segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Berlina Roza e Sua Casa de 70 Metros: A Dignidade de Uma Mulher na História Urbana de Curitiba

 Denominação inicial: Projecto de uma casa para a Snra. Berlina Roza

Denominação atual:

Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência Econômica

Endereço: Planta Gabardo - Água Verde

Número de pavimentos: 1
Área do pavimento: 70,00 m²
Área Total: 70,00 m²

Técnica/Material Construtivo: Madeira

Data do Projeto Arquitetônico: 08/09/1927

Alvará de Construção: Nº 4546/1927

Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de uma casa de madeira.

Situação em 2012: Demolido


Imagens

1 - Projeto Arquitetônico.

Referências: 

1 - GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de casa para a Snra. Berlina Roza. Plantas do pavimento térreo e de implantação, corte e fachada frontal apresentados em uma prancha. Microfilme digitalizado.

Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba.

Berlina Roza e Sua Casa de 70 Metros: A Dignidade de Uma Mulher na História Urbana de Curitiba

Curitiba, 1927 — numa época em que poucas mulheres tinham voz nos registros oficiais, uma delas assinou seu lugar na cidade com madeira, teto e alvará próprio.


Uma Casa com Nome de Mulher

Em 8 de setembro de 1927, o escritório Gastão Chaves & Cia. protocolou no Arquivo Público Municipal de Curitiba um projeto arquitetônico singular para a época: o “Projecto de uma casa para a Snra. Berlina Roza”. Tratava-se de uma residência econômica, construída em madeira, com 70,00 m² distribuídos em um único pavimento, localizada na Planta Gabardo, no bairro do Água Verde.

O fato de a proprietária ser explicitamente identificada como mulher — e não como “esposa de” ou “viúva de” — já era, por si só, um marco de autonomia. Em plena década de 1920, quando a maioria das propriedades urbanas era registrada em nome de homens, Berlina Roza aparece nos documentos como titular direta de seu lote e de seu sonho.

Seu projeto, apresentado em uma única prancha, incluía:

  • Planta do pavimento térreo e implantação no terreno;
  • Corte longitudinal;
  • Fachada frontal.

Apesar da simplicidade construtiva, os desenhos revelam um senso de ordem, proporção e habitabilidade — com cômodos bem definidos, circulação eficiente e integração com o quintal, essencial para a vida doméstica da época.


A Casa de Madeira: Prática, Rápida e Humana

Construída em madeira — material amplamente utilizado em Curitiba nas primeiras décadas do século XX —, a residência de Berlina era uma solução prática e econômica, mas longe de ser precária. A madeira permitia rápida montagem, isolamento térmico razoável e adaptação às condições climáticas da região sul.

Com 70 m², a casa oferecia espaço suficiente para uma família modesta: provavelmente uma sala de estar, dois quartos, cozinha e área de serviço, talvez com banheiro externo — um padrão comum nas residências econômicas da era pré-saneamento universal. Era o suficiente para viver com dignidade, cultivar um jardim e criar filhos com futuro.

Localizada na Planta Gabardo, uma das subdivisões urbanas em expansão no Água Verde, a casa integrava-se a um novo tecido residencial que buscava oferecer moradia acessível a operários, comerciantes e pequenos proprietários — entre os quais, raramente, uma mulher sozinha.


O Alvará que Confirmou seu Lugar na Cidade

O Alvará de Construção nº 4546/1927, emitido pela Prefeitura Municipal de Curitiba, não apenas autorizou a edificação, mas selou a cidadania plena de Berlina Roza. Ao solicitar e obter um alvará em seu próprio nome, ela demonstrou domínio sobre seus bens, responsabilidade civil e vínculo com as normas urbanas emergentes.

Esse gesto burocrático, aparentemente simples, era, na verdade, revolucionário. Enquanto muitas mulheres ainda dependiam da figura masculina para transações legais, Berlina construiu — literalmente — seu espaço no mundo.


O Silêncio da Demolição: Ausência Física, Presença Histórica

Em 2012, a casa foi demolida. Não há fotografias conhecidas do edifício em pé. Restam apenas os desenhos arquitetônicos, preservados em microfilme digitalizado, como testemunhas silenciosas de uma vida que habitou aquele espaço.

Mas a ausência física não apaga seu legado. Pelo contrário: torna-o mais urgente. A história de Berlina Roza é um lembrete de que a urbanização não foi feita apenas por engenheiros e prefeitos, mas também por mulheres anônimas que, com coragem e poucos metros quadrados, teceram o tecido social da cidade.


Um Símbolo de Resistência e Independência

Hoje, ao revisitar o projeto de Berlina Roza, vemos mais que uma planta arquitetônica. Vemos:

  • O direito de existir sozinha num mundo que esperava que ela estivesse acompanhada;
  • O desejo de pertencer a uma cidade em transformação;
  • A capacidade de decidir sobre seu próprio lar.

Sua casa, embora modesta, era um ato político — um gesto de autonomia num tempo em que isso era raro. Ela não construiu um palácio, mas construiu independência. E isso, em qualquer época, é grandioso.


Conclusão: Lembrar Berlina é Honrar Todas as Mulheres que Edificaram Curitiba

Berlina Roza pode ter desaparecido dos registros cotidianos, mas seu nome permanece gravado nos arquivos da cidade — não como nota de rodapé, mas como protagonista.

Que esta homenagem sirva para lembrar que cada casa demolida carrega uma história, e que cada mulher que assinou um alvará abriu caminho para outras.

Berlina não apenas morou em Curitiba.
Ela ajudou a construí-la.


Ficha Técnica da Residência

  • Denominação inicial: Projecto de uma casa para a Snra. Berlina Roza
  • Categoria: Residência
  • Subcategoria: Residência Econômica
  • Endereço: Planta Gabardo – Água Verde, Curitiba – PR
  • Área total: 70,00 m²
  • Pavimentos: 1
  • Material construtivo: Madeira
  • Data do projeto: 08/09/1927
  • Alvará de construção: nº 4546/1927
  • Situação em 2012: Demolido

Fonte:

  1. GASTÃO CHAVES & CIA. Projecto de casa para a Snra. Berlina Roza. Arquivo Público Municipal de Curitiba (microfilme digitalizado).

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