Histórias de Curitiba - Pescarias no Belém
Pescarias no Belém
Pablo Gomes y Monzon
Quem vê aquele esgoto corrente que corta a cidade, ora canalizado, ora a céu aberto, a quem chamam de rio (?) Belém, não imagina que houve tempo em que suas águas eram límpidas, povoadas de peixes.
Nele, as crianças nadavam e divertiam-se pescando lambaris ou carás. E, pasmem os mais moços, isso não faz assim tanto tempo.
Lembro bem, eu era menino, lá pelos idos de 1.942 ou 43. O rio Belém havia sido canalizado na área central com paredões de pedra. E era nas frestas dessas pedras que os carás arranjavam suas tocas. O cará, para quem não sabe, é um peixe semelhante à tilá-pia, e vive em tocas.
Nas tardes de verão, a gu-rizada entrava no rio e, com água pelo joelho, 1a "toqueá"(pegar o cará na toca). Não era qualquer um que tinha coragem de meter a mão na toca. O peixe, quando se sente apalpado, tenta fugir, e a gente tem um arrepio, pois a cará tem umas espinhas nas costas que espetam quem não tem prática. E ainda existe o risco de, em vez do
peixe, vir uma cobra.
Naquele tempo, o rio era limpo.
Poluição?... Nem se conhecia a palavra.
Os peixes eram grandes e limpos.
Os carás chegavam a um palmo de comprimento.
Dava gosto tirar um da toca, o bicho vinha se contorcendo na mão e emitindo um chiado.
Melhor ainda era levar alguns para casa no final da tarde, e comê-los no jantar fritos com farinha.
O rio todo era bom de peixe, mas o melhor trecho era entre as ruas Quinze de Novembro e a Comendador Macedo. O rio, ali, corria pela Mariano Torres.
Vinha gente de outros bairros para pescar nesse trecho.
Mas os melhores pescadores, modéstia à parte, éramos nós, a turminha que morava por ali. E o melhor dentre os melhores, sem dúvida, era o Maneli-to.
Era um alemão que morava na esquina da Marechal Deodoro. A casa ainda existe.
Mais velho um pouco, devia ter uns 16 anos, era o verdadeiro rei do rio.
Quando ele saía para toquear, sempre aos sábados, pois já trabalhava, todos nós preferíamos ficar assistindo.
Dava gosto de ver.
Fazia fileiras de peixes, duas ou três, e com uns dez carás casa uma, que 1a arrastando com uma mão por dentro da água, e com a outra procurava e arrancava os carás das tocas. Não deixava ninguém chegar perto.
O Manelito vendia a maior parte do peixe que pescava, pois só ele e a mãe, que era viúva, não conseguiriam consumir tudo. E fregueses não faltavam, pois mesmo antes de sair do rio já era assediado com ofertas de compra pelas pessoas que ficavam às margens assistindo.
Não sei por onde andará o Manelito, nunca mais soube dele, nem sei se vive, mas tenho a cena gravada na lembrança.
Magro, alto, com as calças arregaçadas e pingando, oferecendo ou negociando o seu peixe com os moradores da rua.
Outra imagem que não esqueço é do próprio rio Belém, então merecedor do nome rio.
Quem sabe um dia ele voltará a ter águas limpas e peixes, como os ingleses fizeram com o Tâmisa.
Aí sim, Curitiba será de fato a Capital Ecológica.
Pablo Gomes y Monzon, espanhol de nascimento e curitibano de adoção, é micro-empresário.
Pablo Gomes y Monzon
Quem vê aquele esgoto corrente que corta a cidade, ora canalizado, ora a céu aberto, a quem chamam de rio (?) Belém, não imagina que houve tempo em que suas águas eram límpidas, povoadas de peixes.
Nele, as crianças nadavam e divertiam-se pescando lambaris ou carás. E, pasmem os mais moços, isso não faz assim tanto tempo.
Lembro bem, eu era menino, lá pelos idos de 1.942 ou 43. O rio Belém havia sido canalizado na área central com paredões de pedra. E era nas frestas dessas pedras que os carás arranjavam suas tocas. O cará, para quem não sabe, é um peixe semelhante à tilá-pia, e vive em tocas.
Nas tardes de verão, a gu-rizada entrava no rio e, com água pelo joelho, 1a "toqueá"(pegar o cará na toca). Não era qualquer um que tinha coragem de meter a mão na toca. O peixe, quando se sente apalpado, tenta fugir, e a gente tem um arrepio, pois a cará tem umas espinhas nas costas que espetam quem não tem prática. E ainda existe o risco de, em vez do
peixe, vir uma cobra.
Naquele tempo, o rio era limpo.
Poluição?... Nem se conhecia a palavra.
Os peixes eram grandes e limpos.
Os carás chegavam a um palmo de comprimento.
Dava gosto tirar um da toca, o bicho vinha se contorcendo na mão e emitindo um chiado.
Melhor ainda era levar alguns para casa no final da tarde, e comê-los no jantar fritos com farinha.
O rio todo era bom de peixe, mas o melhor trecho era entre as ruas Quinze de Novembro e a Comendador Macedo. O rio, ali, corria pela Mariano Torres.
Vinha gente de outros bairros para pescar nesse trecho.
Mas os melhores pescadores, modéstia à parte, éramos nós, a turminha que morava por ali. E o melhor dentre os melhores, sem dúvida, era o Maneli-to.
Era um alemão que morava na esquina da Marechal Deodoro. A casa ainda existe.
Mais velho um pouco, devia ter uns 16 anos, era o verdadeiro rei do rio.
Quando ele saía para toquear, sempre aos sábados, pois já trabalhava, todos nós preferíamos ficar assistindo.
Dava gosto de ver.
Fazia fileiras de peixes, duas ou três, e com uns dez carás casa uma, que 1a arrastando com uma mão por dentro da água, e com a outra procurava e arrancava os carás das tocas. Não deixava ninguém chegar perto.
O Manelito vendia a maior parte do peixe que pescava, pois só ele e a mãe, que era viúva, não conseguiriam consumir tudo. E fregueses não faltavam, pois mesmo antes de sair do rio já era assediado com ofertas de compra pelas pessoas que ficavam às margens assistindo.
Não sei por onde andará o Manelito, nunca mais soube dele, nem sei se vive, mas tenho a cena gravada na lembrança.
Magro, alto, com as calças arregaçadas e pingando, oferecendo ou negociando o seu peixe com os moradores da rua.
Outra imagem que não esqueço é do próprio rio Belém, então merecedor do nome rio.
Quem sabe um dia ele voltará a ter águas limpas e peixes, como os ingleses fizeram com o Tâmisa.
Aí sim, Curitiba será de fato a Capital Ecológica.
Pablo Gomes y Monzon, espanhol de nascimento e curitibano de adoção, é micro-empresário.
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