quarta-feira, 13 de julho de 2022

AS FILAS PARA PÃO, CARNE, AÇÚCAR E ATÉ GASOLINA Durante o período da Segunda Guerra Mundial, o governo tomou várias medidas de mobilização que interferiram no modus vivendi dos brasileiros. No Paraná,

 AS FILAS PARA PÃO, CARNE, AÇÚCAR E ATÉ GASOLINA
Durante o período da Segunda Guerra Mundial, o governo tomou várias medidas de mobilização que interferiram no modus vivendi dos brasileiros. No Paraná,

AS FILAS PARA PÃO, CARNE, AÇÚCAR E ATÉ GASOLINA
Durante o período da Segunda Guerra Mundial, o governo tomou várias medidas de mobilização que interferiram no modus vivendi dos brasileiros. No Paraná, essas medidas de mobilização se repetiram e repercutiram avidamente no cotidiano da população. No período entre 1942 a 1945, a capital paranaense teve alterado o cotidiano das pessoas, mudando seus hábitos alimentares, sociais e culturais.
Fazia-se necessário a criação de um sentimento de guerra para que ocorresse um alinhamento entre a população e o governo. Era preciso manipular a massa – dos operários aos patrões – de forma que aceitasse e contribuísse com as ações que o governo tomara diante da Segunda Guerra Mundial. Afinal, o Brasil alinhara-se contra os regimes ditatoriais e fascistas em nome de um poder democrático. Mas como fazer as pessoas acreditarem nisso ao executar no país um governo autoritário, dito ditatorial?
A maneira encontrada foi a criação de uma espécie de "economia de guerra", embora a guerra estivesse se desdobrando em palcos muito além do Brasil, mais ainda de Curitiba.
O controle do Estado em todos os meios de vida fez com que a guerra – ou os seus efeitos – ficassem mais próximos das pessoas. Interferência na mobilização social, cultural e econômica, o racionamento de alimentos e de combustíveis, as notícias veiculadas em jornais e no rádio, os exercícios de blecaute e no modo de relacionar-se entre as pessoas, foram estratégias aplicadas no modus vivendi das pessoas, de modo a aceitarem que tudo tinha por causa a guerra e a se submeterem a toda e qualquer decisão governamental.
Os jornais curitibanos tiveram papel crucial na construção e na mobilização dessa "economia de guerra". É certo que boa parte desses jornais estava repleta de notícias de guerra e que boa parte dessas manchetes tratava do número de batalhas, mortos, feridos e possíveis ações dos Aliados e do Eixo.
Em14/05/1943, um jornal da capital chama a atenção de seus leitores para uma possível intervenção do governo no controle e no racionamento do açúcar. Ainda no mesmo dia é notíciado que o café seria adquirido sob controle do Acordo Americano. Logo depois foi apresentado o racionamento do trigo, ocasionando a falta de pão na mesa dos paranaenses. Apesar de criadas Comissões de controles de estoques em quase todos os municípios, o desabastecimento era quase total.
Nessa mesma data, foi legalizado o controle dos estoques de sal e açúcar. Toda indústria, empresa ou produtor deveria ter seus estoques contabilizados para que pudessem traçar um correto racionamento desses bens. A questão era controlar toda a entrada e a saída desses produtos. Vale ressaltar que esse controle acarretou o desabastecimento de muitos comércios, deixando os consumidores sem possibilidade de compra.
Procuravam-se alternativas para diminuir os "efeitos da economia de guerra", e a forma mais prática de obter produtos alimentícios era submeter-se ao câmbio negro; havia vários revendedores de produtos, sobretudo do trigo conseguido na Argentina, e geralmente os produtos eram transportados escondidos em carroças carregadas de feno; os valores eram altíssimos, já que os atravessadores justificavam os preços devido ao aumento demasiado do custo de vida e aos riscos do comércio realizado ilegalmente.
Nada impedia o trânsito de mercadorias "fora do controle do Estado", nem as constantes chamadas enérgicas contidas nos jornais, alardeando que a polícia seria enérgica contra aqueles que fossem apanhados em flagrante transgressão, sonegando os estoques ou cobrando preços excessivos ou praticando qualquer abuso, que pudesse contribuir para a alta indevida dos gêneros de primeira necessidade.
Logo as reclamações começam a eclodir, os preços altos, a baixa quantidade de produtos em estoque e a inflação prejudicam o cotidiano familiar paranaense.
Ao que tudo indica, foram infrutíferas as tentativas de controle do Estado. Naquele contexto, foi criada, em 13/10/1943, a Comissão de Abastecimento do Estado do Paraná – tendo como presidente o interventor estadual Manoel Ribas – visando a centralizar a política de preços e os métodos da distribuição de mercadorias.
Em 08/11/1943, Manoel Ribas decretou que todo tipo de exportação de açúcar e sal do Estado estava proibida até segunda ordem. Desde a importação, exportação e transporte interno das referidas mercadorias estavam sob controle do Estado. Essas determinações resultaram no registrado de 104 empresas importadoras de sal e 201 importadoras de açúcar em todo o Estado, distribuídas em várias cidades, com maior concentração em Londrina, Cambará, Ponta Grossa, Paranaguá, Ribeirão Claro e Curitiba.
Também foram organizadas fichas catalográficas para controle de alguns itens de subsistência: batata inglesa, café em grãos, milho, arroz, feijão, farinha, banana e laranja. Após minucioso trabalho, a Comissão Mixta de Tabelamento e Racionamento criou para Curitiba uma tabela de preço para os gêneros de primeira necessidade, encarregando os prefeitos dos outros municípios a fazerem o mesmo com base nos valores aferidos pela comissão.
Produtos de primeira necessidade, como açúcar, trigo, sal, carne e manteiga, passaram a faltar na mesa dos curitibanos. Para comprar pão, era necessário acordar de madrugada e enfrentar filas intermináveis. O curitibano Raul Reinhart, relatou: "Então a gente sabia: ah! Vai ter pão lá na Rua Barão do Rio Branco, lá embaixo. Então você levantava às 4 horas da manha pra ir comprar pão. Eu ia com a empregada, entrava numa fila enorme pra comprar pão."
Fator relevante é que os imigrantes alemães tinham grande participação na fabricação de pães em Curitiba; a maior empresa do gênero era a Theodoro Schaitza e Cia – de propriedade de um alemão e de um brasileiro nato – que possuía mais de setenta funcionários, empresa responsável por boa parte da demanda do município.
Quando o problema da falta do trigo atingiu o auge, outras soluções foram procuradas pelas donas de casa. As famílias de imigrantes mais abastadas com contatos familiares em Santa Catarina substituíam a farinha pelo macarrão industrializado oriundo da Argentina. Através da mistura de macarrão, ovos, leite e fermento conseguia-se o pão, muito mais caro e mais trabalhoso.
Outro item que sofreu sérias restrições foram os combustíveis. Inicialmente, limitou-se o horário para a comercialização da gasolina, mas prevendo uma possível escassez e elevação do preço, em junho de 1943 foi criado um decreto-lei que definia uma cota máxima para utilização de gasolina: os proprietários de caminhões poderiam abastecer 250 litros e os proprietários de carros leves 40 litros por mês. Assim, a cota permitia que os proprietários de automóveis rodassem cerca de 6 a 8 quilômetros por dia.
Foi também estabelecida uma ordem para todos os municípios paranaenses, obrigando-os a reduzirem em trinta por cento o consumo de combustíveis. A falta de gasolina teve que ser superada pela substituição por carvão vegetal, através dos aparelhos de gasogênio que foram adaptados na traseira dos automóveis, caminhões e até ônibus.
Paulo Grani

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Fila para compra de carne no Açougue Garmatter, em 1944.
(Foto: Arquivo Gazeta do Povo).
Pode ser uma imagem de 11 pessoas e texto que diz "PU UIEL EL JOHNSCHER JOHNSO Ii"
Fila para compra de pão na Padaria do Comércio na Barao do Rio Branco, em 1943.
(Foto: Arquivo Gazeta do Povo)

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Automóveis enfileirados abastecem numa bomba de gasolina existente numa calçada da Praça Tiradentes, durante o racionamento de combustíveis, em 1943.
Foto: Arquivo Gazeta do Povo)

Pode ser uma imagem de texto que diz "PR.K945 Pk. K945 9-47"
Automóvel adaptado com gasogênio para combustão de lenha, durante o racionamento de combustíveis, em 1944.

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Fila para compra de açúcar em Londrina, em 1943, durante o racionamento do produto.
Foto: Divino Bortolotto, acervo João Baptista Bortoletti.

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