Casa do Cavalo Baio.
Trata-se do mais antigo imóvel em alvenaria preservado do município. Uma casa que transcende gerações e liga etnias – refletindo a forma como Araucária foi diversamente povoada. Ela foi construída em 1870 (sendo, portanto, vinte anos mais antiga do que o próprio município de Araucária)
“Sabe onde fica? Lá no Cavalo Baio!”
Todos os moradores de Araucária (nascidos aqui ou não) já ouviram em algum momento esse tipo de referência, que bastou para se situar. Não é preciso ser um grande conhecedor da geografia do município para saber de que local se trata. Não é um cavalo em si (hoje), nem um bairro, mas um ponto de referência de toda uma região urbana residencial e comercial, cortada por uma das principais avenidas de Araucária (a Avenida Dr. Victor do Amaral) e assim conhecida popularmente por conta de uma construção marcante – a Casa do Cavalo Baio.
Trata-se do mais antigo imóvel em alvenaria preservado do município. Uma casa que transcende gerações e liga etnias – refletindo a forma como Araucária foi diversamente povoada. Ela foi construída em 1870 (sendo, portanto, vinte anos mais antiga do que o próprio município de Araucária) para a família de alemães de sobrenome Suckow, e teve como construtor responsável o inglês Walter Joslin – responsável por outras obras importantes na história do município. Por muito tempo foi um estabelecimento comercial, onde se trocavam mercadorias que vinham em carroças e tropas, em uma época em que ainda se encontravam por ali colonos, tropeiros e comerciantes locais, abastecendo o comércio e movimentando a região. Em 1943, a propriedade foi adquirida pela família de origem francesa Charvet, que a detém até os dias de hoje, zelando por sua preservação.
Foi então que a casa, que já chamava a atenção por sua belíssima construção em alvenaria com arquitetura em estilo centro-europeu, ganhou o apelido carinhoso. A família Charvet possuía belos cavalos, que ficavam ao lado da casa, mas um em especial – o baio (que na verdade se chamava Rex) - chamava a atenção por seu porte e beleza. Foi por causa dele que a construção ficou conhecida como “a casa do cavalo baio”, tornando-se uma referência local até os dias de hoje.
A casa do Cavalo Baio foi edificada a partir de influências arquitetônicas de diversos povos que ajudaram a estruturar a cidade de Araucária no séc. XIX. Nesse sentido, pode-se observar especialmente a presença de traços típicos das edificações alemãs, a exemplo do telhado com águas bastante pronunciadas e telhas alemãs; também há alguma influência de elementos da arquitetura polonesa e italiana. Destaca-se a presença de janelas com vergas em arco pleno, com venezianas que acompanham este formato. A casa possui como tipologia construtiva a alvenaria de tijolos assentada sobre alvenaria de pedra. Internamente, os assoalhos de madeira são estruturados com matajuntas. As grandes aberturas em sua fachada frontal (voltadas para a rua Dr. Vitor do Amaral) denotam a antiga função de armazém, que possuía o porão como estrutura de apoio. O sótão, onde podem ser vistas as estruturas de madeira que sustentam o telhado, é um ambiente comum às edificações do período.
Ao longo do tempo, a casa passou por modificações na pintura (cor) e também na relação com a via em frente, visto que a geometria da via e seu nível foram se alterando com o passar do tempo. Nenhuma dessas transformações de entorno, no entanto, alterou as características formais da edificação, que permanece com a mesma linguagem da época de sua construção.
Por conta de sua importância para o município, ela foi tombada em 26 de dezembro de 1978, a pedido da proprietária Maria Luiza Charvet, junto à Secretaria de Estado da Cultura (inscrição n° 67 na Lei Estadual 1211, de 16/09/1953). Atualmente o imóvel pertence a Fabienne Charvet, e segue sendo um marco histórico e referencial, como ponto turístico para os visitantes e como parte da identidade do município de Araucária e seus habitantes.
(Texto escrito por Luciane Czelusniak Obrzut Ono - historiadora, e) Lauri Anderson Lenz – arquiteto)
(Legendas das imagens:
1 - Residência e comércio da família Suckow, atual Casa do Cavalo Baio, final do séc XIX. Coleção Ruy Wachowicz. Acervo Arquivo Público do Paraná.
2 - Casamento de Carlos Gustavo Bengtsson e Emma Emília Helena Suckow em frente à casa, 21 de abril de 1907. Coleção de Olga Jess. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
3 - Armazém Cavalo Baio, 1950. Coleção família Charvet. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
4 - Rex - o cavalo baio da família Charvet, sd. Coleção família Charvet. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
5 - Família Charvet, 1958. Coleção família Charvet. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
6 - Casa Cavalo Baio, março de 1975. Foto de José Bueno Filho. Acervo Família Charvet. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
7 - Casa do Cavalo Baio, esquina da Av. Victor do Amaral com Alfred Charvet, 2002. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
8 - Fabienne Charvet em ação educativa no interior da Casa do Cavalo Baio. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
9 - Casa do Cavalo Baio, 2021. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.)
Residência e comércio da família Suckow, atual Casa do Cavalo Baio, final do séc XIX. Coleção Ruy Wachowicz. Acervo Arquivo Público do Paraná.
Casamento de Carlos Gustavo Bengtsson e Emma Emília Helena Suckow em frente à casa, 21 de abril de 1907. Coleção de Olga Jess. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Armazém Cavalo Baio, 1950. Coleção família Charvet. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Rex - o cavalo baio da família Charvet, sd. Coleção família Charvet. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Família Charvet, 1958. Coleção família Charvet. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
Casa Cavalo Baio, março de 1975. Foto de José Bueno Filho. Acervo Família Charvet. Acervo do Arquivo Histórico Archelau de Almeida Torres.
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