Eduardo Fernando Chaves: Arquiteto e Construtor
Denominação inicial: Planta de casa com frente em alvenaria para o Snr. Olívio Júlio
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica
Endereço: Rua Castro Alves
Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 67,00 m²
Área Total: 67,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Madeira, com frente em alvenaria
Data do Projeto Arquitetônico: 09/07/1934
Alvará de Construção: Nº 657/1934
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de casa de madeira com frente em alvenaria, e Alvará de Construção.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
Referências:
1 – CHAVES, Eduardo Fernando. Planta de casa com frente em alvenaria á Rua Castro Alves para o Snr. Olivio Julio. Planta do pavimento térreo e de implantação de casa com frente em alvenaria; corte, fachada frontal e fossa séptica apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 – Alvará n.º 657
1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
2 - Alvará de Construção.
2 - Alvará de Construção.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.
A Casa de Olívio Júlio: Economia, Engenhosidade e o Cuidado Técnico de Eduardo Fernando Chaves
Rua Castro Alves, Curitiba — 1934
Em 9 de julho de 1934, no mesmo dia em que assinava o projeto da residência para Casemiro Mitzuck, o projetista Eduardo Fernando Chaves — que também atuava como arquiteto, construtor e fiscal de obras — registrava no Arquivo Municipal de Curitiba um segundo empreendimento, desta vez de caráter mais modesto: a planta de uma casa econômica para o Sr. Olívio Júlio, na Rua Castro Alves. Com apenas 67 m², estrutura predominantemente de madeira e frente em alvenaria, o imóvel era um exemplo notável de engenhosidade construtiva adaptada à realidade financeira de famílias de classe média-baixa em plena década de 1930.
Embora demolido antes de 2012, o projeto sobrevive nos microfilmes do Arquivo Público Municipal, não apenas como documento técnico, mas como testemunho de uma abordagem urbana inclusiva, em que até as residências mais simples mereciam planejamento sério, legalização e cuidado com a saúde pública — como evidencia a inclusão, ainda na prancha original, do projeto de uma fossa séptica.
O Morador: Olívio Júlio e a busca por um lar digno
Pouco se sabe sobre Olívio Júlio, mas seu nome, de origem clássica e comum no sul do Brasil, sugere um homem integrado à vida urbana curitibana — talvez funcionário público, comerciante ou artesão. O fato de ter encomendado um projeto legalizado, com alvará e planta assinada por um técnico reconhecido, indica que valorizava segurança jurídica, qualidade construtiva e pertencimento à cidade formal.
Ao escolher a Rua Castro Alves, via de ligação entre o centro e bairros residenciais emergentes, Olívio posicionava-se estrategicamente: próximo ao comércio, aos transportes e aos serviços, mas com custo de terreno acessível — condição essencial para quem planejava uma casa de apenas 67 m².
A Casa: Híbrida, funcional e salubre
O projeto assinado por Chaves revela uma solução construtiva inteligente e econômica, mas longe de ser precária:
- Estrutura principal em madeira, material abundante, rápido de montar e de baixo custo — técnica amplamente utilizada por imigrantes europeus e famílias de recursos limitados;
- Frente em alvenaria, elemento-chave que conferia resistência, durabilidade e aparência urbana digna à fachada, protegendo a casa contra intempéries e aumentando seu valor simbólico perante a vizinhança;
- Planta térrea de 67 m², distribuída com eficiência entre sala, dormitórios, cozinha, área de serviço e sanitário;
- Implantação cuidadosa no lote, respeitando recuos legais;
- Corte e fachada frontal detalhados, mostrando pé-direito, cobertura e proporções harmônicas;
- Projeto de fossa séptica, um detalhe raro em plantas de residências econômicas da época, mas que demonstra a preocupação de Chaves com o saneamento básico e a saúde dos moradores — um traço de modernidade notável.
O Alvará de Construção nº 657/1934, emitido poucos dias após o projeto, atesta que a obra foi aprovada e fiscalizada, integrando-se plenamente ao ordenamento urbano de Curitiba.
Eduardo Fernando Chaves: O técnico que não distinguia entre grandes e pequenas obras
Mais uma vez, a figura de Eduardo Fernando Chaves se destaca pela versatilidade e compromisso ético. No mesmo mês em que projetava uma casa de dois pavimentos em alvenaria para um cliente de maior poder aquisitivo (Casemiro Mitzuck), dedicava a mesma atenção técnica a uma residência de madeira para Olívio Júlio.
Essa dualidade revela um profissional sintonizado com as múltiplas camadas sociais da cidade. Para Chaves, não havia obra menor — apenas necessidades distintas. E em cada caso, aplicava rigor, funcionalidade e respeito ao cliente.
Sua assinatura em projetos que incluíam até instalações sanitárias mostra que ele não se limitava à estética ou à forma: preocupava-se com a qualidade de vida dos futuros moradores. Nesse sentido, antecipava princípios que só décadas depois se tornariam centrais na arquitetura social.
Memória de uma casa ausente
Embora o imóvel tenha sido demolido antes de 2012, sua existência documentada permanece como um fragmento essencial da história urbana de Curitiba. Enquanto os palacetes são celebrados, as casas de madeira — que abrigaram a maioria da população — desaparecem sem memorial. Este projeto resiste a esse apagamento.
A prancha de 1934, com sua planta clara, seu corte técnico e sua fossa séptica meticulosamente desenhada, fala de uma cidade que, mesmo em tempos de crise (o Brasil vivia o início do Estado Novo), valorizava a ordem, a higiene e a dignidade do habitar — independentemente da renda.
Conclusão: A grandeza do detalhe simples
A casa de Olívio Júlio não tinha salões, nem torres, nem jardins elaborados. Mas tinha paredes bem erguidas, um banheiro com escoamento seguro e uma fachada que honrava a rua. Para milhares de famílias, isso era — e ainda é — o suficiente para chamar um lugar de lar.
Eduardo Fernando Chaves, ao projetá-la com seriedade e cuidado, demonstrou que a verdadeira arquitetura não está na grandiosidade, mas na capacidade de responder com inteligência, empatia e técnica às necessidades reais das pessoas.
"Uma cidade justa não se mede pelos prédios que exibe, mas pelas casas que oferece a quem tem menos."
A casa de Olívio Júlio desapareceu — mas seu espírito permanece, nos esboços de um técnico que acreditava que toda família merece um projeto feito com respeito.




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