia seguinte, bem cedo, parti para o local combinado, com a muda de 'pinheiro' debaixo do braço. Eu chegara cedo, mas logo em seguida uma multidão caminhava em minha direção.
Estávamos ao lado de um buraco, na Praça Tiradentes, em frente à Catedral. Não largava a muda, considerava-me seu guardião.
Quase não percebi o carro negro e reluzente parar quase ao lado. O motorista gordo saltou e abriu a porta. Desta vez uma mulher, muito bem vestida, de chapéu e com um pequeno véu transparente que lhe cobria o rosto, desceu do veículo. Aquele distinto senhor não estava presente.
"Agora vamos plantar a muda de pinheiro em comemoração à Pedra Fundamental da Casa do Pequeno Jornaleiro", disse ela. Senti-me aliviado. A senhora jogou um pouco de terra, com ajuda de uma pá. Muitos aplausos e fomos todos para o churrasco.
Ao chegar entreguei o cartão e ouvi alguém gritar: "Capricha que este é convidado especial". Sem entender, pedi o cartãozinho e dei uma olhada. No verso estava escrito que o portador tinha direito a um churrasco. Na frente, o cartão estampava os dizeres, para mim, pouco significativos: 'Governo do Estado do Paraná - Manoel Ribas - Interventor do Estado'.
O pinheiro está lá até hoje, belo e imponente, com uma placa que diz: 'Pinheiro plantado pelo Interventor Manoel Ribas, em 21 de Setembro de 1939'. Na verdade, quem o plantou foi aquela bem vestida senhora, Dona Anita Ribas, e eu. "
(autor: Darcy Machiavelli, comerciante aposentado / Extraído de: Trezentas Histórias de Curitiba)
Paulo Grani

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