segunda-feira, 11 de abril de 2022

O CARNAVAL EM CURITIBA ANTIGAMENTE "O carnaval era comemorado em Curitiba antes mesmo da emancipação política da província, em 1853. Até aquele momento, o Carnaval era conhecido como “entrudo”, e os participantes se limitavam a molhar uns aos outros.

 O CARNAVAL EM CURITIBA ANTIGAMENTE
"O carnaval era comemorado em Curitiba antes mesmo da emancipação política da província, em 1853. Até aquele momento, o Carnaval era conhecido como “entrudo”, e os participantes se limitavam a molhar uns aos outros.


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O CARNAVAL EM CURITIBA ANTIGAMENTE
"O carnaval era comemorado em Curitiba antes mesmo da emancipação política da província, em 1853. Até aquele momento, o Carnaval era conhecido como “entrudo”, e os participantes se limitavam a molhar uns aos outros. “As pessoas não se organizavam em blocos nem usavam fantasias: apenas passavam o carnaval atirando todo o tipo de líquido uns nos outros durante os dias de festa”, escreveu Felipe Ferreira no “Livro de Ouro do Carnaval Brasileiro” (Rio de Janeiro: Ediouro, 2004).
Em 1868, ainda inspirado pelo entrudo, surge em Curitiba o Bando Carnavalesco do Mahomet e, em 1875, Os Títeres do Diabo e Os Bohêmios. O espírito selvagem que caracterizava as brincadeiras do entrudo desapareceu gradativamente. Colaborou para isso o fato de que as autoridades passaram a policiar comportamentos excessivos como comprova a declaração assinada em 14 de fevereiro de 1868 pelo secretário de polícia João Ricardo Guimarães e que foi publicada no jornal 19 de Dezembro. O texto recomendava aos foliões a fiel observância do art. 86 da lei nº 79 de 11 de junho de 1861, que proibia a venda de “limão de cheiro” pelo Entrudo, assim como os mais jogos destes, declarando que os contraventores seriam punidos com as penas do mesmo artigo e nas mais que porventura incorressem.
O jornalista Jorge Narozniak escreveu sobre a festa em Curitiba: “imperava o entrudo desabrido, entrando em cena os limões, os baldes e até as pipas de água. Assim foram as farras enaltecedoras de Momo aqui realizadas de 1853 a 1862”. Apesar disso, no dia 27 de fevereiro de 1854 (Sábado de Aleluia) foi realizado o primeiro baile de máscaras de Curitiba, que contou com a presença de membros da elite local. “O evento aconteceu no Teatro de Curitiba na rua Direita, ou rua dos Alemães – a atual rua 13 de Maio. De acordo com o jornal O Dia, o baile foi alegrado por uma boa orquestra, pondo termo às danças um vertiginoso Galope Infernal”. Galope Infernal era o nome de um tema musical-performático do maestro Philippe Musard, que eletrizou o público parisiense em 1839, e foi um dos primeiros modismos musicais franceses a ser copiado em outros países. Quase trinta anos depois, a moda foi celebrada em Curitiba.
Mas até 1894 ainda era possível encontrar referências ao entrudo na imprensa local, como foi o caso de uma nota lançada no 19 de Dezembro. “Seguindo a mesma norma do ano precedente, o tríduo carnavalesco e folgazão aboliu o uso da água, dos pés, das seringas e das laranjinhas. Também foi acrescido o número de pessoas travestidas e mascaradas nas ruas. O animador dos festejos foi o doutor Tertuliano Teixeira de Freitas. Destaque para os blocos Beduínos e Zuaces, que distribuíam máximas e pensamentos impressos. Queriam ser úteis até mesmo brincando”, destacou o jornalista e pesquisador Jorge Narozniak.
Independente disso, os bailes carnavalescos ganhavam forças nos clubes, inclusive os formados por imigrantes. Bailes de carnaval se tornaram obrigatórios “no Clube Curitibano, na Sociedade Verein Thalia, no 14 de Janeiro, no Clube dos Democráticos, no Cassino Curitibano, no Vítor Emanuel III, no Elite Clube, no Clube XV de Novembro e no Teatro Hauer”. O repertório musical dessas tertúlias consistia em valsas, polcas e modinhas.
Corso
O corso era um desfile alegórico de veículos caracterizados com temas carnavalescos. Neles desfilavam os foliões. A tradição teve início no final do século XIX e atingiu seu auge nos anos 20 e 30 do século XX. O local escolhido para o desfile foi a rua XV de Novembro. Segundo Vanessa Maria Rodrigues Viacava em seu estudo “Samba Quente, Asfalto Frio: uma etnografia entre as escolas de samba de Curitiba”, as janelas e sacadas dos prédios laterais eram alugadas para famílias inteiras que assistiam os desfiles. A procura era tanta que a prefeitura chegou a cobrar uma taxa por esses aluguéis. Um bom exemplo visual desse período pode ser visto no filme O Carnaval em Curityba, de 1910, de Aníbal Requião. O tema seria retomado em 1926 por João Baptista Groff (A Cinemateca de Curitiba exibirá o filme neste sábado, dia 14).
Viacava lembra que em 1919 um folião contou as alegorias, que passaram pela rua XV: foram 623, ao todo, sendo 573 automóveis, 39 caminhões e 11 carrocinhas. Dez anos depois, isso inspirou a Câmara Municipal a sugerir a cobrança de uma taxa sobre os veículos que participassem do evento, com o objetivo de destinar a renda auferida ao Asilo São Luz, mas a possibilidade foi rechaçada pelo então prefeito Eurides Cunha, que classificou a proposta como antipática e odiosa. Segundo ele, além da cobrança configurar uma bitributação, o asilo já recebia donativos oficiais.
“O corso em Curitiba teve seus períodos áureos. Os carros desfilavam num circuito entre a Praça Ozório, a rua XV e a praça Santos Andrade, onde as batalhas de confete e serpentina eram tão violentas que, por vezes, era necessária uma trégua provisória para que os garis da prefeitura limpassem o campo de batalha”, lembrou José Cadilhe de Oliveira, fundador da escola de samba Embaixadores da Alegria.
Uma personagem que marcou o carnaval curitibano foi o jornalista e ilustrador Alceu Chichorro, autor das personagens Fumaça, Marcelina e Totó. Chichorro tinha o costume de desenhar figuras públicas caracterizadas com trajes carnavalescos e sempre em companhia dos três personagens que alcançaram sucesso inclusive em jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Lorde Kananga
Figuras típicas que se dedicaram à tradição do corso ficaram marcadas na memória da população de Curitiba, como o caso da família Reis, composta pelo patriarca João e pelos filhos Cláudio, Moacir, Raul, Dionéia e Iná, que montavam carros alegóricos em um barracão na Cândido de Abreu que eles denominavam “A Caverna”. Segundo o jornalista Cid Destefani, muitas alegorias foram montadas neste local. João Reis planejava os carros no Londres Bar, que ficava na esquina das ruas XV com Barão do Rio Branco. Os trabalhos contavam com a ajuda dos integrantes da Associação dos Cronistas Policiais, e os encontros eram marcados por lautas refeições. João pertencia à sociedade carnavalesca Kananga do Japão, o que lhe rendeu o apelido de “Lorde Kananga” (uma espécie de Rei Momo daquela época).
Em 1936, a Câmara Municipal auxiliou financeiramente, por meio de dois decretos, o clube Kananga do Japão com três contos de réis para a confecção de corsos e também os Vassourinhas da Água Verde, com quinhentos mil réis (além do jornal O Dia). Era o reconhecimento público da importância da festa popular que, desde o começo do século, promovia suas críticas políticas. Basta lembrar que em 1915 o chamado “Corso Maldito” propôs severas piadas contra o então prefeito Cândido de Abreu.
Em 1946, Curitiba presenciou o último desfile de um corso, naquele que ficou conhecido como o “Carnaval da Vitória”. Dois anos depois surgia a primeira escola de samba de Curitiba – a Colorado, fundada por Maé da Cuíca. Nesse ano ainda, a Rua XV passa a ser ocupada pelo desfile de grupos organizados.
Não há como negar que o Carnaval em Curitiba já vivenciou momentos de fervor extremo, como nos conta Euclides Bandeira em uma crônica de 1925 (citada no Boletim da Casa Romário Martins nº. 70, de 1983): “Os Títeres do Diabo, de camiseta vermelha e os Bohemios, de casaca foram talvez nossas primeiras sociedades carnavalescas. Rivais, acabaram num entrevero funesto. Na praça onde hoje se localiza o Paço Municipal, estava sendo construída a casa do Mourinha. Havia pilhas de pedras e tijolos. A pugna, em lugar tão propício, foi renhida e contundente, enquanto as respectivas bandas musicais regidas pelos mestres Décio Mesquita e Generoso dos Santos furiosamente resfolegavam marchas guerreiras, concitando os lutadores à vitória”.
(Autor: João Cândido Martins / Extraído de: curitiba.pr.leg.br)
Paulo Grani

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