RELEMBRANDO O BAR PARANÁ, DE CURITIBA
" Na Rua Quinze, entre Marechal e Monsenhor Celso, lado esquerdo de quem sobe, havia um bonito sobrado, propriedade do comerciante Miguel Calluf; a parte de cima abrigava o Instituto de Música Messing;
RELEMBRANDO O BAR PARANÁ, DE CURITIBA
" Na Rua Quinze, entre Marechal e Monsenhor Celso, lado esquerdo de quem sobe, havia um bonito sobrado, propriedade do comerciante Miguel Calluf; a parte de cima abrigava o Instituto de Música Messing; no térreo, com porta de vaivém, lembrando filme de mocinho, estava o famoso Bar Paraná, que ali funcionou de 37 a 64, vizinho do Palácio do Comércio (então sede do Centro Acadêmico de Direito, depois Hugo Simas) e da pequena Chapelaria Central, que fechou por falta de freguesia, sem falar no Louvre ("rei das sedas, imperador dos preços"), também dos Calluf.
Por imposição do "milagre" urbano, ali quase tudo se refundiu; do antigo Louvre sobrou a escadaria de mármore; foram-se as sacadinhas do Palácio do Comércio, de onde se podia apreciar, todas as tarde, as Leatrices e Raquéis descendo a Rua Quinze.
Os elogios à comida e ao ambiente do bar, que os antigos habituês ainda apregoam, não têm fim.
Linguado à milanesa, seguido de moranguinhos com nata, ninguém fez melhor. A sopa húngara, um maná; alguns copiaram sua receita (água da fonte, filé mignon, leite, batatinhas, sal e pimenta), mas nem um conseguiu fazer nada igual. O poeta Antônio Salomão, memória de anjo, diz que o mistério da sopa húngara tinha vínculo com certo tempero tcheco; o nome e endereço dos fabricantes, por mais que se procurasse, nunca foi achado.
O dono e fundador foi o alemão Walter, maitre por vocação, cozinheiro invejável. Além das iguarias que inventava, Walter dispunha de alvíssimas toalhas, louça e talheres de primeira, mobiliário de bom gosto. No balcão de entrada, à direita, o retrato de um trem na Serra do Mar, à beira do precipício, soltando fumaça pela chaminé; de tão bem focalizado, o trem do retrato só faltava apitar.
Restaurante que se preza carece de bons garçons; o Bar Paraná tinha os veteranos Filippe (afável, bom ouvinte, alemão como o dono) e o brasileiro Eloy, louco por roleta, assíduo visitante do Cassino Ahú.
Em 1955, dinheiro sobrando, resultado de anos e anos de trabalho, Walter decidiu rever sua cidade natal, na Alemanha. Nem bem desembarcou, teve um treco e morreu do coração. A viúva baldeou seu corpo para Curitiba, passando o restaurante, depois, ao catarinense Evilásio, que manteve a boa fama do estabelecimento uns oito, nove anos, até a demolição do sobrado.
A classe média alta comparecia aos domingos, depois da missa no Bom Jesus. Em dias de semana, era comum a presença do lendário capitão Manoel Aranha, acompanhado de Jofre Cabral e Abílio Ribeiro. Manoel Aranha presidia longas reuniões, regadas a chope escuro (o melhor de Curitiba), varando a tarde, de preferência quando o Atlético atravessava fases críticas. Caçoando desses encontros, diziam os coxas que o Atlético só vai bem quando em crise.
De vez em vez, sob efeito do tal chope escuro, o jornalista Dicésar Plaisant pronunciava grandes discursos de desafio à ditadura, - chamava o interventor Manoel Ribas de "energúmeno, murnu, esbirro de Gelúlio". Se crescia a eloqüência do orador, a ponto de assustar certos fermentadores, o garçom Filippe, amável conselheiro, punha-o menos agressivo.
Antônio Salomão, o poeta, garante que não há saudosismo nas lembranças do Bar Paraná. "Só Deus sabe como eram bons aqueles tempos", dizia. "
(Autor: Francisco Brito de Lacerda, advogado - Extraído de: Trezentas Histórias de Curitiba)
(Foto ilustrativa de sopa húngara: Internet, Google)
Paulo Grani.
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