Histórias de Curitiba - Quando a vida imita a arte
Quando a vida imita a arte
Luiz Geraldo Mazza
Não raro a vida imita a arte, ao contrário do que dizem.
Por exemplo, eu vi da minha mesa na redação da "Última Hora"o Adher-bal Fortes de Sá Júnior sugerir a um tipo estranhíssimo chamado Tuyuti Sareta, que padecia de lábio Leporino e era fanho, que imitasse o Zé do Burro de "O Pagador de Promessas", de Dias Gomes, que havia ganho a Palma de Ouro de Cannes com o filme de Anselmo Duarte, e levasse uma cruz até a igreja do Rocio em Paranaguá, em troca de alguns favores.
Lembro que, na seqüência, o improvisado Zé do Burro entrou no santuário da padroeira do Paraná com todas as honras, pois o prefeito, o bispo e o delegado de polícia não ousaram enfrentar a força popular do jornal que, em Paranaguá, sob o comando de Cícero Catani, tirava quase três mil exemplares e comandava até greves na área portuária.
Vi, também, uma situação de absoluto decalque do filme A Montanha dos 7 Abutres", de Bil-ly Wilder, com o ator Kirk Douglas na pele de um jornalista inescru-puloso e sensacionalista, que se aproveita de um acidente numa mina para conter o último mineiro até a morte da vítima.
Havia uma invernada no Capão Razo, onde um pequeno regato penetrava por uma caverna subterrânea estreitíssima só explorada pelas crianças, que afinal desafiam o imponderável, são protegidas pelos anjos e têm as dimensões do corpo como vantagem para penetrar em bueiros e galerias.
Anos antes, corria na memória da população daquele bairro a estória de um menino que avistara uma santa no interior dessa galeria.
Na verdade, tratava-se de um fenômeno comum de re-fração da luz e que produz uma espécie da prisma de forma triangular e lembrando em tudo um ícone.
Como uns meninos voltaram a explorar o mesmo lugar e a ver idêntica imagem, a fantasia se alastrou e o jornal Última Hora fez um carnaval em cima do assunto, com o repórter Maurício Távora.
Como chefe de redação, fui até lá para tomar pé da situação e ao ver a estreiteza da entrada da caverna, resolvi avisar o comandante dos bombeiros, coronel Hamilton de Castro, do risco que havia no local.
Meia hora depois, o comandante ligou-me agradecendo, mas avisando que um operário da construção civil resolvera entrar na galeria para ver a santa e acabou morrendo.
Pior é que, com o sensacio-nalismo do noticiário, pintou no lugar um taumaturgo,
milagreiro. que se fazia passar por Wilmar Schmidt, um menino catarinense que andou fazendo, décadas antes, milagres em Curitiba, e que afirmava que localizaria o trabalhador.
Ajudei na época a desmascarar o falso milagreiro, pois havia conhecido o verdadeiro Wilmar. Não foi fácil, porém, à autoridade segurar o povo que entrou na onda do milagreiro e até rezava o terço, bem como o Corpo de Bombeiros teve que criar "Know how"para aquele tipo de soterramento.
Nesse caso, também a vida imitou, sem muita criatividade, aquilo que a arte já consagrara.
Luiz Geraldo Mazza é jornalista.
Luiz Geraldo Mazza
Não raro a vida imita a arte, ao contrário do que dizem.
Por exemplo, eu vi da minha mesa na redação da "Última Hora"o Adher-bal Fortes de Sá Júnior sugerir a um tipo estranhíssimo chamado Tuyuti Sareta, que padecia de lábio Leporino e era fanho, que imitasse o Zé do Burro de "O Pagador de Promessas", de Dias Gomes, que havia ganho a Palma de Ouro de Cannes com o filme de Anselmo Duarte, e levasse uma cruz até a igreja do Rocio em Paranaguá, em troca de alguns favores.
Lembro que, na seqüência, o improvisado Zé do Burro entrou no santuário da padroeira do Paraná com todas as honras, pois o prefeito, o bispo e o delegado de polícia não ousaram enfrentar a força popular do jornal que, em Paranaguá, sob o comando de Cícero Catani, tirava quase três mil exemplares e comandava até greves na área portuária.
Vi, também, uma situação de absoluto decalque do filme A Montanha dos 7 Abutres", de Bil-ly Wilder, com o ator Kirk Douglas na pele de um jornalista inescru-puloso e sensacionalista, que se aproveita de um acidente numa mina para conter o último mineiro até a morte da vítima.
Havia uma invernada no Capão Razo, onde um pequeno regato penetrava por uma caverna subterrânea estreitíssima só explorada pelas crianças, que afinal desafiam o imponderável, são protegidas pelos anjos e têm as dimensões do corpo como vantagem para penetrar em bueiros e galerias.
Anos antes, corria na memória da população daquele bairro a estória de um menino que avistara uma santa no interior dessa galeria.
Na verdade, tratava-se de um fenômeno comum de re-fração da luz e que produz uma espécie da prisma de forma triangular e lembrando em tudo um ícone.
Como uns meninos voltaram a explorar o mesmo lugar e a ver idêntica imagem, a fantasia se alastrou e o jornal Última Hora fez um carnaval em cima do assunto, com o repórter Maurício Távora.
Como chefe de redação, fui até lá para tomar pé da situação e ao ver a estreiteza da entrada da caverna, resolvi avisar o comandante dos bombeiros, coronel Hamilton de Castro, do risco que havia no local.
Meia hora depois, o comandante ligou-me agradecendo, mas avisando que um operário da construção civil resolvera entrar na galeria para ver a santa e acabou morrendo.
Pior é que, com o sensacio-nalismo do noticiário, pintou no lugar um taumaturgo,
milagreiro. que se fazia passar por Wilmar Schmidt, um menino catarinense que andou fazendo, décadas antes, milagres em Curitiba, e que afirmava que localizaria o trabalhador.
Ajudei na época a desmascarar o falso milagreiro, pois havia conhecido o verdadeiro Wilmar. Não foi fácil, porém, à autoridade segurar o povo que entrou na onda do milagreiro e até rezava o terço, bem como o Corpo de Bombeiros teve que criar "Know how"para aquele tipo de soterramento.
Nesse caso, também a vida imitou, sem muita criatividade, aquilo que a arte já consagrara.
Luiz Geraldo Mazza é jornalista.
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