AS ASAS NAZISTAS NO PARANÁ
A vida de Werner Hoffmann fora do Brasil é um livro em branco. Pouco se sabe sobre sua trajetória antes de chegar ao Paraná. Mas em pouco tempo de estadia nos territórios paranaenses, ele já se tornava uma figura emblemática, enérgica, controversa e polêmica, sobretudo nos meios germânicos. Nascido na Alemanha, em 21 de abril de 1909, ele chegou ao Brasil em 1932, com 23 anos de idade.
Inicialmente aparentava que teria uma vida normal. Arranjou emprego na loja “Casa Favorita”, em Curitiba. Não tardou, contudo, para que a sede e a fome pelo poder o cativassem. Passou a ser já no ano seguinte funcionário do Consulado Alemão de Curitiba. No mesmo ano, o jovem Werner assumiu ser um seguidor de Adolf Hitler e encabeçou a criação do Círculo Paranaense do Partido Nazista.
Werner levou uma vida dupla, aliando as atividades no Consulado e a direção do Partido Nazista, no período que vai de 1933 até final de 1938 e início de 39. Segundo o pesquisador e historiador Rafael Athaides, a maioria dos documentos da DOPS aponta que em 1939, ele teria saído definitivamente do Brasil pelo porto do Rio de Janeiro rumo à Alemanha. “Entretanto, uma nota da 5ª Região Militar, datada de 12 de dezembro de 1941, afirma que, após ser preso, Hoffmann teria despistado a polícia no início de 1939 e voltado a Curitiba para, logo em seguida, deixar a cidade e rumar à Argentina. Lá, Werner teria sido preso novamente, em julho de 1940, na cidade de Apóstoles, onde dirigia a Frente Alemã de Trabalho e administrava da usina elétrica local”, afirma Athaides.
Independente de qual foi o destino de Werner, a atividade desempenhada por ele deixou marcas e cicatrizes na sociedade. O seu protagonismo no meio alemão fez o Paraná ser o 5.º estado entre os maiores círculos nazistas no Brasil – atrás de Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo. Além de Curitiba, o Partido chegou a possuir, pelo menos, nove ‘filiais’ formalmente estabelecidas no interior do Estado.
Essas filiais se estendiam por Ponta Grossa, Castro, Cruz Machado, Rio Negro, Londrina, Irati, Rolândia, Paranaguá e União da Vitória/Porto União (cidades fronteiriças que curiosamente dividiam um grupo local nazista, sediado na cidade catarinense, mas que se reportava às lideranças do Paraná).
AÇÃO BARULHENTA
Embora fossem poucos os filiados no Paraná (oficialmente por volta de 190), a ação dos militantes foi ‘barulhenta’, segundo Athaides. O número de filiados, de acordo com o pesquisador, não reflete o total de simpatizantes ao Nazismo, impossível de mensurar e questão polêmica dentro da historiografia.
“Na tentativa de conquistar adeptos e de impor sua liderança, os nazistas se sentiram no direito de se portarem como administradores das entidades locais alemãs, mesmo que essas tivessem sua fundação no século XIX e carregassem toda uma tradição – alheia ao nazismo – de luta pela manutenção da cultura alemã no exterior”, explica o pesquisador e historiador.
Os jovens e empolgados nazistas tentaram passar por cima de toda essa tradição que data antes da existência do nazismo. Não só tentaram, como conseguiram. Para ter uma ideia, em meados da década de 1930, um Cônsul de carreira foi substituído por um ‘Cônsul nazificado’, depois de muita pressão dos militantes locais, conforme exemplifica Athaides.
Mas quem eram os apoiadores nazistas em terras paranaenses? Segundo o trabalho do pesquisador Rafael Athaides, que consta na obra “O Partido Nazista no Paraná 1933-1942”, a caracterização social dos militantes nazistas do estado pouco diverge em relação à dos militantes no plano nacional.
Os ingressados pertenciam a um grupo de alemães jovem (entre 25 e 35 anos), imigrantes de classe média e média/alta. “Observamos também que a geração de tais indivíduos teve alguma experiência relacionada à Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e pouco tendia a se desligar da pátria natal e da sua política”, afirma o historiador.
No Paraná, contudo, existiam alguns indivíduos já fixados no país e de alta posição econômica, especialmente na capital paranaense, que participavam ativamente do partido. Eram eles, inclusive que chegavam a sustentá-lo com as principais contribuições financeiras. Mais de 50% dos adeptos vivia na capital, palco das ações mais enérgicas do Partido. Werner Hoffman, em certa ocasião, escreveu aos seus líderes: “Curitiba deve merecer a atenção, pois é o ponto mais importante. É o Paraná que faz divisa entre o norte do país, que tem população luso-brasileira, e o sul, onde predomina o elemento teuto. Justamente por esse motivo aqui no Paraná sempre há estes atritos – brigas, desavenças entre nazistas e anti-nazistas – que se originaram em vista da ação necessária para a manutenção da ideia alemã” (ATHAIDES, Rafael. O Partido Nazista no Paraná. Maringá: EDUEM, 2011, p. 140).
O Círculo Paranaense do Partido Nazista funcionou abertamente no Estado entre 1933 e 1938.
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