A antiga Vila Brusca
“ Era um angu de negada, uma casinha do lado da outra”. É assim, com essa curiosa expressão, que a ex-moradora, dona Maria do Rosário da Luz, de 73 anos, explica como era a antiga Vila Brusca.
O nome do local foi dado por pessoas que achavam o lugar “Brusco” (escuro, rude). Entre os moradores o local era chamado também de favela. A vila existia já na década de 1950 e foi formada ao lado da Rua Octávio José Kuss, antes conhecida como rua da linha velha.
O empresário e vizinho da antiga vila, Octavio Neto, explica como era o local. “ A vila Brusca iniciava onde mais ou menos hoje é o Adolescentro e se estendia pela rua, com casas dos dois lados, até uma quadra antes do Colégio Polivalente. As casas eram muito simples, precárias, os moradores ganhavam pedaços de tábuas, materiais de construção e levantavam a casa conforme conseguiam. A grande maioria tinha apenas um cômodo. Até por isso as crianças sempre estavam pela rua”, conta.
Com o tempo, por ser uma favela no centro da cidade, o local passou a ser marginalizado. Mas, a maioria dos ex-moradores sente saudades. “Comprei uma casinha na vila brusca, era uma peça, uma casinha pequenininha, mas dava pra morar. Eu me lembro até o valor que paguei, R$ 100 reais na casinha com o terreno, mas documento ninguém tinha, era tudo invasão. Já nos primeiros dias que morei lá, minha casa foi assaltada por uma ladra que morava atrás. Mas, só tive problemas com essa menina, de resto tive vizinhos muito bons, fiz muitas amizades. Eu me dava com Deus e o mundo e queria muito bem todo mundo que morava lá. Apesar das dificuldades nos ajudávamos. E naquele tempo não existiam as drogas e a bandidagem que existe hoje, tenho saudade e preferia morar lá”, conta Dona Maria, que hoje mora no bairro São Lucas.
O mesmo sentimento de saudade tem o seu Pedro dos Santos, coletor de lixo reciclável, de 79 anos de idade. “Fui morar lá novo, no tempo que saí do quartel (década de 1960). Eu tinha uma casinha simples, a vizinhança era tudo gente boa. Lá que eu comecei a lidar com lixo reciclável, era tudo pertinho. Mas fomos obrigados a sair de lá, se a gente não saísse eles atropelavam. Nós não fazíamos mal pra ninguém, sinto muita saudade”, afirma.
O fim da Vila Brusca é um capítulo à parte que nem mesmo os ex-moradores sabem explicar com precisão. Com o crescimento da vila, e os terrenos sem regularização, a administração municipal da época (final da década de 1980 e início de 1990), propôs aos moradores uma mudança para lotes regularizados, onde hoje é o bairro São Lucas. “Começaram a falar que a Brusca ia acabar, diziam na época que iam fazer uma fábrica grande no local e que a gente tinha que sair de lá. Nessa época estavam fazendo o loteamento aqui no São Lucas. Quase todo mundo veio para cá, tivemos que sair da Vila Brusca e a tal fábrica nunca foi feita. Hoje o local onde morávamos lá virou mato”, relembra Dona Maria.
Atualmente, quase 30 após o fim da Vila Brusca, sobraram as lembranças na memória de quem viveu no local ou passava por ali. A maioria das casas foram desmanchadas e levadas para o bairro São Lucas. Os registros do fotógrafo Altivir Gaio Filho (Foto Gaio) mostram como era a vila que deixou de existir.
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