O casarão que pertenceu a Benjamin Lins, um dos fundadores da Gazeta do Povo e da Universidade Federal do Paraná funcionou entre 59 a 68 um restaurante e era , a sede da UPE
UPE
A FOME ERA TANTA, QUE NEM A VOZ SAIA ( Ari Toledo em "o comedor de giletes".
O casarão que pertenceu a Benjamin Lins, um dos fundadores da Gazeta do Povo e da Universidade Federal do Paraná funcionou entre 59 a 68 um restaurante e era , a sede da UPE (União Paranaense de Estudantes.),
Não era segredo que lá se abrigavam estudantes da esquerda, sendo um dos núcleos de resistência à ditadura reinante.
Localizado na rua Carlos Cavalcanti, próximo ao Largo da Ordem
tinha como comensais estudantes universitários(cartão azul) e secundaristas(cartão amarelo). Os vestibulandos, justamente os mais necessitados, não pertenciam a nenhuma dessas categorias não eram aceitos.
Esses estudantes eram na maioria de origem humilde, filhos de agricultores ou de pequenos comerciantes, oriundos do interior do Pr. e outros estados.
Na época existiam em Curitiba alguns diretórios privilegiados que tinham restaurantes próprios como os da medicina, farmácia e engenharia que ofereciam comidas infinitamente superiores ao da UPE..Inexistiam outras opções para os estudantes que recebiam mesadas apertadas, não permitindo luxos como irem num restaurante particular, por mais módico que fosse o preço do PF( prato feito). O restaurante universitário , RU surgiria anos depois.
Exceção era a Casa do Estudante Universitário ( CEU) , que tinha granja própria que abastecia o restaurante . Mesmo assim dependia de ajuda governamental para a manutenção e pagamento das despesas correntes.
Constituídos só por universitários, tinham banca examinadora que selecionavam os novos moradores..
Incentivado por um amigo morador da CEU, resolvi tentar a sorte candidatando - me para ocupar uma vaga nesta Casa. Para mim, sem exageros, era equivalente a morar no céu, sem trocadilhos. O ingresso na CEU era a garantia de que teria teto e comida até o término do da Faculdade sem contar outras regalias impensáveis aos de fora .
" você é arrimo da família, não tem renda, depende exclusivamente da mesada enviada por sua mãe, costureira e viúva, você tem tudo para ser aprovado pela banca examinadora " , animou o.meu amigo que continuou : "mostre-se que é muito ativo, tem iniciativa e toparia assumir qualquer função na casa. O.importante e sobretudo é ter espírito coletivo participando das atividades do grupo ".
. Terminou sua preleção com a recomendação fínna 6 ,,,,,,,,,,y0que era preciso ser e parecer humilde, sem ostentação. Claro, ele disse por dizer, sabendo da minha situação. Usava roupas costuradas pela minha mãe e brinquei, parecer mais pobre só se arranjar uma fantasia de mendigo.
E chegou o dia em que eu seria posto à prova. Composto por universitários veteranos, a banca fazia lembrar na minha opinião, a Inquisição.
Para mim, que era acometido de uma ínvencível timidez e preocupado em não resvalar em respostas comprometedoras, fui encolhendo cada vez mais na cadeira.. Intimidado frente às perguntas que.pareciam saber as respóstas de antemão acabei.por responder com palavras monossilábiicas.
Fiz exatamente ap contrário do que fui orientado. A impressão que passei com argumentos titubeante e pouco convincentes, com certeza contriibuiram para o meu fracasso..
Esta Casa às vezes abria o restaurante para estudantes universitários externos.
Os estudantes dessa época moravam em pensões e repúblicas insalubres e tinham que fazer o máximo para que sua minguada mesada durasse o mês, por que, como se dizia, vinha contadinho. Para isso, lavavam e passavam suas próprias roupas, procuravam andar à pé e não podiam fazer extravagâncias como no item diversão. Quando muito um cineminha no fim de semana.
Uma observação relevante era que praticamente não se viam estudantes gordos, já que a energia adquirida nas refeições eram queimadas nas deambulações para ir à escola e na ida para a UPE no almoço e jantar.
Quando as calorias adquiridas não supriam os gastos, ou seja, tinham déficit alimentar, o resultado era aquela magreza crônica.
Naqueles tempos, tradicionalmente ocorria um desfile inusual onde calouros que lograram adentrar na Universidade, exibiam um espetáculo um tanto burlesco, mas que traduziam o alívio, orgulho e alegria por passar pelo funil do vestibular.
Para o público assistente que ficava postado na rua XV, um grupo chamava a atenção. Vestido de saco, com o tórax desnudo, esses magricelas faziam questão de exibir as visíveis costelas, tendo pendurado no pescoço a explicação: "EU COMO NA UPE.", provocando na plateia um misto de graça e comiseração.
A comida servida na UPE, talvez pelo volume a ser manipulado, deixava a desejar no quesito da higiene.
Não era incomum encontrar "impurezas" ,como uma minhoca enroladinha no arroz que rapidamente era sacada pelo servidor, ou uma lesminha ou um caramujinho passeando por trás das folhas de alface.
Se se olhar por um outro ponto de vista, menos inquisidor, mais indulgente, talvez valesse para o restaurante o crédito de que os alimentos servidos pelo menos eram livres de agrotóxicos.
Naturalmente, a comida era insossa, não tinha aquele tempero da mamãe, visto o volume de alimentos. O nosso grupo da pensão juntava uns trocadinhos para comprar um molho Inglês que era utilizado de modo a dar algum sabor à salada, feijão ou macarronada ou disfarçar um gosto menos agradável. Quando falhava a alternativa do molho, recorria-se ao limão rosa que dá o ano inteiro, e era encontradiço no trajeto do restaurante, nos ramos pendentes além do muro de uma casa.
O papel de servidor das bandejas ficava por conta de estudantes que faziam este papel em troca de refeições de graça. Todos tentavam ganhar a simpatia desses elementos na esperança de ganhar um bife um pouquinho maior. Nessa época tinha um menino gay, que outrora chamava-se "via...nho", e que tinha alguns protegidos, causando por vezes a fúria de alguns quando se sentiam prejudicados, e o barraco estava armado.
Saindo da escola, seja Colégio ou faculdade, procurava-se chegar o mais cedo possível à UPE. Na confluência das ruas que levavam ao restaurante o número de estudantes aumentava, momento quando apertávamos o passo, quase correndo, para pegar uma fila menor, que às vezes dava volta na quadra. Quando um e outro arriscava furar a fila, era briga na certa, quando se viam cadeiras voando.
Houve uma ocasião em que durante mais de um mês faltou arroz e resultado, engolimos aquela papa de macarrão enjoando até os fanáticos por uma macarronada. Pior experiência foi quando faltou frango, carne suína e bovina e por consequência ingerimos peixe ensopado sem nenhum gosto por mais de um mês. Essa ojeriza por peixe ensopado que tenho até hoje, encontra explicação por este fato.
Uns poucos abonados, junto com a refeição, pediam leite com capilé, um xarope tirado de um extrato vegetal. No nosso grupo tinha um tal de T. O. esfomeado que só ele, esperava o indivíduo se levantar para mais que depressa se apoderar do restinho de refrigerante que sobrara. Claro, se não existisse o freio do acanhamento, confesso, faria o mesmo!
Mas a data que marcou os comensais foi quando um caminhão da Coca cola estacionou em frente à UPE. Em seguida carregadores começaram a empilhar engradados e mais engradados de uma bebida de cor amarelada. Isso por volta de 63 ou 64.
Era um lançamento nacional do refrigerante FANTA. Desde essa época Curitiba era reconhecida como cidade ideal para testar novos lançamentos no Brasil..
Perplexos, ficamos sabendo que podíamos beber à vontade, de graça! Para quem não podia pagar por um refrigerante foi um dia para não esquecer. Só se lamentou que a novidade era por apenas um dia!
A UPE como se sabe, era um centro de lideranças estudantis, motivo de visitas de autoridades políticas. No início dos anos 60 compareceu um candidato chamado Ivo Arzua, que viria a ser um prefeito que segundo analistas políticos foi um gestor sério e competente para Curitiba. Segundo o registros foi o prefeito que com ousadia alargou a rua Mal. Deodoro e traçou a avenida kennedy.Foi na sua gestão que foi enterrada um invólucro na praça 19 de dezembro contendo documentos e uma mensagem para os habitantes de Curitiba do ano 2000!. Vândalos ou impacientes acabaram por desenterrar este curioso artefato nos anos 80.
O restaurante da UPE, embora muito criticado, todos que por lá passaram, reconhecem, que pela barata comida, foi a tábua de salvação para milhares e milhares de paranaenses e de outros rincões , sem o qual dificilmente poderiam ter levado à frente os estudos .
Hoje, com a mesa farta, com inapetência, procuro lembrar o quanto ansiava para ganhar uma costelinha de porco a mais ou uma porção mais generosa de arroz.
Esta crônica é uma homenagem e um tributo a UPE de todos que usufruíram do seu restaurante
A FOME ERA TANTA, QUE NEM A VOZ SAIA ( Ari Toledo em "o comedor de giletes".
O casarão que pertenceu a Benjamin Lins, um dos fundadores da Gazeta do Povo e da Universidade Federal do Paraná funcionou entre 59 a 68 um restaurante e era , a sede da UPE (União Paranaense de Estudantes.),
Não era segredo que lá se abrigavam estudantes da esquerda, sendo um dos núcleos de resistência à ditadura reinante.
Localizado na rua Carlos Cavalcanti, próximo ao Largo da Ordem
tinha como comensais estudantes universitários(cartão azul) e secundaristas(cartão amarelo). Os vestibulandos, justamente os mais necessitados, não pertenciam a nenhuma dessas categorias não eram aceitos.
Esses estudantes eram na maioria de origem humilde, filhos de agricultores ou de pequenos comerciantes, oriundos do interior do Pr. e outros estados.
Na época existiam em Curitiba alguns diretórios privilegiados que tinham restaurantes próprios como os da medicina, farmácia e engenharia que ofereciam comidas infinitamente superiores ao da UPE..Inexistiam outras opções para os estudantes que recebiam mesadas apertadas, não permitindo luxos como irem num restaurante particular, por mais módico que fosse o preço do PF( prato feito). O restaurante universitário , RU surgiria anos depois.
Exceção era a Casa do Estudante Universitário ( CEU) , que tinha granja própria que abastecia o restaurante . Mesmo assim dependia de ajuda governamental para a manutenção e pagamento das despesas correntes.
Constituídos só por universitários, tinham banca examinadora que selecionavam os novos moradores..
Incentivado por um amigo morador da CEU, resolvi tentar a sorte candidatando - me para ocupar uma vaga nesta Casa. Para mim, sem exageros, era equivalente a morar no céu, sem trocadilhos. O ingresso na CEU era a garantia de que teria teto e comida até o término do da Faculdade sem contar outras regalias impensáveis aos de fora .
" você é arrimo da família, não tem renda, depende exclusivamente da mesada enviada por sua mãe, costureira e viúva, você tem tudo para ser aprovado pela banca examinadora " , animou o.meu amigo que continuou : "mostre-se que é muito ativo, tem iniciativa e toparia assumir qualquer função na casa. O.importante e sobretudo é ter espírito coletivo participando das atividades do grupo ".
. Terminou sua preleção com a recomendação fínna 6 ,,,,,,,,,,y0que era preciso ser e parecer humilde, sem ostentação. Claro, ele disse por dizer, sabendo da minha situação. Usava roupas costuradas pela minha mãe e brinquei, parecer mais pobre só se arranjar uma fantasia de mendigo.
E chegou o dia em que eu seria posto à prova. Composto por universitários veteranos, a banca fazia lembrar na minha opinião, a Inquisição.
Para mim, que era acometido de uma ínvencível timidez e preocupado em não resvalar em respostas comprometedoras, fui encolhendo cada vez mais na cadeira.. Intimidado frente às perguntas que.pareciam saber as respóstas de antemão acabei.por responder com palavras monossilábiicas.
Fiz exatamente ap contrário do que fui orientado. A impressão que passei com argumentos titubeante e pouco convincentes, com certeza contriibuiram para o meu fracasso..
Esta Casa às vezes abria o restaurante para estudantes universitários externos.
Os estudantes dessa época moravam em pensões e repúblicas insalubres e tinham que fazer o máximo para que sua minguada mesada durasse o mês, por que, como se dizia, vinha contadinho. Para isso, lavavam e passavam suas próprias roupas, procuravam andar à pé e não podiam fazer extravagâncias como no item diversão. Quando muito um cineminha no fim de semana.
Uma observação relevante era que praticamente não se viam estudantes gordos, já que a energia adquirida nas refeições eram queimadas nas deambulações para ir à escola e na ida para a UPE no almoço e jantar.
Quando as calorias adquiridas não supriam os gastos, ou seja, tinham déficit alimentar, o resultado era aquela magreza crônica.
Naqueles tempos, tradicionalmente ocorria um desfile inusual onde calouros que lograram adentrar na Universidade, exibiam um espetáculo um tanto burlesco, mas que traduziam o alívio, orgulho e alegria por passar pelo funil do vestibular.
Para o público assistente que ficava postado na rua XV, um grupo chamava a atenção. Vestido de saco, com o tórax desnudo, esses magricelas faziam questão de exibir as visíveis costelas, tendo pendurado no pescoço a explicação: "EU COMO NA UPE.", provocando na plateia um misto de graça e comiseração.
A comida servida na UPE, talvez pelo volume a ser manipulado, deixava a desejar no quesito da higiene.
Não era incomum encontrar "impurezas" ,como uma minhoca enroladinha no arroz que rapidamente era sacada pelo servidor, ou uma lesminha ou um caramujinho passeando por trás das folhas de alface.
Se se olhar por um outro ponto de vista, menos inquisidor, mais indulgente, talvez valesse para o restaurante o crédito de que os alimentos servidos pelo menos eram livres de agrotóxicos.
Naturalmente, a comida era insossa, não tinha aquele tempero da mamãe, visto o volume de alimentos. O nosso grupo da pensão juntava uns trocadinhos para comprar um molho Inglês que era utilizado de modo a dar algum sabor à salada, feijão ou macarronada ou disfarçar um gosto menos agradável. Quando falhava a alternativa do molho, recorria-se ao limão rosa que dá o ano inteiro, e era encontradiço no trajeto do restaurante, nos ramos pendentes além do muro de uma casa.
O papel de servidor das bandejas ficava por conta de estudantes que faziam este papel em troca de refeições de graça. Todos tentavam ganhar a simpatia desses elementos na esperança de ganhar um bife um pouquinho maior. Nessa época tinha um menino gay, que outrora chamava-se "via...nho", e que tinha alguns protegidos, causando por vezes a fúria de alguns quando se sentiam prejudicados, e o barraco estava armado.
Saindo da escola, seja Colégio ou faculdade, procurava-se chegar o mais cedo possível à UPE. Na confluência das ruas que levavam ao restaurante o número de estudantes aumentava, momento quando apertávamos o passo, quase correndo, para pegar uma fila menor, que às vezes dava volta na quadra. Quando um e outro arriscava furar a fila, era briga na certa, quando se viam cadeiras voando.
Houve uma ocasião em que durante mais de um mês faltou arroz e resultado, engolimos aquela papa de macarrão enjoando até os fanáticos por uma macarronada. Pior experiência foi quando faltou frango, carne suína e bovina e por consequência ingerimos peixe ensopado sem nenhum gosto por mais de um mês. Essa ojeriza por peixe ensopado que tenho até hoje, encontra explicação por este fato.
Uns poucos abonados, junto com a refeição, pediam leite com capilé, um xarope tirado de um extrato vegetal. No nosso grupo tinha um tal de T. O. esfomeado que só ele, esperava o indivíduo se levantar para mais que depressa se apoderar do restinho de refrigerante que sobrara. Claro, se não existisse o freio do acanhamento, confesso, faria o mesmo!
Mas a data que marcou os comensais foi quando um caminhão da Coca cola estacionou em frente à UPE. Em seguida carregadores começaram a empilhar engradados e mais engradados de uma bebida de cor amarelada. Isso por volta de 63 ou 64.
Era um lançamento nacional do refrigerante FANTA. Desde essa época Curitiba era reconhecida como cidade ideal para testar novos lançamentos no Brasil..
Perplexos, ficamos sabendo que podíamos beber à vontade, de graça! Para quem não podia pagar por um refrigerante foi um dia para não esquecer. Só se lamentou que a novidade era por apenas um dia!
A UPE como se sabe, era um centro de lideranças estudantis, motivo de visitas de autoridades políticas. No início dos anos 60 compareceu um candidato chamado Ivo Arzua, que viria a ser um prefeito que segundo analistas políticos foi um gestor sério e competente para Curitiba. Segundo o registros foi o prefeito que com ousadia alargou a rua Mal. Deodoro e traçou a avenida kennedy.Foi na sua gestão que foi enterrada um invólucro na praça 19 de dezembro contendo documentos e uma mensagem para os habitantes de Curitiba do ano 2000!. Vândalos ou impacientes acabaram por desenterrar este curioso artefato nos anos 80.
O restaurante da UPE, embora muito criticado, todos que por lá passaram, reconhecem, que pela barata comida, foi a tábua de salvação para milhares e milhares de paranaenses e de outros rincões , sem o qual dificilmente poderiam ter levado à frente os estudos .
Hoje, com a mesa farta, com inapetência, procuro lembrar o quanto ansiava para ganhar uma costelinha de porco a mais ou uma porção mais generosa de arroz.
Esta crônica é uma homenagem e um tributo a UPE de todos que usufruíram do seu restaurante
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