Curitiba em 1953: Comércio, Indústria e Vida Urbana Através dos Anúncios do Jornal Local
Curitiba em 1953: Comércio, Indústria e Vida Urbana Através dos Anúncios do Jornal Local
O ano de 1953 foi um momento de intensa transformação para Curitiba. A cidade, ainda fortemente marcada por sua herança imigrante e por um comércio familiar, vivia os primeiros sinais de modernização impulsionados pelo crescimento econômico do pós-guerra e pela expansão da indústria no Paraná. Nesse contexto, os anúncios publicitários nos jornais locais não eram apenas mensagens comerciais: eram espelhos da sociedade, revelando aspirações, produtos e serviços que moldavam o cotidiano dos curitibanos.
As cinco imagens a seguir, extraídas de jornais de Curitiba publicados em 1953, oferecem um retrato vívido e multifacetado da economia local. Vamos explorar cada uma delas dentro desse cenário histórico preciso.
Imagem 1: Thá Scaramuzza Ltda. — Modernidade Doméstica na Avenida Getúlio Vargas
Em 1953, Curitiba contava com cerca de 300 mil habitantes, e o crescimento populacional exigia infraestrutura moderna. A Thá Scaramuzza Ltda., localizada na então recente Avenida Getúlio Vargas — uma via símbolo do progresso urbano —, posicionava-se estrategicamente para atender a essa nova demanda.
Análise em 1953:
- A oferta de “Conjuntos Sanitários” e “Lustres” reflete a urbanização acelerada: famílias que antes viviam em casas sem banheiro interno agora buscavam modernizar seus lares.
- Itens como refrigeradores, liquidificadores e enceradeiras estavam se tornando símbolos de status e conforto para a classe média em ascensão.
- O fato de vender “Máquinas de Costura” também é significativo: em 1953, muitas mulheres ainda confeccionavam roupas em casa, e a máquina era um bem valioso.
- A localização na Avenida Getúlio Vargas (nº 886/902) coloca a loja no coração do novo eixo comercial da cidade, ao lado de cinemas, cafés e outras lojas modernas.
Contexto de 1953: Esse ano marcou o início da construção da Catedral Metropolitana de Curitiba em sua forma atual e a expansão da rede de ônibus urbanos. A Thá Scaramuzza surfava na onda da modernização doméstica que acompanhava essas mudanças.
Imagem 2: Pugsley & Cia. — Indústria de Couro e o Espírito Empreendedor
Fundada em 1921, a Pugsley & Cia. já era uma referência em 1953. Seu anúncio, destacando fábrica e loja, mostra uma empresa integrada verticalmente — da produção ao varejo —, algo raro e admirável na época.
Análise em 1953:
- A menção a “Bolas de Futebol” ganha destaque: em 1953, o futebol era paixão nacional, e Curitiba abrigava clubes como o Coritiba e o Atlético Paranaense. Fornecer bolas para times locais era um negócio estratégico.
- “Artigos para seleiros e sapateiros” indica que a empresa abastecia não só consumidores, mas também pequenos ofícios urbanos e rurais, essenciais na economia local.
- O edifício na Rua Marechal Deodoro, batizado como “Guilherme Pugsley Filho”, demonstra sucessão familiar e estabilidade — valores altamente valorizados na sociedade curitibana da época.
Contexto de 1953: O Paraná vivia um boom agrícola, com ênfase na pecuária. O couro, matéria-prima da Pugsley, era abundantemente disponível, o que favorecia a indústria local e sua expansão.
Imagem 3: Joalheria Bertha — Tradição desde 1884 no Coração da Cidade
Localizada na Praça Tiradentes, 620, a Joalheria Bertha era mais do que uma loja: era uma instituição. Em 1953, já com quase 70 anos de história, seu anúncio fazia questão de reforçar sua longevidade e confiabilidade.
Análise em 1953:
- A presença dos retratos dos fundadores cria um vínculo afetivo com o passado, importante em uma cidade que valorizava suas raízes imigrantes (alemãs, italianas, polonesas).
- A especialização em “Relógios” era crucial: em 1953, os relógios de pulso ainda eram itens caros e duráveis, muitas vezes passados de geração em geração.
- Estar na Praça Tiradentes, centro político e comercial desde o século XIX, significava prestígio e acesso a uma clientela abastada.
Contexto de 1953: Neste ano, Curitiba ainda mantinha uma atmosfera provinciana, mas com crescente sofisticação. Joalherias como a Bertha atendiam tanto a elite local quanto a classe média em ascensão, que buscava presentes simbólicos para casamentos, formaturas e batizados.
Imagem 4: Grande Hotel Moderno e Hotel Johnscher — Hospedagem para Negócios e Viagem
Em 1953, Curitiba era um importante nó de transporte rodoviário do Sul do Brasil. Com poucos voos comerciais, a maioria dos viajantes chegava de ônibus ou carro — e precisava de hospedagem confiável.
Análise em 1953:
- O Grande Hotel Moderno, na Rua 15 de Novembro, estava no centro comercial. Seu nome “Moderno” era um atrativo para viajantes que associavam modernidade a conforto e segurança.
- O Hotel Johnscher, na Rua Barão do Rio Branco, sugere um perfil mais residencial ou voltado a estadas prolongadas.
- O uso de telefones (sem prefixo, pois a telefonia era local) e telegramas mostra a comunicação prática da era pré-internet, essencial para reservas.
Contexto de 1953: A cidade recebia comerciantes, engenheiros da nova rodovia BR-277 (em expansão), e representantes de empresas. Hotéis como esses eram vitais para a economia de serviços em crescimento.
Imagem 5: Joalheria Bertha e Joalheria Soberana — Expansão e Sofisticação
Este anúncio revela um passo importante em 1953: a expansão da Joalheria Bertha com a abertura da Joalheria Soberana na Avenida João Pessoa, 41 — um bairro residencial em desenvolvimento, habitado por famílias de classe média alta.
Análise em 1953:
- A ilustração art déco de um casal elegante reflete o ideal de vida moderna: namoro, noivado e casamento eram momentos em que as joias simbolizavam compromisso.
- O slogan “Torne seu sonho uma realidade...” ressoa com o otimismo da década de 1950, marcada pela reconstrução pós-guerra e pela crença no progresso.
- Ter uma filial era um sinal de sucesso: a Bertha havia transcendido sua origem centenária e se adaptado às novas dinâmicas urbanas.
Contexto de 1953: A Avenida João Pessoa tornava-se um corredor de expansão residencial. A abertura de uma filial nessa região mostra que a joalheria acompanhava o movimento de descentralização do centro — um fenômeno urbano em curso.
Conclusão: Curitiba em 1953 — Uma Cidade em Transição
Os anúncios de 1953 capturam Curitiba em um limiar: ainda guardando as marcas de seu passado colonial e imigrante, mas já abraçando o futuro da modernidade. Empresas como Thá Scaramuzza, Pugsley, Bertha e Johnscher não eram meros negócios — eram agentes de transformação, fornecendo os bens, serviços e sonhos que definiam a vida urbana.
Nesse ano, antes da explosão populacional das décadas seguintes, Curitiba era uma cidade coesa, onde o comércio familiar e a confiança pessoal ainda regiam as relações. Esses anúncios, portanto, são muito mais do que propagandas: são documentos sociais preciosos, que nos permitem ouvir o pulsar da cidade em um momento único de sua história.
#Curitiba1953 #HistóriaDeCuritiba #PatrimônioParanaense #PublicidadeAntiga #ArquivoHistórico #NósNaTrilhaEcoturismo #CuritibaEmPretoEBranco #MemóriaUrbana #ComércioDeAntigamente
Fonte: Anúncios publicitários de jornais de Curitiba, ano de 1953.
Nenhum comentário:
Postar um comentário