Denominação inicial: Projéto de Bungalow para o Snr. José Mendes de Araújo
Denominação atual:
Categoria (Uso): Residência
Subcategoria: Residência de Médio Porte
Endereço: Rua Conselheiro Laurindo
Número de pavimentos: 2
Área do pavimento: 280,00 m²
Área Total: 280,00 m²
Técnica/Material Construtivo: Alvenaria de Tijolos
Data do Projeto Arquitetônico: 03/05/1935
Alvará de Construção: N° 1191/1935
Descrição: Projeto Arquitetônico para construção de um bangalô e Alvará de Construção.
Situação em 2012: Demolido
Imagens
1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
Referências:
1 - CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow para o Snr. José Mendes de Araújo. Planta dos pisos térreo e superior, fachada principal, corte, implantação e muro representados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
2 – Alvará n.º 1191
1 - Projeto Arquitetônico.
2 - Alvará de Construção.
2 - Alvará de Construção.
Acervo: Arquivo Público Municipal de Curitiba; Prefeitura Municipal de Curitiba.
A Casa que Sonhou em Ser Bangalô: A História do Projeto para José Mendes de Araújo na Rua Conselheiro Laurindo
Curitiba, 1935 – 2012
Em meio ao fervilhar da Curitiba dos anos 1930 — cidade que se modernizava aos trancos e barrancos, entre bondes elétricos e o ronco dos primeiros automóveis — ergueu-se, ainda que apenas no papel, um sonho arquitetônico: o bangalô projetado para o senhor José Mendes de Araújo. Embora jamais tenha resistido ao tempo ou à pressão do progresso urbano, essa residência de dois pavimentos, localizada na Rua Conselheiro Laurindo, carrega consigo a elegância discreta de uma era em que a arquitetura ainda dialogava com o íntimo, o doméstico e o humano.
José Mendes de Araújo: O Morador por Trás do Projeto
Embora os registros históricos sejam escassos sobre a vida pessoal de José Mendes de Araújo, seu nome gravado nos arquivos municipais como responsável pelo empreendimento revela um homem de posses e visão para sua época. Optar por um bangalô — tipologia arquitetônica de origem anglo-indiana, associada ao conforto, à ventilação cruzada e à integração com a natureza — demonstrava um gosto cosmopolita, ainda raro na paisagem curitibana da década de 1930.
José não buscava apenas uma casa; buscava um refúgio. Em um período marcado pela ascensão da classe média urbana e pela consolidação de Curitiba como centro administrativo e comercial do Paraná, sua escolha revela um desejo de equilíbrio entre modernidade e serenidade.
O Projeto: Um Bangalô de Tijolos e Sonhos
Assinado em 3 de maio de 1935, o projeto arquitetônico — hoje preservado em microfilme digitalizado nos arquivos históricos da cidade — foi elaborado com notável cuidado técnico e estético. A prancha original, conforme descrita por Eduardo Fernando Chaves, contém:
- Planta do piso térreo e superior
- Fachada principal detalhada
- Corte arquitetônico
- Implantação no terreno
- Projeto do muro de fechamento
A edificação, classificada como residência de médio porte, ocuparia 280 m² distribuídos em dois pavimentos — uma solução espacial ousada para a época, pois os bangalôs tradicionais costumam ser térreos. Aqui, contudo, o arquiteto adaptou a tipologia às necessidades urbanas, verticalizando o conforto sem perder a essência horizontal do modelo original.
Construída em alvenaria de tijolos, técnica dominante na Curitiba da primeira metade do século XX, a casa prometia solidez, durabilidade e um visual limpo, provavelmente com detalhes em madeira nas esquadrias e varandas — elementos típicos do estilo.
O Alvará de Construção nº 1191/1935, emitido pelo município, confirmava a legalidade da obra e o compromisso do proprietário com as normas urbanísticas da época.
A Localização: Rua Conselheiro Laurindo, Coração da Cidade
Situada na Rua Conselheiro Laurindo, uma das artérias mais prestigiadas do centro de Curitiba, a residência ocuparia um lugar de destaque no tecido urbano. Na década de 1930, a rua já abrigava residências de família, escritórios profissionais e pequenos comércios — um microcosmo da vida civilizada da capital paranaense.
Estar ali era sinônimo de status, proximidade ao Paço Municipal, ao Teatro São José e às sedes dos clubes tradicionais. José Mendes de Araújo, ao escolher esse endereço, afirmava sua posição social e seu pertencimento à elite urbana emergente.
O Fim Silencioso: A Demolição em 2012
Apesar de ter sido erguida com zelo — presumivelmente nos meses seguintes à emissão do alvará —, a casa de José Mendes de Araújo não resistiu ao tempo. Em 2012, foi demolida, cedendo lugar a novos empreendimentos que refletem as pressões do desenvolvimento imobiliário contemporâneo sobre o patrimônio histórico.
Seu desaparecimento físico não apaga, porém, sua existência simbólica. O projeto arquitetônico, cuidadosamente arquivado, permanece como testemunho de um gosto, de uma época e de um homem que, mesmo sem saber, deixou sua marca na história urbana de Curitiba.
Memória Arquitetônica: O Que Resta
Hoje, restam apenas duas imagens simbólicas dessa breve presença edificada:
- O projeto arquitetônico original — com suas linhas traçadas à tinta e compasso, revelando a delicadeza técnica de um ofício ainda artesanal.
- O alvará de construção nº 1191 — documento burocrático que, paradoxalmente, é também um ato de fé no futuro.
Esses fragmentos são pedaços de uma narrativa maior: a da cidade que se apaga para renascer, muitas vezes sem lembrar os nomes daqueles que nela viveram com dignidade, gosto e amor pelo lar.
Conclusão: Uma Casa que Nunca Foi Esquecida
José Mendes de Araújo pode ter partido há muito tempo. Sua casa já não existe. Mas seu bangalô, mesmo demolido, permanece vivo nos arquivos, na memória coletiva da arquitetura curitibana e no silêncio respeitoso dos que compreendem que toda casa é, antes de tudo, a materialização de um sonho.
“Não foram apenas tijolos que ergueram essa casa, mas a esperança de um homem por um lugar onde o mundo pudesse esperar lá fora, enquanto a família aquecia o interior.”
Referências
- CHAVES, Eduardo Fernando. Projéto de Bungalow para o Snr. José Mendes de Araújo. Planta dos pisos térreo e superior, fachada principal, corte, implantação e muro representados em uma prancha. Microfilme digitalizado.
- Alvará de Construção nº 1191/1935 – Arquivo Histórico de Curitiba.


