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terça-feira, 4 de novembro de 2025

Carlos Freire Pinto e a Residência Projetada por Eduardo Fernando Chaves: Um Fragmento da Modernidade Arquitetônica em Curitiba (1936)

 Carlos Freire Pinto e a Residência Projetada por Eduardo Fernando Chaves: Um Fragmento da Modernidade Arquitetônica em Curitiba (1936)

Em meio aos arquivos empoeirados e microfilmes digitalizados do Arquivo Público Municipal de Curitiba, repousa um testemunho silencioso de uma Curitiba em transição: o projeto da Residência para o Senhor Carlos Freire Pinto, assinado pelo arquiteto Eduardo Fernando Chaves em 6 de março de 1936. Embora a edificação não tenha sido localizada em levantamentos realizados até 2012 — sugerindo sua possível demolição, transformação irreconhecível ou desaparecimento urbano —, seu legado documental permanece como um elo precioso com a arquitetura residencial do entre-guerras no Paraná.

Um Arquiteto no Contexto da Modernização Urbana

Eduardo Fernando Chaves, cuja obra ainda carece de estudos biobibliográficos mais aprofundados, emerge nos registros municipais como um profissional ativo na década de 1930, período marcado pela consolidação do concreto armado como técnica construtiva dominante nas classes média e alta de Curitiba. Seu nome está ligado a projetos que refletem a transição entre os últimos ecos do ecletismo e os primeiros passos rumo à linguagem funcionalista que floresceria no Brasil nas décadas seguintes.

O projeto para Carlos Freire Pinto, apresentado com memória de cálculo estrutural e requerimento formal de Alvará de Construção nº 1791/1936, demonstra rigor técnico e clareza funcional. A escolha do concreto armado como técnica construtiva principal não era trivial na época — era um sinal de modernidade, segurança e aspiração social. Essa decisão técnica indicava que o cliente, Carlos Freire Pinto, era um cidadão de certa projeção econômica, possivelmente ligado ao comércio, à indústria ou à burocracia urbana em expansão.

A Casa na Rua Ermelino de Leão: Entre Planos e Ausências

Localizada na Rua Ermelino de Leão, uma via historicamente residencial no tecido urbano central de Curitiba, a residência foi concebida como um edifício de dois pavimentos — configuração que, na época, ainda era relativamente incomum para moradias unifamiliares, geralmente associadas a sobrados de elite. Infelizmente, os registros não preservaram a área exata do pavimento nem a área total construída, lacunas comuns em documentações da era pré-digital.

Contudo, os desenhos técnicos preservados revelam muito sobre a intenção arquitetônica:

  • Planta com cortes A-B e C-D (Imagem 1): Permite compreender a distribuição espacial dos ambientes, a relação entre áreas sociais e privadas, e a articulação vertical entre os dois níveis. A presença de cortes indica preocupação com a ventilação cruzada, iluminação natural e proporção volumétrica — elementos caros à boa arquitetura residencial da época.

  • Planta com perfil e elevação das estruturas em concreto armado (Imagem 2): Aqui, a engenharia e a estética se entrelaçam. Vemos a estrutura óssea da edificação — vigas, pilares, lajes — dispostos com clareza, sugerindo um projeto integrado entre arquitetura e cálculo estrutural, algo nem sempre comum em obras menores da época.

  • Alvará de Construção (Imagem 3): Mais do que um simples documento administrativo, o alvará é um selo de legitimidade urbana. Nele, reconhecemos o reconhecimento oficial do poder público à intervenção privada no espaço público — uma negociação entre propriedade individual e ordem coletiva.

O Enigma da Não Localização

Apesar da riqueza documental, a situação da edificação em 2012 foi registrada como “não localizada”. Isso levanta questões essenciais para historiadores, urbanistas e preservacionistas:

  • A casa foi demolida para dar lugar a um novo empreendimento?
  • Foi incorporada a um edifício posterior, com sua identidade arquitetônica apagada?
  • Ou talvez nunca tenha sido construída, permanecendo apenas como projeto no arquivo?

A ausência física da residência torna ainda mais valiosa sua existência documental. Cada linha desenhada por Chaves, cada anotação no alvará, cada número na memória de cálculo é um fragmento de uma Curitiba que se esvai sob o peso do desenvolvimento acelerado — uma cidade que cresceu rápido demais para guardar todas as suas memórias.

Carlos Freire Pinto: O Homem Por Trás do Nome

Pouco se sabe, até o momento, sobre Carlos Freire Pinto. Seu nome sugere origens lusófonas, possivelmente ligadas a famílias tradicionais do Paraná ou migrantes que se estabeleceram na capital em busca de oportunidades. O fato de encomendar uma residência de dois pavimentos em concreto armado em 1936 indica que não era um cidadão comum, mas alguém que investia em moradia como expressão de status, estabilidade e visão de futuro.

Talvez ele tenha criado filhos entre aquelas paredes; talvez tenha recebido amigos em sua varanda voltada para a Rua Ermelino de Leão; talvez tenha sonhado com um Curitiba melhor, mais moderna, mais justa. Seus sonhos não foram preservados — mas seu endereço, sim.

Legado e Relevância Histórica

Embora classificada como de “informações incompletas”, a residência projetada por Eduardo Fernando Chaves para Carlos Freire Pinto é, na verdade, um documento de alta relevância histórica. Ela ilustra:

  • A profissionalização da arquitetura em Curitiba nos anos 1930;
  • A adoção do concreto armado como símbolo de progresso técnico;
  • A regulação urbana municipal por meio de alvarás e memoriais técnicos;
  • A transição tipológica da casa unifamiliar para estruturas verticalizadas, mesmo em escala doméstica.

Mais do que uma simples planta, é um retrato de uma época em que o futuro era construído com lápis, prancheta e fé no concreto.


Referências Documentais

  1. CHAVES, Eduardo Fernando. Construção para o Snr. Carlos Freire Pinto. Rua Ermelino de Leão. Planta com cortes. Microfilme digitalizado. Arquivo Público Municipal de Curitiba.
  2. CHAVES, Eduardo Fernando. Planta com perfil e elevação das estruturas em concreto armado. Microfilme digitalizado. Arquivo Público Municipal de Curitiba.
  3. Alvará de Construção nº 1791/1936. Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

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🜂 Às casas que já não existem, mas cujos sonhos ainda habitam os arquivos da memória urbana.

Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto

Denominação inicial: Residência para o Snr. Carlos Freire Pinto

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Informações incompletas

Endereço: Rua Ermelino de Leão

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 
Área Total: 

Técnica/Material Construtivo: Concreto Armado

Data do Projeto Arquitetônico: 06/03/1936

Alvará de Construção: N.° 1791/1936

Descrição: Projeto Arquitetônico e Alvará de Construção com Memória de Cálculo.

Situação em 2012: Não localizada


Imagens

1 – Planta com cortes A-B e C-D.
2 – Planta com perfil e elevação das estruturas em concreto armado.
3 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 e 2 – CHAVES, Eduardo Fernando. Construção para o Snr. Carlos Freire Pinto. Rua Ermelino de Leão. Planta com cortes; planta com perfil e elevação das estruturas em concreto armado. Microfilme digitalizado.
3 - Alvará n.º 1791

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.