SOPA DE TARTARUGA
" Em Curitiba, há vários clubes de cozinheiros, mas, nenhum se destaca com tanta criatividade culinária como o Bandeirantes, no bairro do Ahú. Originalmente agrupados pelo Bolão (boliche) do antigo Operário Sport Club do Ahú, atual Urca, seus integrantes passaram a se dedicar ao novo 'esporte'.
SOPA DE TARTARUGA
" Em Curitiba, há vários clubes de cozinheiros, mas, nenhum se destaca com tanta criatividade culinária como o Bandeirantes, no bairro do Ahú. Originalmente agrupados pelo Bolão (boliche) do antigo Operário Sport Club do Ahú, atual Urca, seus integrantes passaram a se dedicar ao novo 'esporte'.
Eles descendem de uma gama enorme de etnias. Seus ancestrais vêm de todo o mundo, principalmente da Itália. Entre eles, conheci um estória interessante de um prato invulgar, sendo privilegiado com a receita secreta.
Carlão é dedicado a comidas exóticas e se comprometeu a fazer uma sopa de tartaruga. Animal protegido pelas autoridades é de difícil comercialização, principalmente para fins de culinária. Marcado o dia e hora, alguns participantes deixaram seus afazeres, outros encurtaram suas viagens, e os demais não viam o dia chegar.
O custo, nestes encontros, é rateado entre os participantes, mas Carlão assegurara que não incluiria a tartaruga, pois a ganhara de um parente do Nordeste, embora fosse grande e pesada. Assegurou que era nova, tendo saído da última desova. Comentou as dificuldades da pesca, do preparo e principalmente do tempero.
Os participantes, fascinados pela descrição dos pormenores, respiravam com ansiedade e falavam rapidamente pretendendo prová-la antes da hora. Os comentários sobre a sopa se fizeram ouvir por todo o bairro. Alguns já tinham provado e asseguravam o extraordinário sabor daquela iguaria.
Os demais, com 'água na boca', não se continham na espera daquela delícia. Chegada a hora, Carlão repetia os comentários, enquanto os demais, enfileirados com os pratos, colheres e pães à mão, se empurravam na fila como fiéis em procissão, brigando pelo pouco espaço.
Enquanto isso, exalava do caldeirão extraordinário e insuperável aroma dos condimentos, o que por si só elevava o apetite de tanto comensais que, durante o dia, nada comeram para melhor saborear aquela sopa.
Todos foram servidos por Carlão, que não permitia chegassem ao caldeirão para não conhecer o segredo, e quando a concha arranhava, respondia que se tratava da carapaça do animal. Carlão ainda, confirmava que o cozinheiro se dera desde cedo para melhor amaciar a carne.
Quando todos terminaram, Carlão levou-os para mostrar a tartaruga, ou o que sobrou dela.
Quase foi linchado.
É que, a dita tartaruga, por certo, deve estar fazendo falta em algum cruzamento de trânsito."
(Autor: Paulo Habith, magistrado / Extraído de: 300 Histórias de Curitiba)
Paulo Grani
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