sábado, 13 de dezembro de 2025

As Casas de José Palaniza: Um Sonho Duplo em Madeira na Curitiba dos Anos 1920

 Denominação inicial: Projecto para duas casas para o Snr. José Palaniza

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Rua Lamenha Lins

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 44,00 m²
Área Total: 44,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Madeira

Data do Projeto Arquitetônico: 21/09/1928

Alvará de Construção: Nº 5631/1928

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de duas casas.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.

Referências: 

1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto para duas casas do Snr. José Palaniza. Planta do pavimento térreo e de implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

As Casas de José Palaniza: Um Sonho Duplo em Madeira na Curitiba dos Anos 1920

Em setembro de 1928, enquanto Curitiba começava a se expandir além dos limites do centro histórico, José Palaniza encomendou um projeto arquitetônico que traduzia, com simplicidade e pragmatismo, as aspirações de muitos moradores da época: duas casas econômicas, lado a lado, em um único terreno. Embora modestas em dimensão e material, essas residências revelam muito sobre a dinâmica urbana, familiar e econômica da capital paranaense no final da década de 1920 — um período marcado pela imigração, pelo crescimento dos bairros operários e pela emergência de uma classe média urbana.


O Projeto: Eficiência e Economia em 44 m²

Assinado pelo escritório Gastão Chaves & Cia. em 21 de setembro de 1928, o “Projecto para duas casas para o Snr. José Palaniza” foi concebido como uma solução habitacional acessível e funcional. Localizado na Rua Lamenha Lins — via que corta o bairro do São Francisco, historicamente ocupado por trabalhadores, artesãos e pequenos comerciantes —, o terreno abrigaria duas unidades idênticas, cada uma com 44,00 m² de área construída em um único pavimento.

Construídas em madeira, técnica dominante nas edificações populares da época, as casas seguiam o modelo do bangalô simplificado: planta compacta, telhado de duas águas, varanda frontal e distribuição interna voltada à essencialidade — provavelmente com sala, um ou dois quartos, cozinha e área de serviço.

O projeto, registrado em uma única prancha, incluía:

  • Planta do pavimento térreo (com as duas unidades representadas lado a lado);
  • Planta de implantação, indicando a posição das construções no lote;
  • Corte arquitetônico, revelando a estrutura do telhado e a altura das paredes;
  • Fachada frontal, desenhada com sobriedade, mas com elementos decorativos típicos da estética residencial da Primeira República, como ripados, beirais salientes e molduras simples.

O Alvará de Construção nº 5631/1928 foi emitido ainda naquele ano, atestando a autorização e a provável execução da obra.


José Palaniza: Proprietário, Talvez Locador

O nome José Palaniza sugere origem hispânica — possivelmente espanhola, basca ou de descendência judaica sefardita — o que se alinha com a presença de imigrantes ibéricos em Curitiba naquele período, embora em número menor que os alemães, italianos e poloneses.

O fato de ter encomendado duas casas em vez de uma levanta possibilidades interessantes:

  • Talvez pretendesse morar em uma e alugar a outra, gerando renda contínua — prática comum entre pequenos proprietários urbanos;
  • Ou destinava as unidades a filhos recém-casados, mantendo a família próxima;
  • Poderia também ser um investimento imobiliário inicial, fruto de economias ou de atividade comercial local.

Independentemente da motivação, o projeto reflete uma lógica de uso inteligente do solo urbano, maximizando o valor de um único lote sem comprometer a habitabilidade.


O Destino das Casas: Efêmeras, Mas Documentadas

Embora tenham sido construídas — como indica o alvará e a existência do projeto —, as casas de José Palaniza não resistiram ao tempo. Em 2012, já estavam demolidas, provavelmente substituídas por edificações mais densas ou simplesmente abandonadas à deterioração.

Contudo, sua existência não foi apagada. O projeto original, preservado em microfilme digitalizado, encontra-se no Arquivo Público Municipal de Curitiba, integrando o vasto acervo do escritório Gastão Chaves — uma das principais fontes para o estudo da arquitetura residencial popular em Curitiba.


Significado Histórico: A Cidade que se Fazia em Pequenos Lotes

As duas casas de José Palaniza representam um modelo de urbanização horizontal e acessível que moldou bairros inteiros de Curitiba nas primeiras décadas do século XX. Enquanto os sobrados ecléticos marcavam o centro, nas ruas secundárias proliferavam moradias de madeira, erguidas por famílias que buscavam, acima de tudo, ter onde morar com dignidade.

Esse tipo de construção, embora raramente tombado ou celebrado, é essencial para entender:

  • A expansão urbana desigual, com áreas de elite e zonas operárias coexistindo;
  • A economia doméstica, baseada no aluguel de cômodos ou casas anexas;
  • A transitoriedade do patrimônio popular, frequentemente sacrificado em nome do “progresso”.

Ficha Técnica Resumida

  • Proprietário: José Palaniza
  • Denominação inicial: Projecto para duas casas para o Snr. José Palaniza
  • Denominação atual: Não registrada
  • Categoria: Residência
  • Subcategoria: Residência Econômica
  • Endereço: Rua Lamenha Lins – Curitiba, Paraná
  • Data do projeto: 21 de setembro de 11928
  • Alvará de construção: Nº 5631/1928
  • Material construtivo: Madeira
  • Número de pavimentos: 1
  • Área total por unidade: 44,00 m²
  • Número de unidades: 2
  • Situação em 2012: Demolido
  • Documentação: Projeto arquitetônico (planta, implantação, corte, fachada) – Acervo do Arquivo Público Municipal de Curitiba

As casas de José Palaniza talvez tenham desaparecido do mapa físico de Curitiba, mas permanecem vivas nos arquivos — não como monumentos, mas como testemunhos sensíveis de uma cidade que se construiu também com sonhos modestos, paredes de madeira e o desejo comum de um lar próprio.

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