segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

A Casa de Antonio Cortiano: Uma Morada Efêmera de Madeira na Curitiba dos Anos 1920

 Denominação inicial: Projecto de casa para o Snr. Antonio Cortiano

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Planta João Gabardo 1 – Lote nº 7

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 42,00 m²
Área Total: 42,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Madeira

Data do Projeto Arquitetônico: 25/11/1928

Alvará de Construção: Talão Nº 584; Nº 5136/1928

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de casa de madeira.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.

Referências: 

1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de casa para o Snr. Antonio Cortiano. Plantas do pavimento térreo e de implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

A Casa de Antonio Cortiano: Uma Morada Efêmera de Madeira na Curitiba dos Anos 1920

Em 25 de novembro de 1928, em meio ao fervilhar da urbanização de Curitiba, foi desenhado com traço cuidadoso um sonho modesto, mas profundamente humano: a residência de 42 metros quadrados para Antonio Cortiano, localizada no Lote nº 7 da Planta João Gabardo 1. Tratava-se de uma casa simples — térrea, econômica, construída em madeira —, mas carregava em si a mesma dignidade de qualquer palácio: era um lar.

Embora hoje já não exista mais, tendo sido demolida antes ou durante 2012, sua memória permanece viva nos arquivos da cidade, guardada com zelo em um microfilme que conserva o projeto original assinado pelo escritório Gastão Chaves & Cia. É nesses traços de tinta, nessa planta precisa e afetuosa, que encontramos não apenas uma arquitetura, mas uma história de pertencimento, trabalho e esperança.


42 m² de Vida e Esperança

A casa projetada para Antonio Cortiano era minimalista, mas funcional — típica das residências populares erguidas em Curitiba nas primeiras décadas do século XX, quando a cidade crescia com a força dos imigrantes e dos trabalhadores urbanos.

Com um único pavimento de 42,00 m², sua planta distribuía o espaço com inteligência:

  • Sala integrada, que servia como centro da vida familiar;
  • Dois pequenos dormitórios, suficientes para uma família modesta;
  • Cozinha e área de serviço em posição estratégica para ventilação e luminosidade;
  • Banheiro interno — um detalhe de modernidade para a época, ainda raro em moradias econômicas;
  • Fachada frontal com varanda estreita, típica das casas de madeira, convidando à convivência com a rua e com os vizinhos.

Construída inteiramente em madeira, a casa refletia tanto a disponibilidade de materiais da região quanto a tradição construtiva de várias comunidades que ajudaram a fundar os bairros de Curitiba — notadamente açorianos, poloneses e italianos, que dominavam técnicas de carpintaria e montagem rápida.


Gastão Chaves & Cia.: Arquitetura ao Serviço do Povo

O escritório de Gastão Chaves & Cia., responsável pelo projeto, era conhecido por sua atuação tanto em edifícios públicos quanto em moradias acessíveis. Neste caso, a prancha original — preservada em microfilme digitalizado — reúne:

  • Planta baixa do pavimento térreo;
  • Implantação no lote;
  • Corte construtivo;
  • Fachada frontal, com proporções equilibradas e detalhes que, mesmo em escala reduzida, conferem identidade visual à edificação.

O projeto revela um compromisso claro com a racionalidade espacial e o bom uso dos recursos disponíveis. Não havia luxo, mas havia respeito — pelo cliente, pelo ofício, pela cidade.

O Alvará de Construção, emitido sob os números Talão nº 584 e 5136/1928, confirmava a legalidade da obra perante a Prefeitura de Curitiba, demonstrando que, mesmo nas moradias mais simples, o poder público exigia conformidade com as normas urbanísticas da época.


Antonio Cortiano: O Homem por Trás do Nome

Pouco se sabe sobre Antonio Cortiano — seu ofício, sua origem, sua família. Talvez fosse operário, comerciante ou artesão. Talvez tivesse vindo da Itália, como sugere seu sobrenome; ou talvez fosse brasileiro, filho de imigrantes. O que se sabe é que, em 1928, ele conseguiu algo raro: um terreno próprio e o direito de construir nele uma casa com seu nome.

Sua residência era pequena, mas era sua. Esse ato — de possuir, de construir, de fixar raízes — era, naquele contexto, um verdadeiro marco de cidadania.


Perdida à Vista, Mas Presente na Memória

Em 2012, quando pesquisadores do patrimônio urbano de Curitiba realizaram levantamentos na região da Planta João Gabardo, a casa já não existia mais. Seu terreno provavelmente deu lugar a novas construções, mais altas, mais densas, mais alinhadas às lógicas do século XXI.

Mas sua demolição física não apaga seu valor histórico. Pelo contrário: torna ainda mais necessário preservar seus documentos, estudar seus traços, lembrar seu nome. Cada casa como essa é um pedaço da alma da cidade — feita não só de concreto e aço, mas de sonhos simples, repetidos milhares de vezes.


Conclusão: A Beleza do Efêmero

A casa de Antonio Cortiano durou décadas, talvez meio século, talvez menos. Não resistiu ao tempo, às transformações urbanas, às pressões do mercado imobiliário. Mas enquanto existiu, abrigou vidas, histórias, risos, lágrimas, domingos de feijoada e noites de chuva sob telhado de madeira.

Hoje, ela vive apenas nos arquivos — mas é nesses arquivos que se constrói a verdadeira memória urbana: não apenas dos monumentos, mas das casas onde viveram os Cortianos, os Rodrigues, os anônimos que, com suas vidas simples, fizeram de Curitiba uma cidade de gente.

“Uma cidade se mede não pelo tamanho de seus prédios, mas pela quantidade de lares que ela abriga.”
— Memória coletiva


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Fontes: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba; Microfilme do Projeto Arquitetônico assinado por Gastão Chaves & Cia.

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