PAULO DE TARSO, O FUNDADOR DO CRISTIANISMO – 3ª PARTE

- continuação –

-No ano 58 d.C. Paulo volta a Jerusalém pela terceira vez. Entretanto ele é confundido com um subversivo chamado “O Egípcio” e é preso. Mesmo constatado o engano ele continua detido porque as suas pregações para que os judeus desobedeçam a Lei Mosaica, renegando a circuncisão e outras regras judaicas, já era de conhecimento dos sacerdotes e rabinos judeus. Nota-se que os demais apóstolos de Jesus, continuam livres em Jerusalém, inclusive frequentando o Templo, pois o fato de venerarem Jesus, não era considerado uma contravenção. Eles continuavam obedecendo e seguindo rigidamente todas as leis judaicas, portanto continuavam a ser judeus.
Paulo, alegando ser um cidadão romano, portanto só poderia ser julgado por um tribunal de Roma, Festo (60-62) que substituiu Felix (52-60) no governo da Judéia, resolveu, no ano 60, transferir Paulo para Roma.
O historiador da Igreja, Eusébio de Cesareia (265-339) conta que Pedro se encontrava em Roma entre 42 a 63 tendo deixado a Igreja de Jerusalém sob os cuidados de Tiago, o irmão de Jesus, ou seja: Tiago era o líder dos cristãos de Jerusalém. Por volta do ano 50, Pedro volta para Jerusalém, por ocasião do Conselho. Não se sabe quanto tempo ficou em Jerusalém, mas é certo que no ano de 60 ele já se encontrava novamente em Roma onde existia uma pequena e forte colônia de judeus cristãos, na qual ele era o chefe espiritual.
Como a história de Paulo, nos Atos dos Apóstolos, encera no momento de sua transferência da Judeia para Roma, não sabemos como foi o seu encontro com Pedro em Roma. Mas Pedro já era o líder dos cristãos em Roma, e parece que Paulo não teve muita aceitação nem pelos judeus cristãos nem pelos gentios convertidos. Embora Paulo estivesse em prisão domiciliar ele tinha autonomia para andar pela cidade. Entretanto os judeus como os romanos não eram receptivos a sua mensagem como tinham sido os gregos.
O livro Atos dos Apóstolos, dá a entender que Pedro e Paulo assumem o papel de destaque deixando Tiago em segundo plano. Mas seguindo outras fontes cristãs da antiguidade, Tiago, por ser irmão de Jesus, tinha a prevalência sobre os outros apóstolos. Lucas termina o relato de seu livro “Atos dos Apóstolos” com os fatos acontecidos até o ano de 60 d.C. quando Paulo é preso e deportado para Roma. Entretanto o livro “Atos dos Apóstolos”, surgiu lá pelo ano de 90 d.C. junto como “Evangelho de Lucas”, como se fossem uma obra única, só mais tarde é que foi desmembrado em dois livros. Nunca se soube por que Lucas encerrou sua narração abruptamente nesse ponto. No ano 62, Tiago foi executado em Jerusalém.
No ano de 63, Nero desencadeia uma perseguição contra os cristãos que dura até o ano 67. Em 64 d.C., Paulo é libertado e viaja à Espanha. Não há uma data certa para a morte de Paulo, mas foi depois de seu regresso a Roma entre os anos 64 a 67 d.C. Pedro também foi executado em Roma, nesse período, provavelmente no ano 67.
No Novo Testamento existem 27 livros, sendo que 14 levam o nome de Paulo como autor. Atualmente está comprovado que apenas sete deles são de autoria de Paulo. São eles: - Epístola aos Tesalonicenses, escrito em Corinto, no ao 50 d.C. - Epístola aos Felipenses, no ano 53 d.C. - Epistola a Filemon, no ano 53 a.C. - Primeira Epístola aos Coríntios, em Éfeso, no ano 53 d.C. - Epístola aos Galatas, em Éfeso no ano 53 d.C., - Segunda epístola aos Coríntios, em Éfeso, no ano 54 d.C. - Epístola aos Romanos, em Corinto, no ano 55 d.C.
As outras sete epístolas atribuídas a Paulo, não devem ser de sua autoria, porque tem estilos literários muito diferentes do estilo de Paulo. Usam palavras ou expressões que Paulo nunca usou nas sete epístolas consideradas autênticas. O tamanho e a forma de elaborar as frases são bem diferentes do estilo de Paulo além de se referir a situações da igreja em uma época bem posterior, com a citação de funções, hierarquias e atribuições na igreja, coisa que ainda não existiam em seu tempo.
São elas: - Segunda epístola aos Tessalonicenses, década de 60 d.C.; - Epístola aos Colossenses, no fim década de 60 d.C.; - Epístola aos Efésios, cerca do amo 65 d.C.; - Epístola a Tito, escrito na região do Egeu cerca de 120 d.C. ou entre 70 a 100; - Primeira epístola a Timóteo, escrito na região do Egeu cerca de 120 d.C. ou entre 70 a 100; - Segunda epístola a Timóteo, escrito na região do Egeu cerca de 120 d.C. ou entre 70 a 100 - Epístola aos Hebreus, escrita entre 60 a 90 d.C.
Depois que o exército de Tito (39-81) aniquilou Jerusalém, destruído e incendiando o Tempo em 27 de agosto do ano 70, os discípulos e seguidores de Jesus que não morreram no massacre, foram expulsos de Jerusalém e se espalharam por toda região, levando as mensagens de Jesus. Mas como todos eram pessoas humildes de origem camponesa e pescadores, e todos sem exceção, eram analfabetos (Atos dos Apóstolos 4: 13), não sabiam ler nem escrever, eram limitados por sua incapacidade de explicar teologicamente a nova fé para povos ou pessoas alfabetizadas ou mais evoluídas.
Coube então a uma nova safra de judeus de língua grega, educados e urbanizados seguidores de Paulo, se tornarem os principais vínculos para a expansão da nova fé. Na medida que esses homens e mulheres, muitos deles conhecedores profundos da filosofia grega e do pensamento helenístico começaram a reinterpretar a mensagem de Jesus, ela se tornou mais simples e compreensível para seus companheiros judeus de língua grega, como para seus vizinhos não judeus. Pouco a pouco transformaram Jesus de um zeloso judeu visionário e revolucionário em um semideus romanizado. De um homem que talvez pensou, mas não conseguiu libertar os judeus da opressão romana, em um ser celestial totalmente desinteressado de qualquer questão política terrena.
Por fim, a Igreja helenizou-se e abandonou as tradições e leis judaicas. Baseada nas filosofias de Platão e Aristóteles aproximou-se do estilo que Paulo tinha pregado em seu tempo, afastando se da Igreja original que Jesus havia deixado para seus apóstolos na Judeia, que continuaram e nunca deixaram de ser judeus.
Não tivesse existido Paulo, não haveria o cristianismo da forma como é conhecido hoje. No máximo os cristãos continuariam sendo judeus, mas de uma corrente diferente, como eram os essênios, os fariseus, os seduceus, os zelotes e outras seitas judaicas, e teriam terminado como terminaram todas essas seitas após a conquista de Jerusalém, no ano 70, pelos romanos, praticamente todas essas seitas foram extintas. Apenas os fariseus, que souberam se adaptar a essa nova realidade, sobreviveram. Os fariseus aceitaram a dominação romana e se aliaram a eles. Graças a isso o judaísmo se modificou, sobreviveu e prosperou. Então os judeus cristãos seguiram um caminha semelhante, separando-se do judaísmo tradicional, se adaptaram aos novos tempos, aos costumes e leis romanas e se helenizaram. Essa foi a única forma para a religião cristã ter sobrevivido até hoje.
FIM

FONTES:
ASLAN, Reza – Zelota – Zahar - Rio de Janeiro-RJ, 2013
BÍBLIA DE JERUSALÉM – Paulinas - 2ª edição – São Paulo-SP, 1985
CROSSAN, John Dominic Crossan – O Jesus Histórico - Imago, Rio de Janeiro-RJ, 1994.
MEIER, John P. – Um Judeus Marginal – Imago, Rio de Janeiro-RJ, 1993 a 1998 – em 4 volumes.
TABOR James D. – A Dinastia de Jesus – Ediouro – Rio de Janeiro, 2006
VERMÈS. Geza – Jesus, o Judeu – Loyola, São Paulo-SP. 1990;
WILSON, A.N. – Jesus, uma biografia – Ediouro, Rio de Janeiro-RJ, 1992.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025

PAULO DE TARSO, O FUNDADOR DO CRISTIANISMO – 3ª PARTE

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