quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Benedicto Ogg e Sua Casa de 60 m²: Uma Memória Arquitetônica Perdida na Rua Marechal Deodoro

 Denominação inicial: Projecto de uma casa nova e mudança da velha, para o Snr. Benedicto Ogg

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Rua Marechal Deodoro, nº 122

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 60,00 m²
Área Total: 60,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 20/02/1929

Alvará de Construção: Talão Nº 119; Nº 147/1929

Descrição: Projeto Arquitetônico para a construção de nova casa.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.

Referências: 

1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de uma casa nova e mudança da velha casa para o Snr. Benedicto Ogg. Plantas do pavimento térreo e de implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

Benedicto Ogg e Sua Casa de 60 m²: Uma Memória Arquitetônica Perdida na Rua Marechal Deodoro

Na Curitiba de 1929, entre bonde elétrico e o perfume dos pinheirais recém-cortados para dar lugar a novas ruas, um homem chamado Benedicto Ogg sonhou com uma casa nova. Modesta, funcional, econômica — mas sua. Hoje, embora o edifício tenha desaparecido, seu projeto permanece como testemunho sensível de uma era em que a cidade crescia tijolo por tijolo, sonho por sonho.


O Projeto de Reinvenção: “Casa Nova e Mudança da Velha”

Em 20 de fevereiro de 1929, o escritório Gastão Chaves & Cia. — um dos mais ativos na elaboração de projetos residenciais da primeira metade do século XX em Curitiba — assinou o Projecto de uma casa nova e mudança da velha, para o Snr. Benedicto Ogg. O título do projeto, em si, já carrega uma narrativa: não se tratava apenas de construir, mas de substituir, melhorar, recomeçar.

Localizada no número 122 da Rua Marechal Deodoro — uma das vias mais centrais e históricas da capital paranaense —, a nova residência ocuparia um terreno urbano estratégico, próximo ao comércio, à igreja matriz e aos escritórios públicos. Era um endereço de conveniência, ideal para uma família da classe média emergente.

Com apenas um pavimento e 60,00 m² de área construída, a planta era compacta, mas inteligente. A prancha do projeto (única imagem preservada, referência 1) incluía:

  • Planta do pavimento térreo, com distribuição racional de espaços;
  • Implantação no lote, respeitando recuos urbanísticos da época;
  • Corte arquitetônico, revelando pé-direito modesto, mas suficiente para conforto térmico;
  • Fachada frontal, simples, com simetria equilibrada, portas e janelas funcionais, sem ornamentos supérfluos.

Construída em alvenaria de tijolos, técnica dominante na época, a casa refletia o ideal da residência econômica: solidez, durabilidade e custo acessível. O telhado provavelmente era de telha cerâmica, e a ventilação natural era garantida por aberturas bem posicionadas — soluções práticas, mas eficazes.


Benedicto Ogg: Um Cidadão Anônimo com um Sonho Comum

Pouco ou nada se sabe sobre a vida pessoal de Benedicto Ogg. Seu sobrenome sugere ascendência germânica, comum entre os imigrantes que chegaram ao Paraná no final do século XIX e início do XX — muitos dos quais se estabeleceram como comerciantes, artesãos ou pequenos proprietários urbanos. O fato de encomendar um projeto arquitetônico — mesmo modesto — indica certo grau de estabilidade financeira e consciência da importância de um lar bem planejado.

O Alvará de Construção, registrado sob o Talão nº 119, nº 147/1929, confirma que a obra foi legalizada junto à Prefeitura de Curitiba, demonstrando que até as residências mais simples estavam sujeitas a normas urbanísticas — um sinal do esforço da cidade em organizar seu crescimento acelerado.


Desaparecimento Silencioso: A Perda de um Patrimônio Cotidiano

Infelizmente, em 2012, a casa de Benedicto Ogg já havia sido demolida. Seu lugar na Rua Marechal Deodoro provavelmente foi ocupado por um edifício comercial, um estacionamento ou um novo empreendimento imobiliário — sinais de uma cidade que avança, mas frequentemente apaga suas memórias mais sutis.

Ao contrário dos palacetes ou das mansões preservadas como museus, as residências econômicas raramente são protegidas. E ainda assim, são elas que formam a espinha dorsal da identidade urbana: são as casas onde nasceram gerações, onde se cozinhava o barreado, onde as crianças iam à escola a pé, onde os vizinhos se cumprimentavam pelas janelas.

A demolição da casa de Ogg não é apenas a perda de um tijolo ou de uma laje — é a apagamento de uma história cotidiana, de um modo de viver que já não existe.


O Projeto como Último Testemunho

Felizmente, o projeto arquitetônico original sobreviveu, preservado em microfilme digitalizado nos arquivos públicos. Essa prancha é agora o único vestígio material da casa. Nela, podemos sentir a intenção do arquiteto: criar um lar digno, com o mínimo necessário para uma vida plena. Cada linha desenhada foi um gesto de cuidado com quem habitaria aquele espaço.

Gastão Chaves & Cia., ao projetar essa residência, não buscava fama, mas serviço — e nisso reside sua grandeza. Eles construíram a Curitiba real, não a idealizada.


Epílogo: Lembrar o que Não Está Mais

A casa de Benedicto Ogg não existe mais. Mas seu projeto nos lembra que a história urbana não pertence apenas aos grandes nomes, mas também aos Benedictos anônimos — homens e mulheres que, com esforço e esperança, ergueram suas vidas em casas pequenas, mas cheias de significado.

Que este artigo seja um ato de memória. Porque, mesmo sem paredes, algumas casas continuam de pé na lembrança.


“Demolir um edifício é fácil. O difícil é apagar o que nele viveu.”

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Miroslau Florecki e sua Casa Econômica: Um Retrato da Modéstia e da Dignidade na Curitiba dos Anos 1930

 Denominação inicial: Projéto para casa e muro para o Snr. Miroslau Floreki

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Lote 79 da Planta Flavio Macedo

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 90,00 m²
Área Total: 90,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 14/02/1935

Alvará de Construção: Nº 1011/1935

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de residência e muro, Alvará de Construção e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Existente


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
3 - Fotografia da residência em 2012.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto para uma casa e muro. Planta do pavimento térreo e de implantação; corte, fachada frontal e lateral, plantas de muro e fossa séptica apresentados em uma prancha. Projeto Arquitetônico. Microfilme digitalizado.
2 – Alvará n.º 1011
3 – Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012)

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

Miroslau Florecki e sua Casa Econômica: Um Retrato da Modéstia e da Dignidade na Curitiba dos Anos 1930

Enquanto os palacetes se erguiam nas colinas nobres de Curitiba, nas ruas planas dos novos loteamentos brotavam casas simples — mas cheias de esperança. Entre elas, a residência projetada para Miroslau Florecki, em 1935, representa com singeleza o sonho de milhares de famílias paranaenses: ter um teto próprio, feito de tijolos e aspirações.


Um Projeto para a Vida Comum

Em 14 de fevereiro de 1935, data que curiosamente coincide com o Dia dos Namorados, foi assinado o Projéto para casa e muro para o Snr. Miroslau Florecki, elaborado pelo arquiteto Eduardo Fernando Chaves. O projeto, apresentado em uma única prancha detalhada, reunia:

  • Planta do pavimento térreo e implantação;
  • Corte arquitetônico;
  • Fachadas frontal e lateral;
  • Plantas do muro e da fossa séptica — sinal de um olhar atento à infraestrutura básica, algo ainda inovador para residências econômicas da época.

Localizada no Lote 79 da Planta Flávio Macedo, uma das subdivisões urbanas que expandiam Curitiba além do centro histórico, a casa de Florecki era o retrato da arquitetura residencial acessível no período entre-guerras. Com apenas um pavimento e 90,00 m² de área construída, sua planta era eficiente: sala de estar integrada à sala de jantar, dois quartos, cozinha, banheiro e área de serviço — tudo disposto com racionalidade e respeito ao clima subtropical úmido da região.

Construída em alvenaria de tijolos, técnica tradicional e confiável, a residência combinava durabilidade com economia. As janelas amplas permitiam ventilação cruzada, e o telhado inclinado — embora não descrito em detalhe nas fontes — seguia o padrão curitibano de cobertura cerâmica, ideal para as chuvas frequentes.


Miroslau Florecki: Um Homem do Povo

Pouco se sabe sobre a vida de Miroslau Florecki — seu nome sugere origem eslava, talvez polonesa, ucraniana ou tcheca, comum entre os imigrantes que se estabeleceram no Paraná no início do século XX. Muitos desses homens chegaram com pouco mais que as mãos e a vontade de construir uma nova vida. Comprar um lote na Planta Flávio Macedo e encomendar um projeto arquitetônico — ainda que modesto — era um ato de afirmação social e planejamento familiar.

O Alvará de Construção nº 1011/1935 (referência 2) confirma que o projeto foi aprovado pelas autoridades municipais, demonstrando que mesmo residências econômicas passavam por rigorosa fiscalização — sinal de uma cidade que, mesmo em tempos de crise econômica pós-1929, mantinha padrões urbanísticos.


A Casa que Sobreviveu ao Tempo

Em 2012, quase oitenta anos após sua construção, a casa de Miroslau Florecki ainda estava existente, conforme registrado na fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (referência 3). Embora possivelmente alterada por reformas — como pinturas, troca de esquadrias ou acréscimos —, sua estrutura original permanecia reconhecível. O muro baixo, também projetado por Chaves, ainda delimitava o terreno com discrição, mantendo a integração visual com a rua, característica típica dos bairros operários e de classe média da época.

Essa persistência é um testemunho silencioso da qualidade do projeto original e do cuidado de gerações que habitaram o imóvel. Enquanto muitas construções efêmeras desapareceram, essa casa modesta resistiu — não por grandiosidade, mas por utilidade, solidez e afeto.


Um Símbolo da Arquitetura Social

A residência de Miroslau Florecki não aspirava ao luxo. Sua beleza residia na funcionalidade, no equilíbrio entre forma e necessidade, e na dignidade do habitar. Projetos como este, muitas vezes esquecidos nas narrativas históricas dominadas por palacetes e monumentos, são essenciais para compreendermos a verdadeira paisagem urbana de Curitiba.

Eduardo Fernando Chaves, ao desenhar essa casa, não apenas cumpria um contrato: contribuía para a democratização da arquitetura — provando que bom projeto não é privilégio dos ricos, mas direito de todos.


Epílogo: A Casa como Herança

Hoje, o Lote 79 da Planta Flávio Macedo pode não figurar nos roteiros turísticos. Mas para quem caminha por ali, há uma lição nas paredes de tijolos da casa de Florecki: a história de uma cidade também se escreve nas casas simples, nos muros baixos, nos quintais onde crianças brincaram e árvores cresceram.

Miroslau Florecki talvez nunca tenha imaginado que seu nome sobreviveria em arquivos técnicos e registros históricos. Mas graças a essa casa — pequena, sólida e honesta —, sua memória permanece viva.


“Nem toda grandeza precisa de torres. Às vezes, basta um teto que abrigue sonhos.”

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