segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

A Casa de Madeira de Manoel Rodrigues: Um Eco de Simplicidade nos Anos 1930

 Denominação inicial: Projéto para uma casa de madeira para o Snr. Manoel Rodrigues

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Rua Capitão Souza Franco

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 42,00 m²
Área Total: 42,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Madeira

Data do Projeto Arquitetônico: 18/01/1935

Alvará de Construção: Nº 941/1935

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de casa de madeira e Alvará de Construção.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.

Referências: 

1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto para uma casa de madeira. Planta do pavimento térreo e de implantação; corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 – Alvará n.º 941

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

A Casa de Madeira de Manoel Rodrigues: Um Eco de Simplicidade nos Anos 1930

Em meio ao fervor do desenvolvimento urbano de Curitiba na década de 1930, quando betume e concreto começavam a substituir os caminhos de terra e as casas de taipa, ainda havia espaço para habitações modestas, feitas de madeira, erguidas com as mãos e o sonho de um lar próprio. Uma delas foi projetada em 18 de janeiro de 1935 para Manoel Rodrigues: uma residência econômica de 42 metros quadrados, localizada na Rua Capitão Souza Franco.

Embora hoje já não exista mais — demolida antes ou durante o ano de 2012 —, sua memória persiste nos traços elegantes de um projeto arquitetônico preservado em microfilme, nos registros burocráticos do Alvará nº 941/1935, e na força simbólica de um tipo de moradia que, por sua simplicidade, representava a realidade de milhares de curitibanos.


Um Lar de 42 m²: Economia com Dignidade

A casa projetada para Manoel Rodrigues era térrea, composta por um único pavimento de 42,00 m². Sua planta, desenhada com clareza e funcionalidade, revela um espaço pensado para o essencial:

  • Uma sala combinada com área de estar e jantar;
  • Dois pequenos quartos, suficientes para uma família nuclear ou um casal com filhos;
  • Cozinha e banheiro integrados de forma prática;
  • Varanda frontal — elemento central na sociabilidade das casas populares da época, onde se recebia vizinhos e se observava a rua.

Toda a estrutura seria erguida em madeira, material acessível, rápido de montar e amplamente utilizado em Curitiba até meados do século XX, especialmente em bairros operários e periféricos. A escolha da madeira não era apenas econômica, mas também cultural — falava de uma tradição construtiva que vinha dos colonos açorianos, poloneses e ucranianos que ajudaram a moldar a identidade arquitetônica da cidade.


O Projeto de Eduardo Fernando Chaves: Arquitetura ao Alcance de Todos

Assim como fez com a residência de Henrique Roberto Michelis, o arquiteto Eduardo Fernando Chaves também assinou o projeto desta casa modesta. A prancha original, hoje digitalizada e armazenada em microfilme, contém:

  • Planta baixa do pavimento térreo;
  • Implantação no terreno;
  • Corte construtivo;
  • Fachada frontal, com proporções equilibradas e detalhes que, mesmo em escala reduzida, conferem identidade visual à edificação.

É notável como Chaves, mesmo diante de limitações de área e orçamento, não abdicou do senso estético e da organização espacial. Cada centímetro foi pensado para gerar conforto, ventilação cruzada e privacidade — provando que arquitetura de qualidade não depende do tamanho, mas da intenção.

O Alvará de Construção nº 941/1935, emitido pela Prefeitura de Curitiba, confirma a legalidade da empreitada e a conformidade com as normas urbanísticas da época — um testemunho de como a cidade, mesmo em expansão acelerada, ainda exigia ordem e planejamento, mesmo nas moradias mais simples.


Manoel Rodrigues: O Dono do Sonho

Pouco se sabe sobre Manoel Rodrigues — seu ofício, sua origem, sua família. Seu nome não consta nos grandes anais da história curitibana. Mas talvez justamente por isso ele seja tão representativo. Ele encarna o homem comum que, com trabalho e persistência, conseguiu comprar um terreno, obter um alvará e erguer uma casa com seu nome na frente.

Sua residência não era um palacete, mas era sua. E nisso residia toda a sua grandeza.


Desaparecida, Mas Não Esquecida

Em 2012, quando pesquisadores do patrimônio urbano de Curitiba realizaram levantamentos no bairro, a casa já não existia mais. Foi demolida — talvez para dar lugar a um edifício, a um estacionamento, ou simplesmente ao tempo. Mas sua ausência física não apaga sua importância histórica.

Pelo contrário: a demolição dessa e de tantas outras casas de madeira torna ainda mais urgente o resgate documental de seus projetos. Cada planta, cada alvará, cada fachada desenhada é um testemunho de uma Curitiba mais humana, mais lenta, mais feita de gente.

A casa de Manoel Rodrigues é, portanto, mais do que um projeto arquitetônico. É um retrato social — da habitação popular, do direito à cidade, da luta silenciosa por dignidade no espaço doméstico.


Conclusão: Memória em Traços de Lápis

Hoje, ao caminhar pela Rua Capitão Souza Franco, ninguém mais encontra a pequena casa de madeira com varanda e telhado inclinado. Mas nos arquivos do Arquivo Público Municipal de Curitiba, ela ainda existe — viva nos traços de tinta nanquim sobre papel vegetal, nos números do Alvará 941, na voz silenciosa de um homem que, em 1935, sonhou com um lar e o construiu.

“Não são os grandes monumentos que contam a verdadeira história de uma cidade, mas as casas onde viveram os Manoéis, as Marias, os Joões anônimos.”
— Memória coletiva


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Fontes: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba; Microfilme do Projeto Arquitetônico; Alvará nº 941/1935.

A Casa de Henrique Roberto Michelis: Entre Tijolos, Memórias e Bolos Holandeses

 Denominação inicial: Projeto de residência para o Snr. Henrique Roberto Michelis

Denominação atual: Comercial - Confeitaria Holandesa

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte

Endereço: Rua 7 de Setembro esquina com as Ruas Cândido Xavier e Castro Alves

Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 220,00 m²
Área Total: 220,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Concreto Armado

Data do Projeto Arquitetônico: 02/01/1935

Alvará de Construção: N° 873/1935

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de residência, Alvará de Construção com Memória de Cálculo e fotografia do imóvel.

Situação em 2012: Existente


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção com Memória de Cálculo e planta baixa das estruturas em concreto armado.
3 - Fotografia do imóvel em 2012.

Referências: 

1 - CHAVES, Eduardo Fernando. Construção para o Snr. Henrique Roberto Michelis. Planta dos pisos térreo e superior, fachada principal e lateral esquerda, corte, implantação e muro representados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 – Alvará n.º 873
3 – Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012).

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.

A Casa de Henrique Roberto Michelis: Entre Tijolos, Memórias e Bolos Holandeses

Na confluência simbólica e geográfica das ruas 7 de Setembro, Cândido Xavier e Castro Alves, no coração de Curitiba, ergue-se um edifício que carrega, sob sua fachada aparentemente comum, duas vidas distintas: uma como lar projetado com esmero nos anos 1930; outra como ponto de encontro afetuoso sob o doce aroma da Confeitaria Holandesa. Mas antes de virar confeitaria, este imóvel foi concebido como residência de médio porte para um homem cujo nome marcou seus alicerces: Henrique Roberto Michelis.


Um Projeto de Vida em Concreto Armado

Em 2 de janeiro de 1935, o arquiteto responsável — cujo nome se perdeu nas dobras do tempo, embora sua obra permaneça — assinou os desenhos de uma residência moderna para a época: dois pavimentos, totalizando 220 m², construída inteiramente em concreto armado, técnica ainda relativamente nova no Paraná, mas já emblemática do avanço técnico e estético da arquitetura urbana brasileira.

O Alvará de Construção nº 873/1935, acompanhado de uma detalhada Memória de Cálculo e plantas estruturais, atesta o rigor técnico da empreitada. A planta incluía:

  • Piso térreo com salas de estar e jantar, cozinha, área de serviço e dependências;
  • Piso superior com dormitórios, banheiros e varanda — típica da arquitetura residencial da classe média ascendente da Primeira República tardia;
  • Fachadas principais e laterais desenhadas com proporções simétricas, janelas generosas e detalhes que sugerem influência do ecletismo tardio, ainda presente na década de 1930 em Curitiba.

A implantação do edifício aproveitava a esquina privilegiada, com muros baixos e portões que convidavam à convivência urbana — um testemunho de uma cidade que, mesmo em expansão, mantinha certa intimidade entre vizinhos.


Henrique Roberto Michelis: O Homem por Trás da Casa

Embora os registros biográficos sobre Henrique Roberto Michelis sejam escassos, sua escolha por uma residência de dois pavimentos em concreto armado revela um perfil de cidadão moderno, economicamente estável e visionário. Talvez fosse comerciante, profissional liberal ou industrial — alguém que investiu não apenas num teto, mas num legado familiar.

Seus descendentes, ou talvez ele mesmo, habitaram a casa por décadas, testemunhando as transformações de Curitiba: do calçamento de ruas à chegada dos bondes elétricos, da industrialização ao boom urbano do pós-guerra. A casa permaneceu — silenciosa, sólida, resistente.


Da Residência à Confeitaria: Uma Nova Alma

Por volta das primeiras décadas do século XXI, o imóvel passou por uma transformação simbólica e funcional. Deixou de ser residência particular para se tornar espaço comercial, mais precisamente a encantadora Confeitaria Holandesa — um local onde o cheiro de canela, maçã e massa folhada toma o lugar das conversas familiares no jantar.

Essa mudança não apagou sua história; ao contrário, recriou seu propósito com afeto. As janelas que um dia iluminaram quartos de crianças agora emolduram vitrines com tortas caseiras. A varanda superior talvez tenha se tornado terraço para clientes. O concreto armado, tão inovador em 1935, agora sustenta sonhos feitos de café e receitas herdadas.

Ainda assim, a estrutura original — os dois pavimentos, os 220 m² bem distribuídos, a planta fiel ao projeto inicial — permanece reconhecível, graças à fotografia registrada em 2012 por Elizabeth Amorim de Castro, hoje parte do Arquivo Público Municipal de Curitiba.


Patrimônio Urbano: Mais que Tijolos e Argamassa

Em 2012, o edifício foi catalogado como existente e preservado, embora não tenha recebido tombamento oficial. Mesmo assim, sua importância é inegável:

  • É um exemplo raro de residência de médio porte em concreto armado no centro de Curitiba, de antes da Segunda Guerra;
  • Representa a transição do uso residencial para comercial em áreas centrais, fenômeno comum nas grandes cidades brasileiras;
  • Conserva, em sua estrutura, a memória arquitetônica de uma Curitiba em formação, onde o moderno e o familiar caminhavam lado a lado.

Os documentos — especialmente o microfilme digitalizado da planta original, atribuído a Eduardo Fernando Chaves, e o Alvará nº 873 — são tesouros para historiadores, arquitetos e genealogistas que buscam entender como Curitiba foi construída, um lar de cada vez.


Conclusão: Uma Casa que Vive Duas Vezes

A residência projetada para Henrique Roberto Michelis não morreu quando deixou de ser lar. Ela renasceu — primeiro como memória familiar, depois como espaço coletivo de prazer e encontro. Hoje, quem entra na Confeitaria Holandesa talvez não saiba que pisa sobre os mesmos pisos que, um dia, ouviram os passos de uma família curitibana dos anos 1930. Mas a casa sabe. E, em silêncio, conta sua história através de cada detalhe preservado.

“As cidades não são feitas só de ruas, mas de casas que guardam vidas.”
— Anônimo


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Fontes: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba; Microfilmes de Projetos Arquitetônicos; Alvará nº 873/1935; Fotografia de Elizabeth Amorim de Castro (2012).