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segunda-feira, 5 de junho de 2023

A HISTÓRIA DA LOTERIA ESPORTIVA

 A HISTÓRIA DA LOTERIA ESPORTIVA


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Como explicar a Loteria Esportiva para quem não faz ideia do que ela tenha sido ?
Vou começar por minha experiência, pois, além de um simples apostador, fui também "furador de cartão".
Foi em meados de 1973, um colega de trabalho havia negociado com a CEF e abriu uma lotérica na cidade, imediatamente ele convidou-me para fazer uns "bicos" nas quintas e sextas-feiras após o horário do trabalho vespertino, exatamente quando o volume das apostas subia vertiginosamente. As filas eram grandes em cada guichê.
Minha tarefa era atender um dos guichês, furando os cartões da loteria esportiva. Tinha que ter uma boa concentração para furar o cartão com rapidez, sem errar; se errasse um furo, eu tinha que ficar com a aposta e pagá-la. O talão dos prognósticos, como era chamado, era furado em cima de uma caixinha de madeira com um plastico grosso transparente, o qual tinha treze quadradinhos vazados em cada uma das três colunas. Por baixo dele, víamos onde estavam os "X" feitos pelo apostador no prognóstico e furávamos em cima deles. Depois tínhamos que calcular cuidadosamente o número de furos totais quando as apostas eram múltiplas. Mais tarde, o sistema foi aperfeiçoado e a caixinha foi substituída por um porta-cartão da IBM.
A Loteria Esportiva era a coqueluche do momento entre os tipos de jogos autorizados no Brasil. Ela havia sido criada em 27/05/1969, pelo então presidente da República, general Artur da Costa e Silva, que havia criado ela nos moldes da loteria italiana ligada ao futebol, a então chamada Totocalcio.
Em 19/04/1970, foi realizado no então Estado da Guanabara o primeiro "teste" público do jogo. O teste experimental foi feito pela Caixa Econômica Federal, na Cinelândia, Rio de Janeiro. Uma barraca recolhia as apostas enquanto funcionários da Caixa ajudavam os apostadores a entender o processo. O candidato a milionário preenchia nome e endereço em um "volante" onde apontava vencedor ou empate - jogos escolhidos pela Sport Press - e uma perfuradora (a máquininha Port a Puch) transferia a aposta para dois cartões perfurados, um ficava com o apostador outros seria enviado para as "leitoras" dos grandes computadores IBM. O prêmio do primeiro teste foi de cento e tantos ou 200 mil cruzeiros novos, por aí. A aposta mínima custava um cruzeiro novo.
Em seguida, as vendas foram estendidas a 48 revendedores fixos da Guanabara credenciados para receber as apostas. No 10° teste iniciaram-se as vendas também em São Paulo; em 1972 a Loteria Esportiva estava implantada em todo país. Até os campeões mundiais de 1970 foram credenciados como revendedores – foi uma forma de homenageá-los pela conquista.
Um funcionário da CAIXA na época conta como era a rotina de trabalho: “A gente entrava na sexta-feira à noite na CAIXA e só saia no domingo, após a realização de todos os jogos. Começávamos gravando os cartões. A rotina para se efetuar a aposta era assim: o cliente ia num revendedor credenciado, preenchia o volante, onde além das escolhas dos jogos tinha de constar o nome e o endereço do apostador. O volante ficava de posse da CAIXA e o cliente ficava com um recibo. No caso de ter sido premiado, tinha um prazo de 90 dias para ser localizado. Caso contrário o bilhete prescrevia.” (O Periquito, março de 1972).
Rapidamente virou uma verdadeira febre popular entre os brasileiros. Me lembro que os primeiros milionários apareciam na TV, nas capas de revistas e primeiras páginas de jornais.
Entre os 13 jogos da semana, haviam alguns fáceis de se prever o resultado, porém, quando um time forte perdia o jogo para um time fraco, o povo chamou resultado de "zebra". Mesmo o termo "zebra" ser fluente na boca de todos, ela só foi caricaturizada quase uma década depois no programa fantástico da globo. Quando dava, ela dizia: "Ih, olha eu aí, deu zebra !"
Nos anos 1980, descobriu-se que o resultado de alguns jogos estavam sendo manipulados por grupos de pessoas, juntos com jogadores, dirigentes e árbitros envolvidos. Ninguém foi condenado. A partir daí a Loteria Esportiva entrou em progressiva decadência. A revista Placar apurou e denunciou a manipulação que foi chamada "Máfia da Loteria Esportiva". Os repórteres levantaram provas de manipulação de resultados. Mais de 100 pessoas foram indiciadas posteriormente.
Ficou o folclore de histórias contadas por pessoas que "quase ganharam" na Loteria Esportiva, pois ficaram com a decepção de terem feito 12 pontos e tiveram de ver outra pessoa ganhar o prêmio que passou tão perto e ao mesmo tempo tão longe. Ou ver a “sorte de principiante” que chutou todos os resultados e se deu bem, passando por cima de especialistas em prognósticos e cálculos matemáticos.
O pior de todos "causos", era ouvir alguém lamentar que fez o prognóstico e acertou todos os 13 jogos, mas não ganhou porque deu a aposta para um familiar levá-la na lotérica e ele chegou em casa dizendo que não deu tempo de fazer a aposta. Igual quando vc sempre participava de um bolão junto com a turma do trabalho e, uma vez ficou de fora porque estava sem dinheiro, e a turma ganho.
Paulo Grani