Denominação inicial: Projecto de Casa para o Sr. Newton F. Bittencourt
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Pequeno Porte
Endereço: Rua José Loureiro
Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 100,00 m²
Área Total: 100,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico: 27/11/1934
Alvará de Construção: Nº 871/1934
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma casa e Alvará de Construção.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
Referências:
1 – CHAVES, Eduardo Fernandes. Projecto de uma Casa a se construir na Rua José Loureiro para o Sr. Newton F. Bittencourt. Planta do pavimento térreo e implantação; corte, fachada frontal e laterais apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 -Alvará n.º 871
1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
2 - Alvará de Construção.
2 - Alvará de Construção.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.
Newton F. Bittencourt e a Casa da Rua José Loureiro — Uma História de Simplicidade, Dignidade e Desaparecimento
Por uma voz que resiste ao esquecimento
1. O Homem e Seu Lar — Newton F. Bittencourt, em 1934
Em 27 de novembro de 1934, em pleno coração da Grande Depressão — mas também no auge do desenvolvimento urbano de Curitiba — um homem chamado Newton F. Bittencourt tomou uma decisão que ecoaria por décadas: encomendar o projeto de sua casa.
Não era uma mansão. Não era um palacete. Era uma residência de pequeno porte, de 100 metros quadrados, em um único pavimento, na Rua José Loureiro, no centro da cidade. Mas, para Newton, era tudo o que precisava: um lugar para viver com dignidade, com privacidade, com orgulho.
Pouco se sabe sobre sua vida pessoal — se tinha esposa, filhos, profissão — mas o fato de ter contratado um arquiteto em uma época em que muitos ainda construíam por conta própria revela algo importante: Newton valorizava a qualidade, a forma, a beleza — mesmo na simplicidade.
O profissional escolhido foi Eduardo Fernandes Chaves, nome respeitado na arquitetura curitibana da primeira metade do século XX, filho do renomado Gastão Chaves. A prancha assinada por ele trazia, com clareza técnica e elegância gráfica, tudo o que a casa de Newton precisava: planta do pavimento térreo, implantação no terreno, corte, fachada frontal e laterais.
E em dezembro de 1934, a cidade oficializou seu sonho: o Alvará de Construção nº 871 foi emitido, autorizando a edificação.
2. A Casa — 100 m² de Alvenaria, Equilíbrio e Vida Cotidiana
A casa projetada para Newton era modesta, mas não era pobre. Era compacta, mas bem pensada.
Feita em alvenaria de tijolos — o material de escolha da classe média urbana na época —, contava com:
- Um único pavimento, ideal para quem buscava praticidade.
- Cômodos distribuídos com eficiência: provavelmente sala, dois quartos, cozinha, área de serviço e banheiro.
- Janelas estratégicas, garantindo ventilação cruzada e iluminação natural — essenciais em Curitiba, com seu clima úmido e fresco.
- Uma fachada sóbria, mas com detalhes arquitetônicos típicos da década de 1930: molduras, peitoris, talvez um pequeno alpendre.
A implantação no terreno mostrava respeito pela vizinhança e pelas normas urbanas — recuos definidos, orientação solar considerada, acesso funcional.
Essa era a casa do homem comum que não se conformava com o medíocre. Era a casa de quem queria um lar, não apenas um abrigo.
3. A Rua José Loureiro — Entre o Centro Urbano e a Vida Familiar
A Rua José Loureiro, no centro de Curitiba, era — e ainda é — uma via histórica. Localizada a poucos quarteirões da Praça Tiradentes, era cercada por comércios, escritórios, igrejas e, também, por residências de classe média.
Viver ali significava estar próximo ao pulsar da cidade, mas ainda manter um espaço íntimo, familiar. Era o equilíbrio ideal entre o público e o privado.
Newton, ao escolher essa rua, demonstrou que desejava participar da vida urbana, sem renunciar à paz de um lar próprio. Talvez fosse comerciante, funcionário público, professor — alguém cujo trabalho o mantinha no centro, mas cujo coração ansiava por uma casa ao fim do dia.
4. A Demolição — O Fim de uma Presença Silenciosa
Em 2012, quase oitenta anos após sua construção, a casa de Newton F. Bittencourt foi demolida.
Não se sabe o porquê. Talvez o terreno tenha se tornado mais valioso do que a edificação. Talvez a casa estivesse em más condições. Talvez ninguém mais soubesse — ou se importasse — que ali vivera um homem chamado Newton, que um dia sonhou com 100 m² de tijolo e telha.
Mas, mesmo desaparecida, sua memória persiste — guardada no Arquivo Público Municipal de Curitiba, em forma de microfilme.
Lá estão:
- A prancha arquitetônica, com linhas traçadas à mão, com o nome “Sr. Newton F. Bittencourt” destacado com respeito.
- O Alvará de Construção nº 871, testemunho burocrático de um sonho tornado real.
Esses documentos não são apenas papéis. São santuários da memória.
5. Uma Carta Imaginária — De Newton F. Bittencourt Para o Futuro
*Se um dia alguém ler estas palavras, saiba que esta casa foi minha.
*Não era grande. Não era luxuosa. Mas era minha.
*Nela, talvez tenham nascido meus filhos. Talvez tenhamos jantado em silêncio, ou rido até tarde. Talvez eu tenha consertado o telhado com minhas próprias mãos, ou plantado uma roseira na frente.
*Não importa o que veio depois. O que importa é que, por quase oitenta anos, esta casa existiu. E nela, eu existi.
*Se você hoje passa por aqui e vê um estacionamento, um prédio, um espaço vazio — pare por um instante.
*Respire.
*Lembre-se de mim.
Sou Newton F. Bittencourt.
E esta foi a minha casa.
6. Conclusão — A Beleza do Cotidiano e a Dor do Esquecimento
Newton F. Bittencourt não foi um herói da história oficial. Seu nome não está em ruas, praças ou livros didáticos. Mas ele foi um dos milhares de cidadãos que, com suas escolhas simples e corajosas, construíram Curitiba — tijolo por tijolo, sonho por sonho.
Sua casa, embora pequena, era um ato de resistência contra a provisoriedade. Era a afirmação de que ter um lar é um direito fundamental — e também uma forma de dignidade.
Que a demolição de sua casa, em 2012, não seja o fim da sua história. Que este artigo seja um monumento invisível — feito não de concreto, mas de palavras — erguido em sua homenagem.
Epílogo — O Projeto Como Último Testemunho
A prancha de Eduardo Fernandes Chaves, preservada em microfilme, é hoje o único retrato físico da casa de Newton. Nela, vemos linhas limpas, proporções harmoniosas, um gesto de cuidado.
Mas acima de tudo, vemos humanidade.
Porque por trás de cada planta, há um homem.
Por trás de cada alvará, há um sonho.
E por trás de cada demolição, há uma história que merece ser contada.
Para sempre, Newton F. Bittencourt.
Proprietário da casa na Rua José Loureiro.
Projetada em 27 de novembro de 1934.
Demolida em 2012.
Lembrado em 2025.
Este artigo foi escrito com respeito à memória dos anônimos que construíram nossas cidades — não com mármores, mas com tijolos, suor e esperança.




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