Histórias de Curitiba - Canja de galo capão
Canja de galo capão
Fernando Wolff
Em 1966, inaugurei o Hos-pital-Maternidade do Tarumã, localizado no bairro do mesmo nome, mais precisamente na Vila Higienópolis, nos fundos do Hipódromo do Tarumã, nesta cidade de Curitiba.
Havia começado sua construção três anos antes, quando ainda trabalhava no Hospital Nossa Senhora das Graças, em São Carlos do Ivaí, no norte do Estado do Paraná. Foi um acontecimento especial para os moradores da região, pois na época a assitência médica mais próxima dali era o Hospital São Lucas, no Juvevê.
Credenciado que era, pelo INAMPS, como Médico ginecologista e obstetra, comecei a receber as primeiras parturientes para exames pré-natal.
Os outros médicos também se apressavam a internar seus pacientes e o hospital já 1a ganhando "status". Numa certa madrugada, escutei batidas na porta do meu apartamento, anexo ao hospital.
Era a enfermeira do plantão da noite, que me disse: " Doutor, venha logo que é uma parturiente em trabalho de parto".
Era o primeiro nascimento a ocorrer no hospital e, portanto, representava algo de importante para mim.
Aprontei-me rapidamente, e em poucos minutos corri pelo corredor em direção à sala de parto.
Notei, porém, antes de adentrá-la, a presença de um homem corpulento, barbudo, trajando roupas modestas, calças sustentadas por largo suspensórios e calçando coturno como sapatos.
Era o futuro pai do bebê. E parecia-se com um montanhês.
O parto foi um sucesso e Dona Maria não se continha de tanta alegria, afagando o filho debruçado sobre seu colo.
Nascera um robusto menino.
No corredor, dei a boa notícia ao pai, que arregalou os olhos e explodiu de contentamento, dando-me duas pancadas fortes nas costas e dizendo: "Doutor, não sei como lhe pagar, mas agradeço-lhe de coração".
No entardecer daquele dia, o homenzarrão, feliz papai do bebê, bateu na porta do meu consultório e pediu para falar comigo.
Permiti que entrasse e observei que ele segurava um saco de esto-pa, contendo algo volumoso, com a mão direita.
Por trás da espessa barba, mostrando dentes alvos e quase sorrindo, falou-me: "Doutor, não tenho carteira do INAMPS, não tenho dinheiro, mas vou lhe pagar com o maior capão do meu terreiro!"
Naquele Natal de 1966, os doentes internados no Hospital Tarumã fizeram a melhor ceia de sua vidas, tomando cheirosa e substanciosa canja de galo capão.
Depois de ficar três meses na ceva, a ave era tão grande que a sopa deu para mais de trinta pacientes.
Fernando Wolff é médico aposentado e presidente da Associação dos Cronistas de Turfe do Paraná
Fernando Wolff
Em 1966, inaugurei o Hos-pital-Maternidade do Tarumã, localizado no bairro do mesmo nome, mais precisamente na Vila Higienópolis, nos fundos do Hipódromo do Tarumã, nesta cidade de Curitiba.
Havia começado sua construção três anos antes, quando ainda trabalhava no Hospital Nossa Senhora das Graças, em São Carlos do Ivaí, no norte do Estado do Paraná. Foi um acontecimento especial para os moradores da região, pois na época a assitência médica mais próxima dali era o Hospital São Lucas, no Juvevê.
Credenciado que era, pelo INAMPS, como Médico ginecologista e obstetra, comecei a receber as primeiras parturientes para exames pré-natal.
Os outros médicos também se apressavam a internar seus pacientes e o hospital já 1a ganhando "status". Numa certa madrugada, escutei batidas na porta do meu apartamento, anexo ao hospital.
Era a enfermeira do plantão da noite, que me disse: " Doutor, venha logo que é uma parturiente em trabalho de parto".
Era o primeiro nascimento a ocorrer no hospital e, portanto, representava algo de importante para mim.
Aprontei-me rapidamente, e em poucos minutos corri pelo corredor em direção à sala de parto.
Notei, porém, antes de adentrá-la, a presença de um homem corpulento, barbudo, trajando roupas modestas, calças sustentadas por largo suspensórios e calçando coturno como sapatos.
Era o futuro pai do bebê. E parecia-se com um montanhês.
O parto foi um sucesso e Dona Maria não se continha de tanta alegria, afagando o filho debruçado sobre seu colo.
Nascera um robusto menino.
No corredor, dei a boa notícia ao pai, que arregalou os olhos e explodiu de contentamento, dando-me duas pancadas fortes nas costas e dizendo: "Doutor, não sei como lhe pagar, mas agradeço-lhe de coração".
No entardecer daquele dia, o homenzarrão, feliz papai do bebê, bateu na porta do meu consultório e pediu para falar comigo.
Permiti que entrasse e observei que ele segurava um saco de esto-pa, contendo algo volumoso, com a mão direita.
Por trás da espessa barba, mostrando dentes alvos e quase sorrindo, falou-me: "Doutor, não tenho carteira do INAMPS, não tenho dinheiro, mas vou lhe pagar com o maior capão do meu terreiro!"
Naquele Natal de 1966, os doentes internados no Hospital Tarumã fizeram a melhor ceia de sua vidas, tomando cheirosa e substanciosa canja de galo capão.
Depois de ficar três meses na ceva, a ave era tão grande que a sopa deu para mais de trinta pacientes.
Fernando Wolff é médico aposentado e presidente da Associação dos Cronistas de Turfe do Paraná
Nenhum comentário:
Postar um comentário