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sábado, 20 de dezembro de 2025

Azis Surugi e o Sobrado da Avenida Sete de Setembro: Uma Presença Silenciosa na Curitiba dos Anos 1930

  Denominação inicial: Projéto de Sobrado para o Snr. Azis Surugi

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte

Endereço: Avenida 7 de setembro

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 162,00 m²
Área Total: 162,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos

Data do Projeto Arquitetônico: 07/05/1935

Alvará de Construção: Nº 1198/1935

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de sobrado e muro e, Alvará de Construção.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Sobrado. Planta dos pavimentos térreos e superior, implantação, corte, fachada frontal e muro apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 - Alvará n.º 1198

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

Azis Surugi e o Sobrado da Avenida Sete de Setembro: Uma Presença Silenciosa na Curitiba dos Anos 1930

Curitiba, 1935 – 2012

Na Curitiba em plena efervescência urbana da década de 1930 — marcada pela imigração, pelo crescimento do comércio e pela consolidação de novos bairros — ergueu-se, em projeto e provavelmente em tijolos, uma construção discreta, porém significativa: o sobrado projetado para o senhor Azis Surugi, na Avenida Sete de Setembro. Embora tenha sido demolido em 2012, seu desenho arquitetônico permanece como um elo sensível entre a história da cidade e a trajetória de um homem cujo nome evoca origens distantes, mas cuja vida se enraizou profundamente no solo paranaense.


Azis Surugi: Entre Dois Mundos

O nome Azis Surugi destaca-se imediatamente no panorama curitibano da primeira metade do século XX. De origem provavelmente árabe ou japonesa — hipóteses que abrem portas para ricas interpretações históricas —, Surugi representa uma parcela fundamental da sociedade da época: os imigrantes e descendentes que, com trabalho e determinação, construíram não apenas suas casas, mas também sua pertença à cidade.

Seja qual tenha sido sua origem étnica ou nacional, o fato de Azis ter encomendado um sobrado de dois pavimentos na prestigiada Avenida Sete de Setembro revela sua inserção econômica e social. Não se tratava de um barraco improvisado, mas de uma residência planejada, com projeto arquitetônico assinado e alvará municipal — sinais claros de estabilidade, cidadania e ambição doméstica.


O Projeto: Um Sobrado de Pequeno Porte, Grande Significado

Assinado em 7 de maio de 1935 pelo arquiteto Eduardo Fernando Chaves, o “Projéto de Sobrado para o Snr. Azis Surugi” é um exemplo refinado da arquitetura residencial de pequeno porte da era Vargas. Apesar de modesto em dimensões — 162 m² distribuídos em dois pavimentos —, o projeto revela atenção meticulosa aos detalhes espaciais e à integração com o entorno.

A prancha original, preservada em microfilme digitalizado, reúne:

  • Planta do pavimento térreo e superior
  • Implantação no terreno
  • Corte arquitetônico
  • Fachada frontal
  • Projeto do muro de fechamento

Construído em alvenaria de tijolos, técnica dominante na época, o sobrado combinava solidez estrutural com um desenho funcional. O térreo provavelmente abrigava áreas sociais (sala, cozinha, talvez um pequeno comércio ou escritório), enquanto o pavimento superior era reservado à intimidade familiar — quartos, banheiro e varanda, elementos comuns nas residências verticais da classe média urbana.

A inclusão do muro no projeto também é significativa: indicava preocupação com privacidade, segurança e definição clara do domínio doméstico — traços de uma sociedade que valorizava a distinção entre o público e o privado.


A Localização: Avenida Sete de Setembro, Rota da Modernidade

A Avenida Sete de Setembro, uma das principais vias de ligação entre o centro de Curitiba e os bairros emergentes como o Alto da Glória e o Juvevê, era, nos anos 1930, um corredor de prestígio, movimento e modernidade. Ter um sobrado ali era posicionar-se no coração pulsante da cidade.

Azis Surugi, ao escolher esse endereço, afirmava seu lugar na urbe: não como forasteiro, mas como cidadão pleno, participante ativo da vida econômica e social da capital paranaense.


O Alvará: A Cidade que Acolhe

O Alvará de Construção nº 1198/1935, emitido pelo município, não era apenas uma formalidade. Era um ato de reconhecimento institucional — a cidade, por meio de suas leis e técnicos, dizia: "Você pertence aqui."

Esse documento, hoje preservado nos arquivos históricos, é testemunho de um período em que Curitiba começava a regular seu crescimento com mais rigor, exigindo projetos assinados por profissionais e respeito às normas de alinhamento, recuo e uso do solo.


O Fim: A Demolição e a Memória Ausente

Em 2012, como tantas outras edificações de valor histórico modesto, o sobrado de Azis Surugi foi demolido. Nenhum registro fotográfico conhecido de sua forma final sobreviveu — apenas o projeto original e o alvará permanecem como vestígios materiais.

Sua perda é simbólica: representa o apagamento silencioso de uma geração de imigrantes que, com pouco, construíram muito. Não eram magnatas, mas homens e mulheres que transformaram sonhos em tijolos, e tijolos em lar.


Legado: Uma Prancha Contra o Esquecimento

Felizmente, o microfilme do projeto arquitetônico resiste ao tempo. Nele, cada linha traçada à régua e compasso carrega a intenção de um homem que, em 1935, acreditou no futuro. A fachada frontal, com suas proporções equilibradas; o corte, revelando a relação entre chão e céu; a implantação, mostrando como a casa dialogava com a rua — tudo isso fala não apenas de arquitetura, mas de esperança materializada.


Conclusão: A Casa que Não Está, Mas Existiu

Azis Surugi pode não ter entrado nos livros de história oficial, mas sua casa — mesmo desaparecida — é parte da alma de Curitiba. Ela nos lembra que a cidade é feita também por aqueles cujos nomes não estão nas placas das ruas, mas cujas vidas estão entranhadas em seus muros, ruas e memórias.

“Nem toda casa precisa permanecer de pé para continuar habitando a história.”


Referências

  1. CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Sobrado para o Snr. Azis Surugi. Planta dos pavimentos térreos e superior, implantação, corte, fachada frontal e muro apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado. Arquivo Histórico de Curitiba.
  2. Alvará de Construção nº 1198/1935 – Arquivo Municipal de Curitiba.