quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Curitiba em 1955: Um Retrato em Páginas — Do Casamento Real à Modernidade do Lar

 

Curitiba em 1955: Um Retrato em Páginas — Do Casamento Real à Modernidade do Lar



Curitiba em 1955: Um Retrato em Páginas — Do Casamento Real à Modernidade do Lar


Introdução: A Cidade que Sonhava em Preto e Branco

O ano de 1955 foi um marco de transição para o Brasil. Enquanto Juscelino Kubitschek se preparava para assumir a Presidência com seu lema “Cinquenta anos em cinco”, as cidades interioranas, como Curitiba, já viviam os primeiros ventos da modernidade. As páginas apresentadas não são apenas anúncios ou notícias — são documentos de uma era em que o sonho de progresso se traduzia em casamentos grandiosos, rádios Philco, móveis Guelmann e imóveis para alugar com garantia.

Este artigo percorre cada imagem, desvendando os símbolos, os valores e as aspirações de uma sociedade que, ainda presa a tradições rurais e religiosas, já olhava para o futuro com os olhos fixos na televisão, no automóvel e na casa própria.


Página 1: Imobiliária e o Sonho da Casa Própria

A primeira página exibe um anúncio da Imobiliária Administradora, localizada no Edifício Marisa, na Rua Senador Alencar Guimarães, 99, Travessa da Praça Osório, em Curitiba. O logotipo — com edifícios estilizados e uma placa central — reflete a estética modernista dos anos 50, com linhas limpas e formas geométricas.

O texto é direto e funcional:

“V. S. Tem uma casa para alugar ou precisa de uma?”

A linguagem formal (“V. S.” — Vossa Senhoria) revela o público-alvo: a classe média urbana, educada e com poder aquisitivo. O serviço oferecido vai além da simples intermediação: promete “contrato fiador ou depósito em 48 horas”, garantindo segurança jurídica — algo essencial em uma época em que o mercado imobiliário ainda era pouco regulamentado.

O endereço, próximo à Praça Osório (um dos pontos centrais da cidade), indica que a empresa atuava no coração comercial de Curitiba. Em 1955, a demanda por moradia estava crescendo rapidamente, impulsionada pela migração interna e pelo início da industrialização. A imobiliária não vendia apenas casas — vendia estabilidade, pertencimento e status.


Página 2: O Rádio Philco — O Coração da Sala de Estar

A segunda página é um verdadeiro hino ao consumo moderno: um anúncio da Hermes Macedo S.A., distribuidora exclusiva do rádio Philco em Curitiba, Ponta Grossa, Londrina, Maringá e Blumenau.

O slogan — “Sua hora chegou... agora, V. também pode ter um Philco pagando suavemente” — é uma declaração de democratização da tecnologia. O rádio deixava de ser um objeto de luxo para se tornar acessível, graças ao parcelamento em 18 prestações sem entrada.

Três modelos são destacados:

  • Modelo 401-12: R$ 305,00
  • Modelo 8-404: R$ 200,00
  • Modelo 9-7662: R$ 1.040,00

O último, mais caro, vem acompanhado de um “presente extra”: um relógio de parede e um fogão. Isso mostra uma estratégia de marketing avançada para a época — o bundling, ou venda combinada, já era praticado.

As ilustrações mostram famílias reunidas em torno do aparelho, sugerindo que o rádio era o centro da vida familiar. Era através dele que se ouvia música, notícias, novelas e programas religiosos. O Philco não era apenas um aparelho eletrônico — era um símbolo de modernidade, conforto e conexão com o mundo.


Página 3: A Inauguração da Rádio Eminente Paranaense — A Voz do Estado

A terceira página registra um evento histórico: a inauguração da Rádio Eminente Paranaense, que passou a operar sob a frequência de 1.030 kHz, com o slogan “ZYS 43”.

O texto, escrito em tom solene, destaca a presença de autoridades como o Governador do Estado, o Presidente da Câmara Municipal e o Ministro das Comunicações. A cerimônia foi realizada no Teatro Guaíra, em Curitiba, e contou com discursos, apresentações musicais e até um “grande sorteio de prêmios”.

A rádio era vista como um instrumento de integração nacional e estadual. Em 1955, o rádio era o principal meio de comunicação de massa, especialmente em áreas onde a televisão ainda não havia chegado. A criação de uma emissora paranaense fortalecia a identidade regional e dava voz aos curitibanos.

O anúncio também menciona que a rádio seria “a maior e melhor do Sul”, reforçando o orgulho local. A presença de um “Departamento de Publicidade” indica que a emissora já pensava em monetização — o que antecipa o modelo de negócios que se consolidaria nas décadas seguintes.


Página 4: Móveis Guelmann — Conforto e Distinção ao Seu Lar

A quarta página é um convite à elegância doméstica. O anúncio da Móveis Guelmann promete “Conforto e Distinção ao seu Lar”, usando uma linguagem que mistura sofisticação e funcionalidade.

A ilustração mostra uma mulher sorridente, segurando uma peça de mobília, em um ambiente decorado com requinte. O dormitório “Estilo Chippendale N° 330”, composto por 10 peças, era feito em madeiras nobres como imbuia ou pau-marfim — materiais que denotavam riqueza e bom gosto.

O endereço — Rua 24 de Maio, 44 — situa a loja no centro de Curitiba, próximo à Praça Tiradentes, um dos principais polos comerciais da cidade. O uso do termo “Chippendale” (referência ao estilo inglês do século XVIII) revela a influência europeia nos padrões de consumo da elite local.

Em 1955, a casa não era apenas um espaço de moradia — era um reflexo do status social. Ter móveis Guelmann significava pertencer a uma classe que valorizava a beleza, a ordem e a tradição. O anúncio não vende móveis — vende um estilo de vida.


Página 5: O Enlace Munhoz da Rocha - Pitaki — O Casamento como Espectáculo Social

A última página é uma fotografia em preto e branco de um casamento: Enlace Munhoz da Rocha - Pitaki. O casal está vestido com trajes formais — o noivo, de fraque; a noiva, de vestido longo e véu, segurando um buquê de flores.

O texto abaixo da foto fornece detalhes sobre os noivos: Maria Emmanuelle Pitaki, filha de Bento Munhoz da Rocha, e Darcy C. Pitaki, filho de Miguel Pitaki. Ambas as famílias são citadas com nomes completos, indicando que se tratava de união entre duas linhagens importantes da sociedade curitibana.

A cerimônia foi realizada na Igreja de Nossa Senhora Guadalupe, e os noivos receberam convidados na sede campestre do Clube Curitibano — um clube de elite, fundado em 1906, que reunia a aristocracia local.

O casamento não era apenas um ato religioso — era um evento social de grande importância. A publicação da foto e do nome completo dos noivos e de seus pais em um jornal ou revista indica que o matrimônio era visto como um acontecimento público, digno de registro histórico.

Em 1955, o casamento ainda era um ritual de passagem, que selava alianças familiares, consolidava posições sociais e celebrava a continuidade da tradição. A imagem captura não apenas dois indivíduos — mas uma era.


Conclusão: Curitiba em 1955 — Entre Tradição e Modernidade

As cinco páginas analisadas formam um retrato completo de Curitiba em 1955: uma cidade que, embora pequena em tamanho, já vivia intensamente os conflitos e as promessas da modernidade.

  • O imóvel representava a estabilidade econômica.
  • O rádio Philco simbolizava a conexão com o mundo.
  • A rádio ZYS 43 era a voz do estado.
  • Os móveis Guelmann expressavam o desejo de conforto e distinção.
  • O casamento Munhoz da Rocha - Pitaki encarnava a tradição e o prestígio familiar.

Em 1955, Curitiba não era apenas uma capital provincial — era uma cidade em ascensão, que já sonhava com o futuro, mesmo que ainda vestida de preto e branco.


Este artigo foi elaborado com base na análise detalhada de cinco páginas de documentos históricos datados de 1955, provavelmente extraídos de jornais ou revistas locais de Curitiba.












Nenhum comentário:

Postar um comentário