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sábado, 8 de novembro de 2025

1913: A PUBLICIDADE QUE VENDIA SONHOS — DE PIANOS A PNEUMÁTICOS, DA JUVENTUDE À DENTIÇÃO

 

1913: A PUBLICIDADE QUE VENDIA SONHOS — DE PIANOS A PNEUMÁTICOS, DA JUVENTUDE À DENTIÇÃO



📰 1913: A PUBLICIDADE QUE VENDIA SONHOS — DE PIANOS A PNEUMÁTICOS, DA JUVENTUDE À DENTIÇÃO

PÁGINA 1 — O COMÉRCIO EM ASCENSÃO: CIMENTO, PIANO E JUVENTUDE

🔹 Anúncio Superior Esquerda: “CASA SCHMIDT — LOCOMOTIVA”

Na parte superior esquerda, um anúncio quadrado com bordas decoradas exibe o logotipo da Casa Schmidt, importadora de cimento Portland da Alemanha. O logotipo é circular, com a inscrição:

GERMAN PORTLAND LOCOMOTIVE CEMENT HAMBURG

Dentro do círculo, uma ilustração de um trem a vapor — símbolo de modernidade, força e progresso. Abaixo, o texto diz:

“Sempre tem grande stock do cimento Portland ‘LOCOMOTIVA’ — o melhor até hoje conhecido.”

O uso do termo “Locomotiva” como marca não é acidental: era um apelo direto à ideia de movimento, potência e confiabilidade. Em 1913, o Brasil estava em plena expansão ferroviária e urbana — e o cimento era o material que sustentava essa transformação. A Casa Schmidt posicionava-se como fornecedor oficial da modernidade.

💡 Detalhe Visual

O logotipo é estilizado como um selo oficial, com letras maiúsculas e fonte serifada — transmitindo autoridade e tradição. A escolha da Alemanha como origem do produto reforçava a ideia de qualidade técnica, já que a indústria alemã era referência mundial.


🔹 Anúncio Superior Direita: “PIANO — VENDE-SE UM BOM SÓLIDO E NOVO”

Um anúncio simples, mas elegante, anuncia a venda de um piano:

“Vende-se um bom sólido e novo. Trata-se na rua Marechal Deodoro, 36.”

Não há marca, não há detalhes técnicos — apenas a palavra “sólido”, que evoca durabilidade, peso, seriedade. O piano, em 1913, era mais do que um instrumento musical: era um símbolo de status familiar. Toda casa de classe média ou alta que se prezasse tinha um piano — mesmo que ninguém soubesse tocar.

A localização — Rua Marechal Deodoro, 36 — sugere que o vendedor morava num bairro central, provavelmente no Rio de Janeiro ou São Paulo, onde a vida cultural florescia.


🔹 Anúncio Central: “JUVENTUDE ALEXANDRE — DÁ VIGOR, BELEZA E REJUVENESCE OS CABELOS”

Este é o anúncio mais elaborado da página — com moldura ornamentada, flores estilizadas nos cantos e um título em fonte cursiva elegante:

Juventude Alexandre — dá vigor, beleza e rejuvenesce os cabelos.”

O texto é longo e persuasivo:

“A Juventude faz com que os cabelos brancos fiquem pretos, não queima, não mancha a pele... Conserva o pó de arroz e impede que o rosto se torne gorduroso. Propõe 3000 rs. nas boas perfumarias, farmácias e drogarias.”

O preço — 3000 réis (três mil réis) — era considerável para a época, equivalente a cerca de 1/3 do salário mensal de um funcionário público. Mas a promessa era irresistível: rejuvenescimento, beleza, saúde capilar — tudo em um frasco.

O nome “Alexandre” sugere origem europeia, talvez francesa ou italiana — associando o produto a uma tradição cosmética refinada. O anúncio ainda menciona que o produto foi premiado com Medalha de Ouro na Exposição de 1908, reforçando sua legitimidade.

💡 Detalhe Visual

O uso de flores e arabescos no design do anúncio remete ao estilo art nouveau, popular na Europa e no Brasil entre 1900 e 1920. É um sinal de que o comerciante queria parecer moderno, sofisticado, alinhado às tendências internacionais.


PÁGINA 2 — A CERVEJA, OS PNEUMÁTICOS E A GARANTIA DE VIDA

🔹 Anúncio Superior: “CERVEJA PROVIDENCIA — PREMIADA COM MEDALHAS DE BRONZE E PRATA”

Um anúncio emoldurado com ornamentos florais anuncia a Cerveja Providencia, produzida pela Fábrica Providencia de Ernesto Bengtsson & Cia., em Curitiba, Paraná.

O texto destaca:

“Premiada com várias medalhas de bronze e prata. Medalha de Ouro na Exposição Nacional em Rio de Janeiro de 1908. Diploma de Honra na Exposição Internacional de Turim — Roma de 1911.”

A menção a premiações internacionais — mesmo que modestas — era crucial para convencer o consumidor de que o produto era de qualidade. A cerveja, ainda vista por muitos como “bebida estrangeira”, precisava de legitimidade nacional.

O endereço da fábrica — Curitiba, Paraná — revela que a produção de cerveja já havia se interiorizado, escapando do domínio das grandes cervejarias do Sul (como a Brahma e a Antarctica).


🔹 Anúncio Inferior: “CONTINENTAL — OS PNEUMÁTICOS SÃO A GARANTIA DE VOSSO AUTOMÓVEL”

Um anúncio retangular, com bordas onduladas, promove os pneus Continental, fabricados pela Carlos Schlosser & C., em São Paulo.

O texto é direto e impactante:

“Os pneumáticos são a garantia de vosso automóvel e mais do que isso a garantia de vossa vida. Procure sempre escolher os melhores: ‘CONTINENTAL’.”

A frase final — “garantia de vossa vida” — é uma das mais fortes da publicidade da época. Em 1913, os automóveis eram raros, caros e perigosos — e os pneus, frequentemente defeituosos, eram responsáveis por muitos acidentes. A mensagem era clara: comprar pneus Continental era questão de sobrevivência.

O anúncio também menciona a Casa filial em São Paulo — Rua Ypiranga, 12, indicando que a empresa já tinha presença em múltiplas cidades.

💡 Detalhe Visual

O uso de negrito e itálico no texto — “CONTINENTAL” em letras maiúsculas — é uma técnica de destaque visual típica da época, usada para captar a atenção do leitor em meio a tantos anúncios.


PÁGINA 3 — SÓ, SALUTARIS E A GARRAFA GRANDE — OS REMÉDIOS QUE CURAVAM TUDO

🔹 Anúncio Superior: “SÓ — PORQUE O PILOGENIO”

Um anúncio quadrado com bordas decoradas promove o Pilogenio, um medicamento para queda de cabelo.

O texto começa com uma pergunta retórica:

“E calvo quem quer? Perde os cabellos quem quer? Tem barba falhada quem quer? Tem caspa quem quer?”

E logo responde:

“Porque o Pilogenio. Faz brotar novos cabellos, impede a sua queda, faz vir uma barba forte e macia e extingue a caspa.”

O Pilogenio era vendido em todas as boas farmácias e drogarias, e seu depósito geral era a Drogaria Francisco Gipponi & Comp., na Rua Primeiro de Março, n. 17, Rio de Janeiro.

O nome “Pilogenio” — derivado de “pilo” (cabelo) e “genio” (gerador) — é uma invenção linguística típica da época, quando os produtos eram batizados com nomes que soavam científicos, mesmo que não tivessem base real.


🔹 Anúncio Inferior Esquerda: “SALUTARIS — O MAIS DELICIOSO DAS ÁGUAS!”

Um pequeno anúncio com fundo listrado anuncia a Salutaris, uma água mineral ou tônico digestivo.

O texto é breve e sedutor:

“O mais delicioso das águas!”

Não há descrição do produto, nem indicação de uso — apenas o apelo ao paladar. Era comum, em 1913, que produtos fossem vendidos pela sensação que causavam, não pelos benefícios reais.


🔹 Anúncio Inferior Direita: “A GARRAFA GRANDE — ITA PERFUMERIA”

Um anúncio vertical, com moldura decorada, promove a Ita Perfumeria, especializada em perfumes de primeira ordem.

O texto diz:

“A Garrafa Grande — Ita Perfumeria. Rua 1º de Março, 66. E em todas as perfumarias de primeira ordem.”

A menção a “Garrafa Grande” sugere que o produto era vendido em embalagens generosas — talvez para atrair clientes que queriam economizar ou impressionar convidados.


PÁGINA 4 — DENTIÇÃO, HOTEL E O MELHOR DO BRASIL

🔹 Anúncio Superior: “DENTIÇÃO DAS CRIANÇAS — MATRICÁRIA DE F. DUTRA”

Um anúncio retangular com bordas decoradas promove a Matricária de F. Dutra, um remédio para dentição de crianças.

O texto é claro e direto:

“De 3 meses a 3 anos, todas as crianças devem usar a Matricária de F. Dutra. Todas as mães sabem que a dentição é um momento crítico, e que a eficácia é atestada por mais de 200 médicos brasileiros.”

O produto era vendido em todas as boas farmácias e drogarias, e seu depósito geral era a Drogaria Pacheco, na Rua dos Andradas, n. 34 — Rio de Janeiro.

A menção a “200 médicos brasileiros” era uma estratégia comum da época — criar uma falsa sensação de consenso científico para legitimar o produto.


🔹 Anúncio Inferior Esquerda: “VENUSINA — MANCHAS DA PELE”

Um anúncio quadrado com bordas decoradas promove a Venusina, um creme para manchas da pele.

O texto é persuasivo:

“Manchas da pele — Traidoras espinhas, panos, crespos, sardas? Queres ter o rosto limpo e belo? Com a Venusina, conserva o pó de arroz e impede que o rosto se torne gorduroso.”

A Venusina era vendida em todas as perfumarias, farmácias e drogarias, e seu depósito geral era a Drogaria Trindade & C., na Rua Primeiro de Março, 34 — Rio de Janeiro.


🔹 Anúncio Inferior Direita: “HOTEL AVENIDA — O MAIOR E O MAIS IMPORTANTE DO BRASIL”

Um anúncio vertical, com moldura decorada, promove o Hotel Avenida, localizado na Avenida Rio Branco, 152 e 162 — Rio de Janeiro.

O texto é grandioso:

“O maior e o mais importante do Brasil.”

Não há descrição dos quartos, nem dos serviços — apenas a afirmação de supremacia. Em 1913, o Hotel Avenida era um dos poucos hotéis de luxo da cidade, frequentado por políticos, empresários e turistas estrangeiros.

O endereço — Avenida Rio Branco — era o epicentro da modernidade carioca, onde se concentravam bancos, lojas, teatros e cafés. Estar ali era sinônimo de prestígio.


PÁGINA 5 — MENTIRÃO!! — A PUBLICIDADE QUE NÃO TINHA LIMITES

🔹 Anúncio Principal: “MENTIRÃO!!”

Um anúncio em caixa grande, com letras maiúsculas e negritas, abre com um grito:

“MENTIRÃO!!”

O texto que segue é uma denúncia irônica:

“Quando dizemos que damos aos nossos fregueses um automóvel de graça, queremos dizer que parece inverossímil, mas mentira, não! O Comércio Automobilístico atravessou uma quadra de que todos parecem se queixar. Lamentamos uns porque se conseguem vender com descontos razoáveis, outros porque se enganam nas perspectivas delicadas de uma base remunerativa e seus negócios; alegam outros que, obrigados a vender a dinheiro, vendem pouco, muito pouco.”

O anúncio termina com uma oferta real:

“Estamos perfeitamente satisfeitos com os termos que correm e tão satisfeitos estamos que deliberamos oferecer aos nossos fregueses da Capital e do interior um automóvel de graça!”

A oferta é limitada: apenas 50 cupons serão sorteados, e cada cupom custa Cr$ 500 (quinhentos cruzeiros). O valor é alto, mas a promessa de ganhar um automóvel — símbolo máximo de status — é irresistível.

O anúncio é assinado por Steinberg, Meyer & Comp., na Avenida Rio Branco, 63 — Rio de Janeiro, e pelo representante Francisco F. Fontana.


CONCLUSÃO: A PUBLICIDADE COMO ESPELHO DA SOCIEDADE

Em 1913, a publicidade não era apenas uma ferramenta de vendas — era um espelho da sociedade. Ela refletia os medos (queda de cabelo, manchas da pele, dentição difícil), os desejos (juventude, beleza, status) e as ansiedades (segurança no automóvel, saúde da família).

Esses anúncios não vendiam produtos — vendiam sonhos, esperanças e identidades. E, mesmo com suas exagerações e mentiras, eles contam uma história verdadeira: a de um Brasil em transição, buscando modernidade, mas ainda preso a tradições, superstições e promessas impossíveis.

E nisso, talvez, ainda nos pareçamos muito com 1913.


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