quarta-feira, 14 de junho de 2023

Paris (pronúncia em francês: ​[paʁi] é a capital e a mais populosa cidade da França

 Paris (pronúncia em francês: ​[paʁi] é a capital e a mais populosa cidade da França


Paris
De cima para baixo e da esquerda para a direita: a Torre Eiffel com o centro financeiro de La Défense (ao fundo) vistos da Torre Montparnasse; a Catedral de Notre-Dame de Paris; a Opéra Garnier; o Arco do Triunfo; a Basílica de Sacré Cœur e o Museu do Louvre.
Símbolos
Bandeira de Paris
Bandeira
Brasão de armas de Paris
Brasão de armas
LemaFluctuat nec mergitur
"É sacudida pelas ondas, mas não afunda"
Gentílicoparisiense
Localização
Paris está localizado em: França
Paris
Mapa de Paris
Coordenadas48° 51' 24" N 2° 21' 03" E
PaísFrança
RegiãoÎle-de-France
Região metropolitanaParis
ArrondissementParis
Cantão20 cantões
Administração
PrefeitaAnne Hidalgo (PS)
Características geográficas
Área total105,40 km²
População total2 148 271 hab.
 • População metropolitana12 532 901
Sítiowww.paris.fr

Paris (pronúncia em francês: ​[paʁi]  é a capital e a mais populosa cidade da França, com uma população estimada em 2020 de 2 148 271 habitantes em uma área de 105 quilômetros quadrados.[1] Desde o século XVII, Paris é um dos principais centros de finanças, diplomacia, comércio, moda, ciência e artes da Europa. A cidade de Paris é o centro e sede de governo da região administrativa de Ilha de França, que tem uma população estimada em 2020 de 12 278 210 habitantes, ou cerca de 18% da população da França.[1] Em 2017, a região de Paris teve um PIB de 709 bilhões de euros.[2] De acordo com a Pesquisa de Custo de Vida da Economist Intelligence Unit em 2018, Paris era a segunda cidade mais cara do mundo, atrás apenas da Singapura e à frente de ZuriqueHong KongOslo e Genebra.[3]

Abrangendo numerosos monumentos e por conta de seu considerável papel político e econômico, Paris é também uma importante cidade na história do mundo.[4] Sua posição numa encruzilhada entre os itinerários comerciais terrestres e fluviais no coração de uma rica região agrícola a tornou uma das principais cidades francesas ao longo do século X, beneficiada com palácios reais, ricas abadias e uma catedral.[5] Ao longo do século XII, tornou-se um dos primeiros focos europeus do ensino e da arte.[6] A importância econômica e política de Paris foi reforçada quando os Reis de França e a corte fixaram-se na cidade.[7][5] Assim, Paris se converteu em uma das mais importantes cidades de todo o mundo ocidental, na capital da maior potência política europeia (século XVII), no centro cultural da Europa (século XVIII) e na capital da arte e do lazer (século XIX).[5]

Paris é a capital econômica e comercial da França, onde os negócios da Bolsa e das finanças se concentram. A densidade da sua rede ferroviária, rodoviária e da sua estrutura aeroportuária — um hub da rede aérea francesa e europeia — fazem-na um ponto de convergência para os transportes internacionais. A cidade abriga dois aeroportos internacionais: o Aeroporto de Paris-Charles de Gaulle, o segundo aeroporto mais movimentado da Europa, e o Aeroporto de Paris-Orly.[8][9] Inaugurado em 1900, o metrô da cidade, o Metropolitano de Paris, atende 5,23 milhões de passageiros diariamente;[10] é o segundo sistema de metrô mais movimentado da Europa, superado pelo metrô de Moscou.[11] A Gare du Nord é a 24.ª estação ferroviária mais movimentada do mundo, porém a primeira localizada fora do Japão, com 262 milhões de passageiros em 2015.[12][13]

Em 2018, Paris recebeu 16,8 milhões de turistas, sendo a oitava cidade mais visitada do mundo naquele ano, assim como a segunda cidade da Europa, depois de Londres.[14] O clube de futebol Paris Saint-Germain e o clube de rugby Stade Français estão sediados em Paris. O Stade de France, com 81 mil lugares, construído para a Copa do Mundo FIFA de 1998, está localizado ao norte da cidade, na comuna vizinha de Saint-Denis.[15] Paris organiza anualmente o torneio Grand Slam de tênis. Sediou os Jogos Olímpicos de Verão de 1900 e 1924, devendo sediar o de 2024.[16] Paris também foi a cidade-sede das Copas do Mundo FIFA de 1938 e 1998, a Copa do Mundo de Rugby Union de 2007 e o Campeonato Europeu de Futebol de 19601984 e 2016.[17] A competição de ciclismo de estrada Tour de France finaliza-se em Paris em todo mês de julho.[18]

Etimologia

Paris deve seu nome aos Parísios, um povo gaulês que habitava a região antes da chegada dos romanos.[19] Após conquistá-los, os romanos rebatizaram seu assentamento como "Lutécia dos Parísios" (em latimLutetia Parisiorum). Ao longo do século IX, essa denominação, aos poucos, deu lugar ao nome atual.[20] Os Parísios também emprestaram seu nome a algumas outras vilas da região, tais como Villeparisis, Cormeilles-en-Parisis, e Fontenay-en-Parisis.[21]

Paris é frequentemente chamada de "cidade das luzes" (La Ville Lumière),[22] tanto por conta de seu papel de liderança durante a Era do Iluminismo quanto mais literalmente porque Paris foi uma das primeiras grandes cidades europeias a usar a iluminação pública a gás em grande escala em seus bulevares e monumentos. Em 1829, luzes de gás foram instaladas na Place du Carrousel, Rue de Rivoli e Place Vendôme. Em 1857, as grandes avenidas foram acesas.[23] Na década de 1860, as avenidas e ruas de Paris eram iluminadas por 56 mil lâmpadas de gás.[24]

História

Origens

Moedas de ouro cunhadas pelos parísios (século I a.C.)
Modelo do fórum de Lutécia

Os parísios, uma sub-tribo dos Sênones celtas, habitavam a área atualmente compreendida como Paris por volta de meados do século III a.C..[25][26] Uma das principais rotas comerciais norte-sul da região atravessava o Sena na Ilha da Cidade; este local de encontro de rotas comerciais tornou-se gradualmente um importante centro comercial.[27] Os Parísios negociaram com muitas cidades fluviais (algumas tão distantes quanto a Península Ibérica) e cunharam suas próprias moedas para esse propósito.[28]

Os romanos conquistaram a Bacia de Paris em 52 a.C. e começaram seu assentamento na margem esquerda de Paris.[29] A cidade romana era originalmente chamada de Lutécia ou Lutécia dos Parísios (em latimLutetia Parisiorum). Tornou-se uma cidade próspera com um fórum, termas, templos, teatros e um anfiteatro.[30]

No final do Império Romano do Ocidente, a cidade era conhecida como Parísio, um nome latino que mais tarde se tornaria Paris em francês.[31] O cristianismo foi introduzido em meados do século III por São Dionísio, o primeiro bispo de Paris: segundo a lenda, quando Dionísio se recusou a renunciar à sua fé diante dos ocupantes romanos, foi decapitado na colina que ficou conhecida como Monte do Martírio (Mons Martyrum), mais tarde Montmartre, de onde andou sem sua cabeça para o norte da cidade; o local onde caiu e foi enterrado se tornou um importante santuário religioso, a Basílica de São Dionísio, onde muitos reis franceses estão enterrados.[32]

Clóvis, o primeiro rei da Dinastia merovíngia, fez da cidade sua capital a partir de 508. Quando o domínio franco da Gália começou, houve uma imigração gradual dos francos para Paris e nasceram os dialetos francófonos parisienses. A fortificação da Ilha da Cidade não conseguiu evitar o saque pelos viquingues em 845, mas a importância estratégica de Paris—com suas pontes que impediam a passagem de navios—foi estabelecida por uma defesa bem-sucedida no cerco de Paris (885-86), pelo qual o então conde de Paris, Eudo de França, foi eleito rei da Frância Ocidental.[33] Da dinastia capetiana iniciada com a eleição de 987 de Hugo Capeto, conde de Paris e duque dos francos, como rei de uma Frância unificada, Paris gradualmente se tornou a maior e mais próspera cidade da França.[32]

Idade Média a Luís XIV

Palais de la Cité e a Sainte-Chapelle, vistos da margem esquerda, no livro Les très riches heures du duc de Berry (mês de junho de 1410)

No final do século XII, Paris havia se tornado a capital política, econômica, religiosa e cultural da França.[34] O Palais de la Cité, a residência real, ficava no extremo oeste da Ilha da Cidade.[35] Em 1163, durante o reinado de Luís VIIMaurício de Sully, bispo de Paris, empreendeu a construção da Catedral de Notre Dame na extremidade oriental da cidade.[36]

Depois que o pântano entre o rio Sena e o seu mais lento "braço morto" ao norte foi preenchido por volta do século X,[37] o centro cultural de Paris começou a se mudar para a margem direita. Em 1137, um novo mercado da cidade (hoje Les Halles de Paris) substituiu os dois menores na Ilha da Cidade e na Place de la Grève (Hotel de Ville).[38]

No final do século XIIFilipe II de França estendeu a fortaleza do Louvre para defender a cidade contra invasões de rios do oeste, deu à cidade suas primeiras muralhas entre 1190 e 1215, reconstruiu suas pontes para ambos os lados da ilha central e pavimentou suas principais vias.[39] Em 1190, Filipe II transformou a antiga escola catedral de Paris no que se tornaria a Universidade de Paris e atrairia estudantes de toda a Europa.[40][34]

Com 200 mil habitantes em 1328, Paris, à época já capital da França, era a cidade mais populosa da Europa. Londres, em comparação, tinha 80 mil em 1300.[41] Durante a Guerra dos Cem Anos, Paris foi ocupada pelas forças da Borgonha, aliada da Inglaterra, a partir de 1418, antes de ser ocupada pelos ingleses quando Henrique V de Inglaterra entrou na capital francesa em 1420;[42] apesar de um esforço em 1429 por Joana d'Arc para libertar a cidade,[43] esta permaneceu sob ocupação inglesa até ser libertada por Carlos VII em 1436.[44]

Hôtel de Sens, um dos muitos prédios remanescentes da Idade Média em Paris

Nas Guerras religiosas na França do final do século XVI, Paris era uma fortaleza da Liga Católica, responsável por organizar o Massacre da noite de São Bartolomeu em 24 de agosto de 1572, no qual milhares de protestantes franceses foram mortos.[45][46] Os conflitos terminaram quando o pretendente ao trono Henrique IV, depois de se converter ao catolicismo e conseguir entrar na cidade em 1594, reivindicou a coroa francesa. Henrique fez várias melhorias na capital durante seu reinado: concluiu a construção da primeira ponte descoberta e revestida de calçada de Paris, a Pont Neuf, construiu uma extensão do Louvre, conectando-o ao Palácio das Tulherias, e criou a primeira praça residencial de Paris, a Place Royale, agora Place des Vosges. Apesar dos esforços de Henrique para melhorar a circulação da cidade, a estreiteza das ruas de Paris foi um fator que contribuiu para seu assassinato perto do mercado Les Halles em 1610.[47]

Durante o século XVII, o Cardeal de Richelieu, ministro-chefe de Luís XIII, estava determinado a fazer de Paris a cidade mais bonita da Europa. Construiu cinco novas pontes, uma nova capela para o Colégio de Sorbonne e um palácio para si, o Cardeal Palais, que legou a Luís XIII. Após a morte de Richelieu em 1642, o palácio foi renomeado para Palais-Royal.[48]

Devido às revoltas parisienses durante a guerra civil de FrondaLuís XIV mudou sua corte para um novo palácio, Versalhes, em 1682. Embora não fosse mais a capital da França, as artes e as ciências da cidade floresceram com a Comédie-Française, a Academia de Pintura e a Academia Francesa de Ciências. Para demonstrar que a cidade estava a salvo de ataques, o rei demoliu as muralhas da cidade e as substituiu por bulevares arborizados que se tornariam os atuais Grands Boulevards.[49] Outras marcas de seu reinado foram o Collège des Quatre-Nations, o Place Vendôme, o Place des Victoires e o Hôtel des Invalides.[50]

Séculos XVIII e XIX

A população de Paris cresceu de cerca de 400 mil habitantes em 1640 para 650 mil em 1780.[51] Uma nova avenida, a Champs-Élysées, estendeu a cidade a oeste de Étoile,[52] enquanto o bairro Faubourg Saint-Antoine, no leste da cidade e habitado pela classe trabalhadora, ficava cada vez mais lotado de trabalhadores pobres que migravam de outras regiões da França.[53]

tomada da Bastilha em 14 de julho de 1789, por Jean-Pierre Houël

Paris foi o centro de uma explosão de atividades filosófica e científica conhecida como Era do IluminismoDiderot e d'Alembert publicaram sua Encyclopédie em 1751, e os Irmãos Montgolfier lançaram o primeiro voo tripulado em um balão de ar quente em 1783, dos jardins do Castelo de la Muette. Paris era a capital financeira da Europa continental, o principal centro europeu de publicação de livros, de moda e de fabricação de móveis finos e artigos de luxo.[54]

No verão de 1789, Paris se tornou o palco central da Revolução Francesa. Em 14 de julho, uma multidão apreendeu o arsenal de Invalides, adquirindo milhares de armas, e invadiu a Bastilha, um símbolo da autoridade real. A primeira Comuna de Paris independente, ou conselho da cidade, reuniu-se no Hôtel de Ville e, em 15 de julho, elegeu um prefeito, o astrônomo Jean Sylvain Bailly.[55]

Luís XVI e a família real foram trazidos para Paris e feitos prisioneiros no Palácio das Tulherias. Em 1793, quando a revolução se tornou cada vez mais radical, o rei, a rainha e o prefeito foram guilhotinados (executados) no Reino do Terror, juntamente com mais de 16 mil pessoas em toda a França.[56] A propriedade da aristocracia e da igreja foi nacionalizada, e as igrejas da cidade foram fechadas, vendidas ou demolidas.[57] Uma sucessão de facções revolucionárias governou Paris até 9 de novembro de 1799, quando Napoleão Bonaparte tomou o poder como primeiro cônsul.[58]

O mercado de flores, a Torre do Relógio, a Pont au Change e a Pont Neuf, por Giuseppe Canella, em 1832

A população de Paris havia diminuído 100 mil habitantes durante a Revolução, mas entre 1799 e 1815 aumentou em 160 mil novos residentes, chegando a 660 mil.[59] Napoleão substituiu o governo eleito de Paris por um prefeito que reportava apenas a si próprio. Também passou a erguer monumentos para a glorificação militar, incluindo o Arco do Triunfo, e melhorou a infra-estrutura negligenciada da cidade com novas fontes, o Canal de l'Ourcq, o Cemitério do Père-Lachaise e a primeira ponte metálica da cidade, a Pont des Arts.[59]

Durante a Restauração, as pontes e praças de Paris foram devolvidas aos seus nomes pré-Revolução, mas a Revolução de Julho de 1830 em Paris trouxe um monarca constitucional, Luís Filipe I, ao poder. A primeira linha ferroviária para Paris foi inaugurada em 1837, iniciando um novo período de migração maciça das províncias para a cidade.[59] Luís Filipe foi derrubado por uma revolta popular nas ruas de Paris em 1848. Seu sucessor, Napoleão III, e o recém-nomeado prefeito do SenaGeorges-Eugène Haussmann, lançaram um gigantesco projeto de obras públicas para construir novas avenidas, uma nova casa de ópera, um mercado central, novos aquedutos, canos de esgoto e parques, incluindo o Bois de Boulogne e o Bois de Vincennes.[60] Em 1860, Napoleão III também anexou as cidades vizinhas e criou oito novos arrondissements, expandindo Paris aos seus limites atuais.[60]

Durante a Guerra Franco-Prussiana (1870-1871), Paris foi sitiada pelo exército prussiano. Após meses de bloqueio, fome e bombardeio pelos prussianos, a cidade foi forçada a se render em 28 de janeiro de 1871. Em 28 de março, um governo revolucionário chamado Comuna de Paris tomou o poder em Paris. A Comuna manteve o poder por dois meses, até que foi severamente reprimida pelo exército francês durante a "Semana Sangrenta", no final de maio de 1871.[61]

Torre Eiffel, em construção em novembro de 1888, surpreendeu os parisienses – e o mundo – com sua modernidade

No final do século XIX, Paris sediou duas grandes exposições internacionais: a Exposição Universal de 1889, realizada para marcar o centenário da Revolução Francesa e apresentar a nova Torre Eiffel; e a Exposição Universal de 1900, que deu a Paris a Ponte Alexandre III, o Grand Palais, o Petit Palais e a primeira linha do Metropolitano de Paris.[62] Na mesma época, Paris tornou-se o laboratório do naturalismo (Émile Zola) e do simbolismo (Charles Baudelaire e Paul Verlaine), assim como do impressionismo na arte (CourbetManetMonet e Renoir).[63]

Séculos XX e XXI

Em 1901, a população de Paris havia crescido para 2 715 000.[64] No início do século, artistas de todo o mundo, incluindo Pablo PicassoModigliani e Henri Matisse, fizeram de Paris sua casa. Foi o berço do fauvismocubismo e da arte abstrata,[65][66] e autores como Marcel Proust estavam explorando novas abordagens para a literatura.[67]

Durante a Primeira Guerra Mundial, Paris às vezes se encontrou na linha de frente do conflito; entre 600 a 1 000 táxis de Paris tiveram um pequeno papel, mas altamente importante do ponto de vista simbólico, ao transportarem 6 mil soldados para a linha de frente na Primeira Batalha do Marne. A cidade também foi bombardeada por zepelins e por armas de longo alcance alemãs.[68] Nos anos após a guerra, conhecidos como Les Années Folles, Paris continuou sendo uma meca para escritores, músicos e artistas de todo o mundo, incluindo Ernest HemingwayIgor StravinskyJames JoyceJosephine BakerAllen Ginsberg[69] e o surrealista Salvador Dalí.[70]

Nos anos seguintes à Conferência de Paz de Paris, a cidade agricou um número crescente de estudantes e ativistas de colônias francesas e outros países asiáticos e africanos, que mais tarde se tornaram líderes de seus países de origem, como Ho Chi MinhZhou Enlai e Léopold Sédar Senghor.[71]

O general Charles de Gaulle nos Champs-Élysées comemorando a libertação de Paris, em 26 de agosto de 1944

Em 14 de junho de 1940, o exército alemão marchou para Paris, que foi declarada como uma "cidade aberta".[72] De 16 a 17 de julho de 1942, seguindo ordens alemãs, a polícia e os gendarmes franceses prenderam 12 884 judeus, incluindo 4 115 crianças, e os confinaram durante cinco dias no Rafle du Vélodrome d'Hiver, de onde foram transportados de trem para o campo de concentração de Auschwitz; nenhuma das crianças voltou.[73][74] Em 25 de agosto de 1944, a cidade foi libertada pela 2.ª Divisão Blindada Francesa e pela 4.ª Divisão de Infantaria do Exército dos Estados Unidos. O general Charles de Gaulle liderou uma enorme e emotiva multidão pelos Campos Elísios em direção a Notre Dame de Paris e proferiu um inflamado discurso do Hôtel de Ville.[75]

Nas décadas de 1950 e 1960, Paris se tornou uma frente da Guerra de Independência Argelina; em agosto de 1961, a FLN, pró-independência, atacou e matou 11 policiais de Paris, levando à imposição de um toque de recolher aos muçulmanos da Argélia (que na época eram cidadãos franceses). Em 17 de outubro de 1961, uma manifestação não autorizada, mas pacífica, de argelinos contra o toque de recolher levou a violentos confrontos entre a polícia e manifestantes, nos quais pelo menos 40 pessoas foram mortas, incluindo algumas jogadas no Sena. A anti-independência Organisation Armée Secrète, por sua vez, realizou uma série de atentados em Paris ao longo de 1961 e 1962.[76][77]

Em maio de 1968, estudantes ocuparam a Sorbonne e colocaram barricadas no Quartier Latin. Milhares de trabalhadores parisienses de colarinho azul se juntaram aos estudantes, e o movimento se transformou em uma greve geral de duas semanas. Os eventos de maio de 1968 no país resultaram na divisão da Universidade de Paris em 13 campi independentes.[78] Em 1975, a Assembleia Nacional mudou o status de Paris para o de outras cidades francesas e, em 25 de março de 1977, Jacques Chirac se tornou o primeiro prefeito eleito da cidade desde 1793.[79] A população de Paris caiu de 2 850 000 em 1954 para 2 152 000 em 1990, quando famílias da classe média se mudaram para os subúrbios.[80] Uma rede ferroviária suburbana, o RER, foi construída para complementar o metrô, e a via expressa Périphérique que circunda a cidade foi concluída em 1973.[81]

Em 2015, cerca de 1,5 milhão de pessoas participaram da Marcha pela República em Paris

A maioria dos presidentes do pós-guerra, período conhecido como Quinta República, buscaram deixar suas marcas em Paris; Georges Pompidou iniciou o Centre Georges Pompidou (1977), Valéry Giscard d'Estaing deu início ao Musée d'Orsay (1986); President François Mitterrand, no poder por 14 anos, construiu a Ópera da Bastilha (1985–1989), o novo local da Biblioteca Nacional da França (1996), o Arche de la Défense (1985–1989), e a pirâmide do Louvre, com seu pátio subterrâneo (1983–1989); Jacques Chirac (2006), o Museu do Quai Branly.[82]

Entre julho e outubro de 1995, uma série de bombardeios realizados pelo Grupo Islâmico Armado da Argélia causou 8 mortes e mais de 200 feridos.[83] O atentado mais mortífero ocorreu na estação de metro de Saint-Michel-Notre Dame, em 25 de julho daquele, onde foram registradas as 8 mortes.[84]

No início do século XXI, a população de Paris começou a aumentar lentamente novamente, à medida que mais jovens se mudaram para a cidade; em 2012 atingiu cerca de 2,2 milhões de habitantes.[85] Em 2001, Bertrand Delanoë se tornou o primeiro prefeito socialista. Em 2007, em um esforço para reduzir o tráfego de carros na cidade, Delanoë lançou o Vélib', um sistema de aluguel de bicicletas para o uso de moradores e visitantes.[86]

Em 7 de janeiro de 2015, dois extremistas muçulmanos franceses atacaram a sede do Charlie Hebdo em Paris e mataram treze pessoas, em um ataque reivindicado pela Al-Qaeda na Península Arábica[87] e em 9 de janeiro, um terceiro terrorista, que alegou ser parte do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS), matou quatro reféns durante um ataque a um supermercado judeu em Porte de Vincennes.[88] Em 11 de janeiro, cerca de 1,5 milhão de pessoas marcharam em Paris em uma demonstração de solidariedade contra o terrorismo e em apoio à liberdade de expressão.[89] Em 13 de novembro do mesmo ano, uma série de ataques terroristas coordenados em Paris e Saint-Denis foram reivindicados pelo ISIS e causaram a mais de mais de 100 pessoas.[90]


Geografia

Paris está localizada no norte da França central, ao norte do rio Sena, que inclui duas ilhas, a Île Saint-Louis e a Île de la Cité, que formam a parte mais antiga da cidade. A foz do rio no Canal da Mancha (La Manche) fica a 375 km a jusante da cidade. A cidade está espalhada amplamente nas duas margens do rio.[91] No geral, Paris é relativamente plana e o ponto mais baixo fica 35 m acima do nível do mar. A cidade tem várias colinas proeminentes, a mais alta das quais é Montmartre, a 130 m.[92]

Excluindo os parques periféricos de Bois de Boulogne e Bois de Vincennes, Paris cobre uma área oval medindo cerca de 87 km² de área, cercada pelo anel viário de 35 km, o Boulevard Périphérique.[93] A última grande anexação de territórios periféricos da cidade em 1860 não apenas lhe deu sua forma moderna, mas também criou os 20 arrondissements em espiral no sentido horário (bairros municipais). Da área de 1 860 km de 78 km², os limites da cidade foram expandidos marginalmente para 86,9 km² na década de 1920. Em 1929, os parques florestais de Bois de Boulogne e Bois de Vincennes foram oficialmente anexados à cidade, elevando sua área a cerca de 105 km².[94] A área metropolitana da cidade tem 2 300 km².[91]

Dum e doutro lado do rio, o relevo apresenta várias formações isoladas de gipsita que formam pequenas colinas.[95] Na margem direita: Montmartre (131 metros de altitude), com ponto culminante no Cimetière du Calvaire;[96] Belleville (128,5 metros), com ponto culminante na Rue du Télégraphe; Ménilmontant (108 metros); Buttes-Chaumont (103 metros); Passy (71 metros); e Chaillot (67 metros). Sobre a margem esquerda: Montparnasse (66 metros); Butte-aux-Cailles (63 metros); e Montagne Sainte-Geneviève (61 metros). A cidade de Paris com 105 km² ocupa o 113º lugar dentre as comunas da França metropolitana em área. Por outro lado, a unidade urbana de Paris, como se diz da própria cidade mais a sua aglomeração urbana periférica, cobre uma superfície de 2 723 km² reunindo 9 644 507 habitantes repartidos, em 1999, dentre 396 comunas da Île-de-France.[97]

Hidrografia

Ver artigo principal: Rio Sena
Imagem aérea do rio Sena em Paris

Sena corta a cidade formando um arco, entrando pelo sudeste e saindo pelo sudoeste. Mais de trinta pontes permitem a travessia do curso fluvial, que é igualmente atravessado por dois outros cursos d'água: o Bièvre, que vem do sul de Paris, hoje em dia inteiramente subterrâneo; e o canal Saint-Martin, inaugurado em 1825, com comprimento de 4,5 quilómetros. Este canal é parcialmente subterrâneo desde a rue du Faubourg-du-Temple até a Bastille e constitui a parte terminal do canal de l'Ourcq, de 108 quilómetros de comprimento, que entra na cidade pelo nordeste. O canal Saint-Martin alimenta a bacia de Villette, passa sob a Place de la Bastille antes de se juntar ao Sena num curso acima da île Saint-Louis, após o porto do Arsenal. Um canal dele se divide na bacia de Villette na direção de Saint-Denis, o canal Saint-Denis, de 4,5 quilómetros de comprimento, aberto em 1821. O canal Saint-Denis deságua no Sena rio abaixo, evitando cortar a cidade.[98]

Geologia

A Bacia parisiense forma um grande conjunto de estratos sedimentares sucessivos. É um dos primeiros lugares que serviram de objeto duma carta geológica, inspirando homens como Georges Cuvier que firmaram as bases de numerosas teorias em geologia tais como a paleontologia e a anatomia comparada.[99] Constituída há 41 milhões de anos, trata-se uma bacia marinha epicontinental em repouso sobre um maciço datando do Paleozoico, nomeadamente, o Maciço de Vosges, o Maciço Central e o Maciço Armoricano. Com a formação dos Alpes, a bacia se deformou mas continuou aberta para o Canal da Mancha e para o Oceano Atlântico. Assim se prefiguraram as futuras bacias fluviais do Loire e do Sena. Ao final do Oligoceno, a bacia parisiense se torna continental.[99]

Mapa topográfico e hidrográfico de Paris

Em 1911, Paul Lemoine mostra que a bacia é composta de estratos dispostos em depressões concêntricas.[100][101] Mais tarde, os estudos se aprofundaram na coleta de dados sísmicos; perfurações e poços permitiram desenhar cartas sísmicas precisas. Estes mesmos confirmam a disposição dos estratos em depressões concêntricas mas com objetos complexos, como as falhas. As formações do relevo parisiense se situam nos estratos do Mesozoico e do Paleogeno (era terciária) e foram elaboradas pela erosão. O primeiro estrato datando da era terciária é constituído de aluviões do Sena de época moderna. Os depósitos mais antigos são de areia e de argila datando do estágio do Ypresiano presentes no 16º arrondissement de Auteuil até Trocadéro. Mas o estágio mais conhecido é o Lutetiano, rico em gipsita e em calcário.[102]

O subsolo parisiense se caracteriza pela presença de numerosas pedreiras de calcáriogipsita e pedra de mó. Algumas foram usadas como catacumbas e formam o ossário do conselho, do qual uma parte está aberta ao público. O calcário foi explorado até o século XIV sobre a margem esquerda, da Place d'Italie até Vaugirard. Hoje em dia, a sua extração está deslocada mais para o Oise, em Saint-Maximin por exemplo.[103] A exploração da gipsita era muito ativa em Montmartre e em Bagneux. A hidrogeologia é muito influenciada pela urbanização. O Rio Bièvre, pequeno afluente do Sena que um dia modelou toda a margem esquerda, foi coberto no século XIX por razões higiênicas. Numerosos riachos subterrâneos estão presentes no subsolo parisiense, como os de Auteuil, os quais fornecem uma fonte de água subterrânea para a cidade. O riacho albienne é o mais conhecido da região e tem sido explorado por Paris desde 1841 pelos poços artesianos de Grenelle.[104]

Parques

Bosque de Vincennes, o maior parque de Paris

Hoje, Paris possui mais de 421 parques e jardins municipais, cobrindo mais de três mil hectares e contendo mais de 250 mil árvores.[105] Dois dos jardins mais antigos e famosos de Paris são o Jardim das Tulherias (criado em 1564 para o Palácio das Tulherias e refeito por André Le Nôtre entre 1664 e 1672)[106] e o Jardim de Luxemburgo, para o Palácio de Luxemburgo, construído para Maria de Médici em 1612, que hoje abriga o Senado.[107] O Jardin des plantes foi o primeiro jardim botânico de Paris, criado em 1626 pelo médico de Luís XIIIGuy de La Brosse, para o cultivo de plantas medicinais.[108]

Entre 1853 e 1870, o imperador Napoleão III e o primeiro diretor de parques e jardins da cidade, Jean-Charles Alphand, criaram os Bois de BoulogneBois de VincennesParc Montsouris e Parc des Buttes-Chaumont, localizados nos quatro pontos cardeais pela cidade, bem como muitos parques, praças e jardins menores nos bairros de Paris.[109] Desde 1977, a cidade criou 166 novos parques, principalmente o Parc de la Villette (1987), Parc André Citroën (1992), Parc de Bercy (1997) e Parc Clichy-Batignolles (2007).[110] Um dos mais novos parques, a Promenade des Berges de la Seine (2013), construída em uma antiga rodovia na margem esquerda do Sena, entre a Ponte de l'Alma e o Musée d'Orsay, possui jardins flutuantes e oferece vistas dos marcos da cidade. Corridas semanais ocorrem no Bois de Boulogne e no Parc Montsouris.[111][112]


Meio ambiente e clima

Como todas as grandes metrópoles do planeta, Paris sofre as consequências ambientais ligadas à escalada da sua população e da sua atividade económica.[113] Paris é a capital de maior densidade populacional da Europa. Os espaços verdes são poucos e de baixa biodiversidade, apesar dos parques e jardins que tem sido criados no curso das duas últimas décadas a fim de paliar essa carência.[114] A poluição atmosférica e a poluição sonora constituem problemas de saúde pública; por esse motivo, criaram-se redes de monitoramento de poluição. Para melhorar a qualidade do ar, a cidade decidiu proibir automóveis com matrícula anterior a outubro de 1997 de circular nos finais de semana.[115]

Outono na avenue Raphaël

Entrando no domínio das anedotas, Paris possui uma reputação pouco gloriosa em matéria de dejetos caninos. Esses dejetos são considerados como a causa primária da sujeira da cidade pelos habitantes.[116] Um estudo do Institut d'aménagement et d'urbanisme (IAU) publicado em 2019 sublinha que os preços da habitação levam os modestos a abandonar Paris e a instalar-se em departamentos vizinhos, como Seine-Saint-Denis, o que tende a provocar uma "gentrificação" da capital e uma pauperização dos departamentos vizinhos.[117]

Paris tem um clima de tipo oceânico de transição: a influência oceânica é preponderante sobre a influência continental e se traduz em verões relativamente frios (18 °C em média) e invernos amenos (6 °C em média). Há chuvas frequentes em todas as estações e um tempo difícil de prever, mas a influência continental faz com que as chuvas sejam bem mais fracas (641 milímetros) do que na costa, independentemente das temperaturas, seja no coração do inverno ou no mais estafante verão. O desenvolvimento urbano provoca uma alta da temperatura assim como uma baixa do número de dias encobertos.[118]


[Esconder]Dados climatológicos para Paris
MêsJanFevMarAbrMaiJunJulAgoSetOutNovDezAno
Temperatura máxima recorde (°C)16,121,425,730,234,837,640,439,536,228,42117,140,4
Temperatura máxima média (°C)7,28,312,215,619,622,725,22521,116,310,87,516
Temperatura média (°C)55,68,811,515,318,320,520,416,9138,35,512,4
Temperatura mínima média (°C)2,72,85,37,310,913,815,815,712,79,65,83,48,9
Temperatura mínima recorde (°C)−14,6−14,7−9,1−3,5−0,13,166,31,8−3,1−14−23,9−23,9
Precipitação (mm)5141,247,651,863,249,662,352,747,661,551,157,8637,4
Dias com precipitação9,9910,69,39,88,48,17,77,89,61010,9111,1
Horas de sol62,579,2128,9166193,8202,1212,2212,1167,9117,867,751,41 661,6
FonteMétéo-France (médias climatológicas de 1981 a 2010).[119]

Demografia

Ver artigo principal: Demografia de Paris
Crescimento populacional de Paris
Mapa da densidade populacional dos arrondissements (distritos) parisienses em janeiro de 2017. Quanto mais escuro, mais habitantes por km² a área possui

A estimativa oficial da população da cidade de Paris era de 2 206 488 habitantes em 1 de janeiro de 2019, de acordo com o INSEE, o órgão oficial de estatística do país. O resultado é um declínio de 59 648 em relação a 2015.[120] Em 2017, Paris era a cidade mais densamente habitada da Europa, com 20 909 habitantes por quilômetro quadrado.[121] A queda populacional foi atribuída em parte a uma menor taxa de natalidade, à saída de moradores de classe média e à possível perda de moradias na cidade por conta dos aluguéis destinados ao turismo.[122][123]

Paris é o quarto maior município da União Europeia, depois de BerlimMadri e Roma. O Eurostat, a agência de estatísticas da UE, põem Paris (com 6,5 milhões de pessoas) em segundo lugar, atrás de Londres (8 milhões) e à frente de Berlim (3,5 milhões), segundo projeções de 2012.[124]

A população atual de Paris é inferior ao seu pico histórico de 2,9 milhões em 1921.[125] As principais razões foram um declínio significativo no tamanho das famílias e uma migração dramática de moradores para os subúrbios entre 1962 e 1975.[126] Os fatores para a migração incluíram desindustrialização, aluguéis caros, a gentrificação de muitos bairros, a transformação do espaço em escritórios e uma maior riqueza entre as famílias trabalhadoras.[127] A perda populacional cessou temporariamente no início do século XXI; a estimativa de julho de 2004 mostrou um aumento populacional pela primeira vez desde 1954, e a população atingiu 2 234 000 em 2009, antes de novamente diminuir um pouco em 2017.[128]

Paris é o centro de uma área construída que se estende muito além de seus limites: comumente chamada de aglomeração parisiense e estatisticamente como uma unidade urbana, a população da aglomeração parisiense em 2019, de 10 960 000, a tornou a maior área urbana da União Europeia.[129][130] Em 2015, a Área Metropolitana de Paris possuía 12 532 901 habitantes, o que representava um quinto da população da França.[131]


Desigualdade social

As famílias abastadas vivem essencialmente a oeste da cidade, enquanto que, no nordeste, há a concentração das populações mais pobres e de origem imigrante
Uma pequena favela (bidonville) na Pont des Poissonniers, no 18.º arrondissement

A alta contínua dos preços imobiliários explica a substituição progressiva das populações modestas ou intermediárias por uma nova classe mais abastada. Constata-se tal processo de gentrificação em numerosas outras metrópoles como Londres ou Nova Iorque. Em Paris, essa evolução vulgarizou o termo bobos (a partir de burguês-boêmio, termo ambíguo porém muito usado ao qual os sociólogos raramente fazem referência) antes de provocar uma mutação social de bairros ainda recentemente considerados como populares, tais como o 10º arrondissement ou certas comunas suburbanas próximas (e.g., Montreuil em Seine-Saint-Denis). Paris é a 12ª cidade francesa de mais de 20 mil habitantes em proporção de pessoas submetidas ao imposto solidário sobre a fortuna (ISF, um imposto sobre fortunas superiores a 790 mil euros), isto é, há 34,5 famílias contribuintes fiscais para cada 1 000 habitantes. 73 362 contribuintes declaravam um patrimônio médio de 1 961 667 euros em 2006. O 16º arrondissement encabeça a lista em número de contribuintes, somando 17 356 contribuintes.[132]

Mas se Paris tem uma imagem de "cidades dos ricos", com uma proporção de classes sociais elevadas do que alhures, a sociologia do intra-muros permanece uma realidade de contrastes. Deve-se primeiro ressaltar que, segundo o índice de paridade de poder de compra (PPC), as receitas reais dos parisienses são muito inferiores às suas receitas nominais: de facto, o custo de vida no intra-muros (a começar pelo de moradia) é particularmente elevado, e os mesmos produtos custam geralmente mais caro em Paris que no interior. Além disso, as estatísticas de receitas médias frequentemente iludem o observador (como o ressaltou Joseph Stiglitz) pois qualquer receita muito alta (em jargão estatístico, outlier) pode aumentar exponencialmente a receita média da maioria da população. No caso parisiense, o limiar dos 10% de receitas mais altas (o 9º decil) explica em grande parte o alto nível de "receitas médias" da capital: a receita média desse limiar é de 50 961 euros anuais.[133] É por essa mesma razão que a receita mensal mediana dos parisienses é muito inferior à receita média.[133]

As diferenças sociais são tradicionalmente marcadas entre os habitantes do oeste de Paris (essencialmente abastados) e os do leste. Assim, a receita média declarada no 7º arrondissement, a mais elevada, era de 31 521 euros por contribuinte em 2001, isto é, mais do dobro da do 19º arrondissement que não passa de 13 759 euros, valor próximo da mediana das receitas de Seine-Saint-Denis de 13 155 euros. Os 6º, 7º, 8º e 16º arrondissements são classificados ao nível das dez comunas de Île-de-France em receita média mais elevada, enquanto que os 10º, 18º, 19º e 20º arrondissements estão ao nível das comunas mais pobres de Île-de-France.[134] Nota-se enfim fortíssimas disparidades de receita no seio mesmo de todos arrondissements: a razão inter-decil (os 10% das receitas mais elevadas sobre os 10% das receitas mais baixas) menos significante é de 6,7 no 12º arrondissement, contra 13,0 no 2º arrondissement (que apresenta a mais forte dispersão de receitas).[133] Numa perspectiva ampliada, Paris se classifica entre os departamentos da França metropolitana onde as famílias mais pobres têm as menores receitas (81º lugar[133]), e apresenta uma razão interdecil de 10,5 o que a torna o departamento francês com as maiores disparidades sociais.[133]

Religião

Os dados do censo francês não contêm informações sobre afiliação religiosa.[135] De acordo com uma pesquisa realizada em 2011 pela IFOP, uma organização francesa de pesquisa de opinião pública, 61% dos residentes da região de Paris (Ilha de França) se identificaram como católicos romanos, apesar de 46% deles serem não praticantes. Na mesma pesquisa, 7% dos residentes se identificaram como muçulmanos, 4% como protestantes, 2% como judeus e 25% como sem religião. Segundo o INSEE, entre 4 e 5 milhões de residentes franceses nasceram ou tiveram pelo menos um dos pais nascidos em um país predominantemente muçulmano, principalmente na Argélia, no Marrocos e na Tunísia. Uma pesquisa do IFOP em 2008 relatou que, dos imigrantes desses países predominantemente muçulmanos, 25% iam à mesquita regularmente; 41% praticavam a religião e 34% eram não praticantes.[136][137] Em 2012 e 2013, estimou-se que havia quase 500 mil muçulmanos na cidade de Paris, 1,5 milhão de muçulmanos na região da Ilha de França e 4 a 5 milhões de muçulmanos na França.[138][139] A população judaica da região de Paris foi estimada em 2014 em 282 mil, a maior concentração de judeus no mundo fora de Israel e dos Estados Unidos.[140]

Imigração

De acordo com o censo francês de 2012, 586 163 moradores da cidade de Paris (26,2% do total), e 2 782 834 da região de Paris (Ilha de França) (23,4%), nasceram fora da região metropolitana da França.[141] Haviam nascido na França Ultramarina 26 700 residentes da cidade e 210 159 da região, sendo mais de dois terços dos quais nas Antilhas francesas. Este grupo não é considerado imigrante pois possuem nacionalidade francesa.[141]

Nasceram em países estrangeiros, mas obtiveram cidadania francesa ao nascer, 103 648 habitantes da cidade e 412 114 da região.[141] Tal grupo abrange muitos cristãos e judeus no norte da África que se mudaram para a França e Paris após a independência dos países que nasceram. O grupo restante, de pessoas nascidas em países estrangeiros sem cidadania francesa ao nascer, são aquelas definidas como imigrantes pela lei francesa. Segundo o censo de 2012, 135 853 residentes da cidade de Paris eram imigrantes da Europa, 112 369 eram do Magrebe, 70 852 da África Subsaariana e Egito, 5 059 da Turquia, 91 297 da Ásia (fora da Turquia), 38 858 das Américas e 1 365 do Pacífico Sul.[142]

Na região de Paris, 590 504 moradores eram imigrantes da Europa, 627 078 do Magrebe, 435 339 da África Subsaariana e Egito, 69 338 da Turquia, 322 330 da Ásia (fora da Turquia), 113 363 das Américas e 2 261 do Pacífico Sul.[143] Em 2012, havia 8 810 cidadãos britânicos e 10 019 norte-americanos morando na cidade de Paris (Ville de Paris) e 20 466 britânicos e 16 408 norte-americanos morando em toda a região de Paris (Île-de-France).[144][145]

Habitação

Rue de Rivoli, em 2013

As ruas residenciais mais caras de Paris em 2018, em preço médio por metro quadrado, foram a Avenue Montaigne (no 8º arrondissement), ao preço de 22 372 euros por metro quadrado, a Place Dauphine (1º arrondissement; 20 373 euros) e a Rue de Furstemberg (6º arrondissement; 18 839 euros).[146] O número total de residências na cidade em 2011 era de 1 356 074, acima do registrado em 2006, de 1 334 815. Destas, 1 165 541 (85,9%) eram residências "principais", 91 835 (6,8%) residências secundárias e 7,3% estavam vazias (abaixo dos 9,2% em 2006).[147]

Em relação ao ano de construção, 62% das edificações datavam de 1949 ou antes disso, 20% foram construídos entre 1949 e 1974 e apenas 18% após essa data.[148] Dois terços das 1,3 milhão de residências da cidade eram estúdios e apartamentos de dois quartos. Paris tinha uma média de 1,9 pessoas por residência, um número que permanece constante desde a década de 1980, mas é menor que a média de 2,33 pessoas por residência da Ilha de França. Ademais, a maior parte da população pagava aluguel.[148]

Na noite de 8 a 9 de fevereiro de 2019, durante um período de clima frio, uma ONG de Paris realizou sua contagem anual de moradores de rua em toda a cidade. Ao todo, a organização contabilizou 3 641 pessoas mendigos, dos quais 12% eram mulheres. Mais da metade estava desabrigada há mais de um ano. Moravam nas ruas ou parques 2 871 pessoas, 298 nas estações de trem e metrô e 756 em outras formas de abrigo temporário. O número total representou um aumento de 588 pessoas desde 2018.[149]


Subúrbios

Mapa do projeto Grand Paris Express, que pretende conectar as cidades da Grande Paris através do sistema de metrô

Além da adição do Bois de Boulogne, do Bois de Vincennes e do heliporto de Paris no século XX, os limites administrativos de Paris permanecem inalterados desde 1860. Um departamento administrativo maior do Sena governava Paris e seus subúrbios desde a sua criação em 1790, mas a crescente população suburbana dificultou sua manutenção como entidade única. Tal problema foi "resolvido" quando o Distrito da região de Paris foi reorganizado em vários novos departamentos desde 1968: Paris tornou-se um departamento em si, e a administração de seus subúrbios foi dividida entre os três novos departamentos ao seu redor. O distrito da região de Paris foi renomeado para "Ilha de França" em 1977, mas esse nome abreviado de "região de Paris" ainda é comumente usado atualmente para descrever a Ilha de França e como uma vaga referência a toda a aglomeração de Paris.[150] Em janeiro de 2016, os antigos esforços para unir Paris e seus subúrbios foram reforçados com a criação da Metrópole da Grande Paris.[151]

A desconexão de Paris com seus subúrbios e sua falta de transporte suburbano tornaram-se bastante evidentes com o crescimento da aglomeração de Paris. Paul Delouvrier prometeu resolver o desacordo dos subúrbios de Paris quando se tornou chefe da região em 1961:[152] dois de seus projetos mais ambiciosos para a região foram a construção de cinco "villes nouvelles" ("novas cidades") suburbanas[153] e a rede de trens urbanos RER.[154] Muitos outros distritos residenciais suburbanos (grandes conjuntos) foram construídos entre as décadas de 1960 e 1970 para fornecer uma solução de baixo custo a uma população em rápida expansão.[155] A princípio tais distritos eram socialmente variados,[156] mas poucos moradores possuíam suas casas (a economia crescente os tornou acessíveis à classe média somente a partir da década de 1970).[157]

Ademais, a sociologia urbana da aglomeração de Paris é basicamente a mesma do século XIX: suas classes afortunadas estão situadas no oeste e sudoeste, e as classes média-baixa estão no norte e leste. As áreas restantes são em sua maioria ocupadas por habitantes da classe média, rodeados por "ilhas" populacionais de pessoas mais afortunadas que estão ali localizadas devido a motivos históricos, nomeadamente Saint-Maur-des-Fossés ao leste e Enghien-les-Bains ao norte de Paris.[158]

Panorama de Paris, visto da Torre Eiffel, em uma visão completa de 360 graus

Administração

Governo municipal

Ver artigo principal: Prefeito de Paris

Durante quase toda a sua longa história, exceto por alguns breves períodos, Paris foi governada diretamente por representantes do rei, imperador ou presidente da França. A cidade não recebeu autonomia municipal pela Assembleia Nacional até 1974.[159] Abolido em 1871, o cargo de prefeito foi restabelecido em 1977, com a eleição de Jacques Chirac.[160] O prefeito de Paris é eleito indiretamente; os eleitores de cada um dos 20 arrondissements da cidade elegem membros para o Conselho de Paris (Conseil de Paris), que posteriormente elege o prefeito.[161] A atual prefeita é Anne Hidalgo, do Partido Socialista, eleita em 5 de abril de 2014.[162]

O Conselho de Paris é composto por 163 membros, com cada distrito alocando um número de assentos dependendo do tamanho de sua população, sendo um mínimo de 10 membros para cada um dos distritos menos populosos (1º a 9º) a 34 membros para os mais populosos (15º). Os conselheiros são eleitos usando a representação proporcional em lista fechada em um sistema de dois turnos.[161] As listas de partidos que obtiverem maioria absoluta no primeiro turno - ou pelo menos uma pluralidade no segundo turno - ganham automaticamente metade dos assentos de um distrito.[161]

Hôtel de Ville, ou prefeitura, está no mesmo local desde 1357

A metade restante dos assentos do Conselho é distribuída proporcionalmente a todas as listas que ganharam pelo menos 5% dos votos, usando o método das médias mais altas. Desta forma, há a garantia de que o partido ou coalizão vencedora sempre conquiste a maioria dos assentos, mesmo que não ganhe a maioria absoluta dos votos.[161]

Cada um dos 20 arrondissements de Paris tem sua própria prefeitura e um conselho eleito diretamente (conseil d'arrondissement), que, por sua vez, elege um prefeito do arrondissements.[163] O conselho de cada arrondissements é composto por membros do Conselho de Paris e também membros que servem apenas no conselho do arrondissements. O número de vice-prefeitos em cada arrondissements varia de acordo com sua população. Há um total de 20 prefeitos e 120 vice-prefeitos.[159]

O orçamento da cidade para 2018 foi de 9,4 bilhões de euros, com um déficit de 5,7 bilhões de euros. Destes, 7,8 bilhões de euros foram destinados à administração da cidade (despesas operacionais) e 1,6 bilhões de euros para investimentos. O número de funcionários públicos municipais aumentou de 40 300 em 1990 para 52 mil em 2019; os gastos com pessoal em 2018 totalizaram 2,4 bilhões de euros.[164]

Metrópole da Grande Paris

Ver artigo principal: Grande Paris
Mapa da Metrópole da Grande Paris e suas 131 comunas na região de Île-de-France

Metrópole da Grande Paris foi formalmente criada em 1 de janeiro de 2016.[151] É uma estrutura administrativa de cooperação entre a cidade de Paris e seus subúrbios mais próximos. Além da cidade de Paris, abrange comunas dos três departamentos dos subúrbios (Altos do SenaSeine-Saint-Denis e Vale do Marne), sete comunas nos subúrbios, incluindo Argenteuil em Val-d'Oise e Paray-Vieille-Poste em Essonne, que foram adicionados para incluir os principais aeroportos de Paris. A Metrópole cobre uma área de 814  quilômetro quadrados (314 milha quadradas) e tem uma população de 6,945 milhões de pessoas.[165][166]

A nova estrutura é administrada por um Conselho Metropolitano formado por 210 membros, não eleitos diretamente, mas escolhidos pelos conselhos das comunas. Suas competências básicas incluem planejamento urbano, habitação e proteção do meio ambiente.[151][166] Embora a Metrópole tenha uma população de quase sete milhões de pessoas e represente 25% do PIB da França, possui um orçamento muito pequeno: apenas 65 milhões de euros.[167]

Governo nacional

Palácio do Eliseu, residência oficial do presidente da França

Como capital da França, Paris é a sede do governo nacional do país. Os chefes do Executivo possuem residências oficiais, que também são utilizadas como local de trabalho. O presidente da República Francesa reside no Palácio do Eliseu, localizado no 8.º arrondissement,[168] enquanto que o primeiro-ministro fica no Hôtel Matignon, no 7.º arrondissement.[169][170] Os ministérios do governo estão localizados em várias partes da cidade; muitos estão localizados no 7º arrondissement, perto do Hôtel Matignon.[171]

As duas casas do Parlamento francês estão localizadas na margem esquerda. A câmara alta, o Senado, reúne-se no Palácio do Luxemburgo, no 6º arrondissement, enquanto a câmara baixa mais importante, a Assembleia Nacional, tem sua sede no Palácio Bourbon, no 7º arrondissement.[172] O presidente do Senado, o segundo cargo público mais elevado hierarquicamente (sendo o presidente da República o único superior), reside no "Petit Luxembourg", um palácio anexo menor do Palácio do Luxemburgo.[173]

Palais Royal, sede do Conseil d'État

Os tribunais de mais alta instância da França estão localizados em Paris. A Corte de Cassação, o tribunal superior nas matérias criminais e civis, está localizado no Palácio da Justiça, na Île de la Cité,[174][175] enquanto o Conseil d'État, que presta assessoria jurídica ao executivo e atua como o mais alto tribunal da ordem administrativa, julgando litígios contra órgãos públicos, está localizado no Palais Royal, no 1º arrondissement.[176] O Conselho Constitucional, um órgão consultivo com autoridade máxima sobre a constitucionalidade de leis e decretos governamentais, também se reúne na ala Montpensier do Palais Royal.[177]

Paris e sua região ainda abrigam a sede de várias organizações internacionais, incluindo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),[178] a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),[179] a Câmara de Comércio Internacional,[180] a Agência Espacial Europeia,[181] a Agência Internacional de Energia[182] e o Bureau Internacional de Exposições.[183]

Força policial

Policiais de Paris, em 2006

A segurança de Paris é principalmente de responsabilidade da Prefeitura de Polícia de Paris, uma subdivisão do Ministério do Interior. Tem como atribuições supervisionar as unidades da Polícia Nacional que patrulham a cidade e os três departamentos vizinhos. Também é responsável por fornecer serviços de emergência, incluindo o Corpo de Bombeiros de Paris.[184]

A Prefeitura de Polícia da cidade conta com 34 mil policiais.[185] A polícia nacional possui sua própria unidade especial para controle de distúrbios, multidões e segurança de prédios públicos, denominada Compagnies Républicaines de Sécurité (CRS), uma unidade formada em 1944 logo após a libertação da França.[186] Ademais, a polícia é apoiada pela Gendarmaria Nacional, um ramo das Forças Armadas francesas, embora suas operações policiais agora sejam supervisionadas pelo Ministério do Interior.[187]

De acordo com relatório da embaixada norte-americana na França, os índices de criminalidade em Paris são "semelhantes ao da maioria das grandes cidades" e "os crimes violentos são relativamente raros no centro da cidade." O relatório prosseguiu afirmando que a violência política é "relativamente incomum. Grandes manifestações em Paris são geralmente gerenciadas por uma forte presença policial, mas esses eventos podem se tornar perigosos e devem ser evitados".[188]

Relações exteriores

Paris tem uma cidade-gémea e cidades parceiras:[189]

Cidade-irmã
Cidades parceiras
Outro

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