quarta-feira, 15 de junho de 2022

CONHECENDO A "GOTA DE LEITE" DE CURITIBA A "Gota de Leite" foi fundada em Curitiba, em 24 de dezembro de 1913, pela Prefeitura Municipal.

 CONHECENDO A "GOTA DE LEITE" DE CURITIBA
A "Gota de Leite" foi fundada em Curitiba, em 24 de dezembro de 1913, pela Prefeitura Municipal.

CONHECENDO A "GOTA DE LEITE" DE CURITIBA
A "Gota de Leite" foi fundada em Curitiba, em 24 de dezembro de 1913, pela Prefeitura Municipal.
As origens mais remotas da Gota de Leite encontravam-se na França. Em 1894, o puericultor Léon Dufour pela primeira vez deu o nome de Gota de Leite, criando uma organização completa com a finalidade de contribuir para a puericultura do país. A Gota de Leite, do Dr. Dufour, foi ao mesmo tempo um consultório destinado a guiar o aleitamento materno e artificial e um centro de distribuição de leite esterilizado. O médico desejava animar as mães a amamentarem seus filhos, ' por isso cobrava uma quantia módica pelo leite vendido às mães pobres. O resultado desse trabalho foi a redução, em 3 anos, da mortalidade infantil por gastro-enterite, que era em 1894 de 14,87%, baixou, em 1899-1900, para 1,11%.
A criação dessa instituição em Curitiba permitiu o estabelecimento do diálogo entre mães e médicos, com a finalidade de mudar as práticas maternas avalizadas pelo conhecimento dos médicos.
Faziam parte das suas funções as consultas aos lactentes, princípios de higiene às mães, incentivo ao aleitamento natural, realização de concursos de robustez infantil, exame das amas de leite, bem como a distribuição de leite esterilizado para as crianças pobres e a venda do mesmo para as abastadas, a fiscalização do serviço sanitário do leite, a turberculinização das vacas leiteiras e a vistoria dos estábulos.
Para o médico homeopata Dr. Nilo Cairo, as diarréias nas crianças ocorriam devido ao descuido das mães que por ignorância alimentavam erroneamente seus filhos e, ao manifestar-se a doença, em vez de procurar imediatamente os socorros médicos contentavam-se com os chás caseiros que habitualmente eram usados.
Segundo ele, as principais causas da mortalidade infantil eram a falta de higiene do corpo e da habitação dos pobres, o uso inadequado da chupeta, a ausência de método na alimentação infantil. A ignorância levava muitas mães a darem aos seus filhos alimentos em quantidade e qualidade impróprios à idade, sendo que a miséria era responsável por uma grande parte dos males da infância. As irregularidades na alimentação infantil levavam a desarranjos gastro-intestinais que vitimavam as crianças, principalmente por falta de tratamento médico conveniente. Para ele, cabia aos médicos dar conselhos sobre o regime alimentar e o tratamento das crianças doentes para por um paradeiro à mortalidade de crianças vitimadas por moléstias ocasionadas por deficiência de alimentação.
Em cinco meses de funcionamento, entre 90 crianças matriculadas, apenas 12 faleceram, das quais 9 por gastro-enterite, uma por escarlatina, outra por meningite e outra por bronquite, sendo que foram atendidas em adiantado estado da moléstia. Das crianças sadias registradas, nenhuma foi acometida por moléstia do tubo gastro-intestinal.
Por ser uma instituição de incentivo às práticas de puericultura, o serviço de Consultas aos Lactentes era gratuito, funcionando todos os sábados e atraindo muitas crianças que eram pesadas, detectando-se assim o regime alimentar a que estavam submetidas e distribuindo-se medicamentos gratuitos. O médico não se poupava em ministrar conselhos sobre higiene infantil que eram sempre bem recebidos pelas mães.
A questão do aleitamento materno, artificial ou mercenário, preocupava os médicos. A instituição foi acusada de incentivar o aleitamento artificial através da distribuição de leite de vaca esterilizado, facilitando a substituição do leite materno. Porém, ela justificou que "o aleitamento artificiai só seria utilizado, quando as crianças não pudessem ser amamentadas pelas mães e necessitassem de leite em condições de lhe ocasionar o menor mal possível".
Os médicos admitiam até o uso do leite condensado na falta do leite de vaca esterilizado, administrado na sede da instituição, pois preferiam esta prática aos mingaus e pirões que as mães davam aos filhos.
Apesar de a Gota de Leite incentivar a prática do aleitamento natural, que na sua fôrma materna era incalculavelmente superior á modalidade mercenária, as mães de todas as camadas sociais também costumavam recorrer à ajuda das amas de leite.
O prédio destinado ao seu funcionamento, na Rua Ermelino de Leão, 188, tinha o seu espaço distribuído em 4 compartimentos: um deles usado para a esterilização do leite, o segundo, local para a lavagem dos frascos de leite, o terceiro, para a sala de espera das mães com seus filhos e o último, para gabinete médico.
Durante as décadas de 10 e 20, apesar da existência social da instituição, as discussões sobre os problemas alimentares da criança, falsificação do leite e as causas da mortalidade infantil continuaram a ser discutidas pela imprensa, principalmente através dos médicos.
No decorrer da década de 1910, havia muita expectativa entre os médicos e também entre a sociedade de que a Gota de Leite fosse um instrumento capaz de combater as práticas inadequadas das mães sobre a alimentação dos filhos, colaborando para que os índices de mortalidade infantil baixassem. Havia uma esperança para a solução deste problema através da sua presença.
Na década de 1920, a Gota de Leite mergulhou em um marasmo. Os problemas com a alimentação e a mortalidade infantil continuaram a afligir mães e médicos. Entretanto, os jornais demonstraram a decepção que a sociedade e os médicos tiveram com a instituição, pois os artigos sobre a mesma não faziam mais parte de suas manchetes como antes, quando ocupavam as primeiras páginas com títulos em destaque. Agora, raramente, apareciam pequenos artigos ligados à fiscalização do leite.
A Gota de Leite, esquecida pela imprensa, pouco a pouco foi perdendo sua importância médico-social em Curitiba, pois o brilho dos primeiros tempos, foi sendo ofuscado por outros meios de divulgação de conselhos às mães. Os médicos vão em busca, então, de outras práticas de convencimento materno.
(Fonte: acervodigital.ufpr.br / foto da web)
Paulo Grani

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